Goyaz - Guia de Cartografia Histórica Descrição da imagem da capa: mapa colorido, bonito, alegre, contendo árvores e serras, rios, matas e índios representando suas tribos. Nos cantos do mapa há um arranjo com quatro flores presas num ramo verde. Também está presente neste mapa uma rosa dos ventos com flor-de-lis. O título “Capitania de Goiaz” está na parte superior, centralizada, dentro de uma moldura nas cores verde e amarelo. Descrição da imagem do “Novo Distrito Federal”: mapa com a planta índice cadastral, da cooperação de cooperação para mudança da capital federal. As demarcações de cidades são coloridas. O Distrito Federal está ao centro do mapa, dentro da demarcação “Bananal”, na cor rosa, onde há também o formato do avião desenhado. Nas redondezas da demarcação do “Bananal” estão Vicente Pires, Brejo do Torto, Contagem de São João, Gama, Área D, Saia Velha, Riacho Fundo, Tamanduá, Guariroba, Engenho Queimado, Sobradinho, Papuda, Santa Barbara, Mestre D’Armas, Boa Vista, São Gonçalo, Lagoa Bonita, Planaltina e outras cidades próximas. Todas marcadas com cor diferente. Página 1 Arquivo Público do Distrito Federal Coordenação de Arquivo Permanente Diretoria de Pesquisa, Difusão e Acesso GOYAZ Guia de Cartografia histórica Organização Elias Manoel da Silva Wilson Vieira Júnior Brasília - DF - Brasil 2018 Páginas 2 e 3 – Ficha técnica Descrição da imagem: no topo das páginas, parte do mapa com o fundo amarelo e demarcação das cidades com linhas coloridas. É possível ler o nome de algumas cidades, como: Engenho Queimado, Bananal, Guariroba, Saltador e Cachoeira, Taguatinga, Vicente Pires; São Gonçalo, Curral Queimado, Sobradinho dos Melo, Paranauá ou Paranoá, Taboquinha, Rajadinha, Boa Vista, Barra Alta, Riacho das Pedras, Várzeas, Quebradas dos Guimarães. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL Rodrigo Rollemberg Governador Renato Santana Vice-Governador SECRETARIA DE ESTADO DA CASA CIVIL, RELAÇÕES INSTITUCIONAIS E SOCIAIS Sérgio Sampaio Contreiras de Almeida Secretário ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL Jomar Nickerson de Almeida Superintendente Marli Guedes da Costa Coordenação de Arquivo Permanente Cleice de Souza Menezes Diretoria de Tratamento e Preservação Elias Manoel da Silva Diretoria de Pesquisa, Difusão e Acesso COORDENAÇÃO DA PESQUISA Elias Manoel da Silva Wilson Vieira Júnior FICHA TÉCNICA PESQUISA NOS ACERVOS Elias Manoel da Silva Jader Silva de Oliveira José Lourenço de Sant’Anna Filho Letícia Coelho Félix Wilson Vieira Júnior SELEÇÃO CARTOGRÁFICA Elias Manoel da Silva Wilson Vieira Júnior DIGITALIZAÇÃO E FOTOGRAFIA Jader Silva de Oliveira REVISÃO TEXTUAL Carmen Menezes PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO Eron Castro COORDENAÇÃO EDITORIAL Carlos Amaral Filho IMPRESSÃO Ace Comunicação e Editora (61) 99695-5692 ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL SGO - Setor de Garagens e Oficinas Quadra 5 - Lote 23 70610-650 – Brasília/DF – Brasil Fone: +55 (61) 3361.7739 www.arquivopublico.df.gov.br ILUSTRAÇÃO DA CAPA: Montagem a partir do “Mapa dos Bispados” da Biblioteca Pública de Évora, Portugal. Cartela, com o título da publicação, retirada do mapa “Vila Boa de Goiás e tudo o que pertence ao seu termo”, custodiado pelo Arquivo Histórico Ultramarino. Contra-capa montada a partir de elementos retirados do “Mapa dos Bispados” da Biblioteca Pública de Évora, Portugal. NOSSO AGRADECIMENTO ÀS INSTITUIÇÕES CUSTODIADORAS DOS MAPAS AQUI IMPRESSOS AHEx – Arquivo Histórico do Exército AHU – Arquivo Histórico Ultramarino AN – Arquivo Nacional APM – Arquivo Público Mineiro BN – Biblioteca Nacional BPE – Biblioteca Pública de Évora - Portugal Casa Altamiro de Moura Pacheco Casa da Cultura de Luziânia Casa da Ínsua - Portugal IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEHBC - Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central MI – Mapoteca do Itamaraty ARQUIVO PÚBLICO DO DF SUPERINTENDENTE Jomar Nickerson de Almeida CHEFE DE GABINETE Marco Aurélio de Lemos Santos ASSESSORIA ESPECIAL Denise Barros Pereira ASSESSORIA TÉCNICA Jessica de Jesus Cardoso ASSESSORIA DE COMUNICACÃO SOCIAL Luana Rodrigues da Silva Sá ASSESSORIA JURÍDICA Lays Christine Fernandes UNIDADE DE GESTÃO DE DOCUMENTOS E PROTOCOLO Deuzani Cândido Noleto, Carolina Cersósimo de Souza Abdalla, Paulo César Gusmão. UNIDADE DE TECNOLOGIA DA INFORMACÃO Laércio Souza Costa UNIDADE DE ADMINISTRACÃO GERAL Marilene Helena Dias, Alexander Regis Batista, Justino Moura de Sousa, Maria José de Souza Fernandes, Valter Bernardino de Souza. COORDENACÃO DO SISTEMA DE ARQUIVOS José Adilson Dantas, Arkemi Maria Guimarães Guedes, Claudelis Duarte de Sousa, Iraldo Antônio dos Santos, Janderson Nunes Cardoso, Marcleiton Vilarouca Teixeira, Rejane Soares Canuto, Taiama Mamede Barbosa Solecki, Vanderlei Marcio de Oliveira. COORDENACÃO DE ARQUIVO PERMANENTE Marli Guedes da Costa, Cleice de Souza Menezes, Elias Manoel da Silva, Ester Eiko Duarte Kimura, Jader Silva de Oliveira, Luiz José Borges Neto, Maria Angélica Lucchese Targhetta, Maria do Carmo Pereira de Souza, Odson da Silva Araújo, Rita de Cássia Alves da Rocha, Rosália Saldanha Barbosa, Tereza Eleutério de Sousa, Valéria Colletti Sanches Silva. GOYAZ - Guia de Cartografia Histórica / Elias Manoel da Silva; Wilson Vieira Júnior, organizadores. - Brasília: Arquivo Público do Distrito Federal, 2018. 271p. : il. ISBN 978-85-61536-07-7 1. Cartografia - Brasil - Goiás - História - Séc. XVIII--XX. 2. Cartografia - Brasil 3. Cartografia História - Brasil. 4. Cartografia. I. Elias Manoel da Silva, org. II. Wilson Vieira Júnior, org. CDU - 912(81) (030) “18-20". Página 4 e 5 – Prefácio Descrição da imagem: no rodapé das páginas, parte da planta da cidade de Goyaz, contendo demarcações das ruas, terrenos, áreas maiores em cores diferentes, identificadas por letras do alfabeto. O Rio Vermelho em sua maior extensão está ao lado direito da cidade. No entanto, atravessa a cidade. Ao lado, iniciais do alfabeto e as identificações, como: J-Igreja de São Francisco; K-Igreja do Rosário; L- Relação; M-ThesouroEstadoal; N- Hospital Militar; O- Igreja Nossa Senhora da Adadia; P- Hospital da caridade; Q- Mercado; R- Seminário Episcopal; S- Igreja da B. Morte; T- Cadeia e poço municipal; U- Matadouro; V- Quartel de linha; X- Igreja de Sta. Bárbara; Y- Theatro. Esta obra Goyaz – Guia de Cartogra- fia Histórica é um dos produtos do “Pro- jeto Documentos Goyaz”. Executado entre 2011 e 2014, o Projeto foi pensado com o objetivo de complementar o acervo do Ar- quivo Público do Distrito Federal (ArPDF) com reproduções digitais de documentos originais referentes a Goiás existentes em instituições públicas ou privadas, especial- mente documentação relativa aos municí- pios de Luziânia, Formosa e Planaltina, que cederam parte de seus territórios para a formação do Distrito Federal. Trata-se da primeira obra deste por- te referente à antiga “Província de Goyaz” e atual Estado Federado do Centro-Oeste brasileiro. A produção deste Guia de Car- tografia, que compreende mapas de Goiás e do Distrito Federal produzidos nos sécu- los XVIII a XX, tem por principais objetivos subsidiar o processo de ensino e pesquisa nas instituições educacionais do Distrito Federal e divulgar a cartografia histórica da região do Planalto Central. Os mapas de Goiás possuem inestimável valor histórico e são de suma importância para a compreensão da formação das fron- teiras do Estado e da dinâmica de formação de povoados, arraiais, vilas, administração civil e eclesiástica, que mais tarde viriam a ceder espaço à nova capital Federal. Além de breve introdução na qual se contextualizam os aspectos políticos, eco- nômicos e sociais que levaram à produção de cada mapa, o Guia apresenta a “Leitura Paleográfica”, por meio da qual se poderá apreciar o texto na forma original em que foi escrito, a riqueza estética do conjunto cartográfico e também informações com- plementares inseridas pelos “autores” dos mapas. Supera-se, assim, certa visão redu- cionista do discurso histórico na qual uma carta geográfica se restringia a servir de complemento estético aos textos. É o mapa apresentado como produtor e veiculador de informações. Ressalte-se ainda que este Guia visa responder à demanda por “cartografia his- tórica”, em razão da carência de informa- ções históricas sobre essa região em uma perspectiva espacial, em especial no que se refere ao território escolhido para a cons- trução de Brasília, fortalecendo, assim, a concepção de que é necessário aprofundar o estudo da história do Distrito Federal, in- clusive de seu passado goiano, em vez de pensá-la somente a partir da decisão de transferir a capital. A publicação estará disponível também em meio digital na rede mundial de compu- tadores, permitindo que todos os interessa- dos, especialmente professores, estudantes e pesquisadores, conheçam o território dos povos que habitavam a região antes da che- gada dos luso-brasileiros e os primeiros ca- minhos criados pelos colonizadores na di- nâmica de conquista do Planalto Central do Brasil. Finalmente, esta publicação é fruto do trabalho incansável e apaixonado de ser- vidores e servidoras do Arquivo Público do Distrito Federal, que, a despeito das condi- ções adversas, mergulharam no fazer inves- tigativo e na busca por recursos financei- ros para torná-la realidade. Por meio desta obra, o Arquivo Público cumpre mais uma de suas atribuições: a difusão da informa- ção. Agradecemos imensamente o apoio da Secretaria da Casa Civil, Relações Institu- cionais e Sociais, da Câmara Legislativa do DF e do Governo do Distrito Federal, que possibilitaram ao Arquivo Público do Distri- to Federal a publicação desta significativa obra de valor informacional para a história do Centro-Oeste brasileiro. Jomar Nickerson de Almeida Superintendente Arquivo Público do Distrito Federal Páginas 6 e 7 - Apresentação Descrição da imagem: no rodapé das páginas, parte do mapa “Capitania de Goyazes”, com o fundo amarelo, vasta vegetação e demarcação de vários rios, cidades, como: Rio dos Caypós, Rio dos Anzicaes, Serra Grande, Curixa, Pontal. Muitos nomes não são legíveis pela grafia e tamanho da fonte. UM TESTEMUNHO DISFARÇADO DE APRESENTAÇÃO Minha relação com Brasília começou cedo. Ainda vivia no Rio Grande do Sul quando, estudando arquitetura, despertei para a Capital erguida no Planalto Central e creditada a Lucio Costa e a Oscar Niemeyer. Uma cidade, com quase a minha idade, que, imaginava, nasceu do zero... Morei em vários lugares. Tornei-me professor universitário. Mas a curiosidade pela Capital era tanta que realizei novo concurso público e, em 2002, fui transferido para a Faculdade de Arquite- tura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB). Foi na FAU que encontrei Sylvia Ficher, e nela descobri um gosto particular e sofisti- cado de compreender e questionar. Já cola- borando no Programa de Pós-Graduação, e mais uma vez com Sylvia, comecei a traba- lhar com a história de Brasília. Mas, pesqui- sa exige fontes. Implica sistematizar infor- mações. Pede o cotejamento de documentos. Foi assim que, lentamente, descobri outras Brasílias. Mais profundas e mais humanas. Menos monumentais e menos geniais. Uma Capital que não nasceu do zero e que veio a ocupar um território já conquistado. Uma Brasília que se fez (e se faz) muito além de um plano, desenho ou desígnio. Uma cidade com história... Boa parte dela com suas fon- tes, informações e documentos preservados no Arquivo Público do Distrito Federal. Aqui cabe um parêntese: é inacreditável que, com tantos problemas e deficiências, o DF conte com uma instituição que funcione tão bem quanto o “nosso” Arquivo. Mas voltando ao meu relato de vida, foi realizando ou orientando trabalhos acadêmi- cos que o Arquivo se mostrou competente, al- tamente respeitável e realmente público. Lá estão conservadas inesgotáveis fontes para a história da construção de Brasília (fala-se em seis milhões de itens...). Várias histórias po- dem ser contadas a partir de tamanho acervo. Primeiro descobri a sua espetacular coleção de imagens fotográficas. Milhares delas! De- pois foram os fundos documentais, como o do Dr. Ernesto Silva (1914-2010) ou o do arqui- teto Gladson da Rocha (1923-2007) – ambos doados pelos familiares ao Arquivo, em uma clara demonstração de confiança e espírito público. Lá também está o material do Brasí- lia Palace Hotel, edifício “pioneiro”, de 1957. De Oscar Niemeyer há muito mais. Cerca de cem desenhos ou projetos assinados pelo ar- quiteto. Edifícios construídos ou não, conhe- cidos ou não, como o denominado “Rancho Pioneiro JK” ou o projeto de um motel... Se não bastasse a quantidade e qualida- de do acervo de documentos primários origi- nais preservados, os servidores do Arquivo – eles também repletos de espírito público – têm sistematicamente procurado ampliar e complementar as informações sobre o DF, com a identificação, o resgate ou a repro- dução de documentos preservados em ou- tras localidades ou instituições. Foi o caso do acervo do médico Altamiro de Moura Pa- checo (1896-1996), presidente da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Federal, entre 1955 e 1958. Ao todo, foram digitalizados 6.154 itens sobre o DF, atual- mente pertencentes à Academia Goiana de Letras. O mesmo esforço tem sido realiza- do em relação aos documentos cartográfi- cos. Mapas e mais mapas foram localizados e, uma vez reproduzidos com alta resolução gráfica, incorporados ao acervo do Arquivo Público. Parte do resultado deste exemplar garimpo, e do “Projeto Documentos Goyaz”, pode ser apreciada na presente publicação: Goyaz – Guia de Cartografia Histórica, orga- nizado por Elias Manoel da Silva e Wilson Vieira Júnior. Elias e Wilson representam muito bem o que pode (e deve) ser uma instituição de memória (como é o Arquivo Público do Dis- trito Federal). Não satisfeitos em recolher e proteger documentos, sentiram a necessida- de de torná-los públicos. Mais que isso, di- daticamente, organizaram uma publicação cujo principal objetivo é, ao difundir o ma- terial cartográfico, construir consciência crí- tica sobre a história de determinada porção territorial do Brasil antes de Brasília. Para comprovar o que digo, basta verificar como o Guia foi estruturado. De um lado temos os mapas propriamente ditos e a indicação das respectivas instituições de origem (Ma- poteca do Itamaraty, Arquivo Histórico Ul- tramarino, Arquivo Público Mineiro, Casa da Ínsua, Arquivo Histórico do Exército, Biblio- teca Nacional, Arquivo Nacional, Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central, Casa de Cultura de Luziânia, Bi- blioteca Pública de Évora, Casa Altamiro de Moura Pacheco e Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística). e outro, mas de modo intercalado aos mapas, temos uma série de artigos especialmente elaborados, assinados por jovens e competentes pesquisadores: o próprio historiador Wilson Vieira Júnior fala dos primeiros mapas da Capitania de Goiás e da Freguesia de Santa Luzia; a arquiteta Lenora de Castro Barbo viaja pelas estradas coloniais do Planalto Central; o geógrafo Ro- drigo Martins dos Santos estuda os índios na cartografia; e o também historiador Elias Manoel da Silva explora a documentação produzida pelas “duas Comissões Cruls”. E não se engane o leitor: a Introdução não recebeu gratuitamente o título de “ensaio”. Nela, Elias Manoel da Silva, bem ao gosto dos nossos melhores ensaístas, lança uma série de teses sobre a cartografia, o território e a nação. Para finalizar, mas de fato iniciar, que- ro recuperar uma fala da Sylvia Ficher, que certamente está no DNA do presente Guia de Cartografia Histórica: A história de Brasília continua sendo escrita no registro do mito, mas não tão fortemen- te como quando reclamei disso, há mais de 15 anos. Naquele momento me incomodava aquela mágica que fazia com que a cidade fosse confundida com seu desenho, as pes- soas falando sobre Brasília e na cabeça delas a representação era o desenho original, a bor- boleta de Lucio Costa... Não falavam da cida- de real. Essa constatação quanto ao registro do mito se mantém, porém, cada vez menos aguda. Primeiro, era aquela coisa de um disco voador que pousou no meio do nada, como se ninguém entre os trabalhadores tivesse mor- rido, e pronto. A epopeia em si da construção ficava fora do mito, porque se via apenas a obra limpa, bem-feita, que saiu da pranche- ta do arquiteto. Felizmente, hoje se valoriza mais o processo de construção da cidade... Essa memória vem sendo recuperada. Andrey Rosenthal Schlee Diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização (IPHAN) Página 8 e 9 – Sumário Descrição da imagem: no topo da página 8, à esquerda, uma bussola. Ao lado de cada marcador de navegação da bussola saem traços, grandes e pequenos, que ultrapassam o instrumento, chegando quase a metade da página. No rodapé das páginas, oito imagens pequenas, dentro de molduras quadradas, são elas: mapas, plantas, bussola, índio com flecha e cocar. Introdução: Ensaio sobre a cartografia dos “Sertões” Elias Manoel da Silva Primeiros mapas da Capitania de Goiás Wilson Vieira Júnior MAPOTECA HISTÓRICA DO ITAMARATY ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO CASA DA ÍNSUA Estradas coloniais do Planalto Central na cartografia histórica Lenora de Castro Barbo ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO Os índios na cartografia histórica de Goyaz Rodrigo Martins dos Santos MAPAS ETNO-LINGUÍSTICO DO PLANALTO CENTRAL E ADJACÊNCIAS – 1700 A 1900 Página 10 – Introdução: Ensaio sobre a cartografia dos “Sertões” – Elias Manoel da Silva Descrição da imagem: mapa com o fundo amarelo, sugerindo terra árida. Há também demarcações em azul, sugerindo o curso do rio, com várias ramificações, chamado “Rio Grande”. É possível identificar árvores, igrejas e muitos morros e serras. Os nomes não são legíveis pela grafia e tamanho da fonte. No topo da página o destaque para o título do capítulo “Introdução: Ensaio sobre a cartografia dos “Sertões”. Por Elias Manoel da Silva”. 1. Um roteiro didático... “Theatrum Mundi”: assim começam a ser identificados os primeiros mapas múndi. De início, já podemos perceber que os cartógrafos entendiam o mundo como um grande teatro onde a história humana apresentava o longo drama épico de suas tragédias e comédias. A força da expressão “Theatrum Mundi” vai nos conduzir para o imenso teatro dos Sertões da América portuguesa, principalmente Goiás, para entender como foram, aos poucos, sendo produzidos os mapas dessa região. No contexto da cartografia da América portuguesa, Goiás está nos Sertões. Portanto, para se entender adequadamente a história dos mapas de Goiás, devemos voltar ao passado para contextualizar como os luso-brasileiros e portugueses conquistaram os Sertões, pois é do processo de conquista dessas vastas regiões que nasce a necessidade de se cartografar. E, para isso, é necessário: contextualizar como Portugal iniciou pioneiramente a produção de mapas baseados em Astronomia e como essas técnicas influenciaram a cartografia dos Sertões, quando para cá vieram, a fim de resolverem os problemas de fronteira com a Espanha; contextualizar a descoberta de ouro nos Sertões e como essa nova realidade incidiu na produção de mapas; contextualizar as expedições dos sertanistas pelos “Certoens” e como produziram seus mapas e, finalmente, é necessário também reavaliar o quanto os ameríndios da América portuguesa, profundos conhecedores dos Sertões, influenciaram a produção dos mapas dos sertanistas. Portanto, para entender a produção dos mapas de Goiás, é fundamental termos, em perspectiva, um tempo mais longo, a fim de conhecermos os atores que, de uma forma ou de outra, entraram pelos Sertões e cartografaram esse espaço. 2. Cuidado com a cilada que pode nos confundir: a ideia de “território do Brasil” Muito raramente, nesta introdução, usaremos a palavra “Brasil”. Para nos referir a esse território, usaremos a expressão “América portuguesa”. Por que esse preciosismo? Para fugirmos daquilo que chamo de cilada territorial, muito recorrente no modo de pensar da maioria das pessoas e que atrapalha uma adequada compreensão da história dos mapas do território hoje chamado “Brasil” e de suas regiões. Estamos tão acostumados a ver o mapa do Brasil com os limites atuais que, inconscientemente, naturalizamos essas fronteiras, ou seja, acompanhamos o processo de formação do território brasileiro como se houvesse um destino tecendo a história para que chegasse ao formato do Brasil no tamanho que hoje conhecemos. Essa abordagem “finalística”, no sentido de uma finalidade – um objetivo a ser alcançado – e que no discurso histórico chamamos, tecnicamente, de perspectiva teleológica, contamina nosso olhar, pois inconscientemente nos leva a interpretar os sujeitos históricos em suas épocas, principalmente aqueles que produziram mapas, como possuidores de uma ideia de território do Brasil que deveriam construir. É como se houvesse um projeto de território previamente concebido, no qual apenas era necessário ir realizando. A falta de cuidado, na hora de refletir a história da construção do território e os mapas produzidos nesse processo, chegou a um ponto na historiografia brasileira que se deu intencionalidade às expedições dos sertanistas, popularmente conhecidos como Bandeirantes. Quando nos referimos à intencionalidade, estamos afirmando uma vontade consciente de um objetivo específico a ser alcançado. Essa perspectiva colocava as expedições dos bandeirantes como intencionalmente voltadas para – como diziam meus professores de História na década de 1970/80 – “alargar as fronteiras do território brasileiro”. Um anacronismo, pois não havia a ideia de Brasil nesse período e os Bandeirantes não tinham, previamente, em suas mentes, um território a ser “conquistado para o Brasil”. É possível supor, no máximo, que tivessem uma ideia de “território português”, imaginário esse criado e socializado pela cartografia produzida segundo as razões de Estado do Império português. O pior de tudo, nesse tipo de raciocínio, é que, dessa forma, em qualquer discussão sobre os limites da América portuguesa, no nosso caso, com a Espanha, pensamos, inconscientemente, que os Portugueses estão “com a razão” e os Espanhóis, tentando se apossar de território que pertence ao “Brasil”. Na verdade, do ponto de vista do Tratado de Tordesilhas, foi exatamente o contrário. Como já naturalizamos em nossa mente consciente e subconsciente um mapa do Brasil, cujos limites nos acostumamos a ver desde a mais tenra idade, criamos “mocinhos” e “bandidos” na história da cartografia: “mocinhos” são os portugueses tentando construir o “Brasil” para chegar às fronteiras que, antecipadamente, já carregamos em nossa mente; e os “bandidos” são aqueles que atrapalham a construção desse futuro território. Influenciados por essa cilada territorial, naturalizamos as fronteiras e começamos a julgar as decisões, como certas ou não, a partir dos limites do território brasileiro de hoje, cometendo sérios erros de anacronismo. Não podemos projetar no passado conceitos e compreensão de território que só vão existir após longo processo histórico do qual nós somos filhos e, por isso mesmo, pensamos dessa forma. A ação dos atores históricos que se embrenharam pelos “Certoens” da América portuguesa só pode ser corretamente interpretada dentro dos limites de compreensão, das expectativas e dos valores do contexto histórico deles. A todo contexto histórico, cabe a sua consciência do possível, e é só dentro dela que as ações adquirem seu verdadeiro sentido. A verdade é que nem portugueses nem espanhóis tinham em mente, desde o início da colonização, algum território específico chamado “Brasil” quando lutavam por alargar ou defender os limites territoriais de suas colônias. A compreensão adequada da representação espacial do “Brasil” nos mapas produzidos desde a chegada dos portugueses é mais bem delineada se superarmos essa cilada que consiste em transpor para o passado os limites do Brasil atual, como se, de antemão, já se soubesse desde o desembarque de Cabral que aquele território se transformaria em um país independente, na nação que hoje conhecemos por Brasil. Pode parecer estranho a nós, que aceitamos o atual desenho do território brasileiro como um fato consumado, mas o surgimento dessa configuração espacial não era um destino inescapável do Brasil. O problema é a dificuldade em refletir-se historicamente sobre um fato consumado: os limites do atual “território – Brasil”. Na verdade, todos os trabalhos de cartografia feitos para os litígios de fronteira com a Espanha não podem ser considerados como os predecessores da história do atual território chamado Brasil, simplesmente porque não existia isso que chamamos de Brasil. Existia, sim, o território da América portuguesa e esta, por sua vez, não passava de um conjunto de ilhas-povoamento no imenso território colonial, escassamente habitadas, cujas capitanias estavam mais ligadas politicamente com Portugal do que entre si. É claro que, nos mapas, a representação dessas diversas ilhas-povoamento da América portuguesa aparecia com o nome genérico de “Brasil”. Contudo, essa realidade sociopolítica chamada “Brasil” não era compreendida por eles da mesma forma como hoje a compreendemos, quando falamos da nação brasileira, do território brasileiro, do “país” chamado “Brasil”. O fato de usarmos hoje a mesma palavra “Brasil” para o território do período colonial brasileiro pode dar a falsa ideia de falarmos da mesma coisa. A falsa sensação de uma mesma compreensão, ou seja, uma espécie de solidariedade temporal que, de fato, não existe. Por ser histórico, o conteúdo das palavras humanas depende do tempo no qual são usadas, ou seja, a semântica de um vocábulo diferencia-se de acordo com o momento histórico.1 Portanto, é necessário entrar no entendimento que as sociedades têm do seu tempo histórico. Infelizmente, fomos tão educados a pensar a História como “sucessão de fatos” que nos esquecemos de pensar a história como “mudança de compreensão” dos conceitos que usamos quando nos comunicamos. O “tempo histórico”, além do óbvio sentido cronológico, é um conceito antropológico. O tempo histórico não é apenas um elemento externo às pessoas, aquilo que nós chamamos de “fatos no tempo”. É também, e acima de tudo, aquilo que acontece dentro da cabeça das pessoas, que nós chamamos de conceitos, ideias, mentalidade, ou seja, o horizonte mental das pessoas. Dessa forma, a configuração espacial das fronteiras do Brasil que desde criança vemos nos mapas socializou a falsa ideia de unidade territorial e ideológica, de um sentido coletivo de nacionalidade que de fato não existia naquele momento histórico. A população da América portuguesa não era o “Brasil”, porque não se sentia fazendo parte de uma pátria brasileira. O espaço territorial, naquele momento histórico, não tinha criado ainda um sentido coletivo, de uma sociedade que respira comunhão comunitária. No máximo, o que podemos afirmar é que a percepção da “nacionalidade”, conceito extremamente complexo e bem mais próximo de nosso tempo do que pensamos – e aqui entendida como uma experiência de comunhão social – era sentida e percebida regionalmente. Há estudos interessantíssimos mostrando como os deputados da América portuguesa, quando foram para Lisboa a fim de elaborar a Constituição para o Reino de Portugal, exigência dos revoltosos da Revolução Liberal do Porto (1820), não se identificavam como brasileiros e, sim, como paulistas, mineiros, pernambucanos etc. Não fosse a chegada à América portuguesa da família real lusitana, em 1808, gerando forte centralização política e econômica na cidade do Rio de Janeiro e, com isso, gerando um centro gravitacional de poder e, um pouco mais tarde, no processo de independência, a força dos comerciantes de escravos que tinham necessidade de um Estado forte e unificado para se contrapor aos interesses ingleses que exigiam o fim do comércio de pessoas humanas, hoje seríamos um conjunto de países independentes, tendo em comum a língua portuguesa, como de fato aconteceu com a área de colonização espanhola da América, que se fragmentou em diversos países. É aqui, seguindo o raciocínio que vimos propondo, que queremos acrescentar mais uma variável que, acreditamos, contribuiu para que a imensa América portuguesa continuasse com sua unidade territorial, após a criação de um Estado a partir de 7 de setembro de 1822: a socialização, por meio da cartografia, de uma ideia de território “Brasil”. Como não existia a ideia de uma nacionalidade brasileira, a cartografia dos limites do território da América portuguesa produzida por Portugal e socializada principalmente a partir dos Tratados de Madrid (1750) e de Santo Ildefonso (1777) – por sinal, muito parecidos com os limites do Brasil de hoje – transmitia certo poder de convencimento ao apresentar um território que antecipava a existência de uma nacionalidade, de um povo brasileiro. Os mapas passaram a ideia de um território que antecedeu o povo. O imaginário de um “território brasileiro” apresentado pela cartografia gerava a falsa percepção de um coletivo social – de um povo – que só existia no traçado da cartografia. O mapa do “território brasileiro” criou uma ficção de identidade muito útil após a Independência (1822). Para o “Estado” Imperial, centralizado no Rio de Janeiro e consciente da fragilidade da unidade política interna, não interessava que nascessem outros “Estados” dentro desse território. Ora, a cartografia criada no contexto da colônia endossava essa perspectiva ao afirmar um “Brasil-território” como se fosse sinônimo de um “Brasil-povo”, uma nacionalidade. De certa forma, a cartografia antecipou a nacionalidade e a fundou. Aquilo que hoje chamamos de Brasil nasceu primeiro no mapa para, então, ser gerado nas pessoas. É possível, portanto, afirmar que a cartografia colonial, enquanto socializou um imaginário de território, colonizou a mentalidade e naturalizou, no seu traçado de limites, a presença de uma nacionalidade que de fato não existia. A representação espacial dos mapas da América portuguesa era apresentada como a representação de uma comunidade unitária, o que enfraquecia as forças centrífugas que vinham de algumas regiões do território e que almejavam maior autonomia política diante do exagerado centralismo no Rio de Janeiro. Todas as revoltas regionais, desde a chegada da Família Real portuguesa, passando pelas revoltas do Período Regencial e Imperial, vão confirmar que o traçado do mapa “do Brasil” não era um consenso, mas foi útil em seu papel de convencimento para a criação de um projeto de nação brasileira. O Estado que surgiu a partir de 7 de setembro de 1822 soube usar muito bem a representação do “território brasileiro”. A cartografia, ao socializar uma ideia de território, virou uma arma política. Alguém poderia questionar: poderia ser diferente? A América portuguesa poderia não ter se tornado o Brasil? Uma resposta poderia ser: “o território-Brasil está aí e ponto final!” Entretanto se, por um lado, a perspectiva de que outros caminhos poderiam ter sido escolhidos não muda o que está consumado, por outro, ao menos permite olhar de forma mais crítica para as possibilidades que ficaram latentes na história dessa colônia portuguesa dos Trópicos. Além disso, possibilita uma percepção mais complexa sobre a produção e os significados dos mapas desse território. O horizonte de expectativa de uma época pode ser alcançado pelo conhecimento investigativo do historiador, mesmo que não tenham sido realizadas todas as possibilidades históricas latentes. Geralmente, pensamos que um povo, uma nacionalidade, cria a sua fronteira. Se na história de muitos países – no esfacelamento dos Impérios após a 1ª Guerra Mundial, por exemplo – as fronteiras territoriais foram, de fato, criadas por um povo e para um povo, no caso do Brasil as fronteiras territoriais, representadas nos mapas e construídas pelos interesses do Império português em sua colônia na América do Sul, nasceram antes da constituição do povo e tornaram-se elementos para fundar um povo. Aqui, as fronteiras foram geradoras do povo brasileiro e os mapas foram importantes elementos para referendar esse processo. Dessa forma, a cartografia do território da América portuguesa pode ser considerada a certidão de batismo do povo brasileiro. Como toda certidão de batismo - que vem antes de a criança ter consciência de uma identidade e história pessoal - aqui o mapa batizou um povo e influenciou seu crescimento, forma identitária e sua territorialidade. Na mesma linha do uso de metáforas religiosas, os mapas do território do “Brasil”, elaborados na dinâmica do período colonial, representavam e apresentavam uma espécie de vocação. Se, por um lado, aquele enorme território do mapa não representava um povo, no sentido de uma identidade coletiva nacional, fornecia, por outro lado, um forte apelo vocacional enquanto produzia uma ficção de identidade coletiva, de “um” povo em suas fronteiras. Dessa forma, os mapas do “território brasileiro” se tornavam a representação antecipada de um projeto histórico de povo e que, socializados, tiveram força de convencimento muito grande nesse processo. É possível afirmar que no caso brasileiro, a partir de uma leitura da cartografia, o território gerou o povo e não o contrário. As reflexões propostas até aqui bastam para problematizar o que chamo de cilada territorial da cartografia do “Brasil”. Acredito que pouco se tem estudado sobre o poder da cartografia – produzida antes da independência da América portuguesa e no período Imperial – no processo de construção de uma “identidade brasileira”. Já se comentou à exaustão a importância dos mapas para as discussões nos tratados de fronteira com a Espanha. Já se estudou bastante, e corretamente, diga-se de passagem, a função do Estado como criador de uma nacionalidade. Mas a socialização da ideia de um território - divulgada pelos mapas - como uma força que de certa forma fortaleceu e justificou as ações daqueles que queriam uma unidade territorial da América portuguesa, nos parece que poderia ser também mais estudada. O importante é estarmos conscientes da cilada conceitual de um “território brasileiro”. É o mapa confirmando um território e engendrando o imaginário de uma identidade nacional chamada “povo”, que de fato não existia e só foi construída após longo e complexo processo histórico, do qual nós hoje somos o resultado. Os mapas, principalmente os chamados “mapas históricos”, são muito mais do que a simples representação espacial de um território. Eles engendram mentalidades e geram povos. Portanto, ao refletirmos sobre alguns aspectos da história da cartografia, procurando entender melhor a cartografia da região dos “Sertões” - entendido aqui como o território Centro-Oeste - vamos nos despir de qualquer pré-compreensão de território e, principalmente, evitar ver na América portuguesa aquilo que só mais tarde poderemos chamar de território brasileiro, o “Brasil”. A América portuguesa não é sinônimo de Brasil. Qualquer identificação direta entre essas duas realidades irá gerar erros na interpretação dos eventos históricos que nos legaram o que hoje conhecemos por “Brasil” e empobreceria o estudo da cartografia desse território. 3. Os mapas como os “olhos do rei” No período da colonização e, mais tarde, com a criação do Império brasileiro, “a representação cartográfica do espaço foi uma preocupação constante dos governantes. Os mapas eram considerados uma espécie de olhos do rei e, cada vez mais, eram vistos como instrumentos essenciais para conhecimento dos vastos espaços da colônia por parte da administração. Por meio dos mapas, o poder régio ampliava suas informações sobre o espaço de suas posses, o que auxiliava e garantia o processo de civilização e dominação das regiões do império”.2 Como ressalta Bueno, “mapear significa conhecer, domesticar, submeter, conquistar, controlar, contradizer a ordem da natureza”.3 Desde muito cedo, Portugal estava consciente do potencial que a produção de bons mapas representava como meio de informação e poder. Como prova, podemos indicar: “o périplo africano e a descoberta – ou ‘achamento’ como os portugueses dizem – do Brasil. À medida que o tempo passava, e a importância do Brasil crescia para o reino português, tornava-se urgente a produção de informações que fizessem frente às necessidades da maior colônia de Portugal. E à medida que o Brasil tornava-se a principal fonte de recursos para a metrópole, a premência desse conhecimento crescia, frente às ameaças externas. As atividades de mapeamento, conduzidas em sua maioria por técnicos estrangeiros, visavam a dar o suporte de conhecimento do território colonial brasileiro, buscando fornecer às administrações, tanto metropolitana como colonial, as informações necessárias para o planejamento, entre outros aspectos, de sistemas defensivos, bem como para as rotas de penetração e de ocupação daquele vazio geográfico de então”.4 O nível técnico da produção cartográfica, em relação aos outros Estados europeus daquele período, chegou a tal ponto que um dos mais importantes mapas portugueses, no início do século XVI (1502), fruto da chegada no sul do continente americano e do estudo do grande litoral desse continente, conhecido como “Planisfério de Cantino”, um enorme pergaminho de aproximadamente 2 m × 1 m, foi contrabandeado para a península italiana. (Figura 1) Algumas repúblicas da península itálica tinham o interesse em conhecer as notícias que circulavam pela Europa a respeito das descobertas feitas pelos portugueses no Oceano Atlântico e no Índico. Curiosidade compreensível, tendo em vista que tais descobertas poderiam ameaçar o equilíbrio político das belicosas Repúblicas daquela península. “Um embaixador do Duque de Ferrara, Hércules d’Este, chamado Alberto Cantino, passou por Lisboa nos primeiros anos do século XVI, e terá conseguido comprar os favores de um (ou mais do que um) mestre cartógrafo que lhe fez uma copia do padrão real existente na Casa da Índia, com as mais recentes descobertas geográficas portuguesas”.5 A correspondência trocada entre o embaixador e o duque, que por sinal permitiu datar esse importante mapa – 19 de novembro de 1502 –, revela que a cópia do mapa foi comprada com a enorme quantia de 12 ducados de ouro. Apenas para narrar os acasos que podem acontecer com documentos históricos importantes, esse mapa foi descoberto quando o Diretor da Biblioteca Estense de Módena, Giuseppe Boni, o encontrou sendo usado como cortina em um restaurante daquela cidade. Comprou a “cortina” e, a partir dos dados que estavam escritos, conseguiu rastrear sua origem e importância. Até hoje, não se sabe que cartógrafo português produziu o mapa. Contudo, a posteridade deu a essa peça cartográfica o sobrenome daquele que o adquiriu clandestinamente: Alberto “CANTINO”. É um mapa que foi “extraído clandestinamente de Portugal, de cujos arquivos reais foi copiado, o que singularmente lhe aumenta o valor”.6 Neste mapa, temos a primeira representação cartográfica portuguesa de parte do território do que futuramente será o “Brasil”, ali identificado como “A Vera Cruz”. O território é representado por uma faixa litorânea, sugerindo que, diferentemente da Carta de Pero Vaz de Caminha que o indicava como uma ilha, o Mapa de Cantino já indicava que essa porção de terra era um novo continente. Não é, portanto, o extremo Oeste da Ásia, como Cristóvão Colombo morreu pensando ser.7 O perímetro do continente africano está representado com grande exatidão para a época. Fato compreensível porque os portugueses haviam chegado à Ásia, contornando aquele litoral. É a primeira vez que temos referência em mapas do meridiano de Tordesilhas, fruto de um tratado entre Portugal e Espanha, assinado em 1494 em uma cidade espanhola deste mesmo nome. É identificado com os seguintes dizeres: “Este he o marco dantre Castella e Portugal”. Pela primeira vez, em um mapa conhecido sobre esse território, aparece a palavra “brasil”, para indicar o “Rio de brasil”. Hoje esse rio está batizado com o nome de “Rio Buranhém”. Encontramos também os primeiros topônimos dados pelos portugueses, e que permanecem até hoje: “Porto Seguro”, “Baía de todos Sanctos”, “Rio de São Francisco” e “Cabo de Santa Marta”. Página 14 –Figura 1 Descrição da imagem: mapa com o fundo amarelo, sugerindo terra árida. Os continentes e as grandes ilhas são representadosna cor verde. As pequenas ilhas estão nas cores vermelho ou azul. Bandeiras marcam os territórios. O Equador está representado por uma espessa linha dourada, e a linha do tratado de Tordesilhas por uma espessa linha azul. Os trópicos e o Círculo Polar Ártico estão assinalados por finas linhas a vermelho. Há numerosas rosas dos ventos.Os nomes, em grafia gótica e cursiva, nas cores vermelho e preto, não são legíveis. Página 15 – Figura 2 Descrição da imagem: mapa do Mar Mediterrâneo com diversas linhas em toda a sua extensão. Ao lado esquerdo pode-se ver uma bussola. Por passar por dezoito nacionalidades diferentes, há traços de alguns países, como Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito. Uma área verde está demarcada. Os nomes, em grafia de forma, colorida, não são legíveis. Página 17 – Figura 3 Descrição da imagem: mapa onde há uma demarcação com significativa vegetação, animais, índios com cocar e fechas, homens despidos, pegando madeiras. Ao lado, no mar, dois grandes navios. Uma grande bussola ao termino do mapa. 4. Pilotos e cosmógrafos: conflitos no início da moderna cartografia portuguesa... A produção de mapas em Portugal, principalmente na dinâmica das aventuras náuticas portuguesas, a partir do século XV, está ligada diretamente às necessidades da “arte de marear”, para usar uma expressão cara ao período. Cartografia e Técnica de Navegação deram-se as mãos desde o início. Para evitar qualquer anacronismo, a palavra cartografia ainda não existia. Naquela época, a arte de confecção de mapas era designada por COSMOGRAFIA e os profissionais desse período que os produziam, os COSMÓGRAFOS; eram um resumido número de técnicos que “dirigiam ou aconselhavam a obra da expansão portuguesa através dos mares daqueles tempos”.8 Foi a preocupação em saber se localizar, ou simplesmente, saber voltar ao porto de origem que motivou a grande revolução cartográfica que os lusos implementaram. Não iremos descer às discussões técnicas do período em relação à cartografia, mas apenas narrar pontualmente o processo de passagem de uma cartografia prática, experiencial, para uma de caráter mais técnico, e institucionalizada pelo Estado português, a fim de entender melhor os mapas que serão feitos para representar os Sertões da América portuguesa. Na verdade, “quando os mareantes da segunda armada da Índia avistaram, no dia 22 de abril de 1500, um grande monte mui alto e redondo ao qual o capitão-mor denominou Monte Pascoal, já a cartografia portuguesa tornara-se a mais aperfeiçoada da Europa, pois a necessidade de serem lançadas nos mapas náuticos, indispensáveis à continuada expansão exigida pelo comércio marítimo lusitano, assim o obrigava”.9 Simplificando um pouco a complexidade do processo, podemos afirmar que o início da modernização da produção de mapas em Portugal, a fim de se chegar à excelência técnica em cartografia, é acompanhado por conflitos advindos de dois modelos de conhecimentos. De um lado o conhecimento dos pilotos que praticavam a “arte de marear”, e de outro os cosmógrafos, que usavam a Matemática relacionando com a Astronomia. Os pilotos eram profissionais práticos, ligados principalmente aos Armazéns da Guiné e Índias, de onde partiam as embarcações portuguesas. Não possuíam maiores conhecimentos teóricos, apesar dos profundos conhecimentos pela experiência prática acumulada e transmitida pelos mais experientes. Eram os que, na verdade, governavam o navio, sendo encarregados de “seguir os regimentos, traçar as rotas com apoio das cartas náuticas e das observações astronômicas e escrever o diário de bordo”.10 Em terra, essas anotações podiam ser estudadas pelos cosmógrafos.11 Os cosmógrafos, por sua vez, elaboravam mapas usando conhecimentos matemáticos e astronômicos. No período em que as viagens tinham como foco o Mediterrâneo ou terras próximas, o conhecimento dos profissionais práticos em navegação, guiados essencialmente pela direção oferecida pelas bússolas e pela proximidade do litoral, permitia a criação de mapas que respondiam às necessidades de marear. Esse tipo de mapa, conhecido por “Carta Portulano” (Figura 2), era essencialmente descrição do litoral no qual a bússola indicava um rumo possível em direção aos portos e as distâncias eram estimadas. Tendo em vista a relativamente pequena área de cobertura desses mapas, os erros cometidos na navegação não provocavam maiores consequências. A experiência dos pilotos era mais importante que o emaranhado de linhas daqueles mapas. No entanto, a partir do momento que as navegações portuguesas se dirigiram para o Atlântico ao longo do litoral africano, “as distâncias percorridas no alto-mar, sem avistar terra para retificar a posição, foram sendo cada vez mais extensas. Os erros associados à determinação da direção e da distância percorrida vão-se acumulando ao longo do tempo. Assim, as posições obtidas recorrendo apenas ao rumo e estima eram afetadas por erros tanto maiores quanto maior fosse o intervalo de tempo decorrido para retificação da posição”.12 Não havia saída a não ser adaptar novas técnicas astronômicas para serem usadas dentro dos navios. O problema é que isso exigia conhecimentos de Matemática e Astronomia muito acima das condições da maioria dos pilotos portugueses. O conflito entre o saber dos pilotos e dos cosmógrafos contratados pela Corte Portuguesa para resolver esses problemas, pode ser percebido pelas críticas de um desses pilotos práticos: “A náutica é uma arte, e baseia-se principalmente na experiência, banindo e repudiando, muitas vezes e com razão, fantasias abstratas. [...] Mas os matemáticos pretendem arrogar-se o reconhecimento da ciência náutica, que é exercida principalmente na matéria. E homens que nem sequer podem agüentar os mais leves solavancos do mar, prometem explicá-la. São realmente temerários, porque desconhecendo a realidade, de modo algum poderão interpretá-la [...]