Novo Distrito Federal
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esteve constantemente presente no processo de estudos da região do Planalto Central onde mais tarde viria a ser construída a nova capital do Brasil. É certo que a proposta de mudança da capital vem de antes da criação do IBGE. Contudo, é fato que, na longa história da mudança da capital para o Planalto Central, desde 1936 o IBGE, em vários documentos preciosos à história do Brasil, defendeu a mudança, e tão logo a Constituição democrática de 1946 retomou a mudança como preceito constitucional, envolveu-se diretamente nos estudos técnicos voltados a esse fim.1
Já em 1947, promoveu duas expedições geográficas no âmbito do Conselho Nacional de Geografia, um dos órgãos máximos do IBGE, dando conteúdo científico à Comissão dirigida pelo General Djalma Polli Coelho, incumbida da localização de um sítio para a nova capital. Naquela ocasião, geógrafos notáveis se fizeram presentes: Antonio Teixeira Guerra, Christovam Leite de Castro, Dora Amarante Romariz, Eugênia Zambelli Gonçalves, Fábio de Macedo Soares Guimarães, José Veríssimo da Costa Pereira, Lindalvo Bezerra dos Santos, Lúcio de Castro Soares, Marília Galvão, Ney Strauch, Nilo e Lysia Bernardes, Orlando Valverde, Speridião Faissol e Walter Alberto Egler, entre vários outros. Todos, eles e elas, notáveis profissionais do IBGE que valeram-se da orientação científica de Francis Ruellan e de Leo Waibel, geógrafos estrangeiros associados ao Conselho Nacional de Geografia.1
Em um terceiro momento, em 1955 e 1956, quando a Comissão incumbida de estudar um local para construção da nova capital, Comissão esta que continuava os trabalhos iniciados pelo General Djalma Polli Coelho, pelo General Aguinaldo Caiado de Castro e então era dirigida pelo Marechal José Pessoa, o IBGE esteve presente com Fábio de Macedo Soares Guimarães, então Secretário-Geral do Conselho Nacional de Geografia, e com o eminente cientista Allyrio Hugueney de Mattos. Suas ações foram decisivas, até pela retomada do realizado no passado recente.1
Finalmente, em 1959, quando já iniciara a construção de Brasília, o IBGE fez o censo na futura capital, por meio do qual levantou dados sobre a população, entre vários outros elementos pesquisados. Os resultados dessas pesquisas permitem hoje traçar acurado retrato histórico da chegada dos operários que construíram Brasília, fixando residência nos arredores da capital, nas então chamadas “cidades-satélites”. Foi nesse mesmo contexto que, em 1958, o IBGE produziu o mapa aqui apresentado: “Novo Distrito Federal” com o sítio geral e a representação do Plano Piloto.
O mapa foi executado pelo cartógrafo do Conselho Nacional de Geografia Clóvis de Magalhães, nascido em Formosa que, ao lado de Planaltina e de Luziânia, cederam terras de seus municípios para a criação do Distrito Federal. Clóvis Magalhães provinha de família tradicional de meados do século XIX instalada em uma das primitivas fazendas preexistentes ao Distrito Federal, a enorme Brejo ou Torto, a margem do córrego do Torto. O mapa de Clóvis Magalhães é considerado por alguns o “primeiro mapa” do Distrito Federal.1
De rica representação técnica e informacional, discordamos, entretanto, da informação veiculada na publicação do IBGE1 de que este seria o “primeiro mapa do Distrito Federal, tendo em vista que, em 30 de setembro de 1958, o presidente da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Federal, Altamiro de Moura Pacheco, entregava ao governador de Goiás, Juca Ludovico, um mapa do novo Distrito Federal (Cf. neste GUIA p. 266) elaborado por Joffre Mozart Parada – engenheiro chefe da Subcomissão Técnica da referida Comissão. O mapa elaborado por Joffre Mozart Parada tinha sido elaborado a partir de folhas cartográficas na escala 1:100.000 confeccionadas pela Secção de Aerofotogrametria do Departamento de Estradas de Rodagem de Goiás (DERGO) e de fotografias aéreas, na escala aproximada de 1:25.000, solicitadas à empresa Geofoto S.A. do Rio de Janeiro.2 De fato, encontramos referência à documentação cartográfica empregada no mapa de Clóvis Magalhães em caixa-texto na carta impressa em sete cores no Serviço Gráfico do IBGE, elaborada por encomenda do escritório de Goiás no Rio de Janeiro.1 Essas informações não constam no exemplar reproduzido neste GUIA p. 268, digitalizado a partir do mapa publicado no “Atlas do Brasil – Geral e Regional”, organizado pela divisão de geografia do Conselho Nacional de Geografia.
