Governo do Distrito Federal
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Vila Boa de Goiás e tudo o que pertence ao seu termo


 

 

 

Apresentação/Leitura paleográfica

 

 

 

 

O contexto da produção desse importante mapa, o primeiro a representar cartograficamente o distrito de “Villa Boa de Goyas e tudo que pertence ao seu termo”, está ligado às atividades desenvolvidas pelo “Ouvidor Geral” de Goiás, Antônio da Cunha Soutto Mayor [Soutomaior].1 O “Ouvidor”, nomeado pela Corte portuguesa, era encarregado de administrar a justiça em uma Comarca específica, no caso deste “Ouvidor”, o território de Goiás. Naquele período, a Câmara Municipal dispunha de um “direito de justiça banal, de primeira instância, enquanto a justiça criminal, dita de segunda instância, é colocada nas mãos do Ouvidor”.2

 

Formado em Direito em Coimbra em 1744, tomou posse como Ouvidor Geral de Goiás em 20 de março de 1756, cargo que ocupou até 1758.3 Ficamos sabendo – por meio de uma carta-relatório escrita por Cunha Soutto Mayor, em 30 de abril de 1758,4 que ele foi encarregado pelo governo de Portugal para encaminhar o levantamento de informações para cada uma das Câmaras municipais de Goiás.1 As Câmaras deveriam elaborar um relatório que constasse a relação de todos os arraiais dos termos de cada uma das vilas, bem como as distâncias entre esses núcleos urbanos medidas em léguas. Além disso, cada Câmara deveria também apresentar a descrição dos rios que cortam seus territórios, indicando onde cada rio nasce e se são navegáveis. O levantamento dessas informações topográficas tinha como fim, segundo essa correspondência, “formar uma carta geral de todo o Brasil, com individuação das terras, estabelecidas nos Sertões”.4 Ressalte-se que à Coroa interessava conhecer os acessos possíveis pelos rios, como vias de deslocamento às terras minerais. Em perspectiva mais abrangente, o projeto “formar uma carta geral de todo o Brasil”,4 provavelmente também se inseria no contexto do Tratado de Madrid de 1750, quando Portugal e Espanha haviam assinado um acordo de limites entre as terras das colônias desses dois países na América. À luz desse Tratado, era necessário elaborar um mapa da colônia, com descrição mais detalhada dos Sertões, região pouco conhecida.

 

Interessante observar que essa solicitação da Coroa tenha sido feita ao Ouvidor Geral de Goiás, portanto ao Poder Judiciário, e não ao Poder Executivo, representado pelo Governador-geral da capitania como o foi, por ocasião do primeiro mapa de Goiás, elaborado e enviado a Portugal em 1750, no governo de Dom Marcos de Noronha, primeiro governador de Goiás. É possível sugerir que o fato de as atribuições de seu cargo compreender visitas às cidades e vilas que integravam sua comarca, a fim de inspecionar como se dava a administração da Justiça, facilitasse o levantamento das informações solicitadas pela Corte.1 De qualquer forma, as atribuições administrativas entre o Judiciário e o Executivo, neste período, sempre foram motivo de conflito e de muita fluidez. Não era raro extrapolarem suas atribuições. Exemplo disso, foram os conflitos entre Cunha Soutto Mayor e o Governador Távora expostos ao rei por meio de diversas cartas.

 

Na execução dessa tarefa, Cunha Soutto Mayor expressa as dificuldades que encontrou: “E cuidando eu logo, em executar o que Vossa Majestade me ordena, achei grande dificuldade em o conseguir, pela imperícia de que são dotados os camaristas desta comarca. Pois, um sem mais atividades do que para mineiros, outros sem mais sabença que a de criar gados nos Sertões. Rústicos por nascimento e criação, ignorantes por natureza. Não sabem que coisa é o Levante [Leste] ou o Poente [Oeste], Norte ou Sul, nem tem inteligência alguma dos rumos para que com certeza se fizessem o mapa”.4 Portanto, em vista do pouco conhecimento técnico para a elaboração das informações solicitadas, Cunha Soutto Mayor teme que “algumas das descrições, principalmente a dos Sertões, irão menos verdadeiras no que respeita ao rumo em que nascem e correm os rios e a que partem os arraiais circunvizinhos”.4

 

Foi no contexto do levantamento dessas informações para “formar uma carta geral de todo o Brasil”4 que o Ouvidor Antônio da Cunha Soutto Mayor enviou, anexo a esta carta-relatório, o mapa que aqui apresentamos, “Vila Boa de Goiás e tudo o que pertence ao seu termo”.1 Na carta-relatório faz ressalva quanto à qualidade dos trabalhos executados pelas Câmaras Municipais. Contudo, a respeito deste mapa específico enviado pela Câmara de Vila Boa, relata: “O mapa, porém, que a Câmara de Vila Boa de Goiás, cabeça da comarca me remeteu iluminado, é o próprio que a Vossa Majestade lhe envio”.4

 

Abrange o território da capital da Capitania de Goiás, atual cidade de Goiás. Indica a extração do ouro, o caminho novo para Pilar, caminhos entre os arraiais, para a capital e as outras localidades. A vegetação é representada em forma pictórica. Inclui rosa dosventos. Meridiano de origem: Ilha do Ferro. Aquarelado na cor azul, vermelha, verde, preta e branca. Cartucho de título e da legenda ilustrados em estilo barroco. A moldura do mapa possui decoração barroca, em sépia, nos ângulos.

 

 

Leitura paleográfica:

 

“Villa Boa de Goyas e tudo que pertence ao seu termo. O lugar da Villa e Arraiais se mosta pelas capellas e cruz no frontespicio. Os Sitios com este sinal [triângulo na cor preta]. Os emgenhos com huma cruz em sima; Os Rios de canoa com este sinal [asterisco]. As serras e montes semostrão aqui de cor azul. A cor verde com arvoredos o matto groso”.

 

“Todos os corregos e ribeiroens com cor vermelha mostra que delles se estrahe o ouro. Os pontos redondos como este [círculo vermelho) asignalão as legoaz”.

 

 

Referências:

 

1 – VIEIRA JÚNIOR, Wilson. Cartografia da Capitania de Goyaz do século XVIII: intenção e representação. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2015.

2 – VIDAL, Laurent. Sob a máscara do colonial. Nascimento e “decadência” de uma vila no Brasil moderno: Vila Boa de Goiás no século XVIII. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/his/v28n1/10.pdf> Acesso em: 28 nov. 2014.

3 – Bacharéis Brasileiros: elementos biográficos 1635-1830. Revista do IHGB, v. 11, p. 209.

4 – Goiás – AHU_ACL_CU_008, Cx. 15, D. 892, de 30 de abril de 1758. Carta do ouvidor geral e corregedor de Goiás, Antônio da Cunha Soutomaior, atendendo à solicitação real por informações sobre os arraiais para a execução da Carta Geral do Brasil.

5 – FARIA, Maria Dulce de. Catálogo da Coleção cartográfica e iconográfica manuscrita do Arquivo Histórico Ultramarino. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2011, p. 366-367.

 

 

Fonte – Arquivo Histórico Ultramarino

Medidas – 39 cm × 30,4 cm em folha 40,3 cm × 32,2 cm

Data – 1758

Localização – AHU_CARTm_008, D.0868

Originalmente anexo ao documento AHU_ACL_CU_008, Cx.15, D.892 – 1758, abril, 30.

 

 

 

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