. Os matemáticos [...] que não viram o mar, não andaram embarcados nem praticaram a arte de navegação, terão mau conhecimento dos temas náuticos e podem sustentar pior interpretação deles [...]. Não metam foice em seara alheia homens que, encerrados em seus gabinetes como tartarugas entorpecidas, desconhecem por completo navegações e viagens”.13 Nesse contexto conflituoso, o Estado português irá intervir. Para tanto, em 1420, por iniciativa do Infante Dom Henrique, é contratado o mestre cartógrafo Jaime de Maiorca, a fim de ensinar aos portugueses as mais avançadas técnicas cartográficas da época bem como construir instrumentos náuticos. Jaime nasceu na Ilha de Maiorca e fazia parte de uma família com tradição na produção de mapas. Some-se também, a essas iniciativas do Estado, a difusão de importantes obras de “Cosmografia”, “Astrologia”, “Tratado do Astrolábio”, “Tratado do Quadrante”, um conjunto de saberes que viria modernizar a prática de navegar dos portugueses, principalmente para as exigências das navegações oceânicas. Isso mostra que, no início do Quinhentos, os portugueses tornaram-se especialistas na navegação astronômica e na cartografia na Europa. Esse conhecimento foi construído a partir da recepção e transformação da herança cultural de saberes que circulavam. Foram as necessidades práticas de navegar que forçaram a sintetizar o que já se sabia e a construir novos saberes. Como resultado, os portugueses, além da própria experiência acumulada pela prática dos pilotos, receberam a herança das escolas cartográficas e náuticas do Mediterrâneo. Mas qual era a grande novidade que os cosmógrafos poderiam trazer para a cartografia, principalmente no apoio à sabedoria prática dos pilotos? A grande virada dada pelos portugueses foi o aperfeiçoamento da navegação por meio dos astros (Astronomia). A técnica de guiar-se a partir dos astros da abóbada celeste exigia profundos conhecimento de Matemática e Astronomia. Tais conhecimentos teóricos necessitam de um organismo institucional especializado para uma formação continuada dos pilotos bem como para aqueles que fabricavam instrumentos de auxílio à navegação. O que o estado português intentava era a criação de um órgão de apoio científico encarregado de dar formação matemática, astronômica e geográfica necessária aos homens do mar. Havia muito investimento financeiro do Estado e de particulares em jogo nas expedições marítimas portuguesas, pois equipar navios e compor um grupo de marinheiros era extremamente caro. Portanto, ao preparar melhor os navegadores, intencionava-se garantir o retorno do financiamento das expedições marítimas do Estado português, profundamente unido à burguesia mercantil. Ora, o novo conhecimento náutico produzido incidirá diretamente no aperfeiçoamento da cartografia portuguesa. Ressalte-se que o problema de localizar o navio na imensidão do mar, pelo menos para a medição das Latitudes, foi resolvido ainda durante o século XV, “adaptando técnicas astronômicas para o uso a bordo dos navios, técnicas essas que permitiam um conhecimento rigoroso da Latitude do navio. As cartas passaram a refletir este avanço que se verificou em nível da arte de navegar, passando a conter uma escala apropriada para determinação da Latitude dos diversos lugares nelas registrados”.14 Portanto, o problema eram as Longitudes. Ademais, como afirmou o importante historiador da cartografia portuguesa, Jaime Cortesão – descontando seu entusiasmado lusitanismo – a invenção da navegação astronômica é um dos passos da história da ciência náutica e cartográfica quase exclusivamente português.15 Na prática, a institucionalização de um ensino de caráter formal para a navegação, levando ao aperfeiçoamento da produção dos mapas, deu-se com a criação do cargo de cosmógrafo-Mor em meados de 1500. O primeiro a ser nomeado para a função, não por acaso, foi o matemático Pedro Nunes. As atribuições do cosmógrafo-Mor estavam delineadas nos “Regimento do cosmógrafo-Mor” de 1559 e 1592. Esses documentos nos permitem perceber o salto qualitativo que se produzirá na cartografia portuguesa. Segundo o grande estudioso dessa documentação, Teixeira Mota,16 os Regimentos regulam a função e atribuições do cosmógrafo-Mor: competia-lhe fazer exame para todos aqueles que pretendessem fazer cartas para navegação e fabricar instrumentos náuticos os quais receberiam uma certidão comprovando a competência; analisar e aprovar mapas, globos e outros instrumentos náuticos; dar seu parecer nos conflitos sobre demarcação de terras descobertas e a descobrir; atualizar com as novas informações de acidentes geográficos, descrição de costas, as rotas entre os portos, enfim, todas as informações que os pilotos e navegadores registravam em suas viagens. Além disso, lecionar Matemática para todos os que estavam ligados às atividades náuticas. O matemático Pedro Nunes “frente à sabedoria prática estabeleceu um corpus de conhecimentos, sistematizados em inúmeros tratados redigidos em língua vernácula, inaugurando uma nova fase da ciência náutica, que garantiu a supremacia portuguesa nos mares até fins do século XVI”,17 e repercutiu na qualidade dos mapas confeccionados em Portugal. Seus sucessores continuaram as mesmas atribuições. Dessa forma, “essa constante atualização, uniformização e correção, numa época de averiguações permanentes, fez das cartas portuguesas, manuscritas e secretas, verdadeiras vedetes no período: disputadas, contrabandeadas e compiladas pelas inúmeras nações que, na sequência de Portugal, iniciaram seu processo de expansão ultramarina. Com notável pioneirismo, coube a Portugal inaugurar a navegação astronômica para além das costas da Europa, bem como estabelecer uma série de novos procedimentos que orientavam a formação de quadros técnicos habilitados a descobrir e conquistar novos mares e novos mundos em nome da Coroa”.18 Mas, na prática, como eram elaborados os mapas lusitanos nesse período? Da seguinte forma: os navios possuíam pilotos e outros técnicos de navegação que anotavam importantes informações a partir das técnicas de localização aperfeiçoadas e outras criadas pelos portugueses. Essas informações eram, então, repassadas para os profissionais da produção de mapas que ficavam em Portugal, os cosmógrafos. Ali, havia uma espécie de “mapa-guia” que era atualizado com as informações recebidas e que servia para a confecção dos mapas de uso cotidiano. Em cada viagem ao litoral brasileiro se acumulavam informações que permitiam aos cosmógrafos ir aos poucos revisando e delineando mais detalhadamente e com maior correção de localização e de proporção o imenso território da América que os portugueses queriam colonizar. Exemplo clássico dessa metodologia foi a expedição colonizadora de Martin Afonso de Sousa. Das informações repassadas pelos profissionais dessa expedição nasceu o notável mapa “Carta Atlântica de Gaspar Viegas” e o roteiro de viagem Diário de Navegação de Pêro Lopes de Sousa “que pode ser considerado como primórdio da roteirística da costa brasileira”.19 Assim, da chegada dos portugueses à América até os anos 70 do 1500 “estavam os pilotos e mareantes na posse de um magnífico roteiro para a navegação ao longo da costa do Brasil e do restante do território hoje uruguaio e argentino”. 20 É importantíssimo ressaltar que essa cartografia do início das navegações portuguesas tinha como interesse principal a representação costeira: “era feita pelos próprios pilotos e revista por geógrafos [...]. Nem sempre é um documento estritamente científico e digno de fé, já que obedece, muitas vezes, a propósitos políticos, quer escondendo o conhecimento de territórios cuja soberania era disputada, quer viciando as respectivas coordenadas para alargamento desta soberania”.21 Além desses pilotos, outro personagem deu importante contribuição ao trabalho dos cosmógrafos: os roteiristas. Considerando que muitos roteiros de viagens foram feitos por cosmógrafos, a historiografia nem sempre deu o devido valor aos roteiristas na confecção de mapas. Muitos roteiros foram vistos apenas como literatura de viagem sem fazerem a devida relação deles como apoio às atividades dos cosmógrafos e, portanto, como subsídios para a produção de mapas. Apenas para exemplificar, citemos o importante trabalho de Gabriel Soares, de 1587: “Roteiro geral com largas informações de toda a costa do Brasil e Memorial e declaração das grandezas da Bahia de Todos os Santos de sua fertilidade de das notáveis partes que tem” conhecido simplesmente como “Tratado descritivo do Brasil” em 1587. Constitui um dos mais detalhados relatos do início da colonização portuguesa na América do Sul, abrangendo informações de cunho geográfico, botânico, etnográfico e linguístico. Devido ao alto grau de especialização exigido para a criação de mapas e a complexidade dos conhecimentos que o cosmógrafo deveria possuir, naturalmente muitos procedimentos eram passados de pais para filhos, ou parentes próximos, e aos poucos criaram-se famílias especializadas na manufatura de mapas, como a Família Reinel, Família Teixeira, Família Homem, Família Albernaz. É dos trabalhos dessas famílias de cartógrafos que vai nascer os primeiros mapas detalhados da costa da “Terra Nova”, o “Brasil”, e de todas as possessões portuguesas da época das “descobertas”. Mapa notável para exemplificar o trabalho de duas dessas famílias de profissionais em cartografia, a Reinel e a Homem, é o mapa conhecido como “Terra Brasilis”, produzido por volta de 1519 e que atualmente está na Biblioteca Nacional da França (Figura 3). Muito utilizado nos manuais de História do Ensino Fundamental e Médio, apresenta uma caixa de texto em língua latina com os seguintes dizeres: “Esta é a carta da região do grande Brasil, situado ao ocidente das Antilhas de Castela e que existe grande abundância de uma árvore, chamada brasil, com cuja madeira se tingem de vermelho as vestes”. Se compararmos com o mapa “de Cantino”, considerado a primeira representação de parte do que seria o “Brasil”, e que trazia alguns poucos nomes identificando acidentes geográficos do litoral, o mapa “Terra Brasilis” apresenta 146 nomes com os quais os portugueses “batizaram” rios, córregos e outros acidentes geográficos que podem ser percebidos do litoral. Apesar de poucos dados do litoral entre o Maranhão e a foz do Rio Amazonas, “a representação da região amazônica pode ser considerada como sendo a primeira que se conhece na cartografia dessa parte da América portuguesa”.22 Note-se que temos neste mapa a primeira representação do “território” que mais tarde será identificado em outros mapas como os “Certoens”, ou seja, os Sertões. Naquele momento, não se tinha a mínima noção de quão extenso e diferente do ecossistema do litoral era aquele território. De fato, toda a representação contida no mapa “Terra Brasilis” faz referência aos elementos do litoral: “cenas envolvendo a extração da madeira com o emprego de instrumentos de corte fornecidos pelo homem branco, informações sobre a fauna, com representação de araras, papagaios e macacos e sobre os hábitos, costumes e trajes dos indígenas”.23 Chama a atenção como os autores esticaram a costa para a direita – Leste – a fim de poder colocar a maior parte possível de território do lado direito da linha do Tratado de Tordesilhas, criando a representação de um grande “Brasil” e, assim, garantir posse dessas terras aos portugueses conforme o estabelecido naquele tratado. Do ponto de vista técnico, diríamos que o mapa comete erros de demarcação da Longitude. Segundo Jaime Cortesão, importante historiador dos mapas deste período, é intencionalmente falsificado.24 Este autor é o grande divulgador da tese do “falseamento político” da cartografia portuguesa desse período. De qualquer forma, “a carta de Lopo Homem [...] vai, nas suas linhas gerais, perdurar por mais de dois séculos”25 influenciando a cartografia da América portuguesa e socializando a ideia que se tinha do território que pertencia a Portugal. Em síntese, sobre os primórdios da cartografia moderna portuguesa, a partir de um olhar geral dos séculos 1400 e 1500, podemos concluir que os cosmógrafos foram os principais vetores de uma descrição das novas terras conquistadas pelos portugueses abaixo do Equador, legando uma cartografia preocupada com a demarcação da faixa litorânea. Prática compreensível se lembrarmos que, no mesmo período da chegada dos portugueses na América do Sul, as atenções estavam voltadas para o comércio nos entrepostos comerciais de algumas das cidades da Ásia, o qual trazia enormes lucros para a coroa portuguesa e aos comerciantes. No horizonte desses interesses, os mapas produzidos, “encarregaram-se de retratar cidades ou as inúmeras fortalezas que garantiam os interesses comerciais de Portugal. Para o território da América portuguesa, totalmente desconhecido, predominou a produção de documentos cartográficos, mas apenas de suas extensas regiões costeiras”.26 A fase de produção de mapas, marcada pelo trabalho dos cosmógrafos portugueses, teve o mérito de aperfeiçoar e estabelecer os parâmetros da nova cartografia dita científica por basear-se mais no levantamento de dados que no estabelecido pela tradição. “A introdução da escala das Latitudes e o recolhimento sistemático de elementos hidrográficos para inserir nas cartas levou a um aumento do rigor da informação contida nas mesmas. A representação do mundo herdada da obra de Ptolomeu foi completamente ultrapassada. As concepções do grande sábio grego, baseadas em elementos que em muitos casos não tinham sido confirmados por observações práticas, foram substituídas por outras que resultavam da observação direta realizada pelos portugueses que viajavam com uma frequência cada vez maior por quase todo o mundo”.27 O pioneirismo dos portugueses na produção de mapas a partir de 1500, especialização que brotou da ousada navegação no Atlântico e abaixo do Equador, “conduziram a um despertar de interesses em outras nações europeias pelos documentos produzidos pelos mestres portugueses de então, sendo que alguns desses passaram com o tempo a prestar serviços para outras casas reais”.28 Mesmo no conjunto de todas essas mudanças na cartografia provenientes da confluência da experiência dos pilotos de navios e dos cálculos e conhecimentos astronômicos dos cosmógrafos, durante o 1500, principalmente em sua primeira metade, foram produzidos poucos mapas representando a América portuguesa. “Nesse período, a coroa portuguesa manteve uma política de resistência à produção de documentos cartográficos ou à impressão dos mesmos, sempre por motivos estratégicos, considerando que seus territórios, em especial o da América do Sul, constituíam alvos constantes da cobiça de outras nações”.29 Dessa forma, a partir de 1500, a cartografia científica dá os primeiros passos, ainda que vacilantes, quando “os portugueses começaram a aplicar às suas cartas as observações das Latitudes com o astrolábio e as das Longitudes estimadas, mas corrigidas com o resultado daquele cálculo, e a relacionar uma e outras com o Equador e um primeiro meridiano graduados”.30 5. Os engenheiros militares e a cartografia de ocupação e conquista... Durante o 1600, a responsabilidade pela produção dos mapas portugueses vai aos poucos trocando de mãos: dos cosmógrafos para os engenheiros militares. Ressalte-se aqui que não há um rompimento abrupto, como se de uma hora para outra os cosmógrafos passassem a atribuição de elaborar mapas aos engenheiros militares. O que se afirma é que a partir do 1600 é possível perceber um longo e claro movimento em direção a um novo sujeito produtor de mapas, mas que vai se consolidar definitivamente a partir das reformas feitas sob a coordenação de Manuel de Azevedo Fortes. Mais adiante, contextualizaremos as atividades desse importante estudioso português para a cartografia. Mas, por que damos tanta importância ao processo de surgimento dos engenheiros militares e à relação dos trabalhos destes com a cartografia? Porque como esse ensaio está voltado para entender o surgimento da cartografia dos Sertões, serão eles que, a partir de 1700, na dinâmica dos conflitos de fronteira com as terras da colônia espanhola na América, elaborarão importantes mapas dessas regiões. “Os engenheiros aqui enviados o foram em situações estratégicas e momentos chave da história [...] em um lento processo de dilatação de fronteiras e conversão de ‘Sertões’ em ‘Territórios’ colonizados pela coroa portuguesa. Os desenhos correspondem a projetos ou consolidam resultados destes. Nesse sentido, são ao mesmo tempo produtos e vetores de uma ação colonizadora”.31 Apesar de já começarem a interferir na produção de mapas durante o 1600, na verdade, neste período suas atividades ainda estão voltadas mais à arquitetura militar, civil e religiosa em obras públicas de infraestrutura, como pontes, calçadas, cais, portos, obras hidráulicas, estradas, necessidades práticas do Império português que se expandia e que precisava se estruturar e defender-se, principalmente após a “Restauração” da monarquia portuguesa (1640). Quem eram esses engenheiros militares e por que foram, aos poucos, assumindo as funções dos cosmógrafos na confecção dos mapas? Essa mudança está ligada diretamente aos novos interesses de Portugal para com suas possessões. O mapeamento do litoral não era mais prioridade. Dois novos interesses surgiram e direcionaram a cartografia portuguesa para uma nova fase: conhecer e proteger seus territórios na América do Sul. De fato, diante dos conflitos de fronteira com a Espanha e da descoberta de ouro e pedras preciosas nos “Sertões” da América portuguesa, surgiu a necessidade urgente de se elaborar mapas para ajudar nas decisões administrativas do Estado português. A exploração do ouro já vinha sendo feita desde o final de 1600 na região de Minas Gerais. Nas primeiras décadas do 1700, somavam-se mais duas novas regiões para a exploração mineral. Primeiro, a partir de 1719, em Mato Grosso e a partir de 1722 no território de “Goyaz”, mais especificamente na região ao redor da atual Cidade de Goiás, naquela época conhecida como arraial de Santana e, a partir de 1739 quando se torna sede municipal, “Villa Boa” de Goiás. Na verdade, o decreto real é de 1736, contudo o Governador da Capitania de São Paulo, cujo território abarcava a região de Goiás e Mato Grosso, em viagem para os sertões, morreu em Traíras, e o arraial só foi elevado à condição de “Vila” em 1739. Sem a consulta aos mapas, ficava extremamente difícil decidir assuntos tão complexos como os limites com a Espanha e todos os problemas advindos da enorme afluência de pessoas para os Sertões em busca de ouro, bem como do controle para a devida tributação. O Estado precisava responder a essas demandas e os mapas eram instrumentos indispensáveis diante das decisões a serem tomadas. Com os novos mapas, a coroa portuguesa vai poder opinar sobre a localização estratégica de novos assentamentos, principalmente nos Sertões da colônia, em regiões cujas fronteiras com a Espanha não tinham uma determinação clara de quais acidentes geográficos indicavam os limites territoriais. A adequada localização para a instalação de um novo povoado, que um mapa com as referências em Latitude e Longitude permite estabelecer, pode significar a posse para Portugal de enormes regiões, como de fato aconteceu, por meio do princípio do “Utis Possidetis”: princípio de direito que estabelece que aqueles que habitam um território possuem o direito de posse sobre este. Esta postura portuguesa em relação às suas possessões irá dar nova direção à cartografia produzida sob a coordenação do Estado: a produção de mapas vai direcionar-se para a descrição das potencialidades econômicas, da geografia e da hidrografia das novas terras, além de uma preocupação estratégica com um olhar voltado para os sítios mais adequados à instalação de fortes militares, a fim de se evitarem novas invasões. Como as exigências para a elaboração de mapas de navegação marítima são diferentes daquelas de mapas para terra firme, abriu-se a oportunidade para um novo tipo de profissional, o engenheiro militar, mais capacitado para serviços de ordem topográfica, geográfica e hidrográfica, trabalho necessário no interior das grandes extensões territoriais do Império português. Foram inventariados “mais de duas centenas de engenheiros militares no Brasil entre os séculos XVI e primeiras décadas do XIX”.32 Contudo, sendo as colônias portuguesas dispersas em diversos continentes, o número estava aquém das reais necessidades, fazendo que os engenheiros militares viajassem muito pelo vasto Império português. De fato, com um Império tão pulverizado, não é de se estranhar a profunda importância dada à fazedura de mapas, a fim de assessorar as atividades administrativas do Estado. 6. A consolidação do engenheiro militar como cartógrafo e o início da cartografia dos “Sertões”... A consolidação do engenheiro militar como ator principal na produção de mapas, principalmente dos Sertões, vai dar-se a partir de um acontecimento bem específico. Vamos contextualizar melhor. Um dos grandes problemas na elaboração dos mapas era estabelecer o melhor método de como calcular a Longitude de uma posição para então representá-la no mapa. Vários países europeus ofereceram prêmios para quem resolvesse o problema. A solução final viria somente em meados de 1700, com a invenção de um cronômetro pelo relojoeiro inglês Harrison. De qualquer forma, antes dessa solução definitiva, Galileu Galilei, no início do 1600, havia proposto um método para calcular o tempo percorrido pelo navio em relação ao seu ponto de partida utilizando os eclipses das luas do Planeta Júpiter. Não entraremos nos complexos detalhes técnicos desse procedimento. Importa saber que, utilizando esses eclipses, foram criadas Tábuas de Longitude que, aos poucos, foram aperfeiçoando a localização de diversos pontos no globo terrestre de interesse das grandes nações europeias. Com base nesse método, o rei da França Luiz XIV, a partir do final do 1600, solicitou à Academia de Ciências da França a observação das Longitudes na Europa, na África e na América. Isso permitiu, pela primeira vez, a correção de muitos erros grosseiros de Longitude, calculadas por estimativa e que alargavam os continentes para a direita e para a esquerda, do ponto de vista de quem olha um mapa plano. Foram as descobertas feitas pelos franceses, e publicadas em 27 de novembro de 1720 perante a Academia Real das Ciências de Paris, que irão gerar uma mudança radical na cartografia em Portugal. O conjunto de novos cálculos de Longitude foi apresentado por Guillaume Delisle, Primeiro Geógrafo do Rei e “representava a primeira e gigantesca tentativa para remodelar toda a carta da Terra, reunindo num só mapa, as modificações de posição, obtidas com as Longitudes observadas por meios astronômicos, desde a observação do eclipse da Lua de 23 de setembro de 1517 na América e na Europa, até às dos eclipses dos satélites de Júpiter, que numerosos astrônomos, havia meio século, observavam nos quatro grandes continentes”.33 Esses novos cálculos de Longitude propostos pelos franceses revelaram, definitivamente, que os mapas portugueses haviam representado a linha do Tratado de Tordesilhas indevidamente e, portanto, tinha sérios erros de localização. Na prática, a cartografia portuguesa até ali produzida colocava vastas regiões que deveriam pertencer à Espanha como parte de seu território colonial. Essas revelações tinham o poder de desencadear sérios problemas políticos entre Portugal e Espanha em relação à soberania sobre terras na América do Sul. O fato é que várias medições promovidas pelos franceses, a partir do 1700, haviam mostrado que a Colônia de Sacramento, na Foz do Rio da Prata, não pertenceria aos portugueses, pois se encontrava em território espanhol. A sobrevivência dessa colônia era estratégica como ponto de defesa da região sul da América portuguesa contra a expansão espanhola, além da potencialidade pecuária da região, vista como um complemento econômico às atividades do território das minas, pois a região era fonte de carne, couros e de mulas para o transporte. Por último, mas não menos importante, a embocadura do Rio da Prata era a porta de entrada para os Sertões do Brasil por meio da riquíssima teia de rios daquela bacia hidrográfica. Na verdade, os parcos caminhos para o enorme território do interior da América portuguesa fazia com que a hidrografia e os Sertões se complementassem por meio da Bacia do Rio da Prata. Em Portugal, o alarme soou. Iniciou-se uma corrida para atualizar a metodologia da produção de mapas, a fim de adaptá-los aos modernos processos que estavam surgindo, principalmente com o uso dos avançados métodos astronômicos usados pelos franceses. Diferente do início do Quinhentos, Portugal não tinha mais a liderança no campo do conhecimento cartográfico. Era necessário correr atrás do atraso. A corte portuguesa deu-se conta de que: “para obviar a futuras alegações do governo espanhol, fundadas na situação do meridiano de Tordesilhas, era indispensável renovar, por meio de novos métodos e, em especial da cultura astronômica, a cartografia portuguesa e dar base científica à sua diplomacia”.34 O que estava em jogo era o desejo de afirmar a soberania sobre os vastos e ricos territórios que faziam parte do império português, principalmente na América do Sul onde já havia chegado importantes informações a respeito da descoberta de ouro nos Sertões, regiões estas que estavam ou nos limites ou totalmente dentro da região de domínio espanhol. O grande coordenador dessa renovação da cartografia portuguesa foi Manuel de Azevedo Fortes. Sob sua coordenação, Portugal começou a atualizar a cultura cartográfica “que entrava em decadência, transformando a cartografia portuguesa, que até então mediara entre uma arte e uma ciência, exclusivamente em ciência, obedecendo aos moldes e à inspiração racionalista dos franceses”.35 Seu trabalho como Engenheiro-Mor foi voltado ao aperfeiçoamento das técnicas para os levantamentos topográficos, geográficos e arquitetônicos com o fim de, entre outros objetivos, produzir mapas mais aperfeiçoados. Para isso, criou cursos de formação voltados a esse fim, além de publicar importantes livros técnicos: “Tratado do modo o mais fácil e o mais exato de fazer as cartas geográficas, assim de terra como de mar, e tirar as plantas das praças, cidades e edifícios, com instrumentos e sem instrumentos, para servir de instrução à fábrica de cartas” (1722) e “O Engenheiro Português” (1728). Além de contribuírem para a criação de um corpo de engenheiros militares portugueses, a importância dessas obras está no fato de que, pela primeira vez, se padronizou, segundo as convenções internacionais da época, as técnicas de como representar graficamente o desenho arquitetônico e de mapas e os cálculos de Geometria Prática e Trigonometria voltados para medição topográfica. Diferente da manualística técnica daquela época, geralmente escritas em Latim, as obras foram escritas em língua portuguesa. Apesar de a motivação para toda essa mudança ter sido dada a partir das informações reveladas pelos mapas franceses, que colocavam em cheque a posse das terras nos Sertões fronteiriços da América portuguesa, toda essa renovação em Portugal também era reflexo do que estava acontecendo na cartografia em nível mundial, no horizonte das mudanças de mentalidade provocadas pelo Iluminismo. Foram mudanças caracterizadas por um pensamento racionalista, experimental e matemático. “A linguagem dos mapas passou por um processo de uniformização, que se iniciou na Itália, na Holanda e na Inglaterra a partir do século XVI, culminando na França no século XVIII. Até então, ainda pouco padronizadas, as cartas manifestavam o estilo pessoal de cada cosmógrafo, já que se caracterizavam pelo predomínio das figurações livres e dos topônimos. Observamos a passagem gradual de um tipo de representação mais naturalista para um tipo de representação cada vez mais abstrato. [...] Essa esquematização simbólica pressupôs a uniformização das convenções para que os símbolos se tornassem inteligíveis nos diferentes locais culturalmente afins”.36 Além disso, “mapear o território e integrá-lo se tornou necessidade premente em todos os Reinos europeus envolvidos com o modelo de Estado moderno iluminista”.37 A fim de construir observatórios astronômicos e comprar instrumentos mais modernos, “entre os quais o relógio de Longitude, e as novas cartas de Longitudes observadas, Dom João V serviu-se largamente de sábios e construtores franceses e ingleses. Durante o ano de 1724 [...] entrava a serviço do governo português o novo astro da geografia e cartografia francesa, Jean Baptiste Bourguignon d’Anville”.38 A sagacidade da escolha parece ter sido grande, pois mais tarde esse cartógrafo, historiador e geógrafo foi nomeado o “Primeiro Geógrafo” do Rei da França. O zelo na aquisição de instrumentos adequados às novas tarefas de topografia e cartografia levou à contratação de matemáticos da Academia de Ciências de Paris. “Não se desejava uma aparelhagem técnica perfeitamente moderna para os trabalhos de ordem topográfica, mas e principalmente, para a cartografia geral de vastas regiões, a debuxar nos acidentes mais notórios, por coordenadas – a Latitude e Longitude – observadas com exatidão”.39 Dessa forma, na década de 1720, chegaram a Portugal Sextantes, Meio-círculos, Quartos-de-Círculos, Micrômetros, Telescópios e Relógios de Pêndulas. Esses dois últimos instrumentos eram voltados para o cálculo da Longitude, cuja determinação era o grande problema para a cartografia daquela época e “se destinavam em última análise, a definir cientificamente os problemas da formação territorial do Brasil”.40 As reformas promovidas por Manuel da Azevedo Fortes não ficaram restritas a Portugal. Um de seus discípulos, José Fernandes Pinto Alpoim, vai fundar em 1740 a Academia Militar do Rio de Janeiro de onde saíram importantes engenheiros e cartógrafos que no Setecentos produzirão importantes trabalhos de cartografia da América portuguesa.41 Para os fins de uma compreensão da cartografia dos “Certoens”, lembremos que pelas Academias Militares “passaram alguns dos futuros governadores de regiões fronteiriças da América portuguesa, como Dom Antônio Rolim de Moura e Luís de Albuquerque Pereira e Cáceres que, além de governadores de Goiás e Mato Grosso, incentivaram expedições de exploração geográfica pelo interior do Brasil”.43 No contexto dos influxos dessas reformas “as Academias Militares, sob o impulso do Engenheiro-mor e a proteção, ainda que inconstante, de Dom João V, tornaram-se viveiro de engenheiros, geógrafos, e cartógrafos”.44 Assim, “graças às suas repetidas queixas e instâncias, Manuel de Azevedo Fortes conseguira reabilitar a profissão de engenheiro, até então menosprezada em Portugal, como ele próprio denunciava em 1720 da sua ‘Representação’; chamar para ela um grande número de aptidões inaproveitadas; fazer da engenharia militar uma escola de cartografia e, em particular, de cartografia topográfica; e criar, enfim, um escola de magníficos construtores e defensores da soberania portuguesa na América do Sul”.45 Para além das atribuições de “Mestres de Fortificação”, consolida-se definitivamente, a partir do Setecentos, a atuação dos engenheiros militares como os mais importantes profissionais na produção de mapas no império português. Se antes a colonização que privilegiava as faixas litorâneas havia valorizado os pilotos e os cosmógrafos, agora, com uma colonização que se lança para o interior em uma dinâmica de expansão continental, vai sobressair o profissional matemático e, mais especificamente, o engenheiro-cartógrafo. A partir do trabalho dos engenheiros militares a imensa fachada da América portuguesa – o Litoral – deu as mãos com a profundidade dessas conquistas – os Sertões. 7. Os primeiros mapas dos “Sertões”... Como vimos acima, a publicação dos novos cálculos de Longitude propostos pelos franceses – os quais irão assumir a precedência na produção de mapas – revelaram que os mapas portugueses apresentavam erros grosseiros de localização e colocavam indevidamente, na esfera da soberania lusitana, imensos territórios que de direito pertenciam à Espanha. Nesse ambiente de contestação da legitimidade da expansão territorial portuguesa em direção aos Sertões, consolidou-se a proposta de um megaprojeto para a produção de mapas com o objetivo de se elaborar um “Atlas da América portuguesa”. Apoiado, como vimos, por novos instrumentos de medição e novos profissionais, formados principalmente nas Academias Militares, Portugal se antecipará à Espanha no processo de mapear as regiões onde já estavam instalados os luso-brasileiros na América do Sul. Por isso, não causa estranheza o fato de que, diante de um projeto tão importante, tendo em vista as pretensões territoriais de Portugal, “quinze ou dez anos antes da celebração do Tratado de Madrid, todos os postos-chave do Brasil, ou são ocupados por engenheiros, ou por governadores que se fazem acompanhar de engenheiros e cartógrafos”.46 Além disso, a própria mentalidade da época reforçava o projeto de criação de um Atlas para a América portuguesa. Segundo farta documentação dos séculos 1600 e 1700, os vastos Sertões sem fronteiras apareciam “quer como promessa de riquezas e de metais preciosos, quer como fonte de desassossego, como espaço da desordem, do vazio de autoridade. Impunha-se, portanto, por ambos os motivos, desbravá-los, incorporá-los, colonizá-los”,47 ou seja, cartografá-los. Podemos afirmar, portanto, que a cartografia oficial dos Sertões da América portuguesa vai iniciar-se num período em que “a fronteira entre os territórios dos países ibéricos na América era [...] ainda uma raia fluida, condicionada à progressiva ocupação do espaço”.48 Era um território cuja indefinição da soberania fazia que a cartografia, no sentido de uma representação gráfica da presença de um Estado em uma região, fosse a expressão e “prova” de que aquele território desenhado no mapa tinha um dono. Usamos intencionalmente a expressão “cartografia oficial” para separar da rica cartografia produzida pelos sertanistas e outros em suas atividades pelos Sertões, como veremos mais adiante. Para o contexto deste ensaio introdutório, entendemos por “cartografia oficial” os mapas produzidos por determinação ou sob a coordenação do Estado português ou de qualquer um de seus representantes no desempenho das atribuições de seu cargo. Para dar início aos trabalhos de elaboração de novos mapas para a América portuguesa foram enviados dois padres jesuítas. Devido ao profundo conhecimento em Matemática e ao uso de instrumentos astronômicos que permitiam o cálculo de Latitude e Longitude, foram chamados de padres matemáticos: Pe. Domingos Capacci, italiano, e Pe. Diogo Soares, português. Partiram de Portugal em 1729. A tarefa dada pela Coroa aos padres jesuítas não poderia ser mais explícita em relação aos seus objetivos: “fazerem-se mapas das terras do dito Estado, não só pela marinha, mas pelos Sertões”,49 a fim de “se evitarem as dúvidas e controvérsias que se tem originado dos novos descobrimentos que se tem feito nos Sertões daquele Estado de poucos anos a esta parte”.50 A preocupação em mapear corretamente os Sertões fica mais evidente no ato de “Provisão” dos profissionais matemáticos. Nesse documento, em que se descrevem as instruções detalhadas para a confecção dos mapas, encontramos três vezes citada a palavra “Certões”, com as seguintes indicações: 1ª) “Convém muito que se façam mapas o mais que for possível dos vastos certões”; 2ª) “Deveis apresentar os limites que tem cada um dos governos entre si [...], porque se agora não tem havido divisa regular, principalmente pelos certões, ficando essa matéria ao arbítrio das gentes”; 3ª) “Também apontarei nos mapas os caminhos e estradas que há pelos certões, apontando com uma cor as que se praticam, e com outras as que vos parecerem mais cômodas e breves”.51 Portanto, consideramos que é a partir desse momento que podemos inserir o “Sertão” da América portuguesa na história da cartografia oficial, dirigida pelo Estado português. A maioria dos mapas, até os inícios do 1700, trazia muitas informações sobre o litoral e muito poucas sobre o interior. De agora em diante, no afã de se conhecer melhor esse território interior, vários mapas serão produzidos, dando início às primeiras representações cartográficas dos Sertões e, nessas representações, partes daquilo que mais tarde será a Capitania de Goiás começará a aparecer na cartografia. A fim de servir de referência para os mapas a serem elaborados, os padres matemáticos determinaram a posição do Meridiano do Rio de Janeiro que passava pelo Morro do Castelo onde, mais tarde, os Jesuítas instalariam o primeiro Observatório Astronômico do Brasil.52 Dessa forma, “o cálculo das Longitudes, ao contrário do que determinava a razão, e de acordo com a precaução e a necessidade de se manter segredo, sobretudo em relação aos espanhóis, fora feito tomando como parâmetro não o Meridiano de Paris, como era então de praxe e procedimento reconhecido em toda a Europa, mas, ao contrário, o meridiano do Rio de Janeiro, dificultando assim a sua leitura e tradução”.53 Tal postura era compreensível. Tratava-se da elaboração dos primeiros mapas do interior da América portuguesa. Esses mapas iriam revelar onde os portugueses estavam formando os primeiros núcleos urbanos, os sistemas hidrográficos que naquele período eram essenciais para viagens de longa distância e os caminhos para os Sertões, todos esses, elementos estratégicos. Mas acima de tudo iriam revelar que os avanços portugueses em direção ao Oeste estavam acontecendo bem além da linha imaginária do Tratado de Tordesilhas e, portanto, em território considerado espanhol. Ao escolher o Meridiano do Rio de Janeiro os padres estavam de certa forma evitando revelar, para aqueles que não sabiam qual o cálculo desse Meridiano de referência, a posição dos portugueses e de outras estratégicas informações que um mapa poderia revelar. Essa intenção de esconder é confirmada pelo fato de que, nesse período, em se tratando do ponto de partida para determinar a Longitude, “era frequente nas cartas topográficas, corográficas e geográficas feitas pelos engenheiros militares no Brasil o posicionamento das cidades em relação ao Meridiano da Ilha do Ferro ou ao Meridiano de Paris”.54 Os trabalhos de localização de diversos pontos geográficos, cujas coordenadas deveriam mais tarde ser lançadas em um mapa, foram iniciados pelo Padre Diogo Soares, no Rio de Janeiro, dirigindo-se após ao Rio da Prata, São Paulo e finalmente aos Sertões. A produção dos padres matemáticos “consistiu em 28 mapas, abrangendo a costa, desde a Capitania do Rio de Janeiro até o Rio da Prata e a Colônia do Sacramento, e o interior incluindo as Capitanias de Minas Gerais, São Paulo e Goiás; e nove plantas de fortificações do Rio de Janeiro”.55 Portanto, são mapas cuja prioridade está voltada para a representação dos territórios no Sul e no Oeste da América portuguesa, atividade compreensível no contexto geopolítico dos conflitos de fronteira com a Espanha. Apesar de incompleta, a Revista do Instituto Histórico Brasileiro publicou uma lista das Latitudes e Longitudes observadas pelos padres matemáticos que nos oferecem uma ideia geral das regiões dos Sertões em que estiveram.56 Desse trabalho de campo, chegou até nós “uma longa lista das Latitudes que os dois padres observaram e uma única Longitude, a da vila de Goiás. Entre as Latitudes desta lista, [...] 33 pertencem à [Capitania] de Goiás”.57 Infelizmente, para os que produziam mapas de Goiás no século XVIII, as observações de Latitude e Longitude ficaram guardadas sob sigilo de Estado. Prova disto, é que Tosi Colombina, numa de suas longas legendas daquele que é considerado o segundo mapa de Goiás (1751), pede desculpas pelas inexatidões de sua carta na “incerditão do interior destes sertoens” e comenta que estariam mais “apparente com a verdade” se ele pudesse contar com as informações do “Padre Diogo Soares da Companhia, matemático requerido expressamente desta Corte para isso”. Tosi Colombina lamenta, contudo, que “o pouco ou muito que [Padre Diogo Soares] tinha encontrado não o tinha comunicado nestas partes”. (Cf. neste GUIA p. 148-150) Segundo a interpretação do historiador português Jaime Cortesão, que produziu importantes estudos sobre a cartografia do “território brasileiro”, o trabalho desenvolvido durante 18 anos pelos padres matemáticos “foi a primeira expedição geográfica e cartográfica, enviada a qualquer das Américas por uma nação europeia, com fins sistemáticos de Estado, como estudo preparatório para delimitar a soberania política entre os domínios de nações confinantes”.58 Definitivamente, nos Sertões do Brasil, dão-se as mãos, o poder e os mapas. 