No mapa impresso no Serviço Gráfico do IBGE, consta a seguinte informação: “A documentação cartográfica empregada na organização da Carta do Novo Distrito Federal foi obtida em colaboração com [segue o nome de várias instituições, entre elas]: Comissão de Cooperação da Mudança da Capital – mapas, informações, nomenclaturas etc.”.1 Portanto, o mapa de Joffre Mozart Parada antecedeu ao de Clóvis Magalhães, sendo usado como subsídio pelo engenheiro do IBGE.
Contudo, se de um lado o mapa de Clóvis Magalhães não é anterior ao de Jofre Mozart Parada, é, entretanto, correto afirmar que o de Clóvis Magalhães foi o primeiro mapa “impresso” do novo Distrito Federal.3 No livro, “Primórdios de Brasília”, de Altamiro de Moura Pacheco, presidente da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Federal, o autor manifesta certa mágoa em relação ao descaso para com o mapa do novo Distrito Federal entregue pela comissão goiana. Relata que “em 1958, a 30 de setembro, passei às mãos do Sr. Governador de Goiás um dossiê de cada fazenda do Distrito Federal, contendo estudos completos da documentação, um mapa de suas divisas, além do mapa geral, elaborado pelo engenheiro Joffre Mozart Parada. Depois, viajando para o Rio, levei o original do mapa geral e o entreguei ao Dr. Israel Pinheiro que, na minha presença, o confiou ao Dr. Sigismundo de Araújo Melo a fim de ser impresso. A impressão, de fato foi feita, mas, lamentavelmente, o Sr. Clóvis Magalhães subtraiu e substituiu, pelo seu, o nome do ilustre autor, retirando as lindes das respectivas fazendas”.1
Discussões e mágoas à parte, o certo é que o mapa elaborado pelo “engenheiro cartógrafo Clóvis Magalhães”, o primeiro mapa “impresso” do novo Distrito Federal e que, portanto, adquiriu grande divulgação, empregou, além das informações do mapa de Joffre Mozart Parada, documentação cartográfica do Conselho Nacional de Geografia, da Empresa J. Donald Belcher, Geofoto S.A., da Novacap e também, como afirmamos acima, da Comissão de Cooperação da Mudança da Capital.1 Dessa forma, não consideramos adequada a afirmação de Altamiro de Moura Pacheco de que “Clóvis Magalhães subtraiu e substituiu, pelo seu, o nome do ilustre autor”. O “ilustre autor” a que Altamiro de Moura Pacheco se refere é Jofre Mozart Parada. Na verdade, ambos os mapas usaram algumas mesmas fontes, e o de Clóvis Magalhães, além delas, contou também com informações do mapa de Jofre Mozart Parada, confirmando que o primeiro mapa elaborado do Distrito Federal foi de fato o da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital.3
O mapa foi impresso em sete cores no Serviço Gráfico do IBGE, por encomenda do escritório de Goiás no Rio, na escala 1:100 000, e foi entregue solenemente ao Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira.1
Referências:
1 – SENRA, Nelson de Castro (Org.). Veredas de Brasília: as expedições geográficas em busca de um sonho. Rio de Janeiro: IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações, 2010.
2 – PACHECO, Altamiro de Moura. Primórdios de Brasília. Gráfica Editora Líder, Goiânia, s/d.
3 – SILVA, Elias Manoel da. O primeiro mapa do Distrito Federal no Planalto Central do Brasil. Um ilustre desconhecido. 3º Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica. Belo Horizonte/MG, 2016.
Fonte – IBGE, “Atlas do Brasil – Geral e Regional”. Organizado pela Divisão de Geografia do Conselho Nacional de Geografia, Rio de Janeiro, 1960.
Medidas – 49 cm × 31 cm
Data – 1960
Localização – Colado no final da publicação do IBGE: “Atlas do Brasil – Geral e Regional”. Organizado pela Divisão de Geografia do Conselho Nacional de Geografia, Rio de Janeiro, 1960.
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