8. Os mapas e relatos dos sertanistas na produção dos mapas dos “Sertões”... Antes de iniciar as medições para a produção dos mapas solicitados pela coroa portuguesa, os padres matemáticos procuraram se inteirar de informações que já havia sobre o território. Nesse momento, deu-se uma estratégia muito perspicaz e inteligente por parte desses fazedores de mapas. Segundo uma carta enviada pelo Pe. Diogo ao rei de Portugal é possível constatar que os primeiros mapas oficiais dos Sertões irão levar em conta os relatos de viagens e mapas dos sertanistas pelo interior da América portuguesa. Mas por que o interesse por informações dos sertanistas? Porque a “Provisão” assinada pelo Conselho Ultramarino exigia que os mapas fossem representados levando em conta – além das exigências técnicas propostas pelas reformas de Manuel Azevedo Fortes – informações de caráter econômico, social e de limites entre capitanias. Nos mapas, deveriam constar assinalados: “as cidades, vilas, lugares e povoações dos portugueses e dos índios, e as catas do ouro”; “os rios, se são navegáveis, até onde, com que embarcações, em que parte se passam a vão ou em canoas, que gente habita as suas margens, se há neles algum pescado, se tem arvoredos em sua vizinhança”; “a distância em que estão as cidades e vilas umas das outras”.59 Além disso, não bastava apenas indicar no mapa. Era necessário que esses dados fossem “historiados expondo-se neles por escrito e clareza que for possível, e em livro a parte por extenso tudo que houver mais digno de notar em cada uma das capitanias”.60 Ora, esses dados seriam mais fáceis de serem coletados aproveitando a experiência dos sertanistas que há mais de século tinham acumulado informações sobre os Sertões, ou como o próprio documento sugere didaticamente aos padres, “tomando para isso notícia da gente prática da terra”.61 Para isso, consultaram mapas que, “na verdade não passavam de simples esboços cartográficos onde eram representados os mais recentes conhecimentos empíricos adquiridos por esses homens, desenhados, aliás, de forma grosseira e muito esquemática”.62 O grande estudioso de mapas de Portugal e de suas colônias, Jaime Cortesão, já ressaltava que “lusos e luso-brasileiros, igualmente dotados dum agudo sentido do espaço, elaboraram muitas cartas, das quais a grande maioria se perdeu, cuja existência temos notícia apenas por documentos escritos. Comandantes de tropas, a quem as obrigações militares forçavam a grandes deslocamentos, sertanistas, cujas atividades múltiplas alargavam a muito vastos territórios o raio e ação, e a mineradores nômades, por necessidade ou ambição, se entregaram a esta tarefa”.63 É possível afirmar, portanto, que nos governos das capitanias, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, havia a presença de mapas dos Sertões produzidos pelos sertanistas, informações estas que transitavam na alta hierarquia do poder colonial e metropolitano. É verdadeira a objeção dos padres matemáticos de que esses mapas “andam erradíssimos [...] nas alturas e Longitudes”. Entretanto, até chegarem os mapas oficiais produzidos por mando do Estado português, eram esses mapas que davam conta do que estava acontecendo nos Sertões aos representantes da coroa portuguesa e os ajudavam em seus trabalhos administrativos. Ao adentrar pelos Sertões a partir do final dos 1500, que consciência os sertanistas tinham desse território pertencente à América portuguesa? Novamente é a cartografia que vai nos ajudar a responder. Desde o Mapa dito “de Cantino”, de 1502, e vários outros produzidos pelos portugueses até o início das atividades dos Bandeirantes pelos Sertões, os mapas do território português na América haviam divulgado uma representação que favorecia à coroa portuguesa. Ainda em 1533, com a chegada do primeiro Governador Geral, Tomé de Souza, acreditava-se que os espanhóis estavam invadindo território lusitano ao fundar a cidade de Assunção. Baseando-se nos mapas que conhecia, escreve uma carta a Dom João III, onde informa: “parece-nos a todos que esta povoação está na demarcação de Vossa Alteza”.65 Também a legenda de um dos mapas do Atlas de 1627 de João Teixeira Albernaz confirma essa perspectiva: “pella parte do Norte comesa no grande rio Pará, cuja entrada fica debayxo da equinocial e acaba pella parte do Sul em 35 graos na boca do rio da Prata”. Ora, seguindo as informações do próprio mapa, se traçássemos o Meridiano de Tordesilhas, a linha divisória iria “assinalar a linha da soberania portuguesa com tamanha amplitude, que, dos atuais territórios da Argentina, do Paraguai e da própria Bolívia, não restava muito à Espanha”.66 Era essa a representação geográfica – que colocava os Sertões dentro do território português – que alimentava a visão dos que moravam na colônia, principalmente dos paulistas cujo processo de construção de uma identidade própria encontra suas raízes na aliança da família luso-tupi. “E quando assim não fosse, os donatários interessados e na sua totalidade inimigos do domínio filipino que, mais de uma vez, ameaçara esbulhá-los dos seus direitos, se encarregariam de transmitir esse conceito aos seus loco-tenentes para que estes, por sua vez, o difundissem entre os moradores das capitanias”.67 Portanto, é a partir desses mapas produzidos em uma representação que favorecia Portugal que os sertanistas construíram sua compreensão do espaço territorial da América portuguesa. Só mais tarde, quando no começo do 1700 se “generalizou o processo da observação das Longitudes pelos eclipses dos satélites de Júpiter”68 e foram enviados à América portuguesa os padres matemáticos que determinaram as primeiras Longitudes astronomicamente observadas desse território é que “desapareceram todas as ilusões”.69 Mas, mesmo diante da prova irrefutável de que o Meridiano de Tordesilhas representado até ali nos mapas portugueses estava alargando indevidamente o território português na América, “os resultados dessa missão cartográfica foram ciosamente guardados em segredo”.70 Segundo Cortesão, “quando se escreve ou se fala das bandeiras paulistas nas suas relações com o meridiano de Tordesilhas, parte-se de um suposto inteiramente falso, o de que os bandeirantes tivessem uma noção mais ou menos exata da situação da linha divisória e a segura consciência de que, nas suas incursões, violavam a letra do Tratado. Não foi assim”.71 O terrível capítulo da história dos sertanistas que foi a destruição das Missões Jesuíticas era entendido como tomada de posse do que era território português. Destruir as missões, expulsar os jesuítas, aprisionar os índios, aventurar-se à procura de metais preciosos, estavam plenamente justificados pela visão que os sertanistas tinham dos Sertões a partir da cartografia portuguesa que conheciam. Ao buscarem a destruição das Missões Jesuíticas, “defendiam todos os caminhos da expansão para o Sul e Oeste, ameaçados como estavam de ser interceptados pelos jesuítas e os índios das reduções, que os padres começavam a armar e organizar militarmente”.72 E nesse sentido, pode-se afirmar que “a cartografia portuguesa de Seiscentos tem mais importância como causa de que como efeito das Bandeiras”.73 São essas primeiras representações dos Sertões que irão subsidiar o trabalho dos padres matemáticos que chegaram em 1729. É o próprio cartógrafo Pe. Diogo Soares, um dos padres matemáticos, que confirma a importância das informações repassadas pelos sertanistas. Em carta à Corte Portuguesa, Pe. Diogo Soares comenta que recebeu “uma grande cópia de notícias, vários roteiros e mapas dos melhores sertanistas de São Paulo, e Cuiabá, Rio Grande, e da Prata, e vou procurando outras a fim de dar princípio a alguma carta, porque as estrangeiras andam erradíssimas, não só do que toca ao Sertão, mas ainda nas Alturas e Longitudes, de toda esta costa”.74 Outro importante exemplo do uso de informações da “gente prática da terra”, para apoio à produção dos mapas, pode ser encontrado no célebre “Mapa das Cortes”, referência cartográfica para as discussões sobre as fronteiras entre Portugal e Espanha por ocasião do Tratado de Madrid de 1750. Após os sertanistas chegarem à região de Mato Grosso e iniciarem a mineração, sabe-se que os representantes portugueses ao fazerem referência às fontes cartográficas para a elaboração do “Mapa das Cortes” indicam que “O rio Guaporé, e Missões dos Moxos são delineados conforme as relações e riscos de alguns mineiros do Mato Grosso, que foram a eles por duas vezes, e conforme algumas notícias que lá recolheram”.75 Portanto, o início dos trabalhos de produção da cartografia oficial dos Sertões é confrontado com enorme diversidade de outros mapas do interior, produzidos sem o rigor da mentalidade iluminista e dos parâmetros de cientificidade envolvidos da produção técnica de um mapa. Eram, entretanto, a primeira representação espacial daquelas áreas do interior do Brasil e que agora interessavam à coroa portuguesa. Eram mapas que não foram confeccionados para responder aos interesses da metrópole portuguesa e suas estratégias de domínio, mas por questões práticas das andanças dos sertanistas pelo interior da América portuguesa. Em sentido estrito, as representações espaciais feitas pelos sertanistas em seus mapas, eram mais “Roteiros de Viagens” do que um mapa propriamente dito, com as graduações e escalas próprias da cartografia científica que se pautava pelo senso de proporção – por meio do uso de “Petipé” (1) – e sentido de localização – com uso da graduação em Latitude e Longitude. Os mapas dos sertanistas não eram um referenciamento objetivo do espaço para ser colocado sobre a mesa de discussões de fronteiras com os espanhóis, pretensão dos mapas elaborados pelos padres matemáticos e engenheiros militares. Em um mapa, segundo as exigências científicas daquele momento histórico, a apresentação das graduações e escalas permitia ao pesquisador e ao Estado fazer uma representação abstrata do espaço. Nos “mapas” dos sertanistas, a função da representação estava ligada diretamente ao caminhar, ao viajar. A localização espacial que o mapa transmitia fazia referência ao espaço percorrido de fato e não por abstração. As referências tinham sentido enquanto o mapa e a realidade em campo pudessem ser percebidos concomitantemente, comprovando que se estava no caminho certo, indicado pelo mapa. O mapa e o caminho a ser percorrido se imbricavam essencialmente. Não eram mapas apenas para a contemplação, para o olhar racional, para ser visto em algum lugar fora do território que o próprio mapa representava, enfim, para ser usado por um Estado que, de longe, quer exercer seu papel administrativo. Eram mapas de caminhantes, para caminhantes, enquanto caminhavam. Das primeiras representações, elaboradas para servir como roteiro de viajantes pelo Sertão, indicamos alguns mapas que estão na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. O “Mapa da região das monções de São Paulo a Cuiabá”76 de 1720, sem identificação do sertanista que o traçou, apresenta “um esboço sem qualquer rigor científico onde representou os principais rios, indicou algumas distâncias em léguas e localizou as minas. A sua principal preocupação, no entanto, foi a de ilustrar a comunicação do sertão de Cuiabá com São Paulo. Para isso, assinalou uma das primitivas rotas do caminho fluvial que ligava a esta cidade e o porto de Araritaguaba àquela região aurífera, ou seja, o célebre percurso das monções”.77 É um exemplo típico da cartografia dos sertanistas onde encontramos a preocupação por representar o traçado dos caminhos em léguas ou dias de viagem entre os pontos escolhidos, sinalização de acidentes como serras, ilhas, morros e informações sobre a presença de aldeias indígenas. “Nestas primeiras representações o território do colonizador aparece perfeitamente delimitado, rodeado dos espaços ocupados e dominados por diversos grupos indígenas [...] A verdade é que durante diversas décadas a presença indígena, rodeando os povoados estabelecidos pelos colonizadores, condicionou de forma evidente a existência e o quotidiano destes”.78 Não é de estranhar porque, em vários mapas dos sertanistas, aparecem referências às aldeias com a indicação de “destruídas”, principalmente na área onde estavam as “reduções” – aldeamentos indígenas organizados pelos padres jesuítas. Além disso, é bom lembrar que a referência às “Reduções Jesuíticas” também era feita porque, “aqueles homens, muitas deles fugidos aos seus credores, pretendiam, sobretudo, estabelecer comércio com as missões, uma vez que em Mato Grosso os preços eram muito elevados, sendo frequentes também as carências de muitas mercadorias”.79 Outra característica dos mapas dos sertanistas pode ser percebida no mapa “Idea da topographia athe as novas minas de Cuibá”:80 a importância da descrição hidrográfica. Alguns mapas sertanistas representam o espaço apenas traçando a hidrografia. De fato, “representar esse caminho fluvial, então a única via de ligação daqueles Sertões com o litoral, e a rede hidrográfica que permitia o acesso àquela parte central da América do Sul foi uma característica que se manteve em quase todos os mapas deste período”.81 Por fim, os mapas dos sertanistas não tinham preocupação com a delimitação de fronteiras e muitos dos mapas representavam regiões relativamente pequenas. De fato, como vimos insistindo, o objetivo era fornecer informações dos caminhos para as regiões auríferas e para as localidades que, aos poucos, iam surgindo, ou seja, um roteiro de viagem. Portanto, foram esses mapas, entre várias outras informações transmitidas por meios de “Relatos de Viagens”, que subsidiaram o primeiro contato dos padres matemáticos e dos engenheiros militares na preparação dos mapas, como também deram informações para que esses adentrassem aos Sertões da América portuguesa. Isso demonstra a importância dos sertanistas como vetores de informação do território dos Sertões e das terras da coroa espanhola na elaboração dos primeiros mapas “oficiais” e “científicos” do Sertão. “Mineiros, sertanistas e bandeirantes que deambulavam então pelas regiões de Cuiabá e Mato Grosso acabaram por funcionar muitas vezes como os olhos dos ‘desenhadores’ de mapas, dos cartógrafos e das autoridades da Coroa. Fossem eles ou não os autores daqueles trabalhos, eram os seus conhecimentos geográficos, adquiridos no próprio terreno, que ali estavam representados e sintetizados”.82 9. A consciência de espaço dos ameríndios e os mapas dos sertanistas... A importância dos sertanistas estaria incompleta se não trouxéssemos a colaboração dos índios. A historiografia colonial é pródiga ao afirmar a importância dos caminhos dos índios para os sertanistas em suas incursões pelos Sertões. Segundo Orville Derby, os sertanistas em suas viagens pelos Sertões “apenas seguiam caminhos já existentes pelos quais se comunicavam entre si os índios de diversas tribos relacionadas, ou grupos de uma mesma tribo”.83 Eram caminhos que não permitiriam, em sua largura, duas pessoas caminhando lado a lado ao mesmo tempo, razão pela qual ainda hoje se fala em “fila indiana” para referir-se a essas enormes filas imposta pela exiguidade das trilhas. Contudo, bem pouca relação se faz entre os mapas produzidos pelos sertanistas e uma série de atributos da cultura dos Ameríndios, como, por exemplo, excepcional capacidade de orientação, a consciência do espaço, o uso do sol como orientação – revelando uma incipiente Astronomia – uma extraordinária memória visual e, finalmente, a facilidade de representar sob a forma plástica a espacialidade de seu habitat. Como ressalta Sérgio Buarque de Holanda – criticando certa visão preconceituosa para com a cultura dos povos que habitavam a colônia portuguesa – para a presença de tais atributos antropológicos “é indispensável a existência de uma verdadeira elaboração mental, de um poder de abstração, que não se concilia facilmente com certas generalizações ainda correntes acerca da mentalidade primitiva”.84 Não se pretende aqui afirmar que os índios elaborassem representações do seu espaço para servir de orientação, aos moldes dos nossos mapas. Contudo, vários cronistas, padres e etnólogos nos legaram importantes informações que permitem afirmar que esses atributos foram úteis aos portugueses no processo complexo de inculturação na nova terra e que, certamente, repercutiram na forma com que os sertanistas elaboraram seus mapas. Diferente dos portugueses em geral, os sertanistas paulistas se construíram em tal osmose com os índios que foram acusados, por um governador de capitania, de formarem uma república só para si, não levando em conta as leis divinas e humanas. Essa percepção dos portugueses revela os vínculos profundos de mestiçagem e troca cultural. Para efeito da compreensão da cartografia dos sertanistas, “de todos os traços da cultura do ameríndio do Brasil, os que mais interessam ao nosso caso são os conhecimentos topográficos, a capacidade de representar o espaço percorrido e, como consequência, a cultura geográfica inerente a essas faculdades excepcionais”.85 Como, então, era vivida e representada essa consciência espacial dos ameríndios da América portuguesa e que influenciou os sertanistas na produção de seus mapas? O cronista Gabriel Soares que chegou em 1570, e mais tarde publicou o “Tratado Descritivo do Brasil” elogia o espetacular sentido de orientação que tornava os índios parceiros essenciais como guias nas caminhadas pelo Sertão. É o primeiro cronista a observar que os índios faziam o uso dos astros como orientação. Em relação aos índios Tupinambás, afirma que eles “têm grande conhecimento da terra, por onde andam pondo o rosto no sol, por que se governam, com o que atinam grandes caminhos pelo deserto, que nunca andaram”.86 Como prova dessa capacidade, Soares cita o exemplo de dois índios Tupinambás que levados presos da Bahia para o Rio de Janeiro em navios, conseguiram fugir e voltaram pelo mato para sua aldeia, fazendo uma viagem de quase dois mil quilômetros: “durante a noite marcavam as horas, em alguns lugares, pela observação das estrelas e constelações. Durante o dia, pela sombra que o polegar deixa na mão”.87 No início do 1600, o missionário francês Yves D´Evreux relata que quando os índios narravam suas caminhadas ou atividades “traçavam na areia, com a ponta do dedo, uma geografia ou descrição natural, com a qual acompanhavam suas narrativas”.88 É interessante perceber que esses fugazes mapas traçados na terra revelam a importância de situar geograficamente a experiência vivida permitindo aos outros voltar ao lugar indicado, um dos objetivos da cartografia. O explorador e naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira foi enviado pelo governo português, entre 1783–1792, a fim de explorar a região da Amazônia e do Alto-Paraguai. De suas viagens, conta que, ao perguntar a um índio que morava no Rio Branco quantos e quais eram os afluentes desse rio, foi surpreendido com a seguinte cena: o índio tomou uma corda de piaçá e, com ela, formou o leito principal do rio, com suas curvas. Logo em seguida, de um e de outro lado da corda, foi esticando filamentos de cordas mais finos para indicar os afluentes. O explorador se surpreendeu, pois os filamentos eram colocados respeitando as curvaturas dos rios, em diferentes distâncias entre si, a fim de indicar o distanciamento dos rios a que se referiam. Alexandre Rodrigues Ferreira relata ainda que, em outra ocasião daquela mesma região, um índio Macuxi desenhou com um bastão, nas areias da beira do Rio Branco, todo o trajeto desse rio.89 Com o intuito de ressaltar a importância das informações geográficas que os ameríndios poderiam ter transmitido aos portugueses, Jaime Cortesão cita um mapa que o Governador do Rio de Janeiro enviou para Lisboa em 1727, “feito pelo jesuíta Padre Luís de Albuquerque, representando a costa desde Santa Catarina até ao Rio da Prata, e na qual iam situadas as aldeias das Missões espanholas do Tape, conforme um mapa feito por um desses índios ao mesmo padre”.90 Há outros relatos elucidativos deixados por etnólogos que, mesmo não se referindo diretamente aos índios contemporâneos aos sertanistas, viviam afastados das influências exteriores e, portanto, carregavam a velha herança cultural destes povos, reavivadas na tradição oral da tribo. Von Den Steinen relata que toda a expedição em direção às nascentes do Rio Xingu, em 1887, foi feita a partir de um mapa desenhado por um índio. Theodor Koch-Grünberg relata que, em suas incursões pelo Norte do Brasil, presenciou um índio desenhar o curso completo do Rio Cuquenau com aproximadamente setenta afluentes, além de usar rabiscos específicos para indicar o perfil da serra de Roraima. Para Sérgio Buarque de Holanda, “entre povos que ignoravam a palavra escrita, esses meios de comunicação assumem um significado comparável ao dos roteiros e aranzéis”.91 Das pesquisas feitas por esses etnólogos, principalmente no que se refere aos esboços de representação espacial produzidos pelas tribos estudadas, Sérgio Buarque de Holanda concluiu que, “em alguns casos acentuam-se de preferência os acidentes que possam interferir nas atividades normais da tribo, ou por qualquer outro motivo, suscitem interesse. Assim, os saltos e as cachoeiras, que causam contratempos aos remadores, são indicados por meio de convenções; a extensão de cada afluente é, de certo modo, expressa na relação aproximada que guardam entre si no desenho; a forma de cada montanha aparece igualmente modelada na areia úmida. Até a maior ou a menor regularidade no curso de um rio encontra expressão nessa rústica geografia”.92 Não há dúvida de que muitos aspectos da cosmovisão religiosa dos ameríndios também serviram para confundir a geografia da colônia portuguesa, produzindo uma cartografia mais mítica que objetiva. Mas, nesse caso, a moderna historiografia divide a responsabilidade com os europeus: “da confluência da obsessão aurífera europeia com os rituais indígenas compunha-se o mito do Eldorado, que logo se difundiu por todo o território da América portuguesa”.93 No afã de se encontrarem riquezas, a cosmovisão dos ameríndios era interpretada em uma lógica monetária pelos europeus. O cronista Gabriel Soares, que citamos acima e que nos relatou como os índios usavam o sol como meio de orientação, dá uma ideia de como a geografia pode ser criada a partir da fusão de mitos indígenas com mitos trazidos pelos europeus. Segundo relato de 1587, informa que ouviu dizer, por intermédio dos índios Tupinambás, Tupinaés, Tamoios e Tapuias que habitavam o sertão da Bahia e a Capitania de São Vicente, que “bem pelo sertão desta terra há serras de cristal finíssimo, que se enxerga o resplendor delas de muito longe”.94 Informações como essas eram interpretadas como pistas que serviriam para novas incursões pelos Sertões. Conta o explorador Hercule Florence em sua “Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas: 1825 a 1829” que por volta de 1820 um padre chamado Lopes, na busca pela tão sonhada Serra dos Martírios, que desde a descoberta das minas de Goiás por Bartolomeu Bueno da Silva, aguçava o sonho de riqueza dos exploradores, foi conduzido pelos índios Apiacás até esse imaginário lugar. Lá chegando, encontrou apenas enorme quantidade de malacacheta vermelha.95 Não é de se estranhar porque, apenas seguindo as indicações de uma geografia fantástica, tantos se aventuraram pelos Sertões. A nós, que fazemos parte de uma sociedade desmitologizada, causa estranheza o fato de que a partir de 1580 e durante um século, várias expedições foram realizadas à procura da Lagoa Dourada, Lagoa Eupana ou Paraupaba onde se encontrariam riquíssimas minas de metais preciosos. Esse sonho “levou os expedicionários portugueses e luso-brasileiros, em jornadas sucessivas, a devassar os sertões da Bahia, São Paulo, Minas, Goiás e Pará, transformando o mito em conhecimento geográfico”.96 Contudo, mesmo levando em conta aspectos da geografia mítica e fantástica dos ameríndios, todos esses testemunhos nos permitem vislumbrar a riqueza de informações geográficas transmitidas pelos povos que habitavam a América do Sul aos portugueses quando ali aportaram, como também aos sertanistas quando começaram a explorar o interior da colônia. Como sintetiza muito bem Cortesão, “Astronomia incipiente, representação plástica ou cartográfica do território não passam de manifestações do mesmo e maravilhoso sentido de orientação. [...] Como outros povos nômades, os primitivos habitantes do Brasil foram verdadeiras bússolas e mapas vivos”.97 Portanto, mesmo que não esteja claro o grau efetivo de participação de cada uma das influências, acreditamos ser possível afirmar que a cartografia, dita “científica”, dos “Certoens” iniciou-se pela imbricação de elementos advindos da reforma da cartografia portuguesa liderada por Manuel de Azevedo Fortes, dos mapas elaborados pelos sertanistas que, por sua vez, foram influenciados pela descrição do espaço dos “Certoens” comunicada pelos ameríndios. Como separar esses elementos no estudo desses mapas? Não o sabemos ainda. Mas admitir que na elaboração dos primeiros mapas “científicos” dos “Certões” estavam presentes estes elementos é o primeiro passo para analisarmos mais profundamente seu conteúdo. 10. Uma hipótese final: “padrões cartográficos” para os mapas do Século XVIII e XIX do território de Goiás Não fizemos, nesta introdução, nenhuma discussão sobre mapas específicos de Goiás. Os artigos produzidos para este GUIA, ao apresentarem suas pesquisas sobre diversos temas ligados à cartografia de Goiás, apresentam importantes informações sobre os mapas aqui impressos. Ressalte-se que todos os mapas apresentados possuem pequena introdução sobre o contexto no qual foram produzidos, seguido da leitura paleográfica. Para terminar nossa introdução, queremos propor uma hipótese para a compreensão do conjunto da “cartografia de Goiás” dos séculos XVIII e XIX. Nos últimos anos, aqui e ali, aos poucos, estão sendo publicados artigos que estudam alguns mapas específicos de Goiás. Vivemos aquela fase da cartografia em que a preocupação principal é procurar identificar o autor, a data e os motivos que levaram à produção de alguns mapas. Contudo, uma abordagem em que os mapas são estudados dentro de conjuntos abrangentes com características comuns, em um recorte temporal maior e delimitado, ainda não foi apresentada. A proposta de uma abordagem, a partir de conjuntos de mapas, surgiu nas discussões dos organizadores desta publicação, Elias Manoel da Silva e Wilson Vieira Júnior, durante o trabalho de pesquisa e digitalização dos mapas e se aprofundou durante a leitura paleográfica. No desenvolvimento dessas atividades, constatamos várias semelhanças na “forma geral” de alguns mapas como se fossem versões a partir de um mapa-modelo. Pareceu-nos encontrar, para um dado período, certa continuidade na representação dos mapas de Goiás. A ideia de que era possível encontrar grupos de mapas semelhantes solidificou-se definitivamente quando iniciamos a elaboração do artigo para este GUIA, “A cartografia das duas comissões Cruls para a construção da nova capital no Planalto Central”. Ali, nos deparamos com um dos mapas mais usados pela Comissão, a “Carta da Província de Goyaz” de Joaquim Moraes Jardim. Nesse mapa, os integrantes da Comissão encontraram diversos erros chegando à conclusão, no Relatório Final, de que os mapas de Goiás eram “grosseiramente mal figurados”.98 Como tínhamos mapas anteriores àquele, uma simples comparação fez-nos perceber que o mapa de Morais Jardim era semelhante, até nos “erros” encontrados pela Comissão, à “Carta Corográphica Plana da Província de Goyaz” de Raimundo José da Cunha Matos. A partir daí fomos comparando o conjunto de mapas que publicamos neste GUIA e concluímos que é possível, para os mapas de Goiás do século XVIII e XIX, apresentá-los a partir de conjuntos, os quais iremos designar por “padrão cartográfico”. Cabe aqui ressaltar que a “hipótese dos padrões” se encontra aprofundada e melhor embasada na tese de doutorado do historiador Wilson Vieira Júnior: “Cartografia da Capitania de Goyaz no século XVIII: intenção e representação”, defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), em 2015. Em nossa hipótese, o conceito “padrão” se refere à compreensão da dinâmica de produção de novos mapas a partir de um mais antigo que serviu de referência. Da análise dos mapas publicados neste GUIA, o que podemos perceber é que, independentemente da intenção específica para o qual foram elaborados, nos mapas de Goiás dos séculos XVIII e XIX, encontramos conjuntos de mapas que seguem uma “forma geral”. Há uma espécie de força inercial a modelar novos mapas a partir de mapas anteriores dos quais, usando critério cronológico, é possível chegar a um primeiro que dá parâmetro ao conjunto. Essas semelhanças se referem ao modo de representar o espaço de “Goyaz”, ou seja, à forma geral do “desenho” do mapa, cujas semelhanças nos seguintes passam a impressão de uma “cópia” melhorada. Alguns elementos aqui e ali foram acrescentados ou atualizados, mas o escopo geral do mapa continua o mesmo, ou seja, as Latitudes e Longitudes são repetidas, resultando em enorme semelhança nos novos mapas elaborados. Por isso, afirmamos fazerem parte de um mesmo “padrão”, pois os acréscimos não foram suficientes para modificar radicalmente a forma. Contudo, ao sugerir os “padrões cartográficos” longe estamos de querer colocar a rica cartografia goiana num “mesmo saco”, simplificando a compreensão das semelhanças quando, de fato, essa dinâmica envolve questões que ainda hoje precisam ser mais bem estudadas, pois envolvem variáveis de cunho econômico, social e administrativo, para as quais cada mapa foi elaborado, apesar de graficamente usarem o modelo geral de um mapa mais antigo. Em nossa hipótese, daremos o nome a cada um dos “padrões” a partir daquele considerado o autor ou, no caso de não identificado, o organizador do primeiro mapa daquele conjunto com características afins. Assim, o responsável pela fazedura do mapa mais antigo nomeia o “padrão”. Exemplificando: o primeiro mapa de Goiás foi feito a partir da solicitação de Ângelo dos Santos Cardoso, secretário do primeiro governador de Goiás. O secretário não nomeou o autor, apenas afirma que esse primeiro mapa foi conseguido “de um sujeito capacíssimo na matéria de fazer mapas, que pessoalmente viajou quase toda a imensa extensão dos referidos caminhos e de propósito lavrou a meus rogos o [mapa] que remeti”. 99 Chamaremos, por isso, os mapas produzidos a partir desse primeiro como “Padrão Ângelo dos Santos Cardoso”. Podemos nos perguntar: o que fazia surgir novos “padrões” na cartografia de “Goyaz” dos séculos XVIII e XIX? Ou sendo mais direto: quando um mapa se torna aquele que irá dar início a um novo “padrão” e, portanto, será usado como referência para mapas posteriores? Nossa pesquisa permite afirmar, baseada nos mapas deste GUIA, que um mapa se firma como referência para outros e, portanto, dá origem a um novo “padrão”, quando é produzido a partir de novos levantamentos feitos em campo – in loco – por pessoas com competência técnica, ligadas ao Estado e no exercício de atividades do poder público. Em todos os três mapas do século XVIII e XIX que dão origem aos três “padrões cartográficos” em Goiás desse período, pudemos constatar essas características em comum, ou seja, todos se encaixam perfeitamente nessa condição. Vejamos. Para o “Padrão Ângelo dos Santos Cardoso” – o primeiro “padrão cartográfico” dos mapas de Goiás (1750-1778) – o secretário Ângelo dos Santos Cardoso é taxativo ao afirmar que o mapa enviado a Portugal foi elaborado em 1750 a partir de exaustivo trabalho em campo: “a força de diligência alcancei de um sujeito capacíssimo na matéria de fazer mapas, que pessoalmente viajou quase toda a imensa extensão dos referidos caminhos e de propósito lavrou a meus rogos o que remeti”. 100 Da mesma forma, para o mapa que dá início ao “Padrão Tomás de Souza” (1778-1826) – segundo “padrão cartográfico” dos mapas de Goiás – encontramos o relato do Sargento Tomás de Souza, do regimento da Cavalaria Auxiliar da Capitania de Goiás, informando que elaborou o mapa em 1778, a partir dos levantamentos adquiridos em viagens do Governador José de Almeida de Vasconcelos Soveral e Carvalho, nas quais o autor do mapa acompanhou o governador. O trabalho de campo para a confecção desse mapa é confirmado por Alencastre, em clássica obra sobre Goiás, quando relata as atividades do Governador Soveral e Carvalho, “sendo o único governador que percorreu toda a capitania, tinha o mais exato conhecimento do seu território [...]. Esse conhecimento serviu-lhe, sobretudo, para levantamento da carta da capitania, e melhor divisão dos Julgados. No levantamento da carta teve o mais sério cuidado, não só pelo gosto de empregar-se em trabalhos desta natureza, de que era apaixonado, como pelas recomendações que a este respeito tinha recebido do presente do real erário, Marquês de Angeja”.101 Por fim, o mapa que inicia o “Padrão Raimundo José da Cunha Matos” – terceiro “padrão cartográfico” dos mapas de Goiás (1826-1902) – foi elaborado por Cunha Matos em 1826 a partir dos levantamentos feitos por ele mesmo em suas viagens como Governador das Armas de Goiás das quais escreveu volumoso relato, cujo extenso título é: “Itinerário ao Pará e Maranhão pelas Províncias de Minas Gerais e Goiaz, seguido de huma descripção chorográphica de Goiaz, e dos roteiros desta província as de Mato Grosso e São Paulo”. A respeito desse mapa que organizou “para acompanhar os seus Itinerários”, relata: “A maior parte do que escrevo foi por mim visto e examinado: fadigas extraordinárias, perigos iminentes são a moeda que me custou esta minha obra. Não afianço a perfeição dela, porque na mesma França e Inglaterra não há perfeição absoluta em matérias geográficas; eu fiz quanto pude, e ainda mais faria se tivesse quem me auxiliasse. [...] Os meus Itinerários e o Resumo Corográfico da Província de Goiás vão acompanhados do mapa geral dela, e dos Termos dos Julgados do Araxá, e Desemboque, da Província de Minas Gerais, em três grandes folhas, e da carta de marcha desde o Rio de Janeiro até a Serra da Marcella da dita Província de Minas Gerais”.102 E conclui: “devo pedir aos Srs. que se acham à testa da Administração Pública de Goiás, que continuem e aperfeiçoem os meus escritos: eu emendei os antigos mapas da Província em mais de três mil pontos diferentes, por onde transitei, e daqueles de que recebi informações em que podia de certo modo confiar. Ninguém pense que os meus mapas são absolutamente exatos: eu o declaro nos Itinerários. Se eu fiz mais de três mil emendas nos antigos mapas manuscritos, agora pelos Itinerários e mapas impressos, proporciono os meios convenientes de se proceder a novos exames e às correções inumeráveis que será necessário praticar. Eu apenas transitei pelas estradas gerais de Goiás; não fiz explorações pelas terras desertas e ainda nas povoadas que ficavam fora de minha linha de marcha: só afianço aquilo que eu mesmo observei; e deixo a outros melhores do que eu, o mais que entenderem ainda faltar. A Província de Goiás não podia ser explorada em dois anos por um homem quase desacompanhado, e que, além dos entretenimentos geográficos, tinha muitas outras coisas em que cuidar”. 103 Portanto, não era qualquer mapa que, aos poucos, servia de referência para a produção de novos mapas de Goiás. Eram mapas cujo lastro técnico a partir de pesquisas feitas em campo, bem como a autoridade do produtor eram incontestáveis. Contudo, ressaltamos novamente que essa hipótese para a apresentação do conjunto de mapas que representam o território de Goiás dos séculos XVIII e XIX ainda exige muito mais pesquisas. Será que o conjunto de mapas apresentados neste GUIA é suficiente para confirmar a hipótese? Será que um novo mapa a ser encontrado não poderá ser aquele que deu início a um “padrão cartográfico” aqui sugerido ao invés daquele mapa que apresentamos? Será que há mais “padrões cartográficos” que os três aqui apresentados para o período sugerido? O que pode trazer de novo para o estudo da cartografia o estudo de conjuntos de mapas com semelhanças entre si? A abordagem por meio de “padrões cartográficos” é um caminho útil para uma melhor compreensão da cartografia goiana em particular, ou da cartografia brasileira em geral? Que essas reflexões e questionamentos sirvam para provocar novos estudos. NOTAS 1. Cf. KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Contraponto Editora. 2010. 2. MUNDIN, Luis Gustavo Molinari. Sob o signo do moderno. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Ano XLVI, n.2, jul.-dez. 2010, p.62. 3. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Decifrando mapas: sobre o conceito de “território” e suas vinculações com a cartografia. Anais do Museu Paulista. São Paulo, V.12, n.1, p.230, jan.-dez. 2004. 4. MARTINS, Francisco José Corrêa. Arquivo Histórico do Exército. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 12. 5. MATOS, Luis Jorge Semedo de. Planisfério anônimo de 1502 (dito “de Cantino”). Cadeira de História da Marinha Portuguesa. In Navegações Portuguesas. Disponível em: Acesso em: 2 jul. 2012. 6. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 201. 7. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 223-225. 8. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 298. 9. GUEDES, Max Justo. Introdução. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 12. 10. DOMINGUES, Francisco Contente. Viagens e viajantes no Atlântico Quinhentista. Lisboa, Colibri, 1996. p. 207. 11. COELHO, Antonio Borges. Os argonautas portugueses e o seu velo de ouro. In: História de Portugal, São Paulo UNESP, 2000, p. 64. 12. CANAS, António Costa. Cartografia náutica portuguesa. Cadeira de História da Marinha Portuguesa. In Navegações Portuguesas. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2012. 13. OLIVEIRA, Fernando. Arte de Guerra do Mar, apud BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 29. 14. CANAS, António Costa. Cartografia náutica portuguesa. Cadeira de História da Marinha Portuguesa. In: Navegações Portuguesas. Disponível em: Acesso em: 2 jul. 2012. 15. Cf. CORTESÃO, Armando, História da Cartografia Portuguesa, 2 vols., Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1969-1970. 16. Cf. MOTA, Avelino Teixeira da. Os Regimentos do cosmógrafo-Mor de 1559 e 1592 e as Origens do Ensino Náutico em Portugal, Coimbra, JIU-AECA (Sep.LI), 1970. 17. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenhando o Brasil: o saber cartográfico dos cosmógrafos e engenheiros militares da Colônia e do Império. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 30. 18. ___ . ___. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 30. 19. GUEDES, Max Justo. Introdução. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 12. 20. Cf. ___ . ___. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 20. 21. RODRIGUES, José Honório. Teoria da História do Brasil: Introdução metodológica. 3. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. p. 283. 22. COSTA, Antônio Gilberto. Dos Roteiros de todos os sinais da costa até a Carta Geral: um projeto de Cartografia e os mapas da América portuguesa e do Brasil Império. In COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 87. 23. ___ . ___. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 87. 24. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 291. 25. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 291. 26. COSTA, Antônio Gilberto. Dos Roteiros de todos os sinais da costa até a Carta Geral: um projeto de Cartografia e os mapas da América portuguesa e do Brasil Império. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 84. 27. ANAS, António Costa. Cartografia náutica portuguesa. Cadeira de História da Marinha Portuguesa. In Navegações Portuguesas. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2012. 28. COSTA, Antônio Gilberto. Dos Roteiros de todos os sinais da costa até a Carta Geral: um projeto de Cartografia e os mapas da América portuguesa e do Brasil Império. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 83. 29. ___ . ___. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 83. 30. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 416. 31. BUENO, Beatriz Piccolotto. Do borrão às aguadas: os engenheiros militares e a representação da Capitania de São Paulo. Anais do Museu Paulista. São Paulo N. Ser. V. 17. n. 2. jul.-dez. 2009. p. 150. 32. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Com as mãos sujas de cal e de tinta, homens de múltiplas habilidades: os engenheiros militares e a Cartografia na América portuguesa (séc. XVI-XIX). Revista Navigator. V. 7 , n. 14, 2011. p. 9. 33. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 165. 34. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 169. 35. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 175. 36. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenhando o Brasil: o saber cartográfico dos cosmógrafos e engenheiros militares da Colônia e do Império. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 39. 37. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Com as mãos sujas de cal e de tinta, homens de múltiplas habilidades: os engenheiros militares e a Cartografia na América portuguesa (séc. XVI-XIX). Revista Navigator. V. 7, n. 14, 2011. p.14. 38. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 106. 39. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 182. 40. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 183. 41. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 180. 42. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Com as mãos sujas de cal e de tinta, homens de múltiplas habilidades: os engenheiros militares e a Cartografia na América portuguesa (séc. XVI-XIX). Revista Navigator. V. 7 , n. 14, 2011. p.11. 43. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Sertão de estrelas: a delimitação das Latitudes e das fronteiras na América Portuguesa. Varia História – Revista do Departamento de História da UFMG, Belo Horizonte, n. 21, julho de 1999. p. 78. 44. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 179. 45. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 179. 46. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 190. 47. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Sertão de estrelas: a delimitação das Latitudes e das fronteiras na América Portuguesa. Varia História – Revista do Departamento de História da UFMG, Belo Horizonte, n. 21, julho de 1999. p. 83. 48. ___ . ___. Belo Horizonte, n. 21, julho de 1999. p. 80. 49. Alvará de D. João V nomeando os matemáticos padres Diogo Soares e Domingos Capacci para se passarem ao Brasil. Reproduzido por CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 213. 50. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 213. 51. Provisão de D. João V aos padres matemáticos, Diogo Soares e Domingos Capacci, com as instruções para seus trabalhos no Brasil. Reproduzido por CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 215. 52. ALMEIDA, André Ferrand de. Os padres matemáticos e a Cartografia da Capitania do Rio de Janeiro no século XVIII. In IV Simpósio Lusobrasileiro de Cartografia Histórica. Disponível em: . Acesso em: 9 jul. 2012. 53. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Sertão de estrelas: a delimitação das Latitudes e das fronteiras na América Portuguesa. Varia História. Revista do Departamento de História da UFMG, Belo Horizonte, n. 21, julho de 1999. p. 84. 54. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenhando o Brasil: o saber cartográfico dos cosmógrafos e engenheiros militares da Colônia e do Império. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 40. 55. SANTOS, Márcio Roberto Alves dos. Os relatos de reconhecimento de Quaresma Delgado. Revista Varia História, Belo Horizonte, vol. 24, n. 40, jul./dez. 2008. p. 691. 56. Cf. Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo XLV, 1ª parte, p. 125-146. Apud CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 195. 57. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 195. 58. Cf___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 210. 59. Provisão de D. João V aos padres matemáticos, Diogo Soares e Domingos Capacci, com as instruções para seus trabalhos no Brasil. Reproduzido por CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 215. 60. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 215. 61. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 215. 62. FERREIRA, Mário Clemente. Cartografar o Sertão: a representação de Mato Grosso no século XVIII. II Simpósio Luso-brasileiro de Cartografia Histórica, Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p. 2. Disponível em: Acesso em: 16 jul. 2012. 63. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, 1961. p. 492. 64. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 90-91. 65. Cf. História da Colônia Portuguesa do Brasil, Tomo III, p. 72. Apud CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 100. 66. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 92. 67. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 92. 68. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 90. 69. ___ . ___. Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 93. 70. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 93. 71. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 89. 72. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 106. 73. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 89. 74. Parecer do Conselho Ultramarino sobre uma informação do Padre Diogo Soares, Lisboa, 26-1-1731, pub. In: Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte III, tomo 1, Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio-Branco, Rio de Janeiro, 1951, doc. LCIII, p. 272. 75. Cf. Carta de Marco Antonio de Azevedo Coutinho para Tomás da Silva Teles, Lisboa, 8-2-1749, pub. In Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte IV, tomo 1, Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio-Branco, Rio de Janeiro, 1953, doc. LXV, p. 262. 76. Cf. ca.1720, B.N.R.J – Cartografia ARC. 030.03.0003. 77. FERREIRA, Mário Clemente. Cartografar o Sertão: a representação de Mato Grosso no século XVIII. II Simpósio Luso-brasileiro de Cartografia Histórica, Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p. 2. Disponível em: Acesso em 16 jul. 2012. 78. ___ . ___. Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p. 3-4. Disponível em: . Acesso em: 16 jul. 2012. 79. ___ . ___. Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p. 4. Disponível em: . Acesso em: 16 jul. 2012. 80. Idea da topografia athe as novas minas de Cujaba, [17..], Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Cartografia, ARC.030.03.0003. 81. FERREIRA, Mário Clemente. Cartografar o Sertão: a representação de Mato Grosso no século XVIII. II Simpósio Luso-brasileiro de Cartografia Histórica, Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p.3. Disponível em: . Acesso em: 16 jul. 2012. 82. ___ . ___. Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p.6. Disponível em: . Acesso em: 16 jul. 2012. 83. DERBY, Orville. O roteiro de uma das primeiras bandeiras paulistas. Revista do Instituto Histórico de São Paulo, 1889, IV, p. 343. Apud HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras, São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 25. 84. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras, São Paulo, Companhia das Letras, 1994. p. 24. 85. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 23. 86. SOARES, Gabriel. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1938, cap. CLXVI. 87. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras, São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 20. 88. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 27. 89. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 28. 90. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 27. 91. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras, São Paulo, Companhia das Letras, 1994, p. 24. 92. ___ . ___. São Paulo, Companhia das Letras, 1994, p. 23. 93. KOK, Glória Porto, O sertão itinerante: expedições da Capitania de São Paulo no século XVIII. São Paulo, Hucitec-Fapesp, 2004. p. 23 94. SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil de 1587. 5. ed. São Paulo-Brasília: Nacional-INL, 1987. p. 350. 95. Cf. KOK, Glória Porto, O sertão itinerante: expedições da Capitania de São Paulo no século XVIII. São Paulo, Hucitec-Fapesp, 2004. p.25 96. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 396-397. 97. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 29. 98. CRULS, Luis. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, 173. 99. Arquivo Histórico Ultramarino – AHU. Projeto Resgate. AHU_ACL_CU_008, Cx. 12, D. 740. 100. Arquivo Histórico Ultramarino – AHU. Projeto Resgate. AHU_ACL_CU_008, Cx. 12, D. 740. 101. ALENCASTRE, José Martins Pereira. Anais da Província de Goiás. Convênio SUDECO/Governo de Goiás, 1979, p. 215-216. 102. MATTOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário ao Pará e Maranhão pelas Províncias de Minas Gerais e Goiaz, seguido de huma descripção chorographica de Goiaz, e dos roteiros desta província as de Mato Grosso e São Paulo. Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Constitucional de J. Vilaleneuve E. C., Tomo I e II, 1836. 103. ___ . ___. Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Constitucional de J. Vilaleneuve E. C., Tomo I e II, 1836. Página 32 – Primeiros mapas da capitania de Goiás – Wilson Vieira Júnior Descrição da imagem: mapa dos limites da Capitanias de Goiás, abrangendo a capitania do Mato Grosso e parte de São Paulo. Os limites de Goiás estão traçados pelo Rio da Morte, desde a sua cabeceira até as proximidades da confluência com o Araguaia, até as nascentes do Itacaiúnas. 47 lugares estão identificados no mapa, como Sanctos, S. Vicente, Fortaleza da Barra Grande, Forte da Bertioga, Conceição, Iguapy, Cananea, S. Paulo, Parnayba, Ytú, Araraytaguaba, Sorocaba, Jundiay, Mogy, Arraial dos Bororos governados pelo coronel Antonio Pires de Campos, Sancta Cruz, S. Luzia, MeyaPOnte, Jaraguá, Ouro Fino, Ferreiro, Vila boa, Barra, Anta, Pilloens, Crixá, Guarinos, Pillar ou Papoam, Agoaquante, Trayras, S. José, S. Rita, Moquem, Chapada de S. Gonçalo, Morinhos ou Amaro Leite, Corriola, Carlos Marinho ou S. Félix, Chapada de S. Felix ou Carlos Marinho, Cavalgante, Paranã ou Itiquira, Arayas, Barra da Palma ou terras novas, Duro, Natividade, Pontal, Descuberto do Carmo, Missão dos PP da Compa. No topo da página o destaque para o título do capítulo “Primeiros mapas da capitania do Goiás”. Por Wilson Vieira Júnior”. O acervo cartográfico da história de Goiás é consideravelmente rico como fonte documental. Contudo, nota-se, em vários estudos, a ausência de tais documentos. Em uma parcela dos trabalhos, utiliza-se de mapas atuais, ou feitos especificamente para resumirem, em imagem, o que foi abordado em texto. O mapa assume, assim, a função de ilustrar o trabalho. Um coadjuvante hierarquicamente subordinado ao texto escrito, causando estranheza para a pesquisa da história, pois tais documentos eram necessários como instrumentos de poder, dado aos conhecimentos que continham, estrategicamente relevantes para as ações de Estado, conforme destaca o historiador Peter Burke (2003, p. 122): o “surgimento da cartografia como instrumento de governo foi importante, fosse o propósito do mapa estabelecer fronteiras, defender o Estado contra seus inimigos ou facilitar o planejamento e assim racionalizar a administração”. As preocupações acerca do uso da iconografia associada ao texto escrito há algum tempo, são objeto de análise. Estudos verificam a dificuldade em ler a imagem, decodificar sua narrativa, sendo forte barreira para considerar a iconografia como fonte capaz de fornecer informações, até porque a não compreensão do documento impossibilita realizar as perguntas necessárias à pesquisa. Assim, a opção pelo movimento contrário, ou seja, adaptar ou construir uma imagem ao argumento do texto escrito é um processo mais seguro. Os textos visuais, associados com maior frequência ao contexto artístico e social, ficaram relegados à condição de ilustração dispensável ou superlativa. Muitas vezes são deixados de lado, pela ambiguidade e pelos obstáculos de suas leituras [...] embora habitualmente a linguagem visual seja considerada de transmissão direta, ela acaba tendo uma postura parasitária em relação à linguagem verbal. (BIANCO e LEITE, 1998, p. 37-49). É importante considerar que a imagem, como, por exemplo, um mapa do século XVIII, pode criar dificuldades ao desenvolvimento do texto escrito, pois o conjunto de códigos e símbolos reunidos na iconografia possui sentidos muito particulares, destacando o fato de que a cartografia do período procurava sintetizar o que se sabia e o que se imaginava sobre o território e comunicar visualmente, muitas vezes de forma generalizada, o que interpretavam da realidade da época. Os esforços dos autores do século XVIII foram o de legitimar a cartografia como imagem fiel do espaço representado e, por isso, são essas imagens que hoje podemos recorrer para estudar este período. Em outras palavras, por mais que seja difícil o estudo dos mapas setecentistas, é este o acervo que iconograficamente melhor representa o período. Portanto, é esse acervo que merece estudo, para entender os códigos, signos, símbolos. Os mapas antigos são, nos seus devidos períodos, fontes importantes a serem consideradas como uma expressão otimizada da sua própria época. Conforme proposto por Burke e observado por Costa (2007), alguns aspectos devem ser considerados ao se estudarem imagens. O conjunto oferece informações mais confiáveis que imagens isoladas. Deve-se considerar que as imagens acessam visões contemporâneas daquele mundo e, portanto, devem ser encaixadas em contextos próprios para, assim, permitirem análises de suas possibilidades como documentos. Sendo assim, é mister atentar-se para as entrelinhas, para leituras dos detalhes e das ausências. Assim, em se tratando de mapas históricos, é importante compreendê-los como reflexo de uma época. Sua elaboração, naturalmente, é motivada por interesses e argumentos próprios do período. Os personagens, diretamente participantes na construção do documento, estão racionalmente cercados de motivações que os conduzem a expressar, com uso de técnicas aceitas e conhecidas, em imagem a mensagem destinada aos seus pares. Observa Furtado (2010, p. 25) que “todo mapa é um conjunto de signos, símbolos que só podem ser compreendidos e decodificados com base nos elementos da própria cultura na qual foi elaborado”. Hoje, para aproximarmos da condição que permita realizar essas leituras, é fundamental formular a análise considerando o período, os ambientes físicos e sociais em que as informações foram registradas na iconografia, e os procedimentos adotados na confecção dos mapas por meio de normas, técnicas e métodos de feitura. Em qualquer estudo iconográfico, só por meio do contexto se pode descobrir adequadamente o significado e a importância do objeto de análise. Tais contextos podem ser definidos como as circunstâncias em que se fizeram e usaram os mapas (HARLEY, 2005, p. 84). Vejamos, então, a análise de quatro mapas do século XVIII, as primeiras representações conhecidas da Capitania de Goiás. VOU por Letra aos pés de Vossa Excelência; ainda que a minha mayor furtu-na, e honra seria fazelo pesoalmente, estribado sempre porem naquele/profundo respeito, e acatamento, que á de tempo taõ antigo traz a origem, que/objectivamente tive, e devo à Sua Excelentíssima Pesoa; mas sempre com a Sustada, e duvi-/doza rezoluçaõ, de que me seja contada por temeridade esta determinaçaõ; eu/ative quando soube a estimável, agustoza noticia, de dar a Vossa Excelência o parabéns/por carta, da acertadisima eleiçaõ que o nosso soberano fizera de nomear/a Vossa Excelência seo Secretário de Estado, emprego ainda que infeior aos altos mere-/cimentos de que Vossa Excelência se orna, sempre venturozo para a Monarchia, de ter/hum Ministro taõ destinto que a derija. Assim, tem início o ofício que o secretário de governo da Capitania de Goiás, o português Ângelo dos Santos Cardoso enviou a Sebastião José de Carvalho e Mello, Secretário de Estado (1750), futuro Conde de Oeiras (1759) e Marquês de Pombal (1769). O documento que compõe o acervo documental referente a Goiás está guardado no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) e trata-se de um relatório sobre a capitania, escrito em 1755 (AHU_ACL_CU_008, Cx. 12, D. 740). O texto apresenta a Carvalho e Mello os aspectos gerais da ocupação e formação territorial, os problemas existentes e comenta acerca da povoação e da participação eclesiástica. A elaboração de relatório sobre a capitania cabia ao secretário de governo, funcionário nomeado pelo rei, obrigatoriamente pessoa letrada, limpo de sangue (1), homem de segredo e membro das classes sociais mais elevadas, que assessorava diretamente o governador, sendo responsável pelos trâmites burocráticos do governo, guardião de toda a documentação emitida e recebida pela autoridade administrativa da capitania. Cabia também ao secretário informar à Coroa a atuação do governador no desempenho das ordens régias determinadas ao seu governo. Era determinado aos governadores comunicar: (i) as condições políticas e de negócios, (ii) o estado militar e (iii) as finanças e rendas reais. A secretaria de governo polarizava as informações administrativas-jurídicas-militares sobre a capitania e as repassava à metrópole em listas regulares. Em virtude das incumbências do cargo, os relatos do secretário reuniam um conjunto de dados fundamentais para a administração portuguesa (MELO, 2005). Cardoso concorreu à seleção organizada pelo Conselho Ultramarino e divulgada em editais distribuídos pela corte. Aos interessados, exigiu-se a apresentação dos “seus papeis”, ou seja, que demonstrassem as credenciais e experiências que os qualificavam ao cargo. No século XVIII, para os membros da aristocracia portuguesa, assumir cargos a serviço da Coroa, no governo, na administração e no corpo militar, contribuía para sustentar e reafirmar o título de nobreza ao indivíduo e por extensão à família perante a sociedade e ao Estado. Socialmente, a participação da aristocracia sublinhava as virtudes nobres desta classe. Por isso, colocava-se como merecedora das nomeações para os altos cargos (MONTEIRO e CARDIM, 2011, p. 82-83). Ao final do prazo estabelecido de 20 dias, havia o total de 13 candidatos, alguns com vivências profissionais na metrópole e nas colônias lusitanas, com importantes atuações como secretário, provedor e ouvidor nas administrações de São Paulo, Maranhão e Pará. Isso era uma grande vantagem, considerando toda a sorte de dificuldades enfrentadas durante o processo de ocupação em extenso território muito ainda por conhecer, que envolvia a montagem e condução da estrutura imposta pelo regime, controle sobre a mineração e caminhos de acesso, combate e dominação aos grupos indígenas, a contínua expansão do território conjugada com a constante disputa pela defesa dos interesses lusos nos limites. A vivência de Cardoso era no reino, assumindo funções na contadoria geral de guerra (2), almoxarife das casas de Lisboa (3), posto que ocupou durante nove anos, e em serviços a real fazenda, atribuições essas relacionadas à importante tarefa de arrecadar e administrar os tributos e garantir o patrimônio financeiro da Coroa. Era funcionário de confiança. Com elogiados serviços prestados, seus conhecimentos acerca do sistema de arrecadação lusitano o qualificavam para assumir funções na administração de arraiais auríferos, o que justificou a escolha de Dom João V ao nomeá-lo secretário do governo em 14 de setembro de 1748 (AHU_ACL_CU_008, Cx. 6, D. 495). O novo secretário dirigiu-se à Goiás no ano de 1749, acompanhando o governador Dom Marcos de Noronha (1749-1755), Conde dos Arcos, o primeiro a exercer o cargo na capitania recém criada em 1748 e com território independente de São Paulo. A comitiva do governador chegou à capital Vila Boa no dia 6 de novembro, e Ângelo Cardoso redigiu o termo de posse em cerimônia realizada dois dias depois. Aos 8 dias do mês de Novembro de 1749, nesta vila Boa de Goiás, nas casas da câmara dela, na presença do senado da câmara da mesma vila e povo dela, sendo aí lida a patente real com que S. M. faz e nomeia governador e capitão-general destas minas ao Ilm.o Exm.o Sr. D. Marcos de Noronha, em virtude de que tomou posse do mesmo governo. De que fiz este termo, em que assinaram o dito Ilm.o Exm.o Sr. governador e capitão-general e oficiais da câmara. – E eu Ângelo dos Santos Cardoso, secretário do governo, o escrevi e assinei. – D. Marcos de Noronha. – Ângelo dos Santos Cardoso. – Agostinho Luiz Ribeiro. – Manoel da Silva. – Inácio Barbosa da Silva. – João Ferreira Barros. (ALENCASTRE, 1979) Ângelo Cardoso, quando escreveu o relatório de 1755, já se encontrava há seis anos no sertão goiano, tempo que já o credenciava como relator das condições das minas. Havia percorrido parte do território acompanhando o governador do Rio de Janeiro Gomes Freire de Andrade, que acumulava as funções de governador interino das Minas Gerais e São Paulo, homem poderoso e de plena confiança de Dom João V. Estava o governador em Goiás para demarcar as minas de diamantes dos rios Claro e Pilões. Durante a jornada, ambos visitaram o arraial de Paracatu, que Gomes Freire defendeu alguns anos antes, a posse para Minas Gerais quando pretendia-se incluir no território de Goiás, e Santa Luzia, descoberto recente (1746) que naquele ano de 1749 foi elevado à categoria de Julgado (4). Em seu relatório, menciona Cardoso que conheceu um especialista em cartografia, cujo nome não cita, que teria viajado pela capitania e elaborado a primeira representação cartográfica de Goiás, com os arraiais e os caminhos. Ângelo Cardoso atesta ainda que o mapa foi enviado em 12 de maio de 1750 ao diplomata Alexandre de Gusmão, provavelmente com o objetivo de fornecer informações sobre as ocupações ocidentais da colônia, principalmente àquelas situadas além do Tratado de Tordesilhas. Alexandre de Gusmão, natural de Santos e com ascendente carreira em serviços dedicados à soberania de Portugal, era convicto da necessidade de conhecer a geografia, a história, a etnografia e as riquezas naturais das regiões de soberania incerta entre a América lusa e a espanhola. A ele parecia, acertadamente, que o domínio português e a formação territorial do Brasil não poderiam prescindir do amplo conhecimento da geografia e da história, em sua concepção. Sendo assim, Gusmão tomou a iniciativa de enviar cartas aos funcionários reais que tinham, por destino, o serviço no interior da colônia. A eles, solicitava inventário acurado do território, observando os aspectos naturais e sociais dos ambientes por onde transitariam. O historiador Jaime Cortesão (2001, v. II, p. 150-153) descobriu dois desses documentos: um de 1743, endereçado a servidores em missão demarcatória a Minas Gerais, e outro ao governador de Maranhão-Pará. Em fins de 1746, este determinou ao secretário do governo, José Gonçalves da Fonseca, que reduzisse a um mapa a encomenda de Gusmão, ou seja, o desenho e informações do rio da Madeira e das minas do Mato Grosso, prontamente elaborado e enviado ao diplomata. Provavelmente, Cardoso foi um dos correspondentes de Gusmão, pois deixa evidente na continuação do relatório de 1755 ao mencionar o envio de um mapa ao diplomata em 12 de maio de 1750. Concidero, a Vossa Excelência já com algumas luzes naõ pe-/quenas, da situaçaõ deste Continente, naõ só porque seria publico hum Ma/pa nese Ministerio, que eu remeti a Alexandre de Gusmaõ, que Deus haja,/em 12 de Mayo de 1750, que foy o prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até/aquele tempo, e o menos distante da verdade da destrebuiçaõ desta Comarca,/e seos Arrayaes, mostrando o caminho, que vem da Vila de Santos a esta Capi-/tal, e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da Madeira, té o das Amazonas,/que à força de deligência alcancey de hum sugeito capacisimo, na materia de/fazer Mapas, que pesoalmente viagou quazi toda a imensa extensaõ dos/referidos caminhos, e de propozito lavrou a meos rogos o que remetî. (AHU_ACL_CU_008, Cx. 8, D. 740, fl. 2). Os conhecimentos sobre a colônia apreendidos por Alexandre de Gusmão serviram à justificativa de possessão portuguesa em território contestado pela Espanha durante as negociações para a revisão dos limites na América do Sul, que resultaram na assinatura do Tratado de Madrid em 1750. Prosseguindo em seu relatório, Ângelo Cardoso menciona a presença na capitania do cartógrafo e geógrafo Francisco Tosi Colombina. De acordo com o historiador Paulo Bertran (2000), Tosi Colombina era um entre tantos outros italianos que trabalharam para Portugal com o objetivo de propor mudanças estruturais na colônia e que, oportunamente, passaram a tentar enriquecer no Brasil. Tal intenção levou os italianos a percorrerem as capitanias brasileiras e, assim, Tosi Colombina chegou em Goiás. A serviço do Conde dos Arcos, o cartógrafo italiano foi encarregado de levantar informações sobre a capitania e as registrar em um mapa, tarefa que realizou e entregou ao governador em 6 de abril de 1751. Portanto, a autodenominada “Primeira carta da Capitania de Goiás pelo engenheiro italiano Francisco Tosi Colombina” (Cf. neste GUIA p. 135-136), foi elaborada um ano depois do mapa enviado por Ângelo Cardoso. Este, por sua vez, comenta que Tosi Colombina, sabendo da existência do mapa da Capitania de Goiás, solicitou uma cópia, pedido que foi prontamente atendido pelo secretário. Ou seja, foi feito uma reprodução do documento anteriormente enviado a Alexandre de Gusmão. Na mesma conjuntura que eu cheguey a esta Vila/Em companhia do Senhor General Gomes Freire de Andrada, também veyo hum Italiano/Italiano, por nome Francisco Tosi Columbina, na cometiva do ouvidor/novo Agostinho Luiz Vieira, que Vinha entaõ para esta Comarca; o qual/Columbina dahy a quazi hum anno, foy em companhia do mesmo Ouvidor correr/a Comarca; e levou ordem do Senhor Conde dos Arcos General desta Capitania, para hir ob-/servando as alturas dos Arrayaes, e situações da mesma Comarca; pela/curiozidade que se lhe descubrio, de ser enfarinhado em Geografia; pedio-/me o referido Columbina, a copia do Mapa, que eu já antecedentemente/tinha na maõ, de que havia remetido o original para a Corte a Alexandre/de Gusmaõ, e dele sevales para formar outro com pouca diferença, exce-/pto em alguma exacçaõ das alturas dos graõs, em que ficavaõ os Arraya/es, e algum rio, ou citio que descobrio de novo; este Mapa que fez o tal/Italiano, seria vezivel a Vossa Excelência; o que talvez não escaparia à Sua penetrante prespicacia, se por acazo o conversou, que Columbina pe-/ca alguma coiza em visionário. (AHU_ACL_CU_008, Cx. 8, D. 740, fl. 2-3) Imagina-se que, com base no mapa de Ângelo Cardoso, Tosi Colombina se lançou em viagem pela Capitania de Goiás, cotejando e coletando informações que colheu de viajantes e sertanistas, somadas às suas experiências pessoais (BARBO & SCHLEE, 2009). O novo mapa, então elaborado, objetivava reforçar a intenção de Tosi Colombina (e sócios) de implementar uma estrada ligando Santos a Cuiabá, pelo qual solicitaram ao rei Dom José I (1750-1777) sesmarias e privilégios de exploração durante dez anos. (AHU_ACL_CU_008, Cx. 8, D. 554) O mapa assinado por Tosi Colombina tem sido considerado pela historiografia como a primeira representação cartográfica de Goiás. Outros tantos documentos cartográficos com desenho semelhante ao de Colombina, porém sem assinatura, (encontrados em acervos documentais como da Biblioteca Nacional, do Ministério das Relações Exteriores e do Arquivo Histórico Ultramarino) são considerados cópias posteriores ou de autoria atribuída ao próprio cartógrafo italiano. As evidências encontradas permitem inferir sobre os interesses que motivaram a feitura dos mapas. Cardoso, intencionado em atender ao governo português na consolidação da posse do território, e Colombina, ao atender o governador, buscava garantir o apoio para a implementação do empreendimento comercial. Assim quer nos parecer que o relatório de 1755, elaborado por Ângelo dos Santos Cardoso, sugere a necessidade de um reexame das interpretações produzidas. O documento traz novas possibilidades, pontua novas descobertas e indica novos esclarecimentos. O mapa organizado (5) por Cardoso consta do acervo da mapoteca do Ministério das Relações Exteriores brasileiro (6), cujo fac-símile foi publicado por Isa Adonias em 1960, na coletânea cartográfica intitulada “Mapas e Planos manuscritos relativos ao Brasil Colonial (1500 – 1822)” organizada nos volumes I Texto e II Mapas. Na obra, Adonias atribui a autoria do “Mapa da Capitania de Goiás e regiões circunvizinhas mostrando as comunicações entre as bacias do Prata e do Amazonas” (Cf. neste GUIA p. 42), a Francisco Tosi Colombina. Na análise da autora, o mapa é considerado uma variante do mapa original, elaborado por Colombina, portanto uma cópia em que, conforme observa, faltam “as duas legendas do original, a primeira contendo uma nota dirigida pelo autor a Dom Marcos de Noronha, e a segunda, uma explicação dos caminhos” (ADONIAS, 1960). Similar ao mapa de Cardoso, no de Colombina consta os arraiais auríferos e os limites da capitania. A diferença está no fato de que Colombina traçou pelo rio Jangada, e no mapa de Cardoso os limites com o da Capitania do Mato Grosso foram traçados pelo rio das Mortes seguindo a proposta do Conde dos Arcos. Conforme Alencastre (1979), Dom Marcos de Noronha sempre defendeu os limites com o Mato Grosso “pelo rio das Mortes, confluente do Araguaia, por uma linha de suas cabeceiras até o rio Taquari, por ele abaixo até a barra do Cuxim, e por este acima até Camapuan até as cabeceiras do rio Pardo” (Figura 1), o que expôs em carta ao rei Dom João V, em 12 de janeiro de 1750 (AHU_ACL_CU_008, Cx. 6, D. 429). A diferença entre os dois mapas também é observável em outros detalhes: a) a referência no mapa de Colombina a um arraial da “Cambayuba”, próximo à Vila Boa, quando sabe-se, pelos documentos e pela historiografia, que a Cambaúba não era um arraial, mas uma parte da malha urbana de Vila Boa. Na Cambaúba, estabeleceram os pioneiros ranchos para minerar o rio Vermelho, e era o trecho da estrada que ligava o povoado a outras regiões da colônia. No decorrer do século XVIII, ali se instalaram pretos forros, soldados, casais de pardos, uma camada social mais pobre (COELHO, 2013, p. 33). É de se estranhar que Colombina, uma vez que esteve presente no povoado, tenha confundido uma região da vila com um arraial separado, em uma época que não mais se minerava ali e estavam consolidadas as moradias no tecido urbano; b) a grafia do termo sertão, com “S” no mapa de Colombina e com “C” no mapa de Cardoso; c) diferentes representações das cabeceiras do rio Maranhão e, um pouco mais abaixo, a presença do topônimo Sobradinho (Figura 2) no mapa de Cardoso, que deve ter conhecido na ocasião da viagem que fez com o governador Gomes Freire, e a ausência no mapa assinado por Tosi Colombina; e d) somente a representação do cartógrafo italiano menciona o relevo em cadeia, contudo não apresenta exatidão, parecendo mais referências às serras que compõe o cenário geológico das chapadas do Centro-Oeste. Página 37 – Figura 1 e 2 Descrição das imagens: quadro figuras de mapas, sendo duas colocadas lado a lado na primeira linha e outras duas na segunda linha. Na primeira sequência, denominado Figura 1”, os dois mapas, mesmo sendo diferentes, mostram o mesmo recorte do espaçamento, contendo os limites ocidentais da capitania de Goiás pelo Rio da Morte. O mapa de Ângelo dos Santos Cardoso segue a preferência do governador Dom Marcos de Noronha. Na segunda sequência de imagens, denominada Figura 2, mostram dois mapas diferentes, mas com o mesmo espaço no ângulo, contendo as cabeceiras do Rio Maranhão. Há um quadrado vermelho com a seta para identificar as discrepâncias em relação ao topônimo Sobradinho. Os mapas são de Tosi Colombiana e Ângelo dos Santos Cardoso. Com tais discrepâncias, tudo indica que os mapas não teriam a mesma autoria. Sendo assim, a historiografia tem, ao longo dos anos, equivocadamente considerado o mapa de Cardoso como sendo o primeiro mapa de Colombina. Em 12 de setembro de 1753, o Conde dos Arcos encaminhou ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, uma carta em atendimento à ordem de Dom José I, que cobrava o fornecimento de informações claras e precisas sobre os arraiais, os caminhos e distâncias entre as minas, os postos fiscais e a arrecadação dos tributos. O documento está relacionado no acervo do AHU com o número 603 (AHU_ACL_CU_008, Cx. 9, D. 603). Juntamente ao ofício seguiram dois mapas, sem assinatura, que, desmembrados do referido documento, estão catalogados na cartografia de Goiás como: AHU_CARTm_008, D. 0866 /D.867, neste GUIA p. 57 e 58. Pelas características das atribuições de secretário de governo, é de se considerar que o documento 603 tenha sido redigido por Cardoso e assinado pelo Conde dos Arcos. Reforça a suspeita, a grafia e o estilo da redação, semelhante ao do documento que Cardoso enviou ao Marquês de Pombal. Nos mapas, encontram-se as mesmas características dos anteriores, os limites, o Sobradinho, as cabeceiras do rio Maranhão, a grafia de sertão (cabe a observação que em um dos mapas, “sertão” está grafado “Certam”). Conde dos Arcos encontrava dificuldades em cumprir suas funções na capitania, o amplo território e a distância entre os arraiais tornavam a administração uma tarefa de difícil execução. O controle sobre as finanças, a arrecadação do ouro e o policiamento para evitar o extravio e os impostos aplicados à população e, associado a tudo isso, o combate da corrupção com aplicação das leis, necessitava de aparato que o governo não possuía. Era fato que as informações sobre a capitania careciam de precisão. Naturalmente, não era fácil dar conta de 31 povoados, reduções de índios e fazendas interligando estradas e caminhos e as dificuldades em manter suas condições de trânsito, a presença da Igreja com o poder dos párocos e do bispado, funcionários e autoridades do governo que respondiam ao rei gerando conflitos com o poder do governador, o trânsito de mineradores e comerciantes e, para completar, os limites de fronteira constantemente contestados por Mato Grosso. Os documentos cartográficos ajudariam Dom Marcos de Noronha a transmitir o cenário de tamanhos problemas. A iconografia representa o ambiente físico, composta pela legenda e o texto da carta ao reino que por sua vez procuram comunicar o ambiente social da Capitania de Goiás. porem para de algum modo/dar cumprimento ao que o mesmo senhor me determina, ponho na sua/Real presença o mapa desta capitania que junto com esta [carta] remeto./Naõ o ofereço como o mais exacto; mas por ser feito conforme/as melhores, e mais exactas averiguações que atégora se tem/podido adquirir. Nele se mostra a cituaçaõ dos arrayaes/deste governo; e as distancias que medeaõ de huns a outros, as partes/em que presentemente se achaõ estabelecidos os registros do contra/das entradas, advertindo, que a cituaçaõ dos arrayaes hé das pro-/prias minas, dos seos respectivos nomes, porque naõ custum/haver arrayal, senaõ donde há minas, e com o próprio mapa/tenho dado a melhor informação que pude haver. (AHU_ACL_CU_008, Cx. 9, D. 603) Eis que o texto procura informar o rei sobre o formato da ocupação e localiza, geograficamente, os povoados como espaços de fixação e de exploração, locais onde a vida se organiza na colônia. Continua o texto por abordar a localização dos Registros (7), cujos contratadores reivindicavam a mudança dos postos fiscais para próximo dos arraiais ou para o seu interior, situação esta que alguns já se encontravam. Os contratadores não queriam que os Registros ficassem distantes dos povoados, locais que concentravam a captação do ouro e naturalmente o comércio vindo dos portos. Portanto, os arraiais eram os pontos mais rentáveis para o recolhimento pelos Registros dos impostos das Entradas, que era o tributo que incidia sobre as mercadorias importadas e as de origem local e que circulavam entre os povoados. A coroa portuguesa considerava mais conveniente colocar em leilão a cobrança de um determinado tributo por meio de contratos em que se acordavam o tempo de duração e o valor que o contratador deveria pagar ao Estado. Se, ao final do período de vigência do acordo, o contratador conseguisse cobrar dos contribuintes um valor superior ao acordado com a Coroa, ele teria lucro. Se o valor arrecadado fosse inferior, ou se parte importante da cobrança não pudesse ser feita, ele amargaria prejuízo (CARRARA, 2011). A instalação de postos tributários distantes dos centros do comércio, no curso de estradas ou nas fronteiras da capitania, dificultaria o controle sobre o extravio do ouro e mercadorias, o que resultaria em menor arrecadação e o consequente prejuízo do contratador. Reclamavam, também, que os gêneros das fazendas do sertão não passariam pelos Registros instalados fora dos povoados, acarretando a não cobrança dos direitos. Por outro lado, os comerciantes do sertão argumentavam que pagavam direitos outros, mesmo sem passar pelos Registros. Portanto, preferiam entrar “para dentro dos Registros”, ou seja, estar submetidos à tributação única dos postos fiscais. Era nas fazendas localizadas do sertão do Paranã ao Sertão das Terras Novas que os fazendeiros, além da criação de gado vacum e cavalar, produziam produtos como farinha, carne seca, milho e bananas, gêneros comercializados nas minas. Insatisfeitos com o excesso fiscal, os moradores do Sertão das Terras Novas encaminharam requerimento ao governador de São Paulo, Dom Luís Mascarenhas. Reivindicaram a isenção do imposto do quinto, pois entendiam, e com razão, que era cobrança indevida, pois deveria ser destinada somente aos mineradores. Já bastava a cobrança de uma oitava de ouro por cabeça de gado que entrava para o comércio nas minas (BERTRAN, 2000, p. 62-64). Vale mencionar que os fazendeiros pagavam à Igreja o imposto do dízimo, cobrado até o ano de 1751. Quando passou para o controle do Estado, a taxa era de 10% sobre produtos agropastoris. Este documento é de 1740. O objeto do questionamento é o mesmo da discussão que contextualizou a carta do Conde dos Arcos e o da elaboração dos mapas 13 anos depois. O arrecadamento de tributos impostos pela Coroa era assunto espinhoso e demasiadamente injusto, pois novos tributos eram sistematicamente criados, sem considerar a capacidade de renda e pagamento dos moradores. Dois campos sinalizados por traços coloridos informam, nos mapas, a localização das áreas onde se concentravam as fazendas de gado. As respectivas legendas fornecem informações semelhantes, cujo conteúdo procura descrever a região. Sinalizam que os “dous pequenos circullos, hum azul, e outro em carnado, não são terras mineraez e so nelas se achaõ fazendas de gados” (AHU_CARTm_008, D. 0866). Prossegue a explicação ao pontuar que o “certaõ de gados chamado Paranã, ou Itiquira que compreende todo o circullo azul”, o “certaõ de gados chamado Duro onde esta cituada a aldeia do gentio”, este dentro dos limites do anterior, e que a outra área delimitada é conhecida por “Barra da Palma, ou Terras Novas certaõ de gados [...], o qual territorio demarca o circulo em carnado”. Eis que as fazendas dividem o espaço com poucos arraiais e uma redução de índios, conforme representado no mapa. Entre os dois círculos, azul e carnado, localiza-se um arraial minerador, Arraias, representado em círculo menor e relacionado na legenda (Figura 3). Página 39 – Figura 3 Descrição da imagem: mapa contendo a demarcação das fazendas de gado. É possível identificar as delimitações nas cores marrom, azul e amarelo, por onde passa um rio com seus afluentes. Havia, como pano de fundo nesse cenário, a reforma no método de cobrança dos impostos sobre a arrecadação do ouro e diamantes. A capitação era o sistema de tributação elaborado e defendido por Alexandre de Gusmão, como proposta para reduzir a quantidade de tributos pagos e permitir o controle eficaz diante da facilidade de se esconder e extraviar o ouro e diamante nas minas, resultando em prejuízos ao erário real. Este sistema vigorava desde 1735, quando foi extinto pela Lei de 3 de dezembro de 1750, a partir da revisão feita por Sebastião José de Carvalho e Mello restituindo o imposto do quinto. Era o início do governo de Dom José I, e os primeiros passos do Marquês de Pombal nas profundas reformas que pretendia aplicar em Portugal e nas colônias, principalmente no Brasil. O controle sobre a arrecadação, que passava pela vigilância e punição ao descaminho e a corrupção, era ponto focal na política de Carvalho e Mello. As legendas nos mapas comunicam a existência de 15 Registros, indicados pela iconografia correspondente e observável nos desenhos. Também relacionados, estão os arraiais e a sede “Villa Boa de Goyaz”, com a iconografia diferente dos demais povoados, e conforme a legenda é a referência para “a qual servira de ponto fixo, ou centro para seguir-se aos mais arayaes”. A cartografia mostra os povoados, identificados por símbolos e letras que correspondem à legenda. As distâncias são identificadas em números em meio ao trajeto pontilhado, que correspondem à descrição dos Registros relatados no documento textual. As Cartas de ornaõ muyto, e se/fazem mais distintas, assinalando/as povoaçoens com os seus sinaes/de Capital [...] /Estes sinaes se costu-/maõ pór nas grimpas dos campana-/rios, que representaõ hua povoa-/çaõ, sendo humas mais avultadas,/ que outras, conforme a grandeza/dos lugares, e sempre deve avultar/mais que todas a que for Capital; e/como estas occupaõ mais espaço no/papel, para se tomar a sua distancia/a qualquer outra, deve ter no meyo/huma cifra, e hum pontinho no/meyo dela para notar a sua justa/posição. (FORTES, 1722, p. 196) Em se tratando de mapas portugueses do século XVIII, a análise iconográfica deve levar em conta as orientações do “Tratado do modo o mais fácil e exacto de fazer as cartas geográficas, assim de terra como de mar, e tirar as plantas das praças”, de 1722, trabalho de Manoel de Azevedo Fortes, Engenheiro-mor responsável pela reformulação do ensino cartográfico em Portugal. Os ensinamentos de Azevedo Fortes foram produzidos com base nas experiências profissionais do autor, e em conhecimentos difundidos por tratados surgidos na Itália, Holanda, França e Inglaterra desde o século XVI. Os padrões de uniformização da informação cartográfica, utilizando códigos, sinais, símbolos e cores, foram aplicados na produção do conhecimento sobre a América Colonial. Nos setecentos, a produção cartográfica estava orientada à precisão científica, elaborada com base em técnicas, métodos e instrumentos. Os mapas das regiões das minas assumiram, nos séculos XVII e XVIII, a condição de importantes documentos para Portugal, sendo considerados segredos que deveriam ser protegidos. Naturalmente a padronização da comunicação facilitava a assimilação dos mapas (BUENO, 2011, p. 300-308). É perceptível, na cartografia aqui abordada, a articulação dos elementos, símbolos, cores e texto, com o propósito de comunicar o ambiente, atentando-se para a funcionalidade da informação. Os limites estão traçados em aquarela nas cores ocre (1750) e amarelo (1751 e 1753). Os mapas organizados por Cardoso, 1750, e por Colombina, 1751, localizam a região no território do Brasil ao representar ao Norte o Maranhão, a Ilha de Joannes (atual Ilha de Marajó) e o rio Amazonas, grafado R das Amazonas (1750), e Rio das Amazonas (1751), e ao Sudeste as povoações da Capitania de São Paulo, entre elas Santos e São Paulo. A expressão “Destricto de Goyaz”(8), exposta no mapa de Cardoso, reforça os limites da capitania e a distribuição junto a outras em um mapa geral do Brasil. A rede hidrográfica, bem salientada, era utilizada como caminhos fluviais de acesso à capitania já explorados à época dos mapas por sertanistas e demais viajantes. Um dos relatos mais antigos é o da viagem do tropeiro José da Costa Diogo, em 1734-1735, em busca de ouro pelo rio Tocantins até Belém do Pará (AHU_ACL_CU_008, Cx. 1, D. 12). Destaque para o rio Tocantins, grafado R. Tucantins (1750), e o rio Grande como os cursos mais caudalosos que a eles ligam-se canais secundários como ao primeiro, o R. Uraguaya e o R. Maranhaõ (1750 e 1753), Uruguaya e Rio Maranhaõ (1751), e ao segundo o R. Parnayba (1750), Parnnayba (1751) e R. Parnahiba (1753). No limite setentrional, no curso do Tocantins está assinalado o Salto da Itaboca (1750 e 1751), Salto da Taboca (1753), queda d’água que oferecia desafio aos navegantes. Ao Norte da capitania, observa-se a Ilha do Gentio Curumaré, cercada pelo rio Uruguai e a oeste tendo o rio das Mortes, disputado divisor natural entre Goiás e Mato Grosso. Complementa o cenário da cartografia, outras referências à presença indígena em espaços não ocupados pelo colonizador e, assim, denominados sertão, porém informados como posse portuguesa, uma vez que se encontram inseridos nos limites demarcados. O relevo está representado por símbolos em meio aos arraiais auríferos, ao longo dos caminhos e entre as cabeceiras dos cursos d’água, com exceção do mapa de 1750 que não consta nenhuma simbologia deste aspecto. Sem a preocupação com a exatidão, mas parecendo querer informar ao leitor a existência das formações na região e a relação com a ocorrência dos achados minerais em meio a elas, nas margens dos cursos d’água que correm nos vales. No Nordeste da capitania, está assinalada a Serra dos Geraez, ou Geraes, formação geológica que, naturalmente, foi assumida como fronteira. Assim, quer nos parecer que Ângelo dos Santos Cardoso, português, secretário do governo de Dom Marcos de Noronha, em suas atribuições, cumprindo o propósito de descrever a Capitania de Goiás, assessorando o governador e Coroa, organizou aquele que pode ser o primeiro mapa da Capitania de Goiás e dois outros, os primeiros a localizar os Registros e Contagens, e a demonstrar a espacialização territorial sinalizando as áreas de gado e plantio, e as terras minerais. Seu trabalho (relatórios e mapas) contribuiu para a administração do processo de ocupação na colônia e serviu de base documental ao governo de Portugal nas disputas diplomáticas pelo território. Tudo indica que Paulo Bertran (2002) concluiu, acertadamente, que Ângelo dos Santos Cardoso “foi o primeiro cartógrafo do Brasil Central, o qual forneceu seu mapa pioneiro ao italiano Tosi Colombina, e para este ficou toda fama depois”. Sem dúvida, a configuração dos mapas organizados por Cardoso resultou em um padrão cartográfico observável na cartografia de Goiás até final do século XVIII. Os mapas confeccionados após o período no qual Cardoso desempenhou as funções como secretário tomaram como base o conjunto organizado por ele, e contribuíram para fundamentar os argumentos do discurso da possessão portuguesa no território. Na elaboração do historiador Elias Manoel da Silva, exposta na Introdução deste GUIA, criou-se o “Padrão Cartográfico”. O contínuo ato de mapear demonstrou-se como uma estratégia de posse. A produção ininterrupta do conhecimento sobre a região contribuiu para a estruturação do poder do Estado, que pode ser constatada na organização das divisões administrativas das capitanias, nas medidas adotadas em relação aos núcleos de povoamento e controle social, finanças, justiça, militar, logística de comércio e abastecimento de gêneros e mão de obra. No intervalo de três anos, de 1750 a 1753, foram elaborados quatro mapas da Capitania de Goiás, comunicando “visualmente” ao poder central português, a governança no território colonial. Conforme Bellotto (1986, p. 265), na lógica do absolutismo instalado no século XVIII, o tempo administrativo era crucial para o exercício do bom controle das capitanias, ou seja, a administração centralizadora localizada em Lisboa preocupava-se com duração da tramitação das tomadas de decisões entre as autoridades e os súditos, em consequência das distâncias continentais e no imenso território do Brasil. Abastecer a Coroa de informações era a exigência de Pombal como primeiro ministro de Dom José I, imposta aos mandatários que assumiam os governos das capitanias e, por extensão, a todo corpo burocrático de servidores do Estado. Estes, por sua vez, participavam a favor da nova conjuntura política, compreendiam que a colônia não poderia ter uma administração distanciada e sim mais presente. Considerados homens de confiança do primeiro ministro, intentavam e se esforçavam em cumprir as instruções conferidas pelo poder central. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADONIAS, Isa. Mapas e planos manuscritos relativos ao Brasil colonial: 1500-1822. Rio de Janeiro: MRE, 1960. ALENCASTRE, José Martins Pereira. Anais da província de Goiás 1863. Brasília: Gráfica Ipiranga, 1979. ALVES CARRARA, Angelo. A administração dos contratos da Capitania de Minas: o contratador João Rodrigues de Macedo, 1775-1807. Am. Lat. Hist. Econ, México, n.35, jun. 2011. Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2013. BARBO, Lenora de Castro; SCHLEE, Andrey Rosenthal. A cartografia histórica e os caminhos de ocupação do atual Distrito Federal, In: Anais do III Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica. Ouro Preto – MG, Brasil, 2009. BERTRAN, Paulo. História da terra e do homem no Planalto Central: eco-história do Distrito Federal: do indígena ao colonizador. Brasília: Verano, 2000. BLUTEAU, Raphael. 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Mapa geral da Capitania de Goyaz. 1751. Arquivo Histórico do Exército. MAPA geral da Capitania de Goiás. 1753. Arquivo Histórico Ultramarino. Página 42 – Mapoteca histórica do Itamaraty, mapa dos limites da capitania de Goiás Descrição da imagem: mapa dos limites da Capitanias de Goiás, abrangendo a capitania do Mato Grosso e parte de São Paulo. Os limites de Goiás estão traçados pelo Rio da Morte, desde a sua cabeceira até as proximidades da confluência com o Araguaia, até as nascentes doItacaiúnas. 47 lugares estão identificados no mapa, como Sanctos, S. Vicente, Fortaleza da Barra Grande, Forte da Bertioga, Conceição, Iguapy, Cananea, S. Paulo, Parnayba, Ytú, Araraytaguaba, Sorocaba, Jundiay, Mogy, Arraial dos Bororos governados pelo coronel Antonio Pires de Campos, Sancta Cruz, S. Luzia, MeyaPOnte, Jaraguá, Ouro Fino, Ferreiro, Vila boa, Barra, Anta, Pilloens, Crixá, Guarinos, Pillar ou Papoam, Agoaquante, Trayras, S. José, S. Rita, Moquem, Chapada de S. Gonçalo, Morinhos ou Amaro Leite, Corriola, Carlos Marinho ou S. Félix, Chapada de S. Felix ou Carlos Marinho, Cavalgante, Paranã ou Itiquira, Arayas, Barra da Palma ou terras novas, Duro, Natividade, Pontal, Descuberto do Carmo, Missão dos PP da Compa. Página 43 – A derrota das canoas de Araguatiguaba até o Cuiabá Descrição da imagem: Mapa que contempla a Capitania de Goiás e a região meridional da América portuguesa até a foz do Rio da Prata. Ao sul, o traço preto assinala os limites segundo o Tratado de Madrid (1750) e o pontilhado assinala o Tratado de Santo Ildefonso (1777).A caixa de texto à direita, contudo, é quase cópia do mapa de Francisco Tosi Colombina de 1751, considerado o 2º mapa de Goiás e que traça os limites das fronteiras daquela capitania, diferente da proposta do Governador Dom Marcos de Noronha.A caixa de texto do lado esquerdo se afirma que “Em 1753, quando tinha 75 anos de idade, o mestre de campo Antonio de Almeida Falcão foi chamado para dirigir um empreendimento [...]: era preciso descobrir navegação que fosse dar ao sertão, que fica entre o Rio Grande e Vila de Corumatim da cidade de Paraguay, para que os marcos destinados a paragem de Sete-Quedas podessem para aí ser transportados”. Página 44 – Carta de toda porção da América meridional Descrição da imagem: O mapa apresenta a viagem que o governador da Capitania de Mato Grosso e Cuiabá, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, empreendeu em 1772 para Vila Bela da Santíssima Trindade, capital daquela capitania.Na caixa de texto, no canto inferior esquerdo, encontramos listados nomes de lugares onde a comitiva do governador fez pouso, com as léguas entre as paradas.Na ímntegra - "De toda a porção d´America Meridional, que pareceonecessaria a manifestar a viagem de 569 legoascommuas, que da escala e cidade do Rio de Janeiro executou por terra em 17 do mez de mayo de 1772, para Villa Bella da Santíssima Trindade o governador e capitaõ general do estado do MatoGrosso e Cuiabá, Luis d´Albuquerque de Mello Pereira e Caceres do Conselho de sua MagestadeFidelissima que Deos guarde".Cidade Episcopal, Villa Capital, Villa, Arrayal, Registro, Destacamento, Registro e Destacamento, Sitio, Aldea, Campo.Dia 1 - Paulo Pereira, 12 legoas; Dia 2- Manoel Correia, 5 legoas; Dia 3 - Fagundes, 5 1/2 legoas; Dia 4 - Parahiba, 4 1/2 legoas; Dia 5 - Parahibuna, 5 legoas; Dia 6 - Mathias Barboza, 5 legoas; Dia 7 - Juis de Fora, 4 1/2 legoas; Dia 8- Francisco Nunes, 6 legoas; Dia 9 - Francisco Gomes, 3 legoas; Dia 10 - Igreja nova, 8 1/2 legoas; Dia 11 - Abranches, 4 legoas; Dia 12 - Engenho do Campo, 5 legoas; Dia 13 - Bananeiras, 4 legoas; Dia 14 - Chiqueiro, 6 legoas; Dia 15- - Villa Rica, 3 legoas; Dia 16 - S. Antonio da Casa branca, 3 ½ legoas; Dia 17- Coronel LuisJozé Souto, 6 ½ legoas; Dia 18- Sabará, 5 legoas; Dia 19 - Fidalgo, 7 legoas; Dia 20- Pao de Cheiro, 6 legoas; Dia 21 - Mello, 6 legoas; Dia 22 - Maquinèz, 6 legoas; Dia 23 - Falcão, 6 ½ legoas; Dia 24- Bicudo, 5 ½ legoas; Dia25 - Pindaíbas 5 ½ legoas; Dia 26 - Andrèquice, 6 legoas; Dia 27 - Spirito Santo, 7 legoas; 28 - Rio ibaitè, 2 ½ legoas; Dia 29 - Tres Barras, 5 legoas; Dia 30 - Capaõ, 4 legoas; Dia 31 - S. Antonio da Boa esperança, 4 ½ legoas; Dia 32 - Capaõ do Rio do Sonno, 5 legoas; Dia 33 - As Almas, 5 legoas; Dia 34 - S. Izabel, 4 ½ legoas; Dia 35 - Vomitorio, 3 legoas; Dia 36- Riacho das Almas, 6 legoas; Dia 37 - Corgo Rico, 6 legoas; Dia 38 - Paracatú, 3 legoas; Dia 39 - Monjolos, 3 legoas; Dia 40 - Carapinas, 6 legoas; Dia 41 - Caxoeirinha, 6 legoas; Dia 42 - Caveira, 5 legoas; Dia 43- Arrependidos, 5 legoas; Dia 44 - Sitio novo, 4 legoas; Dia 45- Contage de S. Bartholomeo, 5 legoas; Dia 46 - S. Lucia, 6 legoas; Dia 47 - Ponte alta, 6 legoas; Dia 48 - Furriel mor, 7 legoas; Dia 49 - Segunda Ponte alta, 5 legoas; Dia 50 - Meia Ponte, 7 legoas; Dia 51- S. Antonio, 4 legoas; Dia 52 - Rio dos Patos, 6 legoas; Dia 53 - Engenho do Narigaõ, 5 legoas; Dia 54 - Ponte do Uruù, 4 3/4 legoas; Dia 55 - Villa Boa, 7 legoas; Dia 56 - Antonio Ferreira Gomes, 3 legoas; Dia 57 - Boruti, 5 legoas; Dia 58 - Taquaral, 4 legoas; Dia 59 - Mamoneiras, 5 legoas; Dia 60 - Rio Piloens, 2 ½ legoas; Dia 61 - Rio Claro, 2 legoas; Dia 62 - Ribeiraõ do Guarda mor, 4 legoas; Dia 63 - Possoens, 5 legoas; Dia 64 - Varginha, 5 legoas; Dia 65 - Ribeiraõ d´Area, 6 legoas; Dia 66 - Boruti das Lagoas, 3 legoas; Dia 67 - Rio Grande, 5 legoas; Dia 68 - Lages, 3 legoas; Dia 69 - Raizama piquena, 5 legoas; Dia 70 - Taquaral piqueno, 5 ½ legoas; Dia 71 - Lages da Serra, 5 ½ legoas; Dia 72 - Taquaral grande, 4 ½ legoas; Dia 73 - Pilatos, 5 legoas; Dia 74 - Queimada das Perdizes, 5 legoas; Dia 75 - Corgo d´Area, 6 legoas; Dia 76 - Cotovelo do Rio das Mortes, 3 ½ legoas; Dia 77 - Ribeiraõ Fundo, 5 ½ legoas; Dia 78 - Sangradouro grande, 5 legoas; Dia 79 - Campo da Lagoa grande, 3 ½ legoas; Dia 80 - Ponte alta, 4 legoas; Dia 81 - Ribeiraõ da Raizama, 4 ½ legoas; Dia 82 - As tres barras, 3 legoas; Dia 83 - Junto das Vertentes, 5 ½ legoas; Dia 84 - Sucuriù, 2 legoas; Dia 85 - Corgo entre as Parnaibas, 4 ½ legoas; Dia 86 - Campo dos Porrudos, 6 legoas; Dia 87 - Jatuba, 3 ½ legoas; Dia 88 - Rio Manço, 4 legoas; Dia 89 - Lagoinha, 6 legoas; Dia 90- Guimarens, 5 legoas; Dia 91 - Lavras do Cristal, 5 legoas; Dia 92 - Cuiabá, 4 ½ legoas; Dia 93- Trahiras da Boa vista, 6 legoas; Dia 94 - Felix Gonçalves, 11 legoas; Dia 95 - O P. Fernando Vieira, 4 legoas; Dia 96 - O’Cunha, 5 legoas; Dia 97 - Ribeirão do Lambari, 6 legoas; Dia 98 - O Mello, 6 ½ legoas; Dia 99 - Frechas grandes, 6 legoas; Dia 100 - Cachoeirinha, 6 legoas; Dia 101 - Rio Paraguai, 6 legoas; Dia 102- Coralinho, 2 legoas; Dia 103 - Pouzo dos Bugres, 4 legoas; Dia 104 - Lugar do Cervo, 6 ½ legoas; Dia 105 - Ribeiraõ das Pitas, 5 ½ legoas; Dia 106- Rio Jaurú, 3 legoas; Dia 107 - Fazenda do Santíssimo, 3 1/4 legoas; Dia 108 - Regato da Laje, 4 legoas; Dia 109 - Boruti da Laje, 4 legoas; Dia 110- Lavrinha, 6 legoas; Dia 111 - Rio Guaporé, 3 1/4 legoas; Dia 112 - Corgo do Morro, 4 legoas; Dia 113 - Lagoa do Boruti, 3 ½ legoas; Dia 114- Lagoa do Chapeo, 4 ½legoas; Dia 115 - Villa Bella, 3 ½ legoas. Página 45 – Mapa ou plano geográfico da capitania de Goíás – “Mapa dos julgados” Descrição da imagem: mapa da capitania de Goiás, com diversas divisas. Na íntegra - Carta ou Plano Geograph.co da Capita de Goyashuma das do centro da America Meridional, pertencente ao Reino de Portugal que mandou construir o Ill.mo e Exell.mo Snr. Jozé de Alm.da de Vasconcellos de Sovral e Carvalho, Gov.r e Cap. Gen.l da dita Capit.a do dia 26 de Julho de 1777 athé, Mayo 78, que a entregou.Por Thomas de Souza Sarg.to Mor do Regim.to da Cavallaria.Adevertencias - Esta Capitania he demarcada da Barra do Rio Pardo, por elle acima athé as suas Cabeceiras Buscão se as do Araguay por elle abaixo athé fazer Barra no Tucantins acima athé à Barra do Rio Manoel Alves Buscase a Ponta de Serra Cordilheira que avizinha nella, e seguese pelo cume dellaathé à Serra de Lorenço Castanho, Arrependidos, Escuro, Serro da Canastra, Marsella, até à barra do Sapucay, pelo Rio Grande abaixo, até que nelle faz barra o de Rio Pardo, o que tudo se persebe no Ambito das maiores Lettras, que dizem Capitania de Goyaz. Alguns Rios que se notão são Ribeirões ou fles. Os Arayaes que são Freguesias se notão, as Aldeas se notão Al. ou A. As Estradas de pontinhos. Tudo o mais o Letreiro o mostra. Advertese mais que esta Capitania tem 13 Julgados e que huns comprehendem pequeno Terreno por serem mais povoados, e outros muito grandes por terem muita Terra inteiramente despovoada como hé Villa Boa, e Natividade. A Capital desta Capitania de Villa Boa situada em 16º e 20’ ao sul da Linha Equinocial e em 329º10’ de Longitude contado da Ilha de Ferro. Esta da Capitania, Além dos Arayaes que vão apontados com hum A antes, tem muitas Fasendas. Página 46 – Mapa dos Confins do Brasil com as terras da coroa de Espanha na América Meridional – “Mapa dos cortes” Descrição da imagem: mapa com texto manuscrito assinado pelo representante espanhol e português relativo às discussões de fronteira, com data de 12 de julho de 1751. Na cor amarela, parte ocupada pelos Portugueses. Na cor rosa, parte ocupada pelos espanhóis. Na cor branca, parte para ser ocupada.Constitui “o primeiro no qual o território português apresentou a conhecida forma quase triangular do Brasil atual” descrevendo a fronteira Oeste. Na parte superior à direita há uma bussola com vários traços que saem do seu centro. Pouco abaixo da bussola, a linha equinocial. Na parte inferior à direita há outra bussola, tendo agora outra linha denominada Tropico de Capricornio. A editora francesa “ImprimerieLahure” publicou certificado assinado em Madrid, em 5 de agosto de 1899, concedido pelo chefe de Seção do Ministério do Estado espanhol, Luisdel Arco y Mariátegui: “El presente mapa fotografiado es copia fiel y exacta sacada del original que se custodia em elArchivo de mi cargo”. Na íntegra – “Esta Carta geograficahecopia fiel e exatta da primeira sobre que se firmou i e ajustou o Tratado dos Limites, assinado em 13 de janeiro de 1750; E porque na dita Carta se acha huma linha vermelha, que asinala, epasa pelos lugares poronde se há de fazer a demarcaçam, que por ser anterior ao Tratado dos Limites que se fes depois nam vae conforme com ele em pasar do pe do Monte de Castilhos grandes a buscar as Cabeceiras do rio Negro, e seguir por ele ate entrar no rio Uruguai, devendo buscar a origem principal do rio Ibicui conforme o dito Tratado, se declara que a dita linha se serve em quanto ela se conforma com o Tratado referido. E paraqueatodootempoasim conste nós abaixo asinados Ministros Plenipotenciarios de S.M.F e S.M.C lhe puzemos as nosas firmas e Celos de nosas Armas. Madrid 12 de julho de 1751. Assinaturas de Tomas da Silva Telles e de Joseph de Carvajal y Lancaster”. “Don Luisdel Arco y Mariátegui, Conde de Arcentales, Ministro Residente, Jefe de SeccionenelMinisterio de Estado. Certifico: Que el presente mapa fotografiado es copia fiel y exacta sacada del original que se custodia enelArchivo de mi cargo. Y para que se acredite donde convenga y envirtud de órdendelExemo. Sr. Ministro de Estado expidola presente certificacionsellada y firmada en Madrid a 5 de agosto de 1899. El Conde de Arcentales”. Página 47 – Mapa dos Confins do Brasil com as terras da coroa de Espanha na América Meridional – “Mapa dos cortes” Descrição da imagem: mapa dos confins do Brasil com as terras da coroa da Espanha na América Meridional, datado de 1749. Na cor amarela, parte ocupada pelos Portugueses. Na cor rosa, parte ocupada pelos espanhóis. Na cor branca, parte para ser ocupada. Na íntegra – “Certifié conforme ála copie originaleconservéeauDépôtgéographiqueduMinistéredes Affaires-Etrangéres. Paris, le 11 février 1893”. Assinaturas de “Vu pasle Ministre. Plénipotentiaire, chef de la Division desArchives” e de “Le GéographeduMinistèredes Affaires-Etrangéres”. Página 56 – Arquivo Histórico Ultramarino. Vila Boa de Goiás e tudo o que pertence ao seu termo Descrição da imagem: mapa de Vila Boa de Goiás, demarcada pelas capelas, contidas deste o começo até o término do mapa. Os sítios estão demarcados pelo triângulo na cor preta, localizados agrupados ao centro do mapa. Os engenhos estão demarcados com uma cruz em cima. Os rios com o sinal de asterisco. As serras e montes na cor azul, contidas em muitas partes do mapa. Em verde as árvores e mato maior, localizado o canto direito do meio do mapa. Em vermelho, os córregos e seus afluentes. Página 57 – Mapa geral da Capitania de Goiás – D866 Descrição da imagem: capitania de Goiás demarcada com a cor amarela em todo o mapa. Há pontinhos na cor vermelha, que representa a Villa Boa de Goiaz. Há também uma parte circulada em vermelho. Os círculos pretos representam os lugares onde estão situados os registos. Os círculos em azul representam fazenda de gados. À esquerda do mapa a descrição dos locais: “A – Villa Boa Capital de Goyaz.B – Arraial da Anta.C – Piloes.D – Quirixá.E – Guarinos.F – Pillar.G – Agoa quente.H – Trahiras.I – S. José.L – Sta. Rita.M – Moquem.N – Chapada de S. Gonçalo.O – Morrinhos, ou Amaro Leite.P – Corriola.Q – Carllos Marinho, ou S. Felix.R – Chapada do dito asima.S – Cavalgante.T – Certão de gado, chamado Paranã.Y – Arrayaz terras mineraes. X – Barra da palma, ou terras novas, Certaõ de gados.Z – Duro, Certaõ onde esta cituada a Aldeya do gentio, por ordem de S. Mag.e. a – Nativid.eb – Pontal.c – Descoberto do Carmo.d – Ferreiro.e – Ouro fino.f – Meya ponte. g – Jaraguá.h – S.ta Luzia.i – S.ta Cruz.l – Cocaes, descoberto novo.m – Arayal da Chapa de S. Felix.n – Arayal da Chapada de S.ta Anna da Nativid.e”. Página 58 – Mapa geral da Capitania de Goiás – D867 Descrição da imagem: semelhante à imagem da página anterior. Capitania de Goiás demarcada com a cor amarela em todo o mapa. Há três círculos lado a lado, sendo que o do meio, em vermelho, representa os sítios. Página 59 – Carta topográfica do país dos rios claros e piloens Descrição da imagem: o mapa conta com seis postos indicados pelos números de 1 a 6 e pelas letras de A até F, destacando o Rio Claro, Boa Vista, Serra da Sentinela, Pasaje chamada do Cuiabá, Villa Boa, Lagoa dos Pasmados, Fundão Morro de Santo Antonio. Página 60 – Carta geográfica de todo o terreno conhecido que Medeia entre Vila Boa de Goiás e Vila Bela de Mato Grosso Descrição da imagem: cartografia com os estados de Mato Grosso, Rondônia e Goiás. Numa tonalidade bem clara de verde estão os rios. Em vermelhos, as vilas, aldeias e arraiais. Na imagem, estão sinalizados vilas, aldeias, arraiais e fazendas, como Villa Bella de Matto Groso, Vila de Cuyaba, Aldeya de Santa Anna, Arrayal Amaro Leite, Registo da Insua, Fazenda do Rio Grande, Rio Claro, Villa Boa de Goyas, Arrayal e Freguezia da Anta, Arraial de Santa Rita, Arrayal das Tizouras, Aldeya de São Joze de Mosamedes. Página 61 – Planta de Vila Boa capital da Capitania geral de Goiás Descrição da imagem: planta, com ícones para demarcar o crescimento da população do estado de Goiás. Algumas áreas estão centralizadas, com traçado definido, ruas retas, diferente das primeiras plantas do estado. Na parte central, há mais ruas, com formatos irregulares, curvas, sinalizadas a cor vermelha. À direita, ruas retas de largura constante. Á esquerda superior do mapa não há ruas. E abaixo as ruas também são regulares e retas. Na parte inferior à direita do mapa estão seis homens uniformizados e com espada na mão direita. Ao lado deles, o desenho de dois prédios, sendo um pequeno e o outro maior, com curvas nas duas laterais. Na legenda da planta, indicação, por meio de números e letras: chácaras, edifícios públicos, igrejas, hospício, câmera, palácio da residência do governo, cadeia, ruas, travessas, becos, etc. Página 62 – Mapa topográfico em que se demonstra a extensão de terreno que ocupa na capitania de Goiás, segundo regimento de cavalaria auxiliar Descrição da imagem: mapa com os atuais estados de Mato Grosso, Goiás e Tocantins. Está aquarelado e, em algumas partes, com linhas na cor amarela, sinalizando o terreno da capitania. Há uma rosa dos ventos com flor-de-lis. O mapa indica a área desocupada para a criação de gado. A leitura paleográfica é o que está escrito no box centralizado à esquerda do mapa: Mappa Thopographico em que se demonstra a extenção de terreno que ocupa na Capitania de Goyáz o segundo Regimento de Cavalaria Auxiliar da mesma Capitania devidido por Companhias nos seus Arrayaes, que vão declarados como são, Crixá, Pilar, Trairas, S. José de Tocantins, S. Feliz, Natevidade, Cavalcante, S. Luzia, na forma e Regularidade em que ficou pela criação q. dele se fez no ano de 1782. Página 63 – Mapa topográfico da campanha do Rio PIloens e Rio Claro Diamantinos Descrição da imagem: o mapa mostra o relevo e a vegetação aguarelado na cor verde. Há ramificação por todo o mapa, como se estivesse abrindo o caminho. Há uma rosa dos ventos com flor-de-lis. A leitura paleográfica é o que está escrito no box na parte superior à esquerda do mapa: Mappa Topographico da Campanha do Rio Piloens e Rio Claro diamantinos, com todas suas vertentes pertencentes a Comarca de Villa Boa de Goyas mandado tirar pelo Ill.mo Ex.mo Snr. Dom Francisco de Assis Mascarenhas, Gov.or Cap.m General desta Cap.nia sendo examinados todos ambos os rios, e suas vertentes pelo Min.o D.or Manoel Joaquim de Ag.ar Mourão Ouv.or e Correg.or q. foi desta Com.ca, e p.r Joze Manoel S.a e Oliv.ra, que ambos correrão a Campanha e abrirão picadas e cam.os como mostra neste Mappa. V.a Boa no anno de 1805. Página 64 – Vila Boa de Goiás e tudo o que pertence ao seu termo Descrição da imagem: mapa aguarelado, sinalizando as linhas em vermelho a extração do ouro. Relevo e vegetação por todos os lados, entre as linhas vermelhas e os afluentes dos rios. Há uma rosa dos ventos com flor-de-lis. São duas leituras paleográficas, sendo a primeira no canto superior à direita do mapa: VILLA BOA DE GOIAS E: todo o q. pertence ao seu termo. O lugar da Villa e Arrayaes se mostra pellas capellas q. estão em figr.a redonda com crus; os çitios denota este sinal [desenho de um triângulo em cor vermelha]; os Engenhos se mostrão em figr.a de hum selimdro com huma crus em sima [desenho de um triângulo em cor vermelha com uma cruz em cima]. os Rios de canoa com este sinal [desenho de um asterisco]; as serras e montes mostrase só desenhadas somentes de preto; os arvoredos de cor verde mostra o matto grosso. 1805. A segunda leitura paleográfica está no canto inferior à direita do mapa: TODOS OS CORGOS e reibeiroes com côr vemelha indicaõ que se extahe ouro. Página 65 – Mapa da região da costa do Brasil e interior Descrição da imagem: mapa aquarelado da costa do Brasil, com início do Rio Amazonas até Porto Alegre. Há vários pontos em vermelho que destacam a geografia dos estados do Tocantins e Goiás. Vasta vegetação em toda a região do mapa. Há uma rosa dos ventos com flor-de-lis. Página 66 – Mapa dos rios do Pilar Descrição da imagem: mapa simples, lembra uma planta, com raízes grandes. Nesta metáfora, as raízes, na cor verde, representam os afluentes do rio. Os rios que banham os arraiais do Distrito de Pilar, são: Santo Antônio, Crixaz, Soberbo, Calhamarez, Guarinos, São Pedro, do Peixe, Vermelho, São Patricio, das Almas. ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO Lisboa - Portugal VILA BOA DE GOIÁS E TUDO O QUE PERTENCE AO SEU TERMO (1) O contexto da produção desse importante mapa, o pri- meiro a representar cartograficamente o distrito de “Villa Boa de Goyas e tudo que pertence ao seu termo”, está ligado às atividades desenvolvidas pelo “Ouvidor Geral” de Goiás, Antônio da Cunha Soutto Mayor [Soutomaior].1 O “Ouvidor”, nomeado pela Corte portuguesa, era encarregado de admi- nistrar a justiça em uma Comarca específica, no caso deste “Ouvidor”, o território de Goiás. Naquele período, a Câmara Municipal dispunha de um “direito de justiça banal, de pri- meira instância, enquanto a justiça criminal, dita de segun- da instância, é colocada nas mãos do Ouvidor”.2 Formado em Direito em Coimbra em 1744, tomou posse como Ouvidor Geral de Goiás em 20 de março de 1756, cargo que ocupou até 1758.3 Ficamos sabendo – por meio de uma carta-relatório escrita por Cunha Soutto Mayor, em 30 de abril de 1758,4 que ele foi encarregado pelo governo de Portugal para encaminhar o levantamento de informa- ções para cada uma das Câmaras municipais de Goiás.1 As Câmaras deveriam elaborar um relatório que constasse a relação de todos os arraiais dos termos de cada uma das vilas, bem como as distâncias entre esses núcleos urba- nos medidas em léguas. Além disso, cada Câmara deveria também apresentar a descrição dos rios que cortam seus territórios, indicando onde cada rio nasce e se são navegá- veis. O levantamento dessas informações topográficas ti- nha como fim, segundo essa correspondência, “formar uma carta geral de todo o Brasil, com individuação das terras, estabelecidas nos Sertões”.4 Ressalte-se que à Coroa in- teressava conhecer os acessos possíveis pelos rios, como vias de deslocamento às terras minerais. Em perspectiva mais abrangente, o projeto “formar uma carta geral de todo o Brasil”,4 provavelmente também se inseria no contexto do Tratado de Madrid de 1750, quando Portugal e Espa- nha haviam assinado um acordo de limites entre as terras das colônias desses dois países na América. À luz desse Tratado, era necessário elaborar um mapa da colônia, com descrição mais detalhada dos Sertões, região pouco co- nhecida. Interessante observar que essa solicitação da Coroa te- nha sido feita ao Ouvidor Geral de Goiás, portanto ao Po- der Judiciário, e não ao Poder Executivo, representado pelo Governador-geral da capitania como o foi, por ocasião do primeiro mapa de Goiás, elaborado e enviado a Portugal em 1750, no governo de Dom Marcos de Noronha, primeiro governador de Goiás. É possível sugerir que o fato de as atribuições de seu cargo compreender visitas às cidades e vilas que integravam sua comarca, a fim de inspecionar como se dava a administração da Justiça, facilitasse o le- vantamento das informações solicitadas pela Corte.1 De qualquer forma, as atribuições administrativas entre o Judi- ciário e o Executivo, neste período, sempre foram motivo de conflito e de muita fluidez. Não era raro extrapolarem suas atribuições. Exemplo disso, foram os conflitos entre Cunha Soutto Mayor e o Governador Távora expostos ao rei por meio de diversas cartas. Na execução dessa tarefa, Cunha Soutto Mayor expres- sa as dificuldades que encontrou: “E cuidando eu logo, em executar o que Vossa Majestade me ordena, achei grande dificuldade em o conseguir, pela imperícia de que são dota- dos os camaristas desta comarca. Pois, um sem mais ativi- dades do que para mineiros, outros sem mais sabença que a de criar gados nos Sertões. Rústicos por nascimento e criação, ignorantes por natureza. Não sabem que coisa é o Levante [Leste] ou o Poente [Oeste], Norte ou Sul, nem tem inteligência alguma dos rumos para que com certeza se fi- zessem o mapa”.4 Portanto, em vista do pouco conhecimen- to técnico para a elaboração das informações solicitadas, Cunha Soutto Mayor teme que “algumas das descrições, principalmente a dos Sertões, irão menos verdadeiras no que respeita ao rumo em que nascem e correm os rios e a que partem os arraiais circunvizinhos”.4 Foi no contexto do levantamento dessas informações para “formar uma carta geral de todo o Brasil”4 que o Ou- vidor Antônio da Cunha Soutto Mayor enviou, anexo a esta carta-relatório, o mapa que aqui apresentamos, “Vila Boa de Goiás e tudo o que pertence ao seu termo”.1 Na carta-rela- tório faz ressalva quanto à qualidade dos trabalhos execu- tados pelas Câmaras Municipais. Contudo, a respeito deste mapa específico enviado pela Câmara de Vila Boa, relata: “O mapa, porém, que a Câmara de Vila Boa de Goiás, ca- beça da comarca me remeteu iluminado, é o próprio que a Vossa Majestade lhe envio”.4 Abrange o território da capital da Capitania de Goiás, atual cidade de Goiás. Indica a extração do ouro, o caminho novo para Pilar, caminhos entre os arraiais, para a capital e as outras localidades. A vegetação é representada em for- ma pictórica. Inclui rosa dos ventos. Meridiano de origem: Ilha do Ferro. Aquarelado na cor azul, vermelha, verde, pre- ta e branca. Cartucho de título e da legenda ilustrados em estilo barroco. A moldura do mapa possui decoração barroca, em sépia, nos ângulos. Página 75 – Mapa dos limites de Goiás e Minas Gerais Descrição da imagem: mapa aguarelado, sinalizando em cor mais forte a Capitania de Goiás. Na parte superior do mapa, em sua integralidade, muitos afluentes de rios. No centro e ao redor da parte direita dos limites de Goiás e Minas Gerais, bastante relevo, sinalizados por desenhos de montanhas bem pequenas. Ainda nos limites, há partes sem relevos e sem afluentes, mas há também lugares muitos afluentes, outros menos. Página 78 – Territórios entre a Foz do rio Amazonas e São Paulo Descrição da imagem: mapa aquarelado, com as fronteiras da Capitania de Mato Grosso. Muitos afluentes de rios por todo o mapa. Na parte superior e inferior à esquerda está concentrada grande parte da vegetação. Enquanto na encosta do lado direito estão os relevos, sinalizados por desenhos de montanhas bem pequenas. Página 82 – Estradas coloniais do Planalto Central na cartografia histórica. Lenora de Castro Barbo Descrição da imagem: mapa com destaque para a cidade de “Goyazes”, onde é possível localizar pela linha vermelha contornando a cidade. Ao lado, em letra grande “Cap. Do Piauhy”. Abaixo, “Cap. Da Bahia”. Por todo mapa há bastante relevo e vegetação. INTRODUÇÃO (1) A história do povoamento do interior brasileiro está vinculada à abertura das rotas terrestres e à conquista das vias fluviais a partir do século XVI, quando expedições penetram no sertão brasileiro atrás de braços indígenas. A partir dos anos de 1700, a motivação foi a procura de materiais preciosos. Em 1719, foi descoberto ouro próximo a Cuiabá, no Mato Grosso, e, em 1725, Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera, e seus companheiros descobriram ouro na cabeceira do rio Vermelho, em Goiás, dando início ao povoamento luso-brasileiro no Planalto Central. Em razão das descobertas, já em 1730, a Coroa restringiu as vias de circulação, inicialmente, a um único caminho. Em 1732, os viajantes foram forçados a entrar em Goiás pelos registros mandados estabelecer no rio Jaguari, em São Paulo, e foi proibido circular pelas picadas para as Minas de Goiás, para melhor fiscalizar e cobrar o direito de entrada e cessar o extravio de ouro. Não era sem razão a preocupação da Coroa, pois as numerosas picadas, já então abertas para Goiás, eram portas francas para a prevaricação e o contrabando, como comprova a seguinte citação: Pela picada de Goiás ia ter aos denominados currais do rio S. Francisco, por onde entrava grande comércio de gados e fazendas, se escoava também o ouro em pó, quase que a única moeda então existente para toda a espécie de transações. Não tardou muito que viesse uma providência fiscal para fazer cessar o extravio do ouro que motivaram essas transações pelos currais do rio S. Francisco. [...] Aí se determinava ainda ao provedor que não deixasse entrar pessoa alguma para Goiás sem apresentar despacho ou licença do governador. (ALENCASTRE, 1979, p. 51). As Estradas Reais foram os mais importantes eixos de povoamento da região do Planalto Central, durante todo o século XVIII e parte do século XIX: Como que prenunciando o futuro, entroncavam-se no Distrito Federal, há dois séculos e meio, duas das mais importantes estradas da história da colonização brasileira, autênticas vigas mestras soldando por dentro a união do país e curiosamente ligando Brasília às capitais que a antecederam: Salvador e Rio de Janeiro. A estrada de Salvador vinha pelo sertão baiano e [...] prosseguia para [...] Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital do Mato Grosso, aos pés do rio Guaporé, divisando a fronteira boliviana, a mais ocidental povoação portuguesa a confrontar os domínios de Espanha no século XVIII. Estendia-se por cerca de 2,8 mil quilômetros e, enquanto jorrou ouro em Goiás e Mato Grosso, constitui-se na principal estrada mercantil do país por léguas transpostas. Já a estrada do Rio Janeiro para São Luís e Belém do Pará dava entrada na capitania de Goiás pelo registro de Arrependidos, dirigindo-se a Luziânia. [...] Em Luziânia a Estrada Real do Rio Janeiro podia despejar diretamente para Oeste, para Pirenópolis, onde encontrava outra estrada importante pelo pioneirismo: a que ligava São Paulo às minas de Goiás. Se o viajante porém quisesse seguir para o Norte, de Luziânia dirigia-se, através do Plano Piloto de Brasília, para a Contagem de São João e depois para Planaltina, [...] atingindo Belém do Pará pela região bragantina. [...] esse ‘símile’ da futura Belém – Brasília media seus bons 3,5 mil quilômetros desde o Rio de Janeiro. (BERTRAN, 2000, p. 139) A pesquisa teve por objetivo a reabilitação dessas importantes vias de comunicação da América portuguesa, nos limites do atual Distrito Federal, por meio da cartografia histórica, do período de 1750 a 1896. Aos documentos cartográficos desse período foram acrescentados mais dois mapas produzidos imediatamente antes da inauguração de Brasília, 1958 e 1960, por sua verossimilhança, já que esses dois, do século XX, também assinalam cartograficamente as antigas estradas que, até aquele momento, ainda cruzavam o território escolhido para sediar a Nova Capital. Com o intuito de expandir as possibilidades metodológicas de investigação, utilizou-se o Sistema de Informações Geográficas (SIG) como ferramenta base para a busca do conhecimento do território e das dinâmicas das expedições que passaram pela região. O ArcGIS do Environmental Systems Research Institute - ESRI (2009) disponibiliza em um ambiente de SIG uma gama de ferramentas para utilização de forma integrada. Utilizamos o programa ArcGIS com a licença do Laboratório da FAU/UnB. Para ampliar o conhecimento do território do atual Distrito Federal, também foram utilizados dados sobre as paisagens extraídos dos relatos dos cronistas e viajantes que exploraram a região e documentaram suas impressões por meio de diários, relatórios, literatura e iconografia. A redescoberta dos caminhos reais no Planalto Central permitirá uma série de ações voltadas para a proteção do seu patrimônio cultural e a reafirmação da sua importância histórica. 1. ESTRADAS COLONIAIS NA CARTOGRAFIA HISTÓRICA Desde épocas remotas, o ser humano vem utilizando-se da elaboração de mapas como meio de armazenamento de conhecimentos sobre a superfície terrestre, tendo como finalidade não só conhecer, mas, especialmente, administrar e racionalizar o uso do espaço geográfico envolvente (DUARTE, 2008). A ideia de fronteiras naturais – entidades geográficas prontamente compreendidas, em especial rios e montanhas – tornou-se aspecto estabelecido na descrição geográfica e discussão política, como nos afirma Jeremy Black: Desde o início, os mapas históricos incluíam, em geral, características físicas, em grande parte rios e montanhas, a fim de localizar os lugares, principalmente cidades, que estavam mapeadas e, embora em menor proporção, porque tais características eram as que pareciam melhores para preencher mapas e para contribuir para as regiões ou países indicados. Os rios e as montanhas destacavam-se fortemente no sentido e na percepção que as pessoas tinham acerca do terreno antes da era do motor, e eram características importantes dos mapas dos itinerários medievais e do início da idade moderna. (BLACK, 2005, p. 143) Os cartógrafos, conforme registrado nos relatos dos cronistas, faziam mapas tradicionalmente agregando informações a partir de documentos anteriores com suas próprias pesquisas de campo. Os mapas produzidos eram, muitas vezes, atos de interpretação. De toda forma, eles guardam informações geográficas que são fundamentais para a reconstrução de lugares do passado. Por diversas vezes, detêm informações não contidas em qualquer outra fonte escrita, tais como nomes de locais, fronteiras e aspectos físicos que podem ter sido modificados ou apagados pelo homem e pelo tempo. Mapas históricos capturam as atitudes daqueles que os fizeram e representam as “visões de mundo” de sua época. É o que nos explica John Brian Harley: Os mapas, junto a qualquer cultura, sempre foram, são e serão formas de saber socialmente construído; portanto, uma forma manipulada do saber. São imagens carregadas de julgamentos de valor. Não há nada inerte e passivo em seus registros. (HARLEY apud MARTINELLI, 2008, p. 8) A Cartografia de Portugal da época da política colonialista foi marcada pela expansão ultramarina e pela navegação, adquirindo caráter utilitário, com intensa produção de mapas marítimos mostrando a configuração das costas e o delineamento de continentes e ilhas. A Cartografia portuguesa influenciou profundamente o início do desenvolvimento dessa atividade no Brasil. Posteriormente, tivemos outras influências, mas nos primórdios de nossa história colonial, a marca portuguesa é incontestável (DUARTE, 2008). A vinda da família real para a América portuguesa, em 1808, foi responsável pelo surgimento de uma cartografia própria, mesmo que sob a influência das técnicas e do estilo europeu. O governo imperial adotou medidas, visando organizar-se administrativamente, e criou o Arquivo Militar, a Academia da Marinha e a Academia de Artilharia e Fortificação. Coube aos dois últimos a incumbência de preparar os técnicos especialistas que dariam andamento aos trabalhos de ordem geográfica e cartográfica (idem, 2008). Segundo definição do IBGE (2009b), temos: CARTA: É a representação de uma porção da superfície terrestre no plano, geralmente em escala média ou grande, oferecendo-se a diversos usos, como, por exemplo, a avaliação precisa de distâncias, direções e localização geográfica dos aspectos naturais e artificiais, podendo ser subdividida em folhas, de forma sistemática em consonância a um plano nacional ou internacional. CARTOGRAFIA: É um conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo como base os resultados de observações diretas ou a análise de documentação já existente, visa à elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão gráfica ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como sua utilização. MAPA: Representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de toda a superfície (Planisfério ou Mapa Múndi), de uma parte (Mapas dos Continentes) ou de uma superfície definida por uma dada divisão político-administrativa (Mapa do Brasil, dos estados, dos municípios) ou por uma dada divisão operacional ou setorial (bacias hidrográficas, áreas de proteção ambiental, setores censitários). PLANTA: É um caso particular de carta. A representação se restringe a uma área muito limitada e a escala é grande, consequentemente o número de detalhes é bem maior. (Cf. www.ibge.gov.br) Nos documentos cartográficos analisados neste artigo, em que pese as estradas coloniais pontilhadas nos mapas serem referenciadas por diferentes nomes, no trecho em que atravessavam o atual território do Distrito Federal (DF), elas traçavam um percurso principal na sua porção norte, de onde partiam duas picadas que se encontravam em Santa Luzia (atual Luziânia), ao sul do DF. Com o objetivo de mapear o percurso dessas importantes vias de comunicação da América portuguesa que passavam há mais de 250 anos pelo Planalto Central, nos limites do atual DF, procedemos à análise de 17 documentos cartográficos (Quadro 1). 2. CARTOGRAFIA HISTÓRICA DO SÉCULO XVIII 2.1 O primeiro e mais ajustado, que lá apareceu até aquele tempo (2) Novas pesquisas no acervo do Arquivo Histórico Ultramarino apontam que o documento cartográfico “O prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até/aquele tempo, e o menos distante da verdade da destrebuiçaõ desta Comarca,/e seosArrayaes, mostrando o caminho, que vem da Vila de Santos a esta Capi-/tal, e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da madeira, té o das Amazonas” (Quadro 1, Item 1) é de autoria do português Ângelo dos Santos Cardoso (SCHLEE; VIEIRA JÚNIOR e BARBO, 2010), Secretário da Capitania de Goiás no Governo de Dom Marcos de Noronha, e foi finalizado em 1750. Diversamente, Isa Adonias (1960), no catálogo intitulado “Mapas e planos manuscritos relativos ao Brasil Colonial (1500-1822)”, o descreve como uma variante de outro mapa do italiano Tosi Colombina (Quadro 1, Item 2), pois a configuração da região representada, a rede hidrográfica, os caminhos pontilhados e a nomenclatura são os mesmos nos dois mapas. Ambos mostravam as rotas, tanto terrestres quanto fluviais, que ligavam a Vila de Santos, em São Paulo, a Cuiabá e à cidade do Mato Grosso, às margens do rio Madeira; e a rota terrestre que, subindo ao norte, chegava ao Descoberto do Carmo. Da mesma forma, os itinerários que assinalavam, nas proximidades do atual DF, cruzavam apenas o Arraial de Meia Ponte, não passando sequer por Santa Luzia.(Figuras 1 e 2) Como diferença entre os dois, temos que apenas o primeiro mapa (Quadro 1, Item 1) apresentou a rota fluvial, que seguia até a confluência do rio Sumidouro com o rio dos Arinos. Nota-se, ainda, neste mapa a omissão das serras, o fato da letra não ser de Colombina e a grafia da palavra sertão ter sido assinalada com a letra “C” e no outro com a letra “S”. Faltam também, neste exemplar, as duas legendas do mapa do italiano, a primeira contendo uma nota dirigida pelo autor a Dom Marcos de Noronha e a segunda uma explicação dos caminhos. No canto inferior esquerdo, ocorre uma lista de 47 lugares, indicados por números, quando no mapa de Colombina estão listados 49 sítios. Continuando na análise comparativa, não encontramos similitude na representação gráfica das cabeceiras do rio Maranhão em cada um dos documentos, na região correspondente ao atual Distrito Federal. Na mesma área, o mapa de Colombina (Quadro 1, Item 2) não registrou qualquer referência escrita, mas neste documento (Quadro 1, Item 1), entre os paralelos 16 e 17, estava grafado o nome Sobradinho, possivelmente o primeiro topônimo dessa região grafado em mapa, que se mantém até os dias de hoje. Pela localização, tudo sugere se tratar do rio São Bartolomeu, do qual o Sobradinho é afluente. Quanto aos limites da Capitania de Goiás, assinalados a traço grosso, constata Adonias (1960) serem os mesmos nos dois documentos, salvo no trecho confinante com a Capitania de Mato Grosso. Neste mapa, (Quadro 1, Item 1) os limites seguiam pelo “rio das Mortes, desde suas cabeceiras até as proximidades da confluência com o Araguaia, e daí pelo divisor de águas até as nascentes do rio Itacaiunas”. Esta representação cartográfica materializava a proposta do Conde dos Arcos para a divisão entre as duas capitanias, encaminhada ao rei de Portugal, em 1750. Discrepâncias tão significativas reforçam a hipótese de que os mapas, apesar de semelhantes, não sejam de um único autor. Na verdade este mapa (Quadro 1, Item 1) parece ser uma primeira versão, que antecedeu o documento de Colombina. Para o historiador Paulo Bertran, o português Ângelo Cardoso foi “[...] o primeiro cartógrafo do Brasil Central, o qual forneceu seu mapa pioneiro ao italiano Tossi Colombina, e para este ficou toda a fama depois” (BERTRAN, 2002, p. 55). Página 89 Descrição da imagem (figura 1): mapa focado de perto, com destaque para a cidade de Sobradinho, que está circulada e com uma seta, em vermelho. Há também uma demarcação, com traço grosso em vermelho. Entende-se que seria a divisa entre as capitanias de Goiás e Mato grosso. Descrição da imagem (figura 2): mesmo mapa da imagem anterior, porém, sem foco para perto. Na região onde estava marcada a cidade de Sobradinho e as divisas das capitanias de Goiás e Mato Grosso estão agora com um quadrado grande e vermelho, sinalizando área de estudo. 2.2 Mapa Geral dos Limites da Capitania de Goiás O Mapa Geral dos Limites da Capitania de Goiás (Quadro 1, Item 2) foi elaborado pelo engenheiro italiano Francisco Tosi Colombina, em 1751, conforme Catálogo de verbetes dos manuscritos avulsos da Capitania de Goiás existentes no AHU. Tosi Colombina (3) “o medidor de terras e abridor de caminhos oficiais” foi escolhido para elaboração da Carta Geográfica da Capitania de Goiás, logo após o seu desmembramento da Capitania de São Paulo. Em texto manuscrito e assinado pelo autor no próprio mapa, o cartógrafo esclareceu que, na elaboração do documento, reuniu e organizou informações de viajantes e sertanistas, em complementação ao conhecimento adquirido em suas viagens e experiências pessoais. Citou as fontes de cada trecho desenhado, desculpou-se por erros que poderiam surgir e afirmou ter a intenção de fazer outro mapa com mais detalhes. O mapa registrou informações e rotas, tanto terrestres quanto fluviais, que ligavam a Vila de Santos, em São Paulo, a Cuiabá e à cidade do Mato Grosso, às margens do rio Madeira; e a rota terrestre que, subindo ao norte, chegava ao Descoberto do Carmo. O texto trazia instruções para a leitura do documento cartográfico, descrevia cada itinerário ao longo dos caminhos e registrava cada cidade, vila, fortaleza, arraial, sítios e a capital, no total de quarenta e nove localidades. Assinalava, também, os rios, córregos e outros marcos naturais da região. Nessa Carta, finalizada em 6 de abril de 1751, a área onde se encontra o atual DF corresponde a uma mancha em branco e os sítios mais próximos são Santa Luzia e Meia Ponte, sendo que o itinerário por terra pontilhado na região cruzava apenas o arraial de Meia Ponte. (Figuras 3 e 4) Quanto ao fato de ser consagrado por diversos historiadores como o primeiro mapa da Capitania de Goiás, não se pode desconsiderar o ofício do português Ângelo dos Santos Cardoso enviado ao Marquês de Pombal e que contradiz a versão usual. Cardoso informou ter repassado a Tosi Colombina, a pedido, cópia de seu mapa da Capitania de Goiás, cujo original havia anteriormente enviado a Alexandre de Gusmão (SCHLEE; VIEIRA JR. e BARBO, 2010). Página 90 – Mapa geral dos limites da capitania de Goiás (figura 3) Descrição da imagem: mapa parcial, focado de perto nos sítios de Santa Luzia e Meia Ponte. Há uma demarcação pontilhada com itinerário em vermelho, passando por Meia Ponte e descendo no mapa. Há também duas bolinhas vermelhas sinalizando os dois sítios. Página 91 – Mapa geral dos limites da capitania de Goiás (figura 4) Descrição da imagem: mapa inteiro, contendo ao lado direito um quadrado em vermelho sinalizando a área de estudo. É possível identificar os afluentes dos rios no início do mapa e próxima à área demarcada. Na parte inferior à esquerda há uma legenda, mas não é possível identificá-la por estar ilegível. 2.3 Mapa Geral da Capitania de Goiás O Mapa Geral da Capitania de Goiás (Quadro 1, Item 3) tem sido motivo de controvérsias por parte de historiadores, que o identificaram com nomes distintos, como produzido em datas diversas, que vão de 1749 a 1775, e por autores diferentes. Contudo, em todas as fontes consultadas, quanto à sua configuração, este documento cartográfico não apresentou diferenças significativas de representação. No Arquivo Histórico Ultramarino (AHU_CARTm_008, D. 0866 e D. 0867) dois mapas similares foram catalogados como Mapa Geral da Capitania de Goiás, datados de 1753. Documentos do AHU indicaram o Secretário de Governo da Capitania de Goiás, Ângelo dos Santos Cardoso, como autor de ambos. No documento cartográfico (Quadro 1, Item 3), o território da Capitania de Goiás foi delimitado por uma faixa de cor amarela e os pontilhados pretos indicam os caminhos utilizados para comunicação entre os sítios, contendo a indicação do número de léguas entre eles. O documento assinalou os rios, córregos e outros marcos naturais da região. Em texto manuscrito no mapa, o autor relacionou o nome dos arraiais, Registros, sítios, Vila Boa e representou cada um deles cartograficamente, por letras. Corroborando a informação do Arquivo Histórico Ultramarino, este mapa tem muitas semelhanças com outro documento cartográfico analisado neste artigo, apresentado como de autoria de Ângelo dos Santos Cardoso: “O prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até/aquele tempo, e o menos distante da verdade da destrebuiçaõ desta Comarca,/e seosArrayaes, mostrando o caminho, que vem da Vila de Santos a esta Capi-/tal, e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da madeira, té o das Amazonas” (Quadro 1, Item 1). Esses dois documentos mostravam a rota terrestre que ligava a Vila de Santos à Vila Boa e daí seguia rumo à Cuiabá e, também, a rota terrestre que, subindo ao norte, chegava ao Descoberto do Carmo. Temos, ainda, a palavra “sertão” grafada com a letra “C” e o nome “Sobradinho” assinalado na altura dos paralelos 16 e 17, registrando como já dito, ao que tudo indica, o rio São Bartolomeu. Entretanto, este mapa (Quadro 1, Item 3) tem suas particularidades. Entre elas se destaca a diferença, em relação ao outro documento, quanto aos limites da Capitania de Goiás: no trecho confinante com a Capitania de Mato Grosso, acima das cabeceiras do rio das Mortes, quando seguiu pelas margens do rio Araguaia até sua confluência com o rio Tocantins, e daí até o “Salto da Itaboca”. Outro ponto importante foi a alteração do itinerário do caminho que saía da Vila de Santos com destino a Vila Boa, que nas proximidades do atual DF cruzava o arraial de Santa Luzia, antes de seguir para Meia Ponte. (Figuras 5 e 6) Mas, sem dúvida, o mais relevante para o nosso estudo é o fato de, pela segunda vez, um sítio ter sido assinalado nos limites do atual DF: o “Rezistro das 3 barras” (4). A primeira vez se deu pela presença do topônimo “Sobradinho” no documento cartográfico de 1750 (Quadro 1, Item 1). Página 92 – Detalhe do mapa geral dos limites da capitania de Goiás (figura 5) Descrição da imagem: mapa parcial, contendo em vermelho a estrada que saía de Vila de Santos, passando por Maia Ponte e Santa Luzia, descendo pelo mapa até chegar em Vila Boa. Há também um círculo próximo à Santa Luzia sinalizando Sobradinho. Um pouco mais acima, a demarcação do Registro das 3 barras. É possível identificar no mapa relevos, casas e afluentes dos rios. Página 92 – Detalhe do mapa geral dos limites da capitania de Goiás (figura 6) Descrição da imagem: mapa inteiro, contendo ao lado direito, situado do meio para baixo, um quadrado em vermelho sinalizando a área de estudo. É possível identificar os relevos por toda a costa à direita do mapa. Na parte esquerda há uma legenda, mas não é possível identificá-la por estar ilegível. Rosa dos ventos com flor-de-lis no topo do mapa. 2.4 Mapa que mostra a Capitania de Goiás e a região ao sul até o rio da Prata O Mapa que mostra a Capitania de Goiás e a região ao sul até o rio da Prata (Quadro 1, Item 4) é catalogado por Isa Adonias (1960) e apresentado como sendo de autoria de Tosi Colombina, de 1756. Em uma análise comparativa entre este documento cartográfico e o Mapa geral dos limites da Capitania de Goiás (Quadro 1, Item 2), este sim elaborado e assinado por Colombina, constatamos discrepâncias tão significativas que não aconselham sugerir uma única autoria para ambos. Por outro lado, em uma análise cuidadosa, detectamos muitos pontos em comum deste mapa (Quadro 1, Item 4) com “O prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até/aquele tempo, e o menos distante da verdade da destrebuiçaõ desta Comarca,/e seosArrayaes, mostrando o caminho, que vem da Vila de Santos a esta Capi-/tal, e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da madeira, té o das Amazonas” (Quadro 1, Item 1), de autoria de Ângelo dos Santos Cardoso. Senão, vejamos: ambos (Quadro 1, Itens 1 e 4) têm a mesma configuração da região representada, da rede hidrográfica e dos caminhos pontilhados. Mostram as rotas, tanto terrestres quanto fluviais, que ligavam a Vila de Santos, em São Paulo, a Cuiabá e à cidade do Mato Grosso, às margens do rio Madeira; a rota terrestre que, subindo ao norte, chegava ao Descoberto do Carmo; e a rota fluvial que seguia até a confluência do rio Sumidouro com o rio dos Arinos. E quanto à região nas proximidades do atual DF, o itinerário que assinalavam cruzava, apenas, o Arraial de Meia Ponte, não passando sequer por Santa Luzia. (Figuras 7 e 8) Da análise comparativa nota-se, também, que é a mesma letra e que a palavra “sertão” foi grafada nos dois com a letra “C”. O nome Sobradinho, novamente, apareceu na altura dos paralelos 16 e 17, registrando como dito, ao que tudo indica, o rio São Bartolomeu. Continuando, a representação gráfica das cabeceiras do rio Maranhão, na região correspondente ao atual DF, é exatamente a mesma. São os mesmos os limites da Capitania de Goiás nos dois documentos, inclusive no trecho confinante com a Capitania de Mato Grosso, desde as cabeceiras do rio das Mortes até as proximidades da confluência com o rio Araguaia, conforme proposta do Conde dos Arcos. Poucas são as diferenças encontradas entre os dois; na verdade, as mudanças gráficas não apontam contradições, muito mais sugerem tratar-se de complementações ao primeiro mapa. Assim, temos que este exemplar (Quadro 1, Item 4) apresentou, também, as rotas fluviais e terrestres pontilhadas que levavam até ao Pará. Legenda no canto inferior direito detalhou as explicações relativas às rotas para o interior da América portuguesa, principalmente as fluviais e, na lateral esquerda do documento, constam listados 62 lugares, que no mapa foram representados por números e letras. Por fim, este mapa, que contempla a Capitania de Goiás e a região meridional da Colônia Portuguesa da América até a foz do rio da Prata, tem assinalado em traço preto a linha divisória, desde Castilhos Grandes até a confluência do rio Taquari com o rio Paraguai, demarcada pelos cosmógrafos de Portugal e Castella, segundo o Tratado de Madrid. As principais características deste mapa remetem ao padrão cartográfico fundado por Ângelo dos Santos Cardoso durante o período que assumiu como Secretário da Capitania de Goiás – 1749 a 1755. Isso não quer dizer, necessariamente, que o documento tenha sido confeccionado por ele, mas, como bem afirma o historiador Elias Manoel (vide p. 27-29), Ângelo Cardoso criou o padrão e influenciou os documentos cartográficos elaborados na capitania a partir de então. Página 93 – Detalhe do mapa que mostra a Capitania de Goiás e a região Sul até o rio Prata (figura 7) Descrição da imagem: mapa parcial, contendo em vermelho a rota fluvial pelo rio Sumidouro e rio Arinos, passando por Meia Ponte. Santa Luzia está no mapa, mas o percurso não passa por lá. Há um círculo próximo à Santa Luzia sinalizando Sobradinho. É possível identificar no mapa relevos e afluentes dos rios. Página 93 – Detalhe do mapa que mostra a Capitania de Goiás e a região Sul até o rio Prata (figura 8) Descrição da imagem: mapa inteiro, contendo ao lado direito, situado do meio para cima, um quadrado em vermelho sinalizando a área de estudo. É possível identificar os relevos por toda a costa à direita do mapa. Na parte esquerda há uma legenda, mas não é possível identificá-la por estar ilegível. Rosa dos ventos com flor-de-lis no topo do mapa. 2.5 Carta de toda a porção da América Meridional A “Carta de toda a porção d’América Meridional, que pareceonecessaria a manifestar a viagem de 569 legoascommuas, que da escala e cidade do Rio de Janeiro executou por terra, em 17 do mes de Mayo de 1772, para Villa Bella da Santissima Trindade, o Governador e Capitão General do Estado do Mato Grosso e Cuiabá, Luís d’Albuquerque de Mello Pereira e Caceres do Concelho de Sua MagestadeFidelissima que Deos o guarde” (Quadro 1, Item 5), catalogada por Isa Adonias (1960), foi produzida por Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (5), em 1772. Esta Carta mostrou parte das Capitanias do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso, com os respectivos limites, sendo muito detalhada quanto à representação dos rios e seus afluentes, das serras, de alguns caminhos, cidades, vilas e arraiais. O documento descreveu o caminho seguido por Luís de Albuquerque, do Rio de Janeiro até Vila Bela da Santíssima Trindade, ao ir tomar posse do Governo da Capitania do Mato Grosso. O futuro governador chegou à Vila Bela da Santíssima Trindade no dia 5 de dezembro de 1772, depois de percorrer 569 léguas em 203 dias. No canto inferior esquerdo da Carta, foram relacionados os nomes de 115 localidades que serviram de pouso durante a viagem e o número de léguas percorridas entre cada uma delas. Os sítios mais próximos do atual Distrito Federal que serviram de pouso e foram registrados pelo Governador do Mato Grosso foram: Arrependidos, Contagem de São Bartolomeu, Santa Luzia, Ponte Alta, Segunda Ponte Alta e Meia Ponte. No retângulo marcado por Isa Adonias, referente à região do Novo Distrito Federal, foi assinalada a Contagem de São João. E, entre os paralelos 16 e 17, no mesmo local onde os primeiros mapas (Quadro 1, Itens 1, 3 e 4) registraram o rio Sobradinho, nesta Carta foi assinalado o rio São Bartolomeu. (Figuras 9 e 10) Página 94 – Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres Descrição da imagem: pintura de homem da cintura para cima, levemente de perfil. Os cabelos grisalhos fazem dois rolinhos presos na altura da orelha. Seu semblante está sereno, com a boca iniciando um sorriso tímido. Sua mão esquerda segura a abertura frontal do colete vermelho. Ele usa por cima do colete um terno também na cor vermelha. Página 94 – Detalhe da carta de toda a porção da América Meridional (figura 9) Descrição da imagem: mapa parcial, contendo em vermelho o caminho dos sítios mais próximos do Distrito Federal, como Arrependidos, Contagem de São Bartolomeu, Santa Luzia, Ponte Alta, Segunda Ponte Alta e Meia Ponte. Há um retângulo delimitado no mapa, destacando a Contagem de São João, por onde passa parte do caminho traçado em vermelho. Página 94 – Carta de toda a porção da América Meridional (figura 10) Descrição da imagem: mapa inteiro, contendo na parte superior, mais para o lado direito, um, quadrado na cor vermelha e dentro dele um retângulo com a cor preta, sinalizando a área de estudo. Na parte inferior à esquerda há uma legenda, mas não é possível identificá-la por estar ilegível. 2.6 Carta ou Plano Geográfico da Capitania de Goiás A “Carta ou Plano Geographico da Capitania de Goyashuma das do Centro da AmericaMeredional pertencente ao Reino de Portugal, que se tirou por ordem do Ilmº e Exmº Sr. Joze de Almeida de Vasconselos de Soveral e Carvalho (6), Governador e Capp. Gn. da dita Capitania do dia 26 de julho de 72 athe maio de 78” (Quadro 1, Item 6) foi elaborada por Tomás de Souza Vila Real, Sargento-mor do Regimento da Cavalaria Auxiliar da mesma capitania, e concluída em 1778. A Carta de Tomás de Souza, também conhecida por Mapa dos Julgados, registrou a Capitania de Goiás no auge de sua expansão no século XVIII e tinha a preocupação de delimitar o âmbito dos Julgados goianos (BERTRAN, 1996). Reproduziu, também, as fronteiras da Capitania de Goiás com as Capitanias do Pará, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, e Cuiabá e dividiu a capitania em 13 Julgados: Julgado de Santa Luzia, da Meia Ponte, do rio das Velhas, do Cavalcante, de Santa Cruz, de São Félix, de Vila Boa, de Traíras, de Crixá, de Natividade, da Conceição, das Arraias e de Pilar. Representou, ainda, o relevo e a rede hidrográfica da região e assinalou a capital, os arraiais, as aldeias e as estradas que cruzavam a região. Representadas na Carta, três estradas distintas se entroncavam em Meia Ponte e, a partir daí, unificadas, continuavam até Vila Boa de Goiás (hoje cidade de Goiás) e seguiam rumo a Cuiabá. O primeiro caminho, mais ao sul, vinha de São Paulo, passava por Santa Cruz, Bonfim e chegava a Meia Ponte. O segundo, a sudeste, partia do Rio de Janeiro, passava por Paracatu, Arrependidos, Santa Luzia, Ponte Alta – no ângulo sudoeste do Distrito Federal –, Santo Antonio dos Montes Claros (hoje Santo Antonio do Descoberto), Macacos, Corumbá e, depois, Meia Ponte. A estrada que vinha da Bahia chegava ao Distrito Federal pelo extremo nordeste – Couros (hoje Formosa), cortava a região da Vila do Mestre d’Armas (atual Planaltina), seguia por Sobradinho, passava por São João das Três Barras, pela Chapada da Contagem até sair, a oeste, ao encontro de Meia Ponte. (Figuras 11 e 12) No mesmo ano em que o Mapa dos Julgados foi concluído, o fidalgo português Luís da Cunha Menezes (7), saiu com sua comitiva de Salvador pela “Estrada Salineira da Bahia” e chegou a Vila Boa, capital da Capitania de Goiás, para se tornar, aos 35 anos, o quinto Governador e Capitão-General daquela capitania – de 1778 a 1783. Tudo leva a crer que o itinerário que entrava no atual DF por Couros, registrado no mapa de Tomás de Souza, tenha sido o mesmo percorrido por Cunha Menezes. Página 95 – Roteiro de viagem de Cunha Menezes – 1778 Descrição da imagem: desenho de mapa com o trajeto pontilhado na cor vermelha, com início na parte superior à direita do mapa, passando por Santa Rosa, Sítio Novo, Pipiripau, Planaltina, Sobradinho, 3 Barras, Contagem, Vendinha, Brazlândia, Santo Antônio do Descoberto, Corumbá e Pirenópolis. No relato sobre a viagem que empreendeu pela região do atual Distrito Federal, o governador Luís da Cunha Menezes registrou "...ao Sobradinho 2 - e 2 1/2 a São João das Três Barras, sítio tão frio que no mês de junho que é a maior forma de inverno chega a cair neve..." (BERTRAN, 1996). Página 96 – Carta ou Plano Geográfico da Capitania de Goiás (figura 11) Descrição da imagem: mapa na íntegra, contendo ao centro um quadrado na cor vermelha sinalizando área de estudo. Na parte superior à esquerda há uma caixa de texto com o título Carta. À direita, caixa de texto com o título Advertências. Em nenhuma delas é possível identificar o conteúdo textual por estar ilegível. Página 96 – Carta ou Plano Geográfico da Capitania de Goiás (figura 12) Descrição da imagem: mapa parcial (recorte), contendo ao centro um caminho, sinalizado com linha na cor vermelha. Tem início em Meia Ponte, segue para São João de 3 Barras, Couros e Registro de 3 Maria. É possível identificar os afluentes dos rios no recorte do mapa. 2.7 Mapa dos Sertões, que se compreendem de Mar a Mar O “Mappa dos Sertões, que se comprehendem de Mar a Mar entre as Capitanias de S. Paulo, Goyazes, Cuyabá, Mato-grosso, e Pará” (Quadro 1, Item 7), catalogado pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, não traz a identificação de seu autor, nem a data exata, apenas a indicação do século: [17--]. Quando comparado com o mapa de Tosi Colombina, de 1751 (Quadro 1, Item 2), a apresentação gráfica surpreende pela similaridade: o colorido aquarelado, a letra, as bordas desenhadas, o aspecto de um mapa bem acabado. A diferença mais visível se dá pelo carimbo no canto inferior esquerdo, onde, no exemplar disponibilizado digitalmente pela Biblioteca Nacional (2008) (Quadro 1, Item 7), consta o nome do mapa e no documento de Colombina (Quadro 1, Item 2) consta texto do autor com instruções para leitura do mapa, descrição de itinerários e relação de localidades encontradas. Entretanto, leitura mais acurada permite perceber que existem diferenças realmente significativas: a grafia da palavra “sertão” foi assinalada em um documento com a letra “C” e no outro com a letra “S”; assim como é diferente nos dois documentos a representação gráfica das cabeceiras do rio Maranhão, nos limites do território do atual DF. Em uma comparação com os outros mapas, temos que o nome “Sobradinho” aparece grafado entre os paralelos 16 e 17, da mesma forma que no “O prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até/aquele tempo, e o menos distante da verdade da destrebuiçaõ desta Comarca,/e seosArrayaes, mostrando o caminho, que vem da Vila de Santos a esta Capi-/tal, e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da madeira, té o das Amazonas e no Mapa que mostra a Capitania de Goiás e a região ao sul até o rio da Prata” (Quadro 1, Itens 1 e 4, respectivamente). Quanto aos caminhos pontilhados, a representação nos três documentos cartográficos (Quadro 1, Itens 1, 4 e 7) também é semelhante: as rotas, tanto terrestres quanto fluviais, ligavam a Vila de Santos, em São Paulo, a Cuiabá e à cidade do Mato Grosso, às margens do rio Madeira; a rota terrestre, subindo ao norte, chegava ao Descoberto do Carmo; e a rota fluvial seguia até a confluência do rio Sumidouro com o rio dos Arinos. Da mesma forma, os limites da Capitania de Goiás são coincidentes, inclusive no trecho confinante com a Capitania de Mato Grosso, conforme proposta do Conde dos Arcos. Assim, novamente, nos termos do historiador Elias Manoel, podemos afirmar que as características deste mapa também seguem o padrão cartográfico criado pelo Secretário Ângelo dos Santos Cardoso. (Vide p. 27-29) E, por fim, nesses mesmos três documentos cartográficos, a área onde se encontra o atual DF era uma mancha em branco, e o itinerário que assinalaram nas proximidades cruzava apenas o Arraial de Meia Ponte, não passando sequer por Santa Luzia. (Figuras 13 e 14) A omissão não significa que a região ainda não servisse de caminho de passagem para as minas do Goiás, visto que, em 1734, o tropeiro José da Costa Diogo (8), em diário manuscrito, relatou sua viagem e de seus companheiros, quando cruzou São João das Três Barras, ao norte do DF. Os viajantes entraram no DF pela porção nordeste do território, vindo da Bandeirinha, logo depois da Lagoa Feia, em Goiás. Seguiram em direção à Lagoa Mestre D’Armas; continuaram em direção ao oeste até chegar a Sobradinho, passaram pela Contagem de São João das Três Barras, acompanharam a Serra de São João (Chapada da Contagem) seguindo sempre na direção oeste, saíram dos limites do DF pela Colina do Rodeador. Já então, o viajante anotava a existência do caminho para os Goyazes: Nos 10 deste chegamos a lagoa Fea; he este lago muito grande, e se curva e verte a agoas para a estrada que vem de São Paulo; desta lagoa pequena distancião as principais cabeceiras do Rio Tocantins, chamado lá Maranhão [...] Aquy nestas fazendas acabam as povoações antigas e principião as novas depois que se abriu o caminho para os Goyazes. (ROCHA JR.; VIEIRA JR.; CARDOSO, 2006, p. 39-41) O tropeiro nos deixa a certeza de que essa região não era um deserto, mas uma passagem importante de ligação entre o litoral e as minas de Goiás e Mato Grosso. Graças ao seu relato, que cita nominalmente os pontos transpostos, podemos reconhecer, hoje, os sítios por onde andou, visto que muitos ainda conservam os mesmos topônimos e, também, confirmar que o caminho do ouro de Goiás cruzava o território do atual Distrito Federal. Página 97 – Mapa dos Sertões, que se compreendem de Mar a Mar (figura 13) Descrição da imagem: mapa na íntegra, contendo no centro, um pouco para a direita, um quadrado na cor vermelha sinalizando área de estudo. Há muitos afluentes de rios dentro dessa limitação. Na parte superior à direita o desenho de um navio. Página 97 – Detalhe do mapa dos Sertões, que se compreendem de Mar a Mar (figura 14) Descrição da imagem: mapa parcial (recorte), contendo ao centro um caminho, sinalizado com linha na cor vermelha. A rota começa pouco antes da Meia Ponte e desce. Santa Luzia está no mapa, mas o percurso não passa por lá. Há um círculo próximo à Santa Luzia sinalizando Sobradinho. É possível identificar no mapa relevos e afluentes dos rios. Página 98 – Roteiro de José da Costa Diogo – 1734 Descrição da imagem: desenho de mapa com o trajeto pontilhado na cor vermelha, com início na parte superior à direita do mapa, passando por Santa Rosa, Bezerra, Formosa, Bandeirinha, Sítio Novo, Pipiripau, Planaltina, Sobradinho, 3 Barras, Contagem, Vendinha, Brazlândia, Corumbá e Pirenópolis. Em 1734, o tropeiro José da Costa Diogo partiu da Fazenda do Acary, nas margens do Rio São Francisco, em busca das minhas dos Goyazes. 2.8 Mapa da Capitania de São Paulo e seu sertão O “Mappa da Capitania de S. Paulo e seu sertão, em que se vem os descobertos, que lhe forão tomados para Minas Geraes, como também o Caminho de Goyazes, com todos os seus pouzos, e passagens, deleniado por Francisco Tosi Colombina. Primeira Parte” (Quadro 1, Item 8) catalogado pela Biblioteca Nacional, na Coleção Morgado de Mateus, de autoria desconhecida, não traz a indicação precisa de sua data, apenas a do século: [17--]. Este mapa reproduziu o percurso do “Caminho dos Goyazes” assinalado por Tosi Colombina em documentos anteriores. O documento apresenta a primeira parte do “Caminho de Goyazes”, que se iniciava na Vila de Santos, no paralelo 24 e, neste mapa, chegava até o paralelo 17. Abrangia a região desde a serra do mar até o rio do Peixe, com destaque para a cidade de São Paulo, vilas, fortalezas, arraiais, rios e trilhas. A rede hidrográfica foi desenhada ao longo do caminho, e o relevo foi representado de forma pictórica. No carimbo, no canto superior direito, constava a explicação dos desenhos utilizados para assinalar cidade, vila, fortaleza, arraial e sítio. (Figura 15) Página 99 – Mapa da Capitania de São Paulo e seu sertão (figura 15) Descrição da imagem: mapa na íntegra, contendo no canto superior à esquerda, um retângulo na cor vermelha sinalizando área de estudo. Na metade para cima do mapa há muitos afluentes de rios, inclusive dentro do campo sinalizado. Na metade para baixo, além dos afluentes, é possível identificar relevos. Acima, à direita, caixa de texto com o título “Mappa”; No entanto, não é possível identificar o conteúdo textual por estar ilegível. Página 99 – Mapa da Capitania de Goiás e todo o sertão (figura 16) Descrição da imagem: mapa na íntegra, contendo no canto inferior à direita, um retângulo na cor vermelha sinalizando área de estudo. Por todo o mapa, muitos afluentes de rios e relevos, inclusive dentro do campo sinalizado. Quase no centro do mapa, um pouco para à esquerda, caixa de texto com o título “Mappa”; No entanto, não é possível identificar o conteúdo textual por estar ilegível. Página 99 – Mapa da Capitania de São Paulo e seu sertão e do Mapa da Capitania de Goiás e todo o Sertão (figura 17) Descrição da imagem: recortes das duas áreas sinalizadas para estudo nas figuras 15 e 16, formando, como um quebra cabeça, a continuidade, ou seja, um único mapa. Neste mapa, há um caminho, iniciando em Meia Ponte e descendo até pouco antes do rio João Lourenço. 2.9 Mapa da Capitania de Goiás e de todo o sertão O “Mappa da Capitania de Goyazes, e de todo o sertão por onde passa o Rio Maranhão, ou Tucantins [Segunda parte]” (Quadro 1, Item 9) catalogado pela Biblioteca Nacional, na Coleção Morgado de Mateus, não traz a identificação de seu autor, nem de sua data, apenas a indicação do século [17--]. Este documento cartográfico amolda-se perfeitamente ao documento anterior, que traz, em sua legenda, a expressão “primeira parte” (Quadro 1, Item 8), dando continuidade ao “Caminho de Goyazes”, a partir do paralelo 17 até o paralelo 11. (Figura 16) A representação gráfica é a mesma, permitindo aferir que os dois mapas (Quadro 1, Itens 8 e 9) são obras do mesmo autor. Mais uma vez, a região onde se encontra hoje o Distrito Federal corresponde a uma mancha em branco e o itinerário assinalado nas proximidades cruzou apenas o Arraial de Meia Ponte, não passando sequer por Santa Luzia. (Figura 17) 3. CARTOGRAFIA HISTÓRICA DO SÉCULO XIX 3.1 Carta Corográfica Plana da Província de Goiás A “Carta Corografica Plana da Província de Goyaz e dos Julgados de Araxá e Desemboque da Província de Minas Geraes organisado pelo Brigadeiro Raimundo José da Cunha Matos Governador das Armas de Goyaz para acompanhar os seus itinerários escritos em 1826 e publicados no anno de 1836” (Quadro 1, Item 10) foi catalogada pela Fundação Biblioteca Nacional como sendo de 1836, a mesma data que consta no carimbo superior esquerdo do documento. O português Cunha Matos (9) permaneceu em Goiás de 1823 a 1826, período em que produziu um dos documentos cartográficos mais detalhados da Província à época, onde emendou, em mais de três mil pontos diferentes, os antigos mapas manuscritos. O Governador das Armas não fez explorações por terras desertas. Transitou, apenas, pelas estradas gerais de Goiás e demonstrou ter conhecimento dos escritos e descrições da região produzidos por outros viajantes, entre eles o Barão de Eschwege, Saint-Hilaire, Pohl, Natterer e Spix e Martius (BARBO, 2010). Página 100 – Raimundo Jozé da Cunha Mattos Descrição da imagem: foto do brigadeiro Raimundo Mattos, tirada do ombro pra cima. Ele está levemente de perfil, com o olhar de canto. Tem cabelos cacheados, que cai um pouco no meio da testa, mas não chega na altura da sobrancelha. Usa costeletas grandes, até a altura do maxilar. Está sério. Página 100 – Detalhe da carta corográfica Planta da Província de Goiás (figura 18) Descrição da imagem: carta com o desenho de mapa, com o trajeto sinalizado por uma linha vermelha, passando por Sítio Novo, Mestre D’Armas, Sobradinho, São João e Rodeador. Na carta, o mapa aparece com borrões escuros, mas ainda assim é possível identificar alguns nomes e trajetos. Muitos afluentes de rios do meio para o final do mapa. Página 100 – Carta corográfica Planta da Província de Goiás (figura 19) Descrição da imagem: mapa na íntegra, contendo um pouco mais para baixo do centro, um retângulo na cor vermelha sinalizando área de estudo. O mapa aparece com borrões escuros, mas ainda assim é possível identificar alguns nomes e trajetos. Muitos afluentes de rios do meio para o final do mapa. NO canto superior à direita, caixa de texto com o título “Província de Goiaz”; No entanto, não é possível identificar o conteúdo textual por estar ilegível. Na área correspondente ao atual Distrito Federal, a maioria dos topônimos dos sítios e dos marcos naturais registrados, tanto nos itinerários assinalados na sua Carta, quanto em sua Corografia da Província de Goiás (1979), se mantiveram até os dias de hoje: Ponte Alta, Guariroba, Rodeador, rio Torto, rio São Bartolomeu, rio Corumbá, São João das Três Barras, Sobradinho, ribeirão Sobradinho, etc.; não deixando margem para dúvida quanto ao fato das estradas reais, que cruzavam o Planalto Central, atravessarem essa região. Em 1826, especificamente ao longo da “Estrada da Bahia”, (10) os sítios inseridos nos limites do atual território do DF e assinalados na Carta elaborada por Cunha Matos eram: Sítio Novo, Mestre d’Armas, Sobradinho, São João e Rodeador. (Figuras 18 e 19) Esses nomes foram recorrentes nos relatos de cronistas e viajantes que o precederam: José da Costa Diogo, em 1734; o Barão de Mossâmedes, em 1773; e o Governador Cunha Menezes, em 1778; como também nos que o sucederam: Joaquim Jardim, em 1874; Varnhagen, em 1877; Oscar Leal, em 1889; e Cruls, em 1892 (BARBO, 2010). Página 101 – Roteiros das distâncias de Vila Bela da Santíssima Trindade ao arraial de Meia Ponte e deste até a cidade da Bahia, cidade do Rio de Janeiro e Vila de Santos. Com destaque para a Estrada da Bahia Descrição da tabela 1: referências principais. Na primeira coluna o título "Nomes dos lugares destas três estradas". Na segunda coluna "distâncias de uns a outros". Na terceira coluna "distâncias contadas de Villa Bella". Na quarta coluna "distâncias contadas do Cuiabá". Linha 1 (coluna 1) - De Villa Bella à Ponte do Guaporé. Coluna 2 (..). Coluna 3: 14. Coluna 4: 80. Linha 2 (coluna 1) - dos Arraial das Lavrinhas. Coluna 2: 3. Coluna 3: 17. Coluna 4: 80. Linha 3 (coluna 1) - Ao Rio Jaurú (no Registro). Coluna 2: 19. Coluna 3: 36. Coluna 4: 58. Linha 4 (coluna 1) - Ao Rio Paraguay (em Villa Maria). Coluna 2: 19. Coluna 3: 55. Coluna 4: 39. Linha 5 (coluna 1) - Ao Rio Sagrador. Coluna 2: 16. Coluna 3: 71. Coluna 4: 23. Linha 6 (coluna 1) - A Villa do Cuyabá. Coluna 2: 23. Coluna 3: 94. Coluna 4: -. Linha 7 (coluna 1). A Aldea de Santa Anna da Chapada. Coluna 2: 8. Coluna 3: 102. Coluna 4: 8. Linha 8 (coluna 1) - A ponte do S. Lourenço. Coluna 2: 14 e 1/2. Coluna 3: 116 e 1/2. Coluna 4: 22 e 1/2. Linha 9 (coluna 1) - Ao Sagrador. Coluna 2: 28. Coluna 3: 144 e 1/2. Coluna 4: 50 e 1/2. Linha 10 (coluna 1) - Ao Passavinte. Coluna 2: 29 e 1/2. Coluna 3: 174. Coluna 4: 80. Linha 11 - Ao registro que foi da Insua. Coluna 2: 11. Coluna 3: 185. Coluna 4: 91. Linha 12 (coluna 1) - Ao registro que agora é do Rio Grande, estrema Capitania de Mato Grosso. Coluna 2: 7. Coluna 3: 192. Coluna 4: 98. Linha 13 (coluna 1) - Do registro do Rio Grande ao registro do Rio Claro. A Villa Boa, capital de Goiaz. Coluna 2: 21. Coluna 3: 240. Coluna 4: 146. Linha 14 (coluna 1) - Ao corgo do Jaraguá. Coluna 1: 18. Coluna 2: 258. Coluna 3: 164. Linha 15 (coluna 1) - Ao Arraial Meia Ponte. Coluna 2: 7. Coluna 3: 265. Coluna 4: 171. Na coluna 5, o texto: não se pode fincar a exatidão das distâncias pela variedade que há na estimativa delas, por não estarem medidas em nenhuma das capitanias desta tabela. Haverá só cuidado em se marcar a direção de cada uma das estradas. A distância da 1ª casa das colunas seguintes se contam de Maia Ponte, Villa Bella e Cuyabá. Descrição da tabela 2 – Estrada da Bahia: referências principais. Na primeira coluna o título "Lugares". Na segunda coluna "distâncias de uns a outros". Na terceira coluna "distâncias contadas de Villa Bella". Na quarta coluna "distâncias do Cuyabá". Linha 1 (coluna 1) - A Contagem de S. João. Coluna 2: 23. Coluna 3: 288. Coluna 4: 194. Linha 2 (coluna 1) - A Lagoa Feia. Coluna 2: 13. Coluna 3: 301. Coluna 4: 207. Linha 3 (coluna 1) - A S. Domingos. Coluna 2: 18. Coluna 3: 319. Coluna 4: 225. Linha 4 (coluna 1) - As cabeceiras do Rio Formoso. Coluna 2: 17. Coluna 3: 336. Coluna 4: 242. Linha 5 (coluna 1) - os Canizdês. Coluna 2: 24. Coluna 3: 360. Coluna 4: 266. Linha 6 (coluna 1) - Ao Rio de São Francisco. Coluna 2: 28. Coluna 3: 388. Coluna 4: 294. Linha 7 (coluna 1). As Carnaibas. Coluna 2: 26. Coluna 3: 414. Coluna 4: 320. Linha 8 (coluna 1) - A Lagoa de Timotheo. Coluna 2: 18. Coluna 3: 432. Coluna 4: 338. Linha 9 (coluna 1) - A passagem do Rio de Contas. Coluna 2: 15. Coluna 3: 447. Coluna 4: 353. Linha 10 (coluna 1) - Ao Sincorá. Coluna 2: 12. Coluna 3: 459. Coluna 4: 365. Linha 11 - A Santa Maria. Coluna 2: 22. Coluna 3: 481. Coluna 4: 387. Linha 12 (coluna 1) - As Trombas. Coluna 2: 22. Coluna 3: 503. Coluna 4: 409. Linha 13 (coluna 1) - A Salgada. Coluna 1: 18. Coluna 2: 521. Coluna 4: 427. Linha 14 (coluna 1) - A Villa de Cachoeira. Coluna 2: 7. Coluna 3: 528. Coluna 3: 434. Linha 15 (coluna 1) - A cidade da Bahia. Coluna 2: 14. Coluna 2: 542. Coluna 3: 448 Descrição da tabela 3 - Estrada do Rio de Janeiro: referências principais. Na primeira coluna o título "Lugares". Na segunda coluna "distâncias de uns a outros". Na terceira coluna "distâncias contadas de Villa Bella". Na quarta coluna "distâncias do Cuyabá". Linha 1 (coluna 1) - Ao Arraial do Curumbá. Coluna 2: 3. Coluna 3: 268. Coluna 4: 174. Linha 2 (coluna 1) - Ao registro dos Arrependidos. Coluna 2: 29. Coluna 3: 297. Coluna 4: 203. Linha 3 (coluna 1) - A Villa de Paracatú. Coluna 2: 12. Coluna 3: 309. Coluna 4: 215. Linha 4 (coluna 1) - Ao André Quicé. Coluna 2: 20. Coluna 3: 329. Coluna 4: 235. Linha 5 (coluna 1) - A Babylonia. Coluna 2: 19. Coluna 3: 348. Coluna 4: 254. Linha 6 (coluna 1) - Ao reg da Palestina. Coluna 2: 20. Coluna 3: 368. Coluna 4: 274. Linha 7 (coluna 1). Ao Arraaial Bambuhy. Coluna 2: 18. Coluna 3: 386. Coluna 4: 292. Linha 8 (coluna 1) - Ao Arraial da Formiga. Coluna 2: 19. Coluna 3: 405. Coluna 4: 311. Linha 9 (coluna 1) - Ao Arraial da Oliveira. Coluna 2: 18. Coluna 3: 423. Coluna 4: 429. Linha 10 (coluna 1) - A Villa de Barbacena. Coluna 2: 25. Coluna 3: 448. Coluna 4: 354. Linha 11 - Ao Juiz de Fora. Coluna 2: 20. Coluna 3: 468. Coluna 4: 374. Linha 12 (coluna 1) - Ao registro de Mathias Barbosa. Coluna 2: 6. Coluna 3: 474. Coluna 4: 380. Linha 13 (coluna 1) - A Grande da Parahyba. Coluna 2: 12. Coluna 3: 468. Coluna 4: 392. Linha 14 (coluna 1) - Ao Porto da Estrella. Coluna 2: 25. Coluna 3: 511. Coluna 3: 417. Linha 15 (coluna 1) - A cidade do Rio de Janeiro. Coluna 2: 9. Coluna 2: 520. Coluna 3: 426 Descrição da tabela 4 - Estrada de S. Paulo: referências principais. Na primeira coluna o título "Lugares". Na segunda coluna "distâncias de uns a outros". Na terceira coluna "distâncias contadas de Villa Bella". Na quarta coluna "distâncias do Cuyabá". Linha 1 (coluna 1) - Ao Arraial do Bonfim. Coluna 2: 20. Coluna 3: 285. Coluna 4: 191. Linha 2 (coluna 1) - Ao Corumbá, rio de Canoa. Coluna 2: 15 e 1/2. Coluna 3: 300 e 1/2. Coluna 4: 206 e 1/2.Linha 3 (coluna 1) - Ao Veríssimo de Canoa. Coluna 2: 13 e 1/2. Coluna 3: 314. Coluna 4: 220. Linha 4 (coluna 1) - A Parnahyba, rio. Coluna 2: 15. Coluna 3: 320. Coluna 4: 235. Linha 5 (coluna 1) - Ao Rio das Velhas. Coluna 2: 15 e 1/2. Coluna 3: 344 e 1/2. Coluna 4: 250 e 1/2. Linha 6 (coluna 1) - Ao Rio Grande, extrema de Goiaz. Coluna 2: 23 e 1/2. Coluna 3: 368. Coluna 4: 274. Linha 7 (coluna 1). Ao Sapucahy, r. de Canoa. Coluna 2: 20 e 1/2. Coluna 3: 388 e 1/2. Coluna 4: 294 e 1/2. Linha 8 (coluna 1) - Ao Rio Pardo, de Canoa. Coluna 2: 14. Coluna 3: 402 e 1/2. Coluna 4: 308 e 1/2. Linha 9 (coluna 1) - Ao Jaguary-mirim, rio de Canoa. Coluna 2: 15. Coluna 3: 417 e 1/2. Coluna 4: 423 e 1/2. Linha 10 (coluna 1) - A Mogy-Guassú, r. de c.. Coluna 2: 15. Coluna 3: 426 e 1/2. Coluna 4: 332 e 1/2. Linha 11 - A Villa de Mogy-Mirim. Coluna 2: 1. Coluna 3: 427 e 1/2. Coluna 4: 333 e 1/2. Linha 12 (coluna 1) - A Villa de Jundiahy. Coluna 2: 20 e 1/2. Coluna 3: 448. Coluna 4: 354. Linha 13 (coluna 1) - A Ponte do Juquiry. Coluna 2: 7. Coluna 3: 455. Coluna 4: 361. Linha 14 (coluna 1) - A cidade de S. Paulo. Coluna 2: 3. Coluna 3: 458. Coluna 3: 364. Linha 15 (coluna 1) - A Villa de Santos. Coluna 2: 10. Coluna 2: 468. Coluna 3: 374. Página 101 – Detalhe da Carta da Província de Goiás (figura 20) Descrição da imagem: carta com o desenho de mapa, com o trajeto sinalizado por uma linha vermelha, passando por Formosa de Imperatriz, seguia até Mestre D’Armas e corta o território no sentido nordeste para sudeste, descendo para Santa Luzia e dali para Meia Ponte. Na carta, o mapa aparece com borrões escuros, mas ainda assim é possível identificar alguns nomes e trajetos. Página 101 – Carta da Província de Goiás (figura 21) Descrição da imagem: mapa na íntegra, contendo um pouco mais para baixo do centro, um retângulo na cor vermelha sinalizando área de estudo. O mapa aparece com borrões escuros, mas ainda assim é possível identificar alguns nomes e trajetos. No canto superior à esquerda, “Carta da Província de Goiaz. Organizada em 1974. Por ordem do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Pelo capitão de Engenheiros Joaquim R. de M. Jardim. Conforme as melhores cartas existentes e observações próprias. Rio de Janeiro, 1875”. No canto superior à direita, caixa de texto com o título “Quadro Estatístico”; No entanto, não é possível identificar o conteúdo textual por estar ilegível. 3.2 Carta da Província de Goiás A “Carta da Província de Goyaz organisada em 1874 por ordem do Ministério d’Agricultura Commercio e Obras Públicas pelo Capitão d’Engenheiros Joaquim R. de M. Jardim, conforme as melhores cartas existentes e observações próprias. Redusida e gravada por C. Lomelino de Carvalho. Rio de Janeiro, 1875” (Quadro 1, Item 11) foi catalogada pela Fundação Biblioteca Nacional (2010). Segundo Taunay (1931), Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim, diretor de obras provinciais, utilizou como base para o seu trabalho diversos mapas corográficos, sendo a fonte mais importante, entre tantos, a Carta do Marechal Cunha Matos (Quadro 1, Item 10). O documento registrou a Província de Goiás e seus limites com as Províncias de São Paulo, de Minas Gerais, da Bahia, do Piauí, do Maranhão, do Pará e do Mato Grosso. É bastante detalhado quanto à representação dos rios e seus afluentes, serras, cidades, vilas e arraiais. No lado direito, há um Quadro Estatístico das Povoações da Província distribuídas em dezesseis Comarcas. Na região correspondente ao atual DF e áreas limítrofes, foi citada a cidade de Meia Ponte e o arraial de Corumbá como parte da Comarca do rio Maranhão e a cidade de Santa Luzia e a Vila Formosa de Imperatriz subordinadas à Comarca de Imperatriz. Houve, ainda, referência ao arraial de Mestre d’Armas como um dos sete Julgados de Paz da Província. A Carta da Província de Goiás representou em linhas pontilhadas o itinerário de diversos caminhos que cruzavam a Província, assinalando cada um dos sítios ao longo dos percursos. A principal estrada, apontada nos limites do atual DF, entrava a partir de Formosa de Imperatriz, seguia até Mestre D’Armas e cortava o território no sentido nordeste para sudoeste, descendo para Santa Luzia e dali para Meia Ponte. (Figuras 20 e 21) 3.3 Mapa do Brasil, mostrando a posição do Distrito Federal demarcado Em 1893, foi confeccionado o “Mappa do Brazil, mostrando a posição do Districto Federal demarcado assim como os principais caminhamentos levantados pela Commissão” (Quadro 1, Item 12), com a posição do Quadrilátero Cruls. Segundo Cruls, a região demarcada pela Comissão tinha sido, até então, pouco estudada, tanto pelos brasileiros como pelos exploradores estrangeiros: Sem receio de errar, podemos asseverar que, bem pequeno, é o número de brasileiros que a conhecem sob este ponto de vista e, quanto aos exploradores estrangeiros, bem poucos são aqueles que a tenham convenientemente explorado. Isto se explica facilmente, pois, procurando geralmente, e de preferência, os vales onde correm os grandes rios, seus itinerários deixaram, na maior parte, de cortar a região mais característica do planalto central do Brasil (CRULS, 1957, p.106). Pela toponímia dos locais e marcos naturais levantados, podemos reconhecer diversos lugares ainda hoje existentes: Formosa (11), lagoa Mestre d’Armas, rio Saia Velha, rio Torto, ribeirão Sobradinho, lagoa Feia, rio Maranhão, rio Ponte Alta, etc. Do mesmo modo como foram marcados no Mapa dos Julgados, um século antes, os caminhamentos reproduziam três caminhos distintos que se entroncavam em Pirenópolis e, unificados, continuavam até a cidade de Goiás, de lá seguindo rumo a Cuiabá. A primeira estrada, mais ao sul, vinha de São Paulo, passava por Catalão, Bonfim e chegava a Pirenópolis. A segunda, a sudeste, partia do Rio de Janeiro, passava por Santa Luzia, Corumbá e, depois, Pirenópolis. A terceira estrada vinha da Bahia e entrava no DF pelo extremo nordeste – Formosa (antiga Couros); cortava a região da Vila do Mestre d’Armas até sair, a oeste, ao encontro de Pirenópolis. Mais uma vez, este último itinerário reproduzia o percurso do Barão de Mossâmedes, em 1773, e de Cunha Menezes, em 1778, pelo Planalto Central, nos limites do atual DF. (Figuras 22 e 23) Página 102 – Detalhe do mapa do Brasil, mostrando a posição do Distrito Federal demarcado (figura 22) Descrição da imagem: recorte de mapa com trajeto sinalizado por uma linha vermelha, saindo de Pyrenópolis e parando em Formosa. Há no mapa uma bolinha vermelha marcando Santa Luzia, apesar do trajeto não passar por lá. Página 102 – Mapa do Brasil, mostrando a posição do Distrito Federal demarcado (figura 23) Descrição da imagem: mapa na íntegra, contendo no centro, um pouco mais para a direita, um retângulo na cor vermelha sinalizando área de estudo. No local demarcado é possível identificar o estado do Goiaz e parte da Bahia. Há também caminhos sinalizados por linha vermelha nos arredores do Distrito Federal. 3.4 Esboço da zona de 14.400 quilômetros quadrados, demarcada no Planalto Central do Brasil O “Esboço da zona de 14.400 kilometros quadrados, demarcada no Planalto Central do Brazil, para o districto federal, mostrando os caminhamentos ligando Pyrenopolis, Santa Luzia e Formosa” (Quadro 1, Item 13) foi produzido por Antonio Pimentel, membro da Comissão Cruls, em 1894. Antonio Pimentel publicou o livro A Nova Capital Federal e o Planalto Central do Brazil, em que gravou suas impressões das viagens realizadas pela região do Planalto Central e fez apaixonada defesa do ideal mudancista, ao qual se engajou de forma definitiva. O livro reproduz o mapa “Esboço da zona de 14.400 kilometros quadrados, demarcada no Planalto Central do Brazil”. Este mapa colorido, na escala de 1:500.000, registrou distintamente, conforme legenda, altitudes expressas em metros, itinerários, rios e lagoas inseridos no Quadrilátero Cruls. Nele é possível ver com clareza os três percursos principais que faziam os viajantes, nos séculos XVIII e XIX, ao cruzar o território do atual DF. A “Estrada Real”(12), ou “Estrada da Bahia” entrava no DF a leste, por Formosa, seguia até a Vila do Mestre d’Armas, em Planaltina, atravessava Sobradinho, depois a Chapada da Contagem, até sair, a oeste, pela Região de Brazlândia, rumo a Pirenópolis. Existiam também duas picadas que levavam a Santa Luzia, hoje Luziânia. A primeira, na altura da Vila do Mestre d’Armas, descia para sudoeste, atravessando o ribeirão Pipiripau, ribeirão Sobradinho, rio Paranaua, ribeirão Taboca, ribeirão Papuda, rio Mesquita, rio Saia Velha, até encontrar Santa Luzia. A outra, na altura do pouso do Chico Costa, porção oeste do Distrito Federal, região de Brazlândia, descia a sudeste, cortando o rio Jatobá, rio das Pedras, ribeirão Guariroba, rio Ponte Alta, rio Alagado, ribeirão Paiva, rio Santa Maria, para também chegar a Santa Luzia. (Figura 24) O documento também registrou o Chapadão do Visconde do Porto Seguro(13), hoje Chapadão do Pipiripau, e indicou a presença de poucos assentamentos humanos e fazendas na região. No trajeto da “Estrada da Bahia” foram citados a Vila do Mestre d’Armas, Sobradinho, Fazenda da Contagem e pouso do Chico Costa. Ao longo da picada que descia a sudoeste, além da Vila do Mestre d’Armas só foram nomeados o pouso Barreiros, nas margens do ribeirão S. Anna e o Arraial do Mesquita. Na outra picada, constou apenas o pouso do Chico Costa. Isso não significa a inexistência de outras fazendas dentro da área pesquisada, a se considerar que outro documento produzido pela Comissão Cruls, em 1896, de autoria de Henrique Morize (Quadro 1, Item 15), nomeou quantidade considerável de fazendas na mesma área. A toponímia dos sítios e acidentes naturais assinalados, bem como o Esboço confeccionado, confirmam, novamente, que muitos dos viajantes que se aventuraram pelo Planalto Central, nos séculos XVIII e XIX, percorreram a “Estrada Real” que cortava ao norte o território do atual DF. Esse trajeto foi o mesmo percorrido por José da Costa Diogo, em 1734; foi explorado pelo Barão de Mossâmedes, em 1773, e depois assinalado por Tomás de Souza, no Mapa dos Julgados da Capitania de Goiás, em 1778; foi o caminho trilhado pelo Governador Cunha Menezes em sua jornada no Planalto Central, também em 1778; e, ainda, foi um dos itinerários registrados cartograficamente, em 1826, pelo Brigadeiro Cunha Matos. Página 103 – Francisco Adolfo de Varnhagen Descrição da imagem: foto do historiador, Francisco Varnhagen, do ombro pra cima. Ele está de frente e com o pescoço levemente inclinado para a esquerda. Tem o olhar distante, cabelos lisos e curtos; está sério. Usa paletó e gravata fina no estilo borboleta. Página 103 – Esboço da Zona de 14.400 quilômetros quadrados, demarcada no Planalto Central do Brasil (figura 24) Descrição da imagem: recorte de mapa com trajeto sinalizado por duas linhas vermelhas. A linha mais fina sai de Pyrenópolis, cortando o Rio Jatobá, rios das Pedras, ribeirão Guariroba, rio Ponte Alta, rio Alagado, ribeirão Paiva, rio Santa Maria, até chegar em Santa Luzia. A linha mais grossa sai de Pyrenópolis, passa na Fazenda da Contagem, Sobradinho, Villa do Mestre D’Armas, até chegar em Formosa. Página 104 – Detalhe do Mapa dos Itinerários levantados, com a indicação da Zona demarcada e da constituição geológica da região explorada (figura 25) Descrição da imagem: recorte de mapa com trajeto sinalizado por uma linha vermelha, saindo de Formosa, a leste do DF, segue até a Villa do Mestre D’Armas, em Planaltina, passa por Sobradinho, até sair a Oeste, pelo pouso do Chico Costa, em Pyrenópolis. Santa Luzia, sinalizada por uma bolinha vermelha, está um pouco abaixo deste trajeto. Tanto na extremidade de Pyrenópolis como de Formosa há linhas finas, na cor vermelha, que ligam até Santa Luzia. 3.5 Mapa dos itinerários levantados, com a indicação da zona demarcada e da constituição geológica da região explorada O “Mappa dos itinerários levantados, com a indicação da Zona demarcada e da constituição geológica da região explorada. Commissão Exploradora do Planalto Central do Brazil” (Quadro 1, Item 14) catalogado pelo Arquivo Público do Distrito Federal, foi produzido em 1895. O documento cartográfico, em escala de 1:1.000.000, colorido, indicou no Planalto Central o Quadrilátero Cruls e, conforme legenda, a capital do estado de Goiás; cidades; vilas e povoados; jazidas de ouro, diamante e ferro; a rede hidrográfica e os itinerários percorridos na região. Os caminhos tinham, como seus pontos extremos, as cidades de Uberaba e Goiás e a Chapada dos Veadeiros. Com base na cartografia produzida, é possível reconhecer os três principais caminhos dos viajantes dos séculos XVIII e XIX, nos limites do DF. Dois desses percursos cruzavam o território do DF e se encontravam em Santa Luzia: um itinerário partia da Vila do Mestre d’Armas e descia a sudoeste e o outro, saindo do pouso Chico Costa descia rumo ao sul. O principal percurso era a “Estrada da Bahia”, que cortava a região em sua porção norte: vinha de Formosa, a leste do DF, seguia até a Vila do Mestre d’Armas, em Planaltina, passava por Sobradinho, Chapada da Contagem até sair a oeste, pelo pouso do Chico Costa. (Figura 25) O fato dos nomes de diversos sítios e acidentes naturais citados terem se repetido ao longo dos relatos de diferentes cronistas, que exploraram o Planalto Central em épocas distintas, reforça, mais uma vez, a veracidade dos caminhos registrados por esses viajantes. Página 105 – Planta do Distrito Federal (figura 26) Descrição da imagem: mapa com trajeto sinalizado por uma linha vermelha, saindo de Formosa, passando por Planaltina, Sobradinho, segue até a Villa do Mestre D’Armas, passa por Sobradinho, terminando em Pyrenópolis. 3.6 Planta do Distrito Federal A “Planta do Districto Federal mostrando o adiantamento dos trabalhos topographicosrealisados até fins do anno 1895” (Quadro 1, Item 15) publicada no relatório da Comissão Cruls foi finalizada por Henrique Morize em 1896. Esse documento, na escala de 1:250.000, compilou as informações de todos os membros da Comissão. Além de detalhar toda a rede hidrográfica, também identificou 49 fazendas, pousos ou arraiais, confirmando, mais uma vez, que a região era toda ocupada por fazendas. No perímetro do atual DF, foram expressamente citados 15 sítios: Fazenda Desterro, Chico Costa, Fazenda Glória, Fazenda Boa Vista, Fazenda Ten. Camello, Fazenda da Papuda, Benedito Cabeça, Fazenda Sobradinho, Fazenda Rajadinha, Fazenda da Vargem, Fazenda Jardim, Arraial Buriti Vermelho, Fazenda Lagoinha, Fazenda Fartura e Vila do Mestre d’Armas. Destacam-se, também, no mapa os itinerários dos três percursos que cortavam a área do atual DF, da mesma forma como registrado em outros dois documentos produzidos ao longo dos trabalhos da Comissão Cruls: o “Esboço da zona de 14.400 kilometros quadrados, demarcada no Planalto Central do Brazil, para o districto federal, mostrando os caminhamentos ligando Pyrenopolis, Santa Luzia e Formosa, de 1894”, e o “Mappa dos itinerários levantados, com a indicação da Zona demarcada e da constituição geológica da região explorada. Commissão Exploradora do Planalto Central do Brazil, de 1895” (Quadro 1, Itens 13 e 14 respectivamente). O percurso principal, ao norte, se inicia em Formosa e chega até Pirenópolis, passando pela Vila do Mestre D’Armas e Sobradinho. (Figura 26) Os topônimos dos vários sítios e marcos naturais assinalados na base cartográfica produzida por Henrique Morize e registrada em seu relatório se assemelham àqueles reunidos nos dados coletados por diversos outros cronistas que exploraram o Planalto Central em épocas distintas, no período de 1734 a 1896, não permitindo dúvida quanto à veracidade dos itinerários apontados pelos diferentes viajantes. Página 106 – Novo Distrito Federal – Planta Índica Cadastral (figura 27) Descrição da imagem: planta com demarcações coloridas por toda as regiões. Há um trajeto sinalizado por uma linha vermelha, saindo de Formosa, segue até a Villa do Mestre D’Armas, passa por Sobradinho, terminando em Pyrenópolis. 4. CARTOGRAFIA HISTÓRICA DO SÉCULO XX 4.1 Novo Distrito Federal - Planta Índice Cadastral Em outubro de 1955, o Governador de Goiás instituiu a Comissão de Cooperação para a Mudança da Nova Capital, que tinha como objetivo realizar o processo de desapropriação das terras do estado de Goiás. O médico e fazendeiro goiano Altamiro de Moura Pacheco foi o escolhido para representar o estado de Goiás nos atos de aquisição dos imóveis rurais situados dentro da área demarcada para o futuro Distrito Federal, para posterior transferência ao domínio da União (PACHECO, 1975). As terras que constituem o território do Distrito Federal foram desagregadas dos municípios de Luziânia, Formosa e Planaltina. Relatório produzido por Pacheco, presidente da Comissão, relacionou os imóveis abrangidos por Município, no todo ou em parte, pelo Distrito Federal. Em 1958, o levantamento foi consolidado no mapa “Novo Distrito Federal – Planta Índice Cadastral” (Quadro 1, Item 16), obtida pelo lançamento das divisas de todos os imóveis situados dentro do Distrito Federal sobre folha cartográfica, elaborada pelos Eng.º Joffre Mozart Parada e Eng.º Janusz Gerulewicz, na escala de 1:100.000. Os imóveis originários do Município de Luziânia eram em número de 45; os imóveis do Município de Planaltina em número de 38; e os imóveis do Município de Formosa em número de 25. Além de demarcar todos os imóveis, nos limites do atual DF, o mapa assinalou as casas de fazenda em cada um deles, assim como reproduziu toda a rede hídrica do território. As duas únicas cidades existentes à época na área destinada à Nova Capital estão registradas no mapa: Brazlândia e Planaltina. Pela primeira vez, o projeto de Lucio Costa para o Plano Piloto tem seu esboço lançado em mapa sobre as terras da fazenda Bananal, acrescido das penínsulas norte – implantada na fazenda Torto – e sul – implantada nas fazendas Gama, Papuda e Rasgado. A Lagoa Jaburu – hoje parte da residência do Vice-Presidente da República – também é assinalada em terras da fazenda Bananal. Vê-se, ainda, a primeira pista de pouso do DF, localizada na fazenda Tamanduá, na confluência do córrego Tamanduá com o córrego Estiva ou Vargem da Benção. Neste levantamento, imediatamente antes da transferência da Capital, as estradas coloniais, registradas nos mapas dos séculos XVIII e XIX, em especial pela Comissão Cruls, ainda estão, da mesma forma, cruzando o território do atual Distrito Federal. (Figura 27) Página 107 – Novo Distrito Federal (figura 28) Descrição da imagem: mapa mais trabalhado. É possível ver no centro do mapa o desenho do avião, representando o Distrito Federal, assim como o Lago Paranoá. O trajeto sinalizado pela linha vermelha está bem acima do DF. Começa por Formosa, segue para Planaltina, Sobradinho, Contagem, Rodeador, passando por fora de Brazlândia. Há um contorno quadrado na cor verde passando por todo o mapa. 4.2 Novo Distrito Federal O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Atlas do Brasil: geral e regional, de 1960, traz o mapa do Novo Distrito Federal, na escala de 1:125.000 (Quadro 1, Item 17). Tendo como responsável o Eng.º cartógrafo Clovis de Magalhães, este mapa lançou no território praticamente os mesmos imóveis fundiários do mapa Novo Distrito Federal – Planta Índice Cadastral, de 1958 (Quadro 1, Item 16). O mapa assinalou, além dos imóveis fundiários, as casas de fazenda em cada um deles; as cidades; as estradas de ferro e a estação rodoferroviária; as rodovias pavimentadas; as estradas de rodagem; os caminhos; o limite interestadual; os marcos; as curvas de nível e a rede hídrica do território, onde se sobressai, pela primeira vez, o Lago Paranoá, emoldurando o Plano Piloto. Estão assinaladas: as cidades de Brazlândia e Planaltina, a Vila de Taguatinga, na fazenda Taguatinga e o Núcleo Bandeirante, na fazenda Vicente Pires. Na fazenda Bananal, está desenhado o Plano Piloto e, ainda, o cruzeiro da primeira missa de Brasília, o Palácio da Alvorada – no mesmo local onde se encontrava a casa-sede desta fazenda, o Hotel de Turismo – hoje Brasília Palace Hotel – e a Novacap. A Usina Hidrelétrica do Paranoá e a Ermida Dom Bosco estão lançadas na fazenda Paranoá e a Pedra Fundamental na fazenda Sálvia. A fazenda Gama traz marcado o local da Residência Presidencial provisória – Catetinho; o aeroporto comercial no mesmo local onde hoje o conhecemos; as Mansões Suburbanas – atual Park Way; e parte da península sul, que se estende também pelas fazendas Papuda e Rasgado. A península norte se insere na fazenda Torto. É o início da Nova Capital e o território encontra-se todo recortado por caminhos, assinalados no mapa do IBGE. Além das estradas coloniais, já registradas nos mapas dos séculos XVIII e XIX, estão pontilhados os caminhos que fazem a comunicação das fazendas da região entre si. (Figura 28) Página 108 – Quadro com plantas e mapas Descrição da imagem (figura 29): Carta ou plano Geográfico da Capitania de Goiás. Mapa georreferenciado. Descrição da imagem (figura 30): Carta corográfica Planta da Província de Goiás. Mapa georreferenciado. Descrição da imagem (figura 31): Mapa do Brasil mostrando a posição do Distrito Federal demarcado. Mapa georreferenciado. Descrição da imagem (figura 32): Esboço da Zona de 14.400 quilômetros quadrados, demarcada no Planalto Central do Brasil. Mapa georreferenciado. Descrição da imagem (figura 33): mapa dos itinerários levantados, com a indicação da Zona demarcada e da constituição geológica da região explorada. Mapa georreferenciado. Descrição da imagem (figura 34): Planta do Distrito Federal. Mapa georreferenciado. Descrição da imagem (figura 35): Novo Distrito Federal – Planta Índice Cadastral. Mapa georreferenciado. Descrição da imagem (figura 36): Novo Distrito Federal. Mapa georreferenciado. 5. A RECONSTITUIÇÃO DOS CAMINHOS DE OCUPAÇÃO NO TERRITÓRIO Um dos desafios do presente trabalho foi reconstituir do modo mais fidedigno possível o traçado original desses caminhos de ocupação por meio do estudo da cartografia histórica, do período entre 1750 e 1896, cujos percursos foram confrontados com as informações registradas em dois mapas da região produzidos em época imediatamente anterior à inauguração de Brasília – 1958 e 1960. A reconstituição foi realizada em cinco etapas. A primeira consistiu no levantamento e na seleção dos documentos cartográficos a serem estudados. Depois, em uma segunda etapa, os mapas históricos foram convertidos em formato digital e georreferenciados. A digitalização individual em tela das estradas por mapa foi a terceira etapa. A quarta etapa consistiu na sobreposição do percurso das estradas registradas nos mapas históricos a uma imagem do satélite CBERS, para a reconstituição dos itinerários em bases cartográficas atuais, o que resultou em um novo mapa do DF, de 2009. Na quinta e última etapa, este novo mapa foi transformado num modelo tridimensional do território do DF, com a utilização das imagens, da tecnologia SIG e dos dados de topografia digital do SRTM. 5.1 1ª Etapa: levantamento e seleção de documentos cartográficos Entre os 17 mapas estudados, foram selecionados oito mapas, em função da reconstituição do percurso principal – a “Estrada da Bahia” – e da não repetição de informações. Um mapa é do século XVIII, cinco mapas do século XIX e dois são do século XX (Quadro 1, Itens 6, 10, 12, 13, 14, 15, 16 e 17). 5.2 2ª Etapa: georreferenciamento individual dos documentos cartográficos Os mapas selecionados foram digitalizados para levantamento pormenorizado do percurso das estradas assinaladas cartograficamente. O geoprocessamento permitiu a comparação entre mapas históricos e mapas modernos pela sobreposição das imagens, mas, é preciso considerar a dificuldade de alinhar perfeitamente os dois, o que pode gerar erros residuais. Optamos por ilustrar o trabalho tanto com a imagem do mapa original digitalizado, quanto com a imagem modificada, ou seja, georreferenciada com os sistemas de coordenadas modernos. (Figuras de 29 a 36) 5.3 3ª Etapa: digitalização em tela das estradas históricas Este processo envolveu a digitalização por meio de escâner do documento original e o uso desta imagem como pano de fundo em programas de tratamento de feições vetoriais, como, por exemplo, o AutoCAD, um software do tipo CAD (Computer Aided Design). Nos documentos históricos analisados, as antigas estradas eram referenciadas por nomes diversos, tais como Estrada Geral do Sertão, Estrada Real dos Goyazes, Estrada dos Currais, Estrada dos Couros, Estrada da Contagem de São João, Estrada de Cavalleiros, Estrada da Bahia. No trecho em que cruzavam o atual território do DF, elas praticamente se sobrepunham, traçando um percurso principal na sua porção norte, de onde partiam duas picadas que se encontravam em Santa Luzia, ao sul do DF. O processo de reconstituição foi realizado em cima do itinerário principal. (Figuras 12, 18, 22, 24, 25, 26, 27 e 28) Página 109 – Mapa do Distrito Federal com a reconstituição do percurso de oito estradas históricas (figura 37) Descrição da imagem: planta do Distrito Federal sobreposta com imagem de satélite. Fica perceptível oito estradas distintas, sinalizadas por cores diferentes, após passarem pelo DF, chegam ao mesmo destino de Pyrenópolis. Página 110 – Mapa do Distrito Federal com a reconstituição do percurso de oito estradas históricas (figura 38) Descrição da imagem: planta do Distrito Federal sobreposta com imagem de satélite. Fica perceptível oito estradas distintas, sinalizadas por cores diferentes, após passarem pelo DF, chegam ao mesmo destino de Pyrenópolis. Há números escalonados em cada estrada, entre eles 1895, 1896, 1858, 1894, 1893. 1836, 1778, 1960. 5.4 4ª Etapa: sobreposição dos percursos das estradas históricas a uma imagem do satélite CBERS, de 2008 A partir do material organizado, foi construída planta do DF sobreposta com a imagem do CBERS (China Brazil Earth Resource Satellite), do ano de 2008 (INPE, 2009) e das oito estradas históricas. É possível perceber que praticamente todas as estradas, após entrarem no DF a partir de Formosa, atravessam a porção norte do território e descem rumo a Pirenópolis. (Figura 37) Embora muito próximas umas das outras, as estradas não são exatamente coincidentes. É preciso considerar que o uso de mapas distintos, em diferentes escalas, é um problema para análises espaciais, pois existem vários níveis de detalhamento, permitindo que um mesmo objeto sofra abordagens espaciais diversas. Este é um problema a ser considerado nos SIGs, pois mapas de um mesmo lugar com projeções diferentes podem implicar distorções nas formas dos objetos ou na área (LOCH, 2006, p. 82-83). 5.5 5ª Etapa: geração de modelo tridimensional do território do DF com a sobreposição das estradas históricas A criação do modelo tridimensional do território do Distrito Federal com os dados de topografia digital SRTM - Shuttle Radar Topography Mission (2009), sobreposto à imagem de satélite CBERS e às oito estradas históricas, permitiu verificar se a topografia exerceu alguma influência no desenho dessas antigas estradas. Com o modelo tridimensional, percebemos melhor as características da paisagem e o grande movimento do relevo, que podem ter influenciado o direcionamento dos caminhos. Constatamos que a maioria das estradas passava pelas regiões altas, isto é, pelas chapadas, o que coincide com o relato dos viajantes. O relevo sugere que, provavelmente, era mais fácil transitar pelas chapadas do que nas partes mais baixas e mais movimentadas ou irregulares. (Figura 38) 6. AS ESTRADAS HISTÓRICAS NOS LIMITES DO ATUAL DISTRITO FEDERAL A historiografia regional pode recompor diversos aspectos da vida social, política e econômica de comunidades com base em pesquisa no acervo de arquivos e instituições culturais, na cartografia histórica e nos relatos de viajantes. De posse dos dados disponíveis nos documentos cartográficos e nos relatos de cronistas e viajantes, o passo seguinte foi sobrepor e cotejar as informações. Para tanto, a aplicação das técnicas de geoprocessamento tornou possível a visualização georreferenciada da informação histórica e o cruzamento das imagens de satélite, com os mapas coloniais e as descrições das estradas pelos cronistas, dirimiu dúvidas relativas a trechos do traçado original e ajudou no mapeamento das rotas no Planalto Central; além de ter ampliado o entendimento de como se deu a ocupação do território do atual Distrito Federal nesse período. Ao final, comprovou-se incontestavelmente que as estradas históricas cruzavam o território do atual Distrito Federal. Além de coincidir com o relato de cronistas e viajantes, dos séculos XVIII e XIX, que exploraram a região e documentaram suas impressões por meio de diários e relatórios, tal conclusão é corroborada pelas feições morfológicas da região norte do território do DF. As feições morfológicas da região são dadas essencialmente por planaltos medianamente elevados, sulcados por vales fluviais mais ou menos profundos. [...] O aspecto geral é de grandes planuras, cujas altitudes oscilam em torno de 1.000 metros, e por toda parte o observador tem diante de si, como constante obsessão, a dominância das linhas horizontais caracterizando o relevo. Impressão mais forte do relevo tem-se apenas quando se está num vale, limitado por encostas relativamente íngremes, com toda a aparência de serras. [...] Bastará entretanto galgar uma dessas encostas para verificar-se que as partes altas formam amplas superfícies planas, que se continuam por cima dos grandes sulcos abertos pelos rios. (Observe-se, desde já, que o velho hábito de tantos cartógrafos, de supor que os divisores de águas das diversas bacias sejam serras – como se fossem arestas cercando compartimentos fechados – não tem, em absoluto, aplicação no Planalto Central. Aí os divisores são ordinariamente achatados e é sobre eles – os chamados “espigões” – que se desenvolvem as estradas, em longuíssimas extensões). (GUIMARÃES, 2006, p. 72) Ao que tudo indica, era sobre o “Espigão Mestre do Brasil” e os “espigões secundários”, tão bem descritos por Polli Coelho (14) (IBGE, 1948), que se estendiam os caminhos que cruzavam a região. Nesse mesmo sentido, a comparação entre o “Mapa Hidrográfico do Distrito Federal” (Figura 39) e o “Mapa do Distrito Federal com a reconstituição do percurso de oito estradas históricas, do período de 1778 até 1960”, (Figura 40) permite claramente perceber que o desenho natural dos divisores das Regiões Hidrográficas da Bacia Araguaia/Tocantins e da Bacia Paraná é bastante similar ao itinerário das antigas estradas, cujos vestígios, ainda hoje, é possível observar nos chapadões da Área de Proteção Ambiental (APA) do Cafuringa, na Região Administrativa de Sobradinho do Distrito Federal. Página 111 – Djalma Polli Coelho Descrição da imagem: foto do diretor do serviço geográfico do Exército, Djalma Polli Coelho, do ombro para cima. Ele está com uniforme branco, gravata preta e boina com brasão do Exército. Tem o olhar distante, cabelos raspado; está sério. Aparenta meia idade. Página 111 – Mapa das bacias hidrográficas principais do Brasil e divisores gerais das respectivas águas Descrição da imagem: mapa do Brasil, com círculo pontilhado no estado do Goiás, sendo no Distrito Federal há um círculo na cor vermelha. As bacias hidrográficas estão sinalizadas da seguinte forma no mapa: I- Amazônia; II- Mato Grosso do Sul; III- Minas Gerais; IV- Maranhão; V- Ceará. Página 112 – Mapa hidrográfico do Distrito Federal (figura 39) Descrição da imagem: mapa do Distrito Federal na cor rosa claro, com destaque na cor azul para o Lago Paranoá, Rio descoberto e seus afluentes, São Bartolomeu e seus afluentes, Corumbá e seus afluentes e São Marcos. Separado por uma linha grossa e vermelha está Maranhão, com vários afluentes, na cor verde. Ao lado do Distrito Federal, na cor lilás, Rio Preto, com vários afluentes. Página 112 – Mapa do Distrito Federal com a reconstituição do percurso de estradas históricas, do período de 1778 até 1960 (figura 40) Descrição da imagem: planta do Distrito Federal sobreposta com imagem de satélite. Fica perceptível oito estradas distintas, sinalizadas por cores diferentes, após passarem pelo DF, chegam ao mesmo destino de Pyrenópolis. No canto inferior à direita há uma caixa contento os de referências das estradas: 1778, 1836, 1893, 1894, 1895, 1896, 1958, 1960. CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho busca lançar um olhar sobre os caminhos de ocupação no Planalto Central, particularmente nos limites do território do atual DF, por meio da análise e comparação de documentos cartográficos, tendo como recorte temporal o período que compreende do ano de 1750 até 1896, e somando-se à leitura atenta do relato de viajantes que cruzaram a região, nos séculos XVIII e XIX. Os mapas foram, também, confrontados e sobrepostos a outros dois produzidos imediatamente antes da inauguração de Brasília, em1958 e 1960. Para promover a reabilitação das Estradas Coloniais, se faz necessário construir uma base de dados com a cartografia histórica que reúna o maior número possível de referências sobre a região do Planalto Central, nos séculos XVIII e XIX e, por meio de vários cruzamentos de dados possíveis, produzir um instrumento de pesquisa que forneça um acesso organizado e amplo a pesquisadores que se interessem por esse tema. O Planalto Central, nos limites do atual território do DF, também possui um rico material sobre viajantes com infinitas possibilidades de pesquisa, no entanto, não se tem notícia de uma base de dados especializada seja em cartografia histórica ou em viajantes dessa região. O geoprocessamento está possibilitando novo nível de entendimento dos mapas históricos. Antes dessa metodologia, os mapas eram analisados principalmente com base em um olhar crítico e conhecimento a priori. A comparação entre dois ou mais mapas era possível, mas a confiabilidade de suas conclusões estava diretamente ligada à acurácia visual e habilidade de interpretação do leitor. Quando os mapas são convertidos para o meio digital, eles podem ser manipulados e combinados com outros dados espaciais, assim como modelos digitais de elevação (3D). A paisagem tridimensional é reconhecida mais rapidamente e conexões ligando mapas históricos aos mapas de hoje facilitam a comparação visual e o entendimento por parte dos usuários e leitores. Essa nova tecnologia está estimulando um novo interesse pela cartografia histórica. A maior dificuldade encontrada no desenvolvimento da reconstituição foi compatibilizar diferentes mapas, confeccionados em escalas distintas. A ausência de padronização cartográfica criou grande distorção nos elementos, tais como curvatura dos rios ou localização dos sítios. Como exemplo, temos que o “Mappa do Brazil”, de 1893, embora elaborado pela Comissão Cruls, após o seu georreferenciamento, apresentou resultado totalmente desigual em relação aos outros três mapas produzidos pela mesma Comissão. Quando as estradas foram transpostas para a planta do DF, sobreposta a imagem CBERS, a distorção se fez perceber, ainda com maior clareza, porque sua estrada foi a única que ficou fora dos limites do atual DF. Outro fator de distorção foi o processo de digitalização de mapas históricos por meio de escâner, por se tratar de papéis antigos, o que pode deformar a estrutura do mapa. De toda forma, podemos afirmar que as dificuldades não criam impossibilidades, pois, mesmo sem perfeita exatidão, o resultado trouxe confiabilidade, permitindo clara observação e entendimento dos percursos. Esses resultados podem ser refinados, ajustados com o cruzamento das informações disponíveis e, de qualquer modo, já se apresentam como norteadores para pesquisas de campo na procura por remanescentes, pois visualizamos com nitidez o trajeto que as antigas estradas percorriam ao norte do atual DF. A cada dia, trechos dessas antigas vias são transformados para dar lugar a estradas asfaltadas. Matas nativas são substituídas pela monotonia dos eucaliptais e das pastagens e se apagam os últimos vestígios dos caminhos ancestrais, nos limites do atual Distrito Federal. Assim, a pesquisa desenvolvida vem contribuir, principalmente, para a reconstituição e, por conseguinte, reabilitação desses caminhos de ocupação, o que irá possibilitar uma série de ações voltadas para a proteção do seu patrimônio cultural, a sua exploração econômica e a reafirmação da sua importância histórica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADONIAS, Isa. Mapas e Planos manuscritos relativos ao Brasil Colonial (1500-1822). Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, Serviço de Documentação. 2 v, 1960. ALENCASTRE, José Martins Pereira de. Anais da Província de Goiás: 1863. Brasília: Sudeco, Editora Gráfica Ipiranga Ltda.; Governo de Goiás, 1979. ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO (AHU). Projeto Resgate. AHU_CARTm_008, D. 0866. AHU_CARTm_008, D. 0867. AHU_CARTm_008, D. 0877. Disponível em: . Acesso em: 8 dez. 2009. ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL (ArPDF). Documentos da Comissão Cruls. Brasília: Arquivo Público do Distrito Federal. BARBO, Lenora de Castro. A aplicação do geoprocessamento na reabilitação das Estradas Coloniais do Planalto Central nos limites do atual Distrito Federal. Monografia (Especialização em Reabilitação Ambiental, Sustentável, Arquitetônica e Urbanística). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 2009. BARBO, Lenora de Castro. Cartografia Histórica: território, caminhos e povoados em Goiás: 1722-1889. Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 2015. BARBO, Lenora de Castro. Preexistências de Brasília. Reconstruir o território para construir a memória. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 2010. BARBO, Lenora de Castro; RIBEIRO, Rômulo José da Costa. El SIG como estrategia para la reconstitución de la carretera histórica. In: IV Congreso CIETA, 2010, Mérida, España, 2010. BERTRAN, Paulo. História da terra e do homem no Planalto Central: eco-história do Distrito Federal: do indígena ao colonizador. Brasília: Verano, 2000. BERTRAN, Paulo (Org.). Notícia geral da Capitania de Goiás em 1783. Goiânia: Universidade Católica de Goiás: Universidade Federal de Goiás; Brasília: Solo Editores, 1996. t. 1 e 2. BERTRAN, Paulo; FAQUINI, Rui. Cidade de Goiás: Patrimônio da Humanidade: origens. Brasília: Verano; São Paulo: Takano, 2002. BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Coleção Morgado de Mateus. Disponível em: . Acesso em: 22 nov. 2008. BLACK, Jeremy. Mapas e história: construindo imagens do passado. Trad. Cleide Rapucci. Bauru, SP: Edusc, 2005. BRANDÃO, Antonio José da Costa. Almanach da Província de Goyaz: para o anno de 1886. Goiânia: Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1978. CÂMARA, Gilberto; DAVIS, Clodoveu; MONTEIRO, Antônio Miguel Vieira (Orgs.). Introdução à Ciência da Geoinformação. Capítulo 7. Disponível em: . Acesso em: 9 set. 2009. COLOMBINA, Tosi. Ilmo. E Exmo. Snh. Conde dos Arcos Dom Marcos de Noronha do Conselho de S. Mag. Governador e Capitan General de Goyaz: 1751. In: ARQUIVO HISTÓRICO ESTADUAL. Revista do Arquivo Histórico Estadual, n. 3. Goiânia: Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco); Secretaria da Educação e Cultura do Estado de Goiás, dezembro, 1981.p. 160-162. COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL (CAESB). Mapa Hidrográfico do Distrito Federal. Brasília, 2006. 1 mapa, color. Escala 1:120.000. COSTA, Antonio Gilberto (Org.). Roteiro prático de cartografia: da América Portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. Página 116 – Arquivo histórico do Exército. Carta da província de Goiás (1) Descrição da imagem: em folha aquarelada, mapa comprido, contendo centenas de afluentes de rios e alguns borrões mais escuros no decorrer de algumas linhas. Contornando o mapa, as sinalizações (da direita para a esquerda): Prova do Maranhão, Prova do Piauhy, Prova da Bahia, Província de Minas Gerais, Província de São Paulo, Província de Mato Gross, Província do Pará. Ao lado esquerdo do mapa, o texto: Carta da Província de Goyaz. Organizada em 1874 por ordem do Ministério da Agricultura Commercio e Obras Públicas pelo capitão d’engenheiros JOAQUIM R. DE M. JARDIM. Conforme as melhores cartas existentes e observações próprias. Reduzida e gravada por C. Lomelino de Carvalho. Rio de Janeiro. 1875. Ao lado direito do mapa, o texto: Quadro Estatístico das povoações da província. 16 Comarcas. Página 117 – Planta de uma estrada de rodagem de Goiás ao Coxim (2) Descrição da imagem: planta de uma estrada comprida. Ao redor da estrada, trechos do mapa, que não são completamente desenhados para dar destaque apenas ao caminho projetado. Página 118 – Carta ou plano geográfico da Capitania de Goiás – “Mapa dos Julgados” (3) Descrição da imagem: carta contendo a construção cartográfica da Capitania de Goyaz, com elementos da paisagem, relevo, bacias hidrográficas, estradas que ligavam Goiás a Minas, a Cuiabá e a Salvador. Ao lado direito do mapa, na parte superior, o texto: “Carta ou Plano Geográfico da Capitania de Goyas uma das do centro da America Meredional pertencente ao Reino de Portugal que se tirou por ordem do Ill.mo e Ex.mo S.r JOZE DE ALMEIDA DE VASCONSELOS DE SOVERAL E CARVALHO. Governador e Capp.m Gn.al da dita Capitania do dia 26 de julho de 77. the de Mayo de 78. Por Thomas de Souza Sargento Mor do Regimento da Cavalaria Auciliar da mesma Capitania, sendo quaze toda vista por sua Ex.a a quem o autor acompanhou em todo o tempo do seu governo”. Ao lado esquerdo do mapa, na parte superior, o texto: “Adevertencias: Esta Capitania he de marcada da Barra do Rio Pardo, por ele asima té as suas cabeçeiras, buscamçe as do Araguay por ele abaxo té fazer Barra no Tocantins pello Tocantins asima té a Barra do Rio Manoel Alves: buscaçe a ponta da Serra Cordilheira e segueçe pello cume della athe a Serra de Lourenço Castanho. Arrependidos, Escuro, Serra da Canastra, Marçelha, até a Barra do Sapucay, pello Rio Grande abaxo the onde nelle faz barra od.o Rio Pardo, o que tudo vay notado. As arrayas que são Freguezias se notaõ [circulo vermelho com cruz em cima]. As Aldeyas [circulo vermelho]. As Estradas vão de pontinhos emcarnados”. Página 119 – Carta ou plano geográfico da Capitania de Goiás – “Mapa dos Julgados” (4) Descrição da imagem: carta contendo a Capitania de Goyaz, com destaque para as estradas e afluentes dos rios, estradas que ligavam Goiás a Minas, a Cuiabá e a Salvador. Ao redor do mapa (da direita para a esquerda) as sinalizações das capitanias do Pará, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Cuyabá. Dentro do mapa (de cima para baixo), as sinalizações do Julgado de Natividade, Conceição, Crixa, São Felix, Arraias, Pillar, Santa Luzia, Villa Boa, Meia Ponte, Santa Cruz. Página 120 – Carta da Capitania de Goiás – “Mapa dos Julgados” (5) Descrição da imagem: carta contendo a construção cartográfica da Capitania de Goyaz, com elementos da paisagem, relevo, bacias hidrográficas, estradas que ligavam Goiás a Minas, a Cuiabá e a Salvador. Não é possível identificar os nomes descritos no mapa devido à grafia e também pela fonte ser bastante clara. Página 121 – Carta Corográfica Plana da Província de Goiás e dos Julgados de Araxá e Desemboque da Província de Minas Gerais (6) Descrição da imagem: em folha aquarelada, mapa comprido, contendo centenas de afluentes de rios e alguns borrões mais escuros no decorrer de algumas linhas. Contornando o mapa, as sinalizações (da direita para a esquerda): Província do Maranhão, Província do Piauhy, Província da Bahia, Província de Minas Gerais, Província de São Paulo, Província de Mato Gross, Província do Pará. No canto superior à direita, o texto: “Carta Corográfica Plana da Província de Goyaz e dos Julgados de Araxá e Desemboque da Província de Minas Gerais, organizado pelo Brigadeiro Raimundo Jozé da Cunha Mattos, Governador das Armas de Goyaz, para acompanhar os seus Itinerários escritos em 1826 e publicados no ano de 1836. N.B As marchas do General Cunha Mattos vão marcadas em linha unida. As outras Estradas vão em linha ponteada. Escala de 18 léguas em um grão”. Página 122 – Mapa do Estado de Goiás (7) Descrição da imagem: no centro do mapa é possível identificar o quadrilátero do Distrito Federal, sendo que ao redor está o estado do Goiás. É possível identificar os elementos da paisagem, relevo, bacias hidrográficas e muitas estradas. Contornando o mapa, as sinalizações (da direita para a esquerda): Província do Maranhão, Província do Piauhy, Província da Bahia, Província de Minas Gerais, Província de São Paulo, Província de Mato Gross, Província do Pará. No canto superior à esquerda, o texto: Mappa do Estado de Goyaz. Organizado em 1918 (1° Centenário de Goyaz-cidade) por FR. REGINALDO TOURNIER MISSIONARIO DOMINICANO. Sócio Correspondente do Instituto Histórico-Geográfico do Rio de Janeiro. No canto inferior à direita duas caixas com textos, mas não é possível identificar o conteúdo textual por estar ilegível. Página 123 – Capitania de Goiazes (8) Descrição da imagem: recorte do mapa com parte da Capitania de Goyaz. No lado superior à esquerda, desenho de um círculo dividido em quatro cores, sendo duas partes na cor verde claro e as outras duas na cor vermelho claro. É possível visualizar no centro mapa uma grande demarcação com a linha vermelha clara, sinalizando a capitania. No lado superior à direita há diversos relevos. Página 124 – Roteiro Figurado da viagem entre o lago vermelho, ponta da piteira no Rio Tocantins (9) Descrição da imagem: trajeto do percurso, estreito e comprido, com leves contornos. No decorrer do trajeto há sinalização de nomes, mas não é possível identificar pelo tamanho (muito pequeno) e grafia. Na parte inferior do mapa, o texto: “Roteiro figurado da viagem entre o Lago Vermelho Ponta do Piteira no rio Tocantins, feito 1864 pelo Capitão Tenente Reformado Francisco Parahybuna dos Reis, por ordem do Exm.o Senr. D.or José Vieira Couto de Magalhães Presidente da Província do Pará, e copiada por Costantino Pedro Chaves da Motta. Dezenhista da Repartição de Obras Públicas”. Página 125 – Esquema de linhas telegráficas do estado de Goiás (10) Descrição da imagem: em olha aquarelada, linha pontilhada passa pela Capitania de Goiás. Apesar do mapa não estar visível, a linha segue o movimento dos contornos da Capitania de Goiás até Minas Gerais. O trajeto está sendo seguido por uma bolinha vermelha, seguindo a sequência: Natividade, Conceição, Arrayas, Morro do Chapéu, Cavalcante, São José de Tocantins, Agua Doce, Jaraguá, Pyrenopolis, Corumbá, Curralinho, Itapyrapuam, Floriano, Araguaia, Anicuns, Allemão, ATolador, Morrinhos, Monte Alegre, Uberabinha, Araguary, Estrela do Sul, Monte Carmello, Abadia, Patrocínio, Uberaba. Página 126 – Projeto da estrada de ferro do rio Paranahyba ao rio Araguaya, passando pela capital da província de Goiás (11) Descrição da imagem: trecho do mapa iniciando em Mato Grosso, passando por Goiás e finalizando em Minas Gerais. Neste trajeto é possível visualizar uma linha mais escura passando entre os três estados, sinalizando a estrada de ferro. Ao lado desse caminho, muitos afluentes de rios. Na parte superior à esquerda, o texto: “Projeto da Estrada de Ferro do Rio Paranahyba ao Rio Araguaya passando pela capital da provincia de Goyas 1889. Escala = 1:1.600.000. Joaquim M. R. Lisboa”. Logo mais abaixo o texto informativo: “Alturas Barometricas de vários pontos da província de Goyas. Acima do nível do mar. Especificações/Metros: Allemão/600; Anicuns/700; Antas/900; Barra/450; Bela Vista/800; Caldas novas/750; Campinhas/750; Catalão/820; Curralinho/750; Divisa d’aguas, garganta/950; a/1050; Entre Rios/750; Goyas (capital)/550; Jurupensem/350; Morrinhos/800; Ouro Fino/780; Pouso Alto/800; Rio Paranahyba/520; Ser Bom Jesus da Floresta/650; S.ta Liopoldina/280; S.ta Cruz/750. Página 127 – Mapa de todo o Campo Grande, Cabeceiras do Rio São Francisco e Goiazes (12) Descrição da imagem: o mapa traz a bacia hidrográfica e centenas de afluentes. Ao redor, relevo, vegetação e estradas. No canto superior à esquerda: “Mapa de todo o Campo grande, tanto da parte da conquista que parte com a campanha do Rio Verde e S. Paulo como de Piuhy Cabeceiras do Rio de S. Francisco e Goyazes”. Página 128 – Rio Tocantins e Araguaya (13) Descrição da imagem: mapa com destaque para os rios e seus afluentes, marcados com linha mais grossa, do começo ao término do mapa. Há também nove manchas mais escuras sinalizando os lugares povoados; elas estão espalhadas e, normalmente ao lado do rio. NO canto inferior à esquerda, o texto: “Rios Tocantins e Araguaya. Configurados comforme as Cartas que existem na Secretaria do governo mandados dezenhar pelo Ill.mo e Ex.mo Senhor Fernando Delgado Freire de Castilho Goverdor e Cap.m G.al da Capitania de Goyas no anno de 1813”. Página 129 – Mapa do Rio Tocantins (14) Descrição da imagem: o mapa começa com o Mar Oceano e, logo abaixo, uma ilha, sendo que na sequência inicia o rio, com quatro afluentes. Em seguida, no percurso principal do rio, estreito e comprido, próximo ao centro, ocorre uma bifurcação, ocasionando sua divisão. De um lado da divisão, nenhum afluente e do outro, dezenas de afluentes. No canto inferior à esquerda do mapa, o texto: “Mapa do Rio Tocantins, que o Ill.mo e Ex.mo Snr. Joze de Almeida de Vasconcellos de Sobral e Carvalho Governador e Cap.m General da Capitania de Goyas, mandou navegar do Porto do Arrayal do Pontal, onde o d.o Snr. se achava em 7 de Agosto de 1773, athe á Cid.e de S. Maria de Belem do Gram Para por Antonio Luis Tavares que com as instruções que S.Ex.a lhe deu, o carteou na forma que mostra este Mappa; asertado com o Roteiro q. o mesmo Antonio Luis entregou a S.Ex.a quando daquella Cid.e chegou a esta Capital, Villa Boa, e por elle se ve, que do d.o Porto á sobredita Cidade, são na melhor estimação 231 Legoas e ¾”. Página 130 – Mapa da demarcação diamantina, acrescentado até o Rio Pardo (15) Descrição da imagem: mapa aquarelado, contendo um rio principal, que se divide, formando diversos afluentes. Ao redor do rio e seus afluentes, muitos relevos. Página 131 – Estado de Goiás (16) Descrição da imagem: mapa detalhado, iniciando no estado do Maranhão, passando pelo Pará, Bahia, Mato Grosso Goiás e terminando em Minas Gerais. As capitais e nome de algumas cidades estão destacados no mapa. Há três caminhos na cor vermelha, sendo que a mais escura sinaliza as linhas em trafego, as pontilhadas são as linhas em trafego de construção e as mais claras as linhas estudadas ou em estudos. Página 132 – Planta do Rio Tocantins entre a cidade de Carolina e São João do Araguaya (17) Descrição da imagem: trajeto do percurso, estreito e comprido, de um lado o Estado do Maranhão e do outro Goiás. Começa numa linha reta e vira para baixo, seguindo sempre. No decorrer do trajeto há sinalização de nomes, mas não é possível identificar pelo tamanho (muito pequeno) e grafia. No início do mapa, o texto: “Planta do Rio Tocantins entre A CID: de CAROLINA e SÃO JOÃO do ARAGUAYA MARANHÃO e GOYAZ”. Página 133 – Carta da região limítrofe Goiás – Mato Grosso (18) Descrição da imagem: mapa com os estados de Mato Grosso e Goiás juntos, não havendo limites para a divisão. As cidades estão próximas e aglomeradas, a ponto de dificultar o entendimento. Entre os estados passam muitos rios que são sinalizados por linhas mais escuras, assim como seus afluentes. Na parte superior do mapa, o texto: “Carta da Região Limítrofe. GOYAZ – MATTO GROSSO. Executada para acompanhar a memória apresentada aos delegados do Estado de Goiás pela delegação do Estado de Mato Grosso ao 6° Congresso Brasileiro de Geografia. Organizada e Desenhada na COMMISSÃO RONDON com elementos da Carta Geográfica do Estado de Mato Grosso a cargo da mesma Comissão. Escala: 1:1.500.000. Projeção Sinusoidal de Sanson – Longitudes a W do Rio de Janeiro sendo Meridiano Central da Carta o de 10°. 1919”. Página 134 – Planta da cidade de Goiás (19) Descrição da imagem: planta das ruas da cidade de Goiás. Bem organizada, com ruas retas e setores, é possível identificar a catedral, Palácio do Governo, tesouraria geral, igrejas, quartel, chafariz, cadeia, cemitério, Palácio do Bispo, matadouro, enfermaria, mercado, hospital, teatro, fábrica, chácara. Página 135 – Mapa geral dos limites da Capitania de Goiás (20) Descrição da imagem: mapa aquarelado e com bastante borrões escuros. É possível identificar rios, afluentes, vegetação e relevo pelos desenhos. O mapa é simples, não traz a identificação de nomes. Página 136 – Mapa geral dos limites da Capitania de Goiás (21) Descrição da imagem: mapa da Capitania de Goiás, com rios e afluentes, marcada por uma linha amarela, circulando todo o território. É possível identificar os relevos, vegetação e alguns nomes, como: Sertão do Gentio – Acruá e Xavante; Ilha do Gentio – Corumaré e Campos da Vacária. Página 152 – Os índios na cartografia histórica de Goiás – Rodrigo Martins dos Santos Descrição da imagem: índio com arco e flecha. Ele usa cocar grande e laranja e aponta a flecha para frente. O presente artigo procura analisar a etnonímia presente na cartografia histórica de Goiás elaborada nos séculos XVIII, XIX e princípio do XX. Inicio apresentando, de forma resumida, o papel da cartografia histórica para os estudos da etnonímia. Em seguida, sigo para a análise de cartas catalogadas no presente GUIA e que apresentam alguma informação que concluí como relevante para o entendimento da localização dos povos ameríndios no momento da invasão, colonização e exploração do território pelos Luso-Brasileiros. As últimas das cartas que analiso não são históricas, mas elaboradas por mim, com base em documentos cartográficos e etnográficos. Por fim, nas conclusões, teço uma comparação entre as informações contidas em cartas históricas e nos mapas etnográficos e o que considero de relevante na cartografia histórica para o entendimento da localização de povos indígenas em Goiás, deixando sugestões para novas pesquisas. Aproveito para agradecer a equipe do Arquivo Público do Distrito Federal, em especial a Elias Manoel da Silva, pelo convite para me integrar neste GUIA; à Cristiane de Assis Portela, por ter apresentado minha pesquisa indigenista ao Arquivo e a todos os outros servidores que contribuem para a guarda da memória territorial da capital federal. O papel da cartografia histórica para estudos de etnonímia A aplicação da cartografia à história é chamada de cartografia histórica. Fundada pelo geógrafo flamengo Abraham Ortelius (1527–1598) vai florescer, principalmente, na segunda metade do século XIX, devido ao seu emprego à etnografia (RATZEL, 1990, p. 48). É dessa época o primeiro mapa etnográfico dos povos indígenas no Brasil, de Carl von Martius (1867a), que apresentou, inclusive, uma hipótese de rota de migração dos povos Tupi, além de ter espacialisado uma hipótese de distribuição das famílias linguísticas por ele agrupadas, diga-se de passagem, também pela primeira vez na história científica. Vale destacar que, antes desse mapa, outros produtos cartográficos localizaram etnias indígenas no território brasileiro, porém não como objetivo principal. Após ele, os mapas etnográficos que merecem destaque são: o de Curt Nimuendaju (2002 [1944]) e o do tcheco Cestmír Loukotka (1967), obras-primas da cartografia etnográfica. O memorável Handbook of South American Indians também apresentou alguns mapas etnográficos como o de Nimuendaju (1946) e o de Steward e Mason (1950), mas com nenhuma informação além das constantes nos outros mapas já citados. Vale destacar, ainda, o Mapa das Áreas Culturais Indígenas do Brasil de Eduardo Galvão, elaborado no final da década de 1950. Mais recentemente, algumas instituições indigenistas como o Instituto Socioambiental (ISA) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) elaboram e disponibilizam gratuitamente mapas com temática etnográfica. Entrementes, restringem-se a elaborar mapas com as terras indígenas, ausentando-se dados que demonstrem os territórios étnicos no tempo. Em minha defesa de mestrado (Cf. SANTOS, 2013), procurei compilar todas as informações que apresentassem a localização de povos ou aldeias na região do Brasil Central, o que inclui o antigo território da Capitania de Goiás e do atual Distrito Federal. Nele, além dos mapas históricos e etnográficos já citados aqui, utilizei relatos de viajantes, etnografias e as descrições da historiografia local de cada um dos municípios existentes na região. Os resultados desta pesquisa foram publicados pelo Institute Of Cartography and Geoinformation of Switzerland (Cf. SANTOS, 2017). Os mapas são “representações e interpretações gráficas do mundo real, que se firmam como ferramentas eficazes de leitura do território” (ANJOS, 2009, p. 8). É uma ponte entre o nível de observação da realidade e a síntese. Mas é justamente por ser sintético que não pode ser visto como a representação fiel da realidade, mas uma faceta destacando as marcas no espaço. Aliás, por ser uma criação humana, está arraigada de ideologia e, como tal, pode exprimir uma realidade distorcida (ibid, p. 183). Aqui, no presente artigo, faço um destaque para as informações encontradas em cartografia histórica elaborada nos séculos XVIII, XIX e início do XX a respeito da localização de tribos indígenas no território abrangido pela antiga Capitania de Goiás. Esse material cartográfico está arquivado em museus, bibliotecas e arquivos públicos do Brasil e de Portugal, dos quais destaco as seguintes instituições: - Biblioteca Pública de Évora, Évora, Portugal; - Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, Portugal; - Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro, Brasil; - Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Brasil; - Arquivo Histórico do Exército Brasileiro, Rio de Janeiro, Brasil; - Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, Portugal; e - Mapoteca da Diretoria de Infraestrutura e Engenharia do Exército Português, Lisboa, Portugal. Vale ressaltar, como já foi dito, que, por se tratar de documentos elaborados pelos invasores Luso-Brasileiros, deve ser observado com as devidas precauções, com “olhar técnico, mas crítico e político do pesquisador” (ANJOS, 2013). Os primeiros mapas que avalio neste artigo foram manuscritos no século XVIII. Nesse momento, a metrópole portuguesa detinha grande interesse em mapear as ocupações dos sertões e litoral da Colônia na América. Este projeto tomou corpo após a chegada, em 1729, de: [...] dois padres matemáticos [e astrônomos], os jesuítas Diogo Soares [1684-1748] e Domingos Capacci [1694-1736] [...]. Queriam-se mapas graduados pela latitude e Longitude, assinalando as cidades, vilas, lugares e povoações dos Portugueses e dos Índios, e as catas de ouro. Os cartógrafos deviam apresentar os limites que tem cada um dos governos entre si, com Bispados ou comarcas dos Ouvidores Gerais, tomando para isso notícia da gente prática da terra [...]. [Apontando] os caminhos e estradas que há pelos sertões. (DAVEAU, 1997, p. 32) Esses padres matemáticos levaram à Colônia o que havia de maior avanço na arte e ciência cartográfica. Elaboraram diversos mapas do Brasil, em especial da região minerária, levantando coordenadas das lavras e mapeando os caminhos que levavam aos portos. Diogo Soares veio a falecer em 1748 quando estava a mapear a Capitania de Goiás. Nessa capitania, os primeiros mapas oficiais serão elaborados no governo de Marcos José de Noronha e Brito (1712–1768), seu primeiro governador (1749–1755), e são chamados, aqui, de padrão Ângelo dos Santos Cardoso, devido ao papel central que esse servidor da Coroa, nomeado Secretário de Governo da capitania, deteve na elaboração desses primeiros mapas, como veremos a seguir. A importância desses mapas históricos para a etnonímia será, portanto, a de indicar o que pensavam os governos em relação aos indígenas e quais eram os povos que os servidores da Coroa pretendiam localizar ou omitir em sua cartografia oficial. Mapas do padrão Ângelo dos Santos Cardoso (ca. 1749–1755) O padrão Ângelo dos Santos Cardoso refere-se aos primeiros mapas oficiais da Capitania de Goiás, elaborados, pelo menos, entre 1749 e 1755. Inclui-se neste padrão o suposto primeiro mapa de Goiás (Cf. neste GUIA p. 42) e os mapas da Capitania de Goiás elaborados pelo geógrafo Francisco Tosi Colombina, como o “Mapa Geral dos Limites da Capitania de Goiás” (Cf. neste GUIA p. 135-136), dentre outros. O mapa desse padrão considerado o primeiro por Vieira Jr., Schlee e Barbo (2010) está arquivado na Mapoteca do Itamaraty (Cf. artigo de Wilson Carlos Jardim Vieira Jr. neste GUIA p. 32-41; e o mapa da p. 42). Segundo os referidos autores, esse mapa foi concluído entre o segundo trimestre de 1749 (chegada de Ângelo dos Santos Cardoso a Goiás juntamente com uma comitiva do então governador Antônio Gomes Freire de Andrade) e 12 de maio de 1750 (data em que, supostamente, o mapa tenha sido enviado ao diplomata Alexandre de Gusmão). Esses autores identificam esse mapa como: [...] o prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até aquele tempo, e o menos distante da verdade da destrebuição desta Comarca, e seos Arrayaes, mostrando o caminho, que vem da Vila de Santos, a esta Capital, e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da madeira, té o das Amazonas que à força de deligência alcancey de hum sugeito capacisimo, na materia de fazer Mapas, que pesoalmente viagou quazi toda a imensa extensaõ dos referidos caminhos, e de propozito lavrou a meos rogos o que remetí(relatório de Ângelo dos Santos Cardoso em 1755, Arquivo Histórico Ultramarino, D. 740, fl. 2, apud VIEIRA JÚNIOR.; SCHLEE e BARBO, 2010, grifo meu). Todos os mapas do padrão Ângelo dos Santos Cardoso apresentam diversas características similares, como na localização de territórios indígenas, grafados como “certão” ou “sertão” do “gentio”. Os povos indígenas presentes em todos os mapas desse padrão são os Cayapó, no sul da capitania; os Akroá, no nordeste; os Xavante, no noroeste; e os Curumaré, na atual Ilha do Bananal. Os mapas, desse padrão, que abrangem o entorno de Goiás (Cf. neste GUIA p. 75-78,135-136) indicam o território ou “certão” de povos indígenas localizados além dos limites da capitania. No lado sudoeste, já em terras do Mato Grosso, são assinalados os Aicurú, Payaguá e Aricá. O “Mapa da Derrota das Canoas” (Cf. neste GUIA p. 43) localiza ainda territórios, aldeamentos e missões indígenas (Cf. box em destaque) da região do Rio da Prata (bacias dos rios Paraguay, Paraná e Uruguay). Por outro lado, o “Mapa do Interior do Brasil...” (Cf. neste GUIA p. 227) apresenta, com exclusividade, o “certão do gentio bárbaro o qual vive de lavoura e hé mui valente nem... umqua houve, quem o conquistaçe...” na região entre os rios Tocantins e Xingu, já no Grão-Pará. O aldeamento goiano presente em todos os mapas desse padrão é o “Arrayal dos Bororos governados p.lo Cor.el An.to Pires de Campos”, localizado em um afluente do rio Paranayba, ao norte do Pissarrão, no atual Triângulo Mineiro, conforme recorte na figura 1. Apesar de não estar identificado o nome do rio onde se situava esse arraial, é bem provável que seja o Rio das Pedras. Nos mapas desse padrão que não apresentam o entorno da capitania esse aldeamento é indicado apenas como um “Cítio”. Também há referência nas cartas mais abrangentes à “missão dos P.P. da Comp.ª”, entre o rio das Velhas e o rio Furnas, na mesma região do recorte da figura 1, o que sem dúvida é a missão de Sant’Anna dos padres da Companhia de Jesus. O mapa até então considerado o mais antigo desse padrão enumera-o como 47. Página 155 – Detalhe do “primeiro” mapa da Capitania de Goiás (figura 1) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o rio Paranayba e seus afluentes. Em três afluentes estão três retângulos com linhas vermelhas, sinalizando o atual triângulo mineiro. Página 156 – Planta do aldeamento de Pissarão, guardada no Arquivo Histórico Ultramariano (figura 2) Descrição da imagem: planta destacando a rosa dos ventos com flor-de-lis no término da página, com traços saindo de todas as suas pontas. Ao redor da página, traçado grosso marrom, dando-se a ideia de estrada. No centro, pouco acima da rosa dos ventos, um retângulo comprido na horizontal, com várias divisões dentro. Em cada quina do retângulo comprido, dois retângulos na vertical, sendo que um fica de frente para o outro. No centro, um círculo com, aproximadamente ¾ pintado na cor preta e ¼ sem pintar. Acima do círculo, desenho de um quadrado com uma cruz, dando a entender que é uma igreja. No “Mapa do Interior do Brasil...” (Cf. neste GUIA p. 227), há referência a três missões nessa localidade que foram enumeradas na legenda como 46, 47 e 48, porém não desenhadas no mapa. O “Mapa da Derrota das Canoas” (Cf. neste GUIA p. 43), por sua vez, legenda essa missão com o número 45, enquanto que o “Mapa Geral dos Limites da Capitania de Goiás” de Tosi Colombina (Cf. neste GUIA p. 136) apresenta-a com o número 16 em sua legenda. Apenas este mapa de Tosi Colombina colocou essa missão em sua legenda juntamente com o arraial dos Boróros, que aparece em seguida com o número 17, ordenando-a de acordo com a proximidade geográfica das localidades. Nos outros três mapas analisados, a missão vai aparecer no fim da legenda, como se sua inclusão tivesse ocorrido na conclusão da elaboração do mapa, tendo em vista que deve ter sido uma informação inicialmente ausente, mas que fora reconhecida pelo cartógrafo já no final da elaboração da legenda. Em relação ao arraial dos Boróros e à missão jesuíta da figura 2, destaco o que Auguste de Saint-Hilaire (1937 [1847]) relatou sobre essa porção do território brasileiro – visitado por ele em 1819. Esse naturalista coloca que há “quatro aldeias d’As Pedras, Estiva, Boa Vista e Santa Ana [em funcionamento]” (p. 172); e outras duas, Pissarrão (p. 259) e Lanhoso (p. 289), em estado de abandono. Saint-Hilaire, por diversas vezes em seus relatos, identifica a região, conhecida à época de “Sertão da Farinha Podre”, como “território dos índios” (p. 291) ou “território privilegiado dos índios” (p. 299), pois abrigou diversos aldeamentos: A zona que ia atravessar antes de entrar na província de S. Paulo, e que se acha compreendida entre o Rio Paranaíba e o Rio Grande, [...] constitui um distrito privilegiado [... concedido...] aos descendentes de várias tribos indígenas e compreende terras muito férteis (p. 245, grifo meu). Os aldeamentos de Rio das Pedras, Pissarrão, Lanhoso, Estiva e Boa Vista, foram criados a partir de 1738 (NIMUENDAJU, 2002 [1944]) ou 1741 (SAINT-HILLAIRE, 1937 [1847], p. 248), porém não simultaneamente. O primeiro é o mais antigo e foi implantado junto ao rio homônimo pelo bandeirante Antônio Pires de Campos (LEME, 1904, p. 171), que trouxe índios Boróros e Parecis do Mato Grosso para repelir os Cayapós que impediam o trânsito entre São Paulo e Vila Boa. Pissarrão e Lanhoso vieram logo em seguida (RAVAGNANI, 1987, p. 119), criados a partir de descendentes dos índios já reduzidos ou com a chegada de novos, inclusive de negros. Esses presídios, que no entendimento de Ravagnani (op. cit., p. 120) foram quartéis-aldeamentos, serviram, também, para o abastecimento e pouso das caravanas. Estiva e Boa Vista, por sua vez, são os mais recentes. Foram erigidos por volta de 1788 (ibid., p. 136-138). A figura 2 apresenta a planta do aldeamento do Pissarrão e está arquivada no Arquivo Histórico Ultramarino. Em relação ao aldeamento de Sant’Ana, Casal (1817, p. 161) informa que foi implantado em 1741 pelos padres jesuítas para catequizar índios Bororós. Saint-Hilaire (1937 [1847], p. 274), entretanto, indica que foi inicialmente formado com índios advindos do litoral e, poucos anos depois, esse presídio recebeu Karajás e Tapirapés do Araguaia. O aldeamento de Lanhoso, por sua vez, é apontado por Casal (1817) como sendo fundado por índios removidos de Sant’Ana em 1775 quando este recebeu os Xakriabás aprisionados “nas margens do Rio Preto, onde habitavam (em terras [à época] de Pernambuco)” (p. 161), que será melhor abordado no item que trato dos mapas do padrão Tomás de Souza. Os mapas mais abrangentes do padrão Ângelo dos Santos Cardoso não fazem referência à missão de São Francisco Xavier na região do Douro, às margens do ribeirão Formiga, no nordeste da capitania. Essa missão era formada por dois aldeamentos: o primeiro, erigido em 1750, com o nome de São Francisco Xavier do Duro e o outro, em 1751, chamado de São José do Duro, para abrigar índios Xakriabá e Akroá respectivamente (RAVAGNANI, 1987, p. 120). Por terem sido erigidos entre 1750 e 1751, esses aldeamentos apenas irão constar nos mapas desse padrão posteriores a esta data, como os que abrangem exclusivamente a Capitania de Goiás e não o seu entorno (Cf. neste GUIA p. 57 e 58), provavelmente elaborados em 1753 pelo próprio Ângelo Cardoso (VIEIRA JÚNIOR; SCHLEE e BARBO, 2010), atualmente guardados no Arquivo Histórico Ultramarino. Estes dois mapas sinalizam que o arrayal do Duro é “onde está cituada a Aldeya do gentio”. Página 157 – Igreja do povoado de Missão, no município de Dianópois/TO (figura 3) Descrição da imagem: foto de igreja com duas portas na frente, sendo que entre elas há um sino, na parte de cima. Na lateral da igreja, duas janelas e outra porta. Na outra lateral, uma área coberta. À frente, uma cruz quase na altura da igreja. Atrás e nas laterais da igreja, árvores pequenas e grandes. Página 158 – Antigos túmulos abandonados a 10km do povoado de Missão (figura 4) Descrição da imagem: foto de duas construções feitas de tijolos pequenos e pedras. Na frente o desenho retangular remetendo a uma igreja. No primeiro túmulo, há um espaço retangular na vertical, usado para colocar vela. Na segunda construção, dois espaços com a mesma finalidade. Atrás eles são compridos e mais baixos que a frente. Estão abandonados, com pedras rachadas, tijolos caídos, cimento colocado para não cair a parte da frente. AO redor dos túmulos, árvores. Tive a oportunidade de visitar a região destes aldeamentos em 14 de outubro de 2012. Um deles, às margens do ribeirão Formiga, atualmente é um povoado denominado Missão. Situa-se nas coordenadas 7º11’46” S e 48º12’51” O. Presentemente possui poucos moradores, mas é visitado anualmente pelos antigos no festejo do “roubo” da imagem de São José, que será apresentado mais à frente. A antiga igreja desmoronou e foi erigida outra, a alguns metros da primeira. (Figura 3) Na visita, encontrei ainda algumas ruínas (Figura 4) a cerca de dez quilômetros do povoado de Missão, o equivalente a duas léguas, distância entre os dois antigos aldeamentos conforme Chaim (1983 [1974], p. 115). Estas ruínas podem ser de um dos antigos aldeamentos e estão nas coordenadas 7º13’3” S e 48º12’26” O. É possível que outros povos indígenas tenham sido aprisionados nesses aldeamentos do Duro e Formiga, como os Assú, Naudez e Guegué (IBGE, 2012; 2013b; R. SANTOS, 2013, p. 305). Vale informar que os aldeamentos representados nas cartas do padrão Ângelo dos Santos Cardoso são considerados por Ravagnani (1987) como pertencentes à “primeira fase da história dos aldeamentos em Goiás [1741-1751]” (p. 120). Três desses aldeamentos foi considerado pelo autor como quartéis-aldeamentos, tendo em vista o caráter militar de sua implantação, são eles Das Pedras, Pissarrão e Lanhoso. Outros três como aldeamentos missionários: Sant’Ana, Formiga e Duro; erigidos no tempo em que os jesuítas ainda tinham permissão de estabelecer missões. Coincidentemente também será o “período de apogeu do ciclo do ouro [em Goiás]” (p. 121). A partir de 1755, quando o Diretório dos Índios passa a vigorar, os aldeamentos de Goiás entram em colapso, mas também inicia-se a decadência da economia aurífera. Apenas em 1774 o projeto de aldeamentos será retomado, será a segunda fase (ibid.). O mapa a seguir foi elaborado nesse interstício. Mapa dos Bispados (ca. 1750-1775) O mapa da página 226 deste GUIA foi elaborado, provavelmente, entre 1750 e 1775 (MAGALHÃES; GARCIA e FLORES, 1997, p. 55). Está intitulado apenas como Capitaniá de Goiás, de autor desconhecido, e traz como motivo principal a extensão dominial dos bispados da Igreja Católica sobre o território daquela capitania e regiões adjacentes. Por isso, é alcunhado de “Mapa dos Bispados”. Essa carta é um dos mais bonitos mapas coloniais manuscritos que pude presenciar até hoje. Ela apresenta detalhes da paisagem como as formações fitogeográficas, alguns acidentes geográficos, vilas, com um imenso senso de detalhe. É um mapa-pintura, uma obra de arte, como podemos perceber das constatações de Daveau (1997): Trata-se de um mapa de parede, a cores, cuidadosamente efeitado por desenhos de flores e árvores e, até, por uma cena de luta, de sabor folclórico. Dirige-se visivelmente a um leitor urbano, ignorante das duras realidades da vida sertaneja. Parece que o autor do mapa quis transmitir uma visão idílica da Capitania de Goias. (p. 34). Veja que no extremo norte (no canto inferior esquerdo do mapa) está representada a Floresta Amazônica, que termina pouco antes de encontrar o rio Araguaia. Também, há uma cadeia de montanhas representando a “Serra dos Geraes” (atual Serra Geral), dentre outros detalhes da paisagem. Página 159 – Iconografia de um índio Xavante e outro Acorúâ (figura 5) Descrição da imagem: de um lado, o índio Xavante segurando arco e flecha, usando cocar grande. Ele aponta a flecha para o outro índio, Acorúâ, que está à sua frente. O índio Acorúâ tem em cada uma de suas mãos um tacape, arma usada para caça, com formato de clava cilíndrica alongada. Ele tem os cabelos lisos e compridos. Qualquer avaliação sobre esse mapa deve se iniciar pela sua orientação. O norte se encontra à esquerda do mapa e não no topo como usualmente se consolidou desenhá-los em nossos tempos. Este fato corrobora com a tese de que não se trata de um mapa de uso sobre mesas ou em campo, mas de um mapa mural, confeccionado para decorar alguma sala de reuniões ou gabinete de autoridade da Coroa. Uma forma de se investigar sua finalidade é se pesquisando como ele foi parar nos arquivos da Biblioteca Pública de Évora, e não em Lisboa, Coimbra ou Porto, cidades mais ligadas à política colonial lusitana. Apesar de estar declarado em sua legenda que foi regulado “debaixo das leis do petipé [escala]”, ele não apresenta coordenadas latitudinais ou longitudinais, uma das principais preocupações dos padres jesuítas Diogo Soares e Domingos Capacci, conforme abordei no início deste artigo. Essa suposta “ausência” pode indicar que o mapa não foi elaborado por um cartógrafo ou geógrafo, mas por um desenhista, com base em outros produtos cartográficos à sua disposição, como os mapas de Tosi Colombina e outros do padrão Ângelo dos Santos Cardoso. Nesse mapa, observa-se que, sobre o território da Capitania de Goiás, a porção norte – correspondendo aproximadamente aos atuais limites do estado de Tocantins – estava sob a responsabilidade religiosa do Bispado do Pará, enquanto o Bispado do Rio de Janeiro era responsável pelo sul da Capitania, área que hoje pertence ao atual estado de Goiás. As áreas adjacentes estavam divididas entre os bispados do Maranhão (norte e nordeste), Pernambuco (leste) e Mariana (sudeste). O mapa, ainda, apresenta o Arcebispado da Bahia como responsável pela área à leste do rio São Francisco. Antes de entrar nos detalhes de localização étnica, é de se notar a densidade de informações sobre vilas, arraiais e registros. As ilustrações de cada concentração urbana apresentam uma simbologia que representa a condição de cada lugar. Algumas apresentam igrejas mais frondosas e outras apenas uma singela capela. Há desenhos de círculos dourados, que provavelmente devem ser referentes à presença de garimpo de ouro ou registro. O mapa também evidencia o traçado de diversos caminhos que ligam a capitania a outras partes da colônia. Entre eles destaco os caminhos que ligam a: Cuiabá, ao sudoeste, via Vila Boa de Goiás e Pilões; Minas Gerais, a sudeste, via Santa Luzia e Paracatu; Bahia, dois caminhos, um deles pela Serra Geral, via os aldeamentos de Formiga e Duro até a Barra Grande do Rio São Francisco e de lá para leste; o outro caminho para a Bahia era via um arraial de nome Itiquira até o rio Urucuya, atingindo o São Francisco e rumando à leste. Este, provavelmente, é o Caminho Geral do Sertão, Estrada Real ou Picada de Goiás à Salvador, citada por Bertran (1999, p. 142). Não há referências ao caminho que ligava à Capitania de São Paulo, muito provavelmente porque, no momento de sua elaboração, Goiás estava já completamente desvinculada dela, como aponta Capistrano de Abreu (1953 [1907]): Goiás não se lembrou muito tempo que, de São Paulo, partira o movimento que o transformara. A divisória das águas entre o Tocantins e o S. Francisco abunda em gargantas, seguramente já trilhadas pelos índios Duro, S. Domingos, Taguatinga, Santa Maria, Arrependidos etc. Pelas gargantas mais setentrionais, os goianos se comunicaram com a margem pernambucana (esquerda) do São Francisco, de onde, com mais facilidade, tinha de ir o gado de que precisavam, sob pena de morrerem de fome; pelas mais meridionais atingiram a margem baiana do S. Francisco, ou terras de Minas, que apresentavam como termo de viagem os portos da Bahia e Rio de Janeiro, a todos os respeitos mais vantajosos que São Paulo ou Santos. O refluxo de Goiás para São Paulo é todo obra dos nossos dias [início do séc. XX] e precedeu de pouco a abertura da Mojiana [final do século XIX] (p. 268). Página 160 – Referência à existência do “gentio de canoa” (figura 6) Descrição da imagem: trecho de uma carta (ou apenas papel) com uma frase e o contorno em vermelho no termo “o gentio de Canoa”. O artigo de Lenora de Castro Barbo (Cf. neste GUIA p. 82 ) explora com mais profundidade essa temática dos caminhos. Focando nas informações etnográficas, este mapa apresenta dois índios no centro inferior, em posição de combate. (Figura 5) O da esquerda é identificado como Chavante, e o da direita como Acoruá. Verifica-se que o Chavante possui um cocar em forma de coroa e está armado com setas. O Acoruá, por sua vez, está com um tacape (borduna) e possui um tembetá no lábio inferior, além de uma região raspada no topo da cabeça em forma de coroa, similar a utilizada pelos franciscanos. Apolinário (2006), ao interpretar essa figura, indica que a ilustração era uma forma de demonstrar a brutalidade dos nativos na visão dos reinóis: É como se o autor/remetente [do mapa] quisesse proporcionar ao seu destinatário [leitor] um momento em que esses indígenas estavam revelando as suas artes da guerra. Sim, pois para época em destaque eram dois grupos étnicos mais belicosos que procuravam, através da guerra negarem a política de “paz” colonizadora (p. 217-218). Página 160 – Aldeia Xavante representada no mapa dos Bispados (figura 7) Descrição da imagem: trecho da carta com o desenho de algumas casas (aldeia) entre árvores e relevos. Página 160 – Aldeias Akroá no Nordeste da Capitania de Goiás (figura 8) Descrição da imagem: trecho da carta com o desenho de um rio separando duas aldeias, compostas por casas, árvores e relevos. Em relação à territorialidade, o mapa localiza o território de algumas etnias na capitania e entorno. No interior da capitania ele indica quatro etnias, a saber: Chavante, entre os rios Tocantins e Araguaia; Acoruá, entre o rio Tocantins e a Serra Geral, no então nordeste de Goiás; os Cayapó, no sul da capitania; e os Avá-Canoeiros, nas “Ilhas na barra da Araguaya emq’ asiste o gentio chamado vulgar mente – o gentio de Canoa q’ fala a lingoa geral e sobe por Tocantins a Riba athé S. Félix”, conforme se lê no mapa. (Figura 6) O leitor verá, mais adiante, que durante o século XVIII apenas este e um mapa de 1782 fazem referência ao povo Avá-Canoeiro, os “índios invisíveis”. No século XIX, já no Brasil imperial, irá aparecer outra carta elaborada por Cunha Matos que aponta a existência desses índios em Goiás. Nos territórios adjacentes à Capitania de Goiás o mapa localiza outras quatro etnias, a saber: os Xikiabá, entre a “Serra dos Geraes” e o rio São Francisco, à leste da capitania; e os Gougués, no sul do Maranhão, apontados por Martius (1867b, p. 280) como remanescentes dos antigos Goyazes que viviam na região de Vila Boa de Goyaz. Outro povo referenciado no Mapa dos Bispados é o “Gentio Branquinho” vivendo na margem direita do rio Tocantins, exatamente no ponto onde recebe o rio Araguaia, chamado atualmente de Bico de Papagaio; e os Uárá, pouco mais ao norte deste último, descendo o Tocantins pela mesma margem direita. Página 161 – mapa do trecho médio Tocantins e região adjacente, com as missões do Duro (figura 9) Descrição da imagem: no mapa, desenho de uma casa e uma igreja. Entre elas, um caminho que passa por três afluentes de rios, até chegar em alguns índios e um coronel que está conversando com um dos índios. Entre esses elementos, vegetação e relevo. Ademais, dos territórios dos “gentios”, essa carta apresenta, ainda, a localização de algumas aldeias indígenas, como a de índios Chavante, (Figura 7) no extremo norte de uma serra que aparentemente deve ser a Serra do Lajeado. Também localiza duas aldeias Acoruá no planalto do Jalapão, (Figura 8) uma entre os rios Sono e Manoel Alves, outra entre os rios Manoel Alves e Balsas. Estas aldeias também constam no “Mapa de trecho do médio Tocantins e região adjacente, com as missões do Duro” (Figura 9) catalogado por Adonias e Furrer (1993, p. 112). Este mapa sem data apresenta, além das duas aldeias Akroá no norte da Capitania de Goiás, a Missão do Duro, implantada para aprisionar esses índios. Este mapa evidencia que havia um caminho entre a missão e as aldeias dos índios. Estes que foram conduzidos para os aldeamentos da missão (erigidos entre 1750 e 1751 conforme já assinalado no item anterior), gradativamente, até estourar uma sangrenta guerra como veremos mais a frente entre 1773 e 1775. Nota-se, no limite norte do mapa, o rio da Farinha, delimitando o território Akroá. Página 162 – Aldeia Xikiabá (figura 10) Descrição da imagem: trecho da carta com o desenho do Rio São Francisco, onde dois afluentes descem e, entre eles, uma aldeia, cercada de árvores e relevos. Outra aldeia que destaco, mas já fora dos limites da capitania, é a do povo Xikiabá, (Figura 10) entre os rios Urucuya e Correntes, afluentes da margem esquerda do São Francisco. É bem provável que esta aldeia localizava-se próxima ao local onde a Igreja Católica implantou a missão de São João dos Índios, e que hoje abriga a sede urbana do município de São João das Missões. Estudo específico que realizei sobre as migrações e deslocamentos dos índios Xakriabá – que todavia vivem na região indicada no Mapa dos Bispados, no noroeste de Minas Gerais, atesta que os índios foram empurrados para terrenos menos favoráveis e íngremes, conforme a colonização pecuária se avançava sobre as terras mais férteis e próximas ao rio São Francisco (SANTOS e ELOY, 2012; SANTOS e BARBOSA, 2012). Para concluir minhas observações sobre esse rico mapa, destaco que ele aponta a localização da “Aldeya de São Jozé da Formiga” próximo ao “Registro do Duro” (em destaque na Figura 11), que, como já dito, fazia parte da Missão de São Francisco Xavier, implantada entre 1750 e 1751 para aprisionar índios Xakriabá e Akroá (APOLINÁRIO, 2005, p. 99-100; CHAIM, 1983 [1974], p. 99) Este mapa não faz referência aos aldeamentos do Sertão da Farinha Podre, atual Triângulo Mineiro. Isso, provavelmente, pelos mesmos motivos de não se apresentar o caminho que ligava a capitania à São Paulo, como já abordado neste item. Mapas do padrão Tomás de Souza (ca. 1778) Os mapas desse padrão têm como base os levantamentos de Tomás de Souza “Sargento-Mor do Regimento da Cavalaria entre o dia 26 de julho de 1777 athé maio 78”, conforme consta em grande parte dos mapas desse padrão. A reprodução mais comum é conhecida como Mapa dos Julgados, pois traz os limites de domínio da jurisdição de um juiz sediado em determinada localidade. O título original desse mapa é: Carta ou Plano Geográphico da Capitania de Goyas huma das do Centro da America Meredional pertencente ao Reino de Portvgal que se tirow por ordem do Ill.mo e Ex.mo S.r Ioze de Almeida de Vasconselos de Soveral e Carvalho. Governador e Capp.m Gn.al da dita Capitania do dia 26 de julho de 77 the de Mayo de 78. Por Thomas de Souza Sargento Mor do Regimento da Cavalaria, Auciliar da mesma Capitania, sendo quaze toda vista por sua Ex.a a quem o Autor acompanhou em todo o tempo do seu governo. Página 162 – Aldeia de São José da Formiga (figura 11) Descrição da imagem: trecho da carta com o desenho de várias montanhas, sendo que à frente passa um rio por onde descem vários afluentes e, entre eles, estão localizadas três aldeias. Página 163 – "Payz onde habitou o Gentio Chacriaba" (figura 12) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o trecho “parte da Cap. de Para. Payz onde habitou o Gentio Chacriaba, reduzido a civilizar-se no Anno de 1775”. Página 163 – Formiga habitantes dos índios (figura 13) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o trecho “Formiga habitantes dos Índios”. Página 163 – Paiz onde habitou o Gentio Acruá (figura 14) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o trecho “Paiz onde habitou o Gentio Acruá, reduzido a civilizar-se em 1774 ”. Há exemplares de mapas desse padrão arquivados no Arquivo do Exército Brasileiro (Cf. neste GUIA p. 118-120), na Diretoria de Infraestrutura do Exército Português em Lisboa, e na Mapoteca do Itamaraty no Rio de Janeiro (Cf. neste GUIA p. 45). Uma característica marcante nesses mapas é a representação da bacia do rio Tocantins e da Capitania de Goiás sem o deslocamento para o leste, possivelmente porque já estava assegurado o território das minas de Goiás aos domínios da coroa portuguesa, reconhecida pelo Tratado de Madrid de 1750 e reafirmada pelo de Santo Idelfonso, em 1777 (Cf. nota 3). As aldeias indígenas identificadas nesses mapas estão principalmente no noroeste da capitania, ao longo do rio Araguay (Araguaia). São elas, a partir do norte: Ximbiúá, Semanselhes (que pode ter sido um povoado luso-brasileiro) e Ximbiuá Grande; Na Ilha de S.ta Anna (atual Ilha do Bananal) estão, do lado oeste, as aldeias Karajá: Caraiá Lamsay, Caraiá Ladario, CaraiáAnadia e Caraiá Silva; as aldeias Caraiá Angeja e Caraiá de S. Pedro situam-se do lado sudeste da ilha; do lado leste da ilha estão as aldeias Javaé: Javahé Mello, Javahé Ponte de Lima e Javahé Cunha. Os territórios indígenas grafados são: - Gentio Ximbayá, na margem esquerda do rio Araguaya, próximo ao encontro com o rio Tocantins, a noroeste da capitania; - “Paiz Incognito habitado de varias nações de Gentios”, entre os rios Araguaya e Tocantins, ao norte da capitania; - “Paÿz onde habitou o Gentio CHACRIABA, reduzido a civilizar-se no Anno de 1775”, (Figura 12) à nordeste da capitania, nos tabuleiros do alto Parnaíba, atual sul do Maranhão; - “Payz onde habitou o gentio Acruá, reduzido a civilizar-se em 1774”, (Figura 13) a leste da Serra Geral, onde atualmente são os Gerais do Oeste Baiano; e - “Paiz pouco conhecido habitado pelo Gentio Cayapó”, no sul da capitania. A indicação de que os territórios Akroá e Chacriabá haviam sido despovoados e os índios reduzidos à “civilização”, pode ter sido uma estratégia utilizada pelos representantes locais da coroa portuguesa para confirmar seus feitos perante o monarca. Assim defende Apolinário (2005): [...] as áreas habitadas pelos povos indígenas na Capitania de Goiás, desconhecidas e marginais para a sociedade colonial, eram ambicionadas para que se tornassem domínios territoriais de grande valor com rede de povoações luso-brasileiras embasadas em economias exportadoras. [...] Era como se fosse necessário apresentar a coroa portuguesa a totalidade dos seus feitos no tocante a “civilização dos índios” considerados mais arredios, apagando-os cartograficamente dos espaços que dantes revelavam a sua resistência à política de “pacificação”. Se um grupo Akroá estava reduzido no aldeamento de São José de Mossãmedes, não haveria mais interesse em informar que naquelas fronteiras rumo ao sul do Piauí se ainda existiam outros grupos Akroá resistindo, através da guerra, ao projeto colonizador (p. 222-223). Página 164 – “Plano projectico de hú novo estabelecimento de Índios da Nação Cayapó (figura 15) Descrição da imagem: planta contendo no topo o desenho de uma igreja, logo abaixo, em duas colunas, retângulos nas cores amarelo e rosa, uns compridos, outros pequenos. Na primeira fileira à direita há uma grande vegetação. Entre a quarta e a sexta fileira, uma área quadrada reservada entre as colunas. Nas laterais da planta há texto e identificação de cada retângulo colorido, mas está ilegível devido ao tamanho (pequeno) e grafia. Entrementes, como defende a citada autora, e eu reafirmo em minha dissertação, (Cf. SANTOS, 2013, p. 241), os mapas do século XIX, posteriores ao mapa de Tomás de Souza, como o “Mapa Geral de Toda Capitania de Vila Boa de Goias” (Cf. neste GUIA p. 14) analisado mais à frente, informam que esses “países” não estavam tão desabitados como pretendiam exprimir, pois sinalizam que esses indígenas todavia viviam na região. Em relação aos aldeamentos, os mapas do padrão Tomás de Souza indicam, no extremo nordeste da capitania, dois pontos vermelhos, rotulados apenas como “Formiga Habitantes dos Índios”. (Figura 14) São os aldeamentos da missão de São Francisco Xavier, já apresentados no item sobre os mapas do padrão Ângelo dos Santos Cardoso. Próximo à Ilha de Santa’Anna, há a indicação Nova Beira que segundo CHAIM (1983 [1974], p. 99; 125-127) foi um aldeamento erigido em 1775 para aprisionar índios Javaé e Karajá, e que foi destruído por uma confederação envolvendo estes povos e os Xavante em 1780. Saint-Hilaire (1937 [1847], p. 250-251) informa que, em 1809, grande parte dos índios dos aldeamentos do Julgado de Santa Cruz (atual região do Triângulo Mineiro) foi levada para o presídio de Nova Beira e não resistiu. Ele aponta, ainda, que outros autores indicaram datas distintas para esse evento: Eschwege declarou que foi em 1796, e Cazal e Pizarro, em 1811. Próximo a capital de Goiás há a indicação da Fazenda da aldeia citada por Saint-Hilaire (op. cit., p. 133) como a “Fazenda d’El Rei” situada nas imediações do aldeamento de Maria I. Este foi um presídio construído entre 1780 e 1781, às margens do Rio Fartura, para abrigar cerca de 600 índios Cayapós retirados do sudoeste da capitania (ibid., p. 106). Uma planta (Figura 15) datada de 1782 cujo título é “Plano projectico de hú novo estabelecimento de Índios da Nação Cayapó situ ado namargem do Rio Fartura edenominado Aldeya Maria 1ª, etendo por oráculo a Sua Igreja N. Snr.ª da Glória como sevê do n.º 1º” está arquivada no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa. Saint-Hilaire (op. cit.), que esteve em Maria I no ano de 1819, diz que, na ocasião, os formosos edifícios estavam em estado de abandono e o aldeamento desativado, porém os índios visitavam o local com frequência (p. 133). Chaim (1983 [1974], p. 128) indica que esse presídio foi desativado em 1813. Mais próximo da capital Vila Boa, os mapas do padrão Tomás de Souza trazem grafado “retiro” no local onde apenas um mapa desse padrão pesquisado grafa próximo “Mossâmedes”. O aldeamento de São José de Mossâmedes, por sua vez, fora erigido entre 1774 e 1778, como presídio para Akroás e Chacriabás, transferidos dos aldeamentos de Duro e Formiga para mais próximo à capital Vila Boa (entre cinco e oito léguas ao sul dela) após a rebelião que ocorrera entre 1773 e 1775 naqueles aldeamentos. Em 1781, Karajás e Javaés passam a compor as masmorras de São José advindos do recém destruído presídio de Nova Beira (SAINT-HILLAIRE, op. cit., p. 104). Apolinário (2005, p. 135) e Chaim (1983 [1974], p. 123) indicam que Mossâmedes também recebeu Xavantes, Carijós e Naudez. Finalmente, por motivos econômicos, os Cayapós de Maria I foram transferidos para S. José, após os Karajás e Javaés terem sido “dispersados” desse aldeamento como afirma Saint-Hilaire (op. cit., p. 106; 133), que visitou Mossâmedes em 1819, e teceu uma bela descrição da paisagem e edificações, além de costumes e língua dos índios Cayapó que lá viviam na ocasião (ibid., p. 96-125). Página 165 – Julgado de Santa Cruz no mapa de Tomás de Souza (figura 16) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para quatro retângulos com linhas vermelhas, situados entres os afluentes do rio das velhas. A sinalização indicava aldeias indígenas. Página 166 –Indicação das “Terras novas” (figura 17) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o trecho “Terras novas, as milhores q. setem encontrado para Creyação de Gadoz neste continente. Despovoadaz pelas ustelides do Gentio Canoeiro". Página 166 –Indicação das “Arrayal dos Bororós” (figura 18) Descrição da imagem: recorte do mapa com parte da Capitania de Minas Gerais, destacando dois retângulos com linhas vermelhas, sendo o primeiro “Arrayal dos Bororós” e o segundo “Missão que foi dos jesuítas”. O “retiro” é citado por Saint-Hilaire (op. cit.) como um aposento do governador, e havia em outros aldeamentos de Goiás. O referido viajante tece uma crítica a essa postura de erigir residências oficiais que não tinham usos pelos índios, ele questiona: [...] o governo português despendeu somas enormes com as aldeias dessa província [...]. Isso prova que houve boas intenções; os meios empregados, porém, não foram eficazes, e, entre as despesas que se fizeram, há algumas cuja inutilidade ressalta à primeira vista. Para que, por exemplo, uma residência de recreio para os governadores da Capitania na Aldeia de S. José e na Aldeia Maria? Para que, nas aldeias de índios, essa imensidade de construções que não deveriam ser jamais habitadas pelos índios? (p. 110). Os colonos eram quem pagavam as contas dos aldeamentos, e corriqueiramente reclamavam das altas taxas que deveriam depositar aos cofres da Coroa para manter os índios presos. Na atual região do Triângulo Mineiro, esses mapas tampouco mencionam a presença de indígenas que, como vimos no item que trato dos mapas do padrão Ângelo dos Santos Cardoso, é chamada por Saint-Hilaire (op. cit., p. 299) como “território privilegiado dos índios”, devido à grande presença em 1819 (data da visita do viajante) de remanescentes dos aldeamentos e missões implantados na primeira metade do século XVIII. Por exemplo, a antiga missão jesuíta de Santa Anna, localizada no caminho que ligava à Capitania de São Paulo, está identificada nos mapas do padrão Tomás de Souza apenas como um arraial. (Figura 16) Isto pode denotar outra tentativa de descaracterizá-la como remanescente de índios. Mais um indicativo de que esses mapas pretendiam “esconder” os domínios indígenas é o fato de que não está assinalado nenhum aldeamento nessa região do antigo “Sertão da Farinha Podre”, identificado nos “Mapas dos Julgados” como pertencente ao Julgado de Santa Cruz. (Figura 16) Alguns que aparecem tanto em mapas mais antigos, como em outros mais recentes constam, nesses do padrão Tomás de Souza, apenas como um ponto vermelho, sem identificação. Com exceção de Santa Anna (já citado), que consta como um arraial e “Lanhozo” que também não indica que se trata de um aldeamento, outros dois pontos estão sem rótulo: um próximo ao “R. das Pedras” outro ao do “Piçarrão”. Que os dois pontos sem rótulo correspondem aos aldeamentos de mesmo nome da hidrografia, não há dúvidas. Quanto ao Lanhoso, em algumas pranchas desse padrão também não consta seu nome. Sobre estes aldeamentos já apresentei algumas informações no item sobre os mapas do padrão Ângelo dos Santos Cardoso. A respeito de S. Anna, vale anotar que Saint-Hilaire (op. cit.) citou que, em 1775, esse aldeamento recebeu “um certo número de Chicriabás, nação que habitava os desertos do Paranã e se estendera até às margens do S. Francisco, na parte setentrional de Minas” (p. 274). Esse foi um dos resultados da campanha de captura indígena promovida na região dos Gerais (situada ao longo da Serra Geral) entre 1773 e 1775, e que está enaltecida nos mapas do padrão Tomás de Souza, conforme posto no início do presente item (recorte da Figura 12). A quantidade de supressões e distorções das informações que tratam da localização de índios na capitania deve ter sido proposital. Levanto a hipótese de que José de Almeida Vasconcelos Soveral e Carvalho [1737-1805], que governou Goiás entre 1772 e 1778, tenha tido como política a desterritorialização dos índios, e pode ter ordenado que os mapas oficiais de seu governo apresentassem uma capitania “limpa” de indígenas. Deixo, como sugestão de pesquisas, a futuros investigadores. Página 167 – Destaque em que se verifica a presença indígena na Capitania de Goiás (figura 19) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para quatro retângulos mais acima do mapa e outros dois abaixo, todos com linhas vermelhas, situados entre a Ilha do Bananal e o rio Tocantins. A sinalização indicava aldeias indígenas. É possível identificar vegetação e relevo por todo o mapa. Capitania de Goyazes [ca. 1755-1800] Este mapa ilustrado na p. 123 deste GUIA, apresenta poucas informações territoriais indígenas. Resume-se ao “Arrayal dos Bororós” no caminho que ligava com a Capitania de São Paulo; e a “Missão q. foi dos jezuitas”, ao sul do primeiro, conforme pode-se observar na figura 18. Certamente, essas localidades são aquelas relatadas por Saint-Hilaire (op. cit., p. 172), já abordado neste artigo na seção que trata do padrão Ângelo dos Santos Cardoso. É curioso notar que o mapa menciona que a missão já não é mais dos jesuítas, pois como já coloquei neste artigo, o Diretório dos Índios (1755) transferiu todos os aldeamentos e missões mantidos pela Igreja Católica no Brasil para o controle direto da Coroa. Esse mapa também corrobora com a já citada conclusão de Capistrano de Abreu a respeito da ligação de Goiás com São Paulo, onde logo se perdera quando foi fortalecido o vínculo com as Minas Gerais e o Rio de Janeiro. Já que não está sinalizado nenhum caminho para o sul, em direção a São Paulo, mas sim para o leste, a caminho de Paracatu. Não há referência à missão no Douro ou aos aldeamentos implantados próximos à capital. Página 168 – Destaque da localização da “Aldea Maria 1ª” (figura 20) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o trecho “Aldea Maria”, localizada entre dois afluentes. Página 168 – Recorte onde se localiza diversas tribos indígenas no norte da Capitania de Goiás e o presídio de Santa Maria (figura 21) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para treze retângulos, todos com linhas vermelhas, espalhados por entre afluentes dos rios. É possível identificar vegetação e relevo por todo o mapa. Mappa da extenção do segundo regimento de Cavalaria Auxiliar da Capitania de Goyáz [1782] Este mapa (Cf. neste GUIA p. 62) retirado de um documento datado de 10 de fevereiro de 1783 (FARIA, 2011, p. 373), atualmente localiza-se no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa. Uma das informações apresentadas é “Terras novas, as milhores q. setem encontrado pa Creyação de Gadoz neste continente. Despovoadaz pelas ustelides do Gentio Canoeiro”, (Figura 17) ao oeste do rio Tocantins, no trecho situado ao sul da foz do Paranã e ao norte do encontro entre os rios Tocantins (atual Tocantinzinho) e Maranhão. Com isso, o mapa atesta que os índios Avá-Canoeiro repeliram os invasores luso-brasileiros de suas terras localizadas no ocidente do rio Tocantins, no interflúvio com o rio Araguaia. Entretanto, essa carta de 1782 também indica que essas terras são as melhores para a criação de gado, cogitando uma futura retaliação por parte dos colonos para reinvadirem as terras indígenas. Também está assinalada nesse mapa a localidade de Carretão, ao sul de Crixás, mas não há indicação de que se trata de um aldeamento. Segundo Ossami de Moura (2008, p. 92-93), o aldeamento do Carretão de Pedro III foi implantado entre 1781 e 1786 para abrigar os Xavante de Quá, que viviam ao norte de Crixás. Entretanto somente em 1788 o aldeamento receberá o maior contingente desses índios (ALENCASTRE, 1979 [1863], p. 250), dando início efetivo a sua função como presídio indígena. Página 169 – Localização dos presídios de Nova Beira e Duro, e o aldeamento de S. Francisco Xavier (figura 22) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para três retângulos, todos com linhas vermelhas. Na parte superior à esquerda está “Nova Beira”. Na parte inferior à direita estão o “Presídio de Duro” e “Aldeamento de São Francisco”. É possível identificar vegetação e relevo por todo o mapa. Mapa de parte da costa do Brasil e do interior da colônia portuguesa da América [ca. 1805] Esse mapa elaborado por volta de 1805 (FARIA, 2011, p. 373) e reproduzido na p. 65 deste GUIA, apresenta hidrografia e localidades do Brasil Central e do litoral norte e leste da Colônia. Na região da Capitania de Goiás, o mapa ilustra algumas ocupações indígenas no rio Araguary (Araguaia), de norte para o sul: Aldeya do Ximbioa; Grande Aldeya; Ald.a de Ximbioa; e Ilha de S.ta Anna abitada de Gentio Javaé e Carajá, como é possível verificar no destaque da figura 19. Esta mesma figura apresenta que, entre a ilha de Santa Anna (atual Ilha do Bananal) e o rio Tocantins está a denominação Nova Beira, um presídio construído para indígenas. Há, ainda, a indicação do aldeamento de S. José ao sul da capital Vila Boa, também conhecido como São José de Mossâmedes. Esses aldeamentos já foram abordados no item que trato dos mapas do padrão Tomás de Souza. Além disso, logo ao norte de Vila Boa há a indicação de “Bugres” onde em outros mapas consta a localidade de “Barra”. Bugre é um termo pejorativo utilizado pelos Luso-Brasileiros para denominar os índios. Mappa Topografico da Campanha do Rio Piloens e Rio Claro diamantinos [1805] Esta planta da p. 63 deste GUIA, elaborada em 1805 e guardada no Arquivo Histórico Ultramarino, apresenta diversos caminhos da região de Pilões, sudoeste da Capitania de Goiás. Região de ligação da antiga capital (Vila Boa) para as minas de Cuyabá. Não há referência de quem foi o cartógrafo, entretanto, é bem provável que tenha sido José Manoel da Silva Oliveira, conforme observa-se no título: Mappa Topografico da Campanha do Rio Piloens e Rio Claro diamantinos com todas suas vertentes pertencentes a Comarca de Villa Boa de Goyas, mandado tirar pelo Illmo. Exmo. Snr. Dom Francisco de Afsis Mascarenhas Gov.or Cap.m General desta Cap.nia sendo examinados todos ambos os Rios e suas vertentes pelo Min.o D.on Manuel Joaquim de Ag.nor Mourao Ouv.or e Correg.or q’ foi desta Com.ca, e p.r Jozé Manoel da S.a Oliv.ra, que ambos correrão toda a Campanha abrirão picadas e Cam.os como mostra neste Mappa V.a Boa no anno de 1805. O recorte apresentado na figura 20 indica a localização da “aldea Maria”, junto ao “caminho da vila”, às margens do rio da Fartura. Sobre esse aldeamento, já apresentei no item que trato dos mapas do padrão Tomás de Souza, cuja figura 15 representa a planta do referido presídio indígena. Mapa dos Rios Tocantins e Araguaya [1813] Este mapa da p. 128 deste GUIA, com data de 1813, está sob a guarda do Arquivo Histórico do Exército Brasileiro. Ele localiza diversas etnias indígenas no norte da Capitania de Goiás, identificadas pela letra “G”, de gentio. Nas margens do Araguaya está situado o povo Carajá. No interflúvio entre o Araguaya e o Tocantins aparecem os Apinagé, Neraquagé e Puxiti. Às margens do Tocantins localizam-se os Piecobigê, Ponecategé, Prurecamecran e Canacategê. Mais para o interior, na direção leste, encontram-se os Crurecamecran, Piocamecran, Aogê e Crangé, nas cabeceiras dos rios Farinha, Grajaú, Miarim e Mojú. A localização desses povos citados podem ser observadas no recorte do mapa apresentado na figura 21. Com exceção dos Carajá, é bem provável que todos os outros povos sejam de um subgrupo da família Jê denominado Timbira, ou pelo menos alguns deles. Os Timbira foram mencionados em 1728 ocupando a região situada a leste do Rio Parnaíba, e são registrados como nativos hostis do Piauí em 1769. O deslocamento de leste para oeste se deu devido à ocupação de suas terras por pecuaristas advindos da Bahia. Em 1810 formaram uma sólida zona cruzando o sul do Maranhão (LOWIE, 1946, p. 479) e norte de Goiás. Talvez, por isso, não aparecem nos mapas do século XVIII da Capitania de Goiás. Neste período, diversas expedições eram formadas para escravizá-los com a finalidade de usá-los como mão de obra para a cultura de arroz e algodão no Maranhão, bem como usurpar suas terras para este tipo de cultivo (MELATTI, 2012). O mapa não apresenta uma linha divisória entre as Capitanias de Goiás, Maranhão e Pará, o que leva a entender que o território dos “gentios” mapeados estavam no interior da Capitania de Goiás. Entrementes, acompanhando a hidronímia, é possível observar que os povos mapeados à nordeste do rio Tocantins estavam na Capitania do Maranhão. Em relação aos aldeamentos o mapa localiza o Nova Beira na Ilha de Santa Anna (Figura 22); o presídio de S. Maria “estabelecido pelo actual Governador” “Fernando Delgado Freire de Castilho” em 1812 ao norte da mesma ilha (Figura 21), mas que fora destruído no ano seguinte por Karajás (GIRALDIN, 2002, p. 5), apoiados por índios Xavantes e Cherentes (IBGE, 2013a). Também aparece no mapa o aldeamento de S. Francisco Xavier e o presídio do Duro (Figura 22), ambos na Serra Geral – já apresentados neste artigo. Os aldeamentos de São Jozé de Moçamedes e Maria constam ao sul de Vila Boa, conforme se vê na figura 23 que, além disso, apresenta o aldeamento do Carretão nas nascentes do rio Tezouras ao norte da referida capital. Página 170 – Onde constam os aldeamentos de Carretão, Mossâmedes e Maria, nos arredores de Vila Boa (figura 23) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para três retângulos, todos com linhas vermelhas. Na parte superior à direita está a “Aldeia de Carretão”. Na parte inferior à direita estão a “Aldeia de Mossâmedes” e mais abaixo a “Aldeia Maria”. É possível identificar vegetação e relevo por todo o mapa. Página 170 – Localização de aldeamento e missão no caminho que ligava a Capitania de Goiás com a de São Paulo (figura 24) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para dois retângulos, ambos com linhas vermelhas. Na parte superior está o “Arrayal dos Bororós”. Na parte inferior está a “Missão que foi dos jesuítas”. É possível identificar relevo por todo o mapa. Guia dos Caminhantes [1816] O Guia dos Caminhantes é uma coleção de cartas, sendo cada uma “delineada e Iluminada por Anastafio de S.ta Anna, pintor”, na Bahia, em 1816, “para o Senhor Capitão Pedro Francisco de Castro”. Elas encontram-se arquivadas na mapoteca da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. A seguir, destaco apenas as informações etnonímicas e de etnolocalização presentes nas pranchas deste “Guia dos Caminhantes”. Carta 4.ª Capitania de S. Paulo. (Cf. neste GUIA p. 194) Apesar de ser um mapa que tem como foco a Capitania de São Paulo, ele apresenta a localização da “missão q. foi dos jesuítas”, no rio das Velhas, quando a região do atual Triângulo Mineiro ainda pertencia a Capitania de Goiás – veja figura 24. Próximo a ela, mais ao norte, há o “Arrayal dos Bororós”. O mapa também indica outras ocupações indígenas, porém não na região da antiga Capitania de Goiás, como as “missoens do Urugay, q. foi dos p.es jesuítas Castelhanos”. Carta 5.ª Capitania de Matto Grosso; e Cuyabá. (Cf. neste GUIA p. 195) Página 171 – Parte da Capitania de Goyazes na carta da Capitania de Mato Grosso e Cuyaba (figura 25) Descrição da imagem: trecho do mapa contendo uma linha com sombras vermelhas nas duas laterais, sinalizando uma divisão. Entre elas, um retângulo denominado “Aldeia de Xavantes”. Pouco mais abaixo, na diagonal à esquerda, outro retângulo denominado como “Aldeia de Xavanty”. Seguindo na mesma direção, à esquerda, outro retângulo, denominado “Aldeia das Bananeiras”. Na porção nordeste dessa carta (representada em seu quadrante inferior esquerdo devido a orientação norte estar voltada para a posição inferior da obra) estão sinalizados os rios Maranhão e Paranatinga ou Xingu, que possivelmente representam o alto curso dos rios Tocantins e Araguaia respectivamente – veja figura 25. O primeiro, Maranhão, porque é o nome do rio que recebe o Tocantins em seu alto curso; e o segundo porque no mapa há a indicação das “aldeias das Bananeiras”, provavelmente na Ilha do Bananal. Outra informação que corrobora com essa correlação é o fato de estar grafado, próximo à suposta Ilha do Bananal, que “por este rio abaixo desseu de Goyazes, hum Pardo por nome Tomaz da Natividade, e foi ter ao Parâ; de donde voltou p.ª Goyazes; E o Governador Luiz da Cunha q´. governava, o fez Capitão de Infantaria, com soldo”, denotando que esta via fluvial era uma ligação entre Goyáz e Belém, o que de fato se tornou o rio Araguaya. No entanto, é difícil firmar nessa correlação, pois, na porção leste da carta, está grafado o rio das Mortes, que é um afluente do rio Araguaia, mas que, nesse mapa, não se encontra com o rio ali identificado rio Paranatinga ou Xingu onde, supostamente, seria o Araguaia. Observando a mesma figura 25, notam-se as aldeias Xavantes grafadas no mapa, uma próximo à Villa (provavelmente a capital Vila Boa), e outra no caminho para Pilar, ao norte da Villa. É possível que a primeira aldeia seja Mossâmedes e a segunda Carretão, pois ambas receberam índios Xavantes, entrementes à falta de coerência tanto da hidrografia como da localização de povoamentos, impossibilita uma correta identificação desses aldeamentos. Carta 10.ª Capitania de Goyazes. (Cf. neste GUIA p. 197) A primeira coisa que o leitor deve observar ao analisar esta carta é a direção do norte, que está para o lado direito do mapa, e não para a posição superior como é mais usual. Assim como a carta anterior, não apresenta coerência na hidrografia da Capitania de Goiás. Também não acompanha os erros já sinalizados na carta anterior (Carta 5.ª ), resolve algumas incorreções, como a localização do rio Araguaya; porém, apresenta outras, como a posição da Ilha do Bananal. Em relação às ocupações indígenas essa carta (Carta 10.ª ) ilustra gentios Bananeiras, provavelmente na Ilha do Bananal. E “gentios brabos Xavantes” na Serra Grande, entre os rios Araguaia e Tocantins, ao sul da Ilha do Bananal. Vale destacar que a suposta Ilha do Bananal localiza-se fora dos limites da capitania, mas ao norte, na mesma Latitude das “Aldeas manças” identificadas próximo a um arrayal de nome Pará, a leste do rio Tocantins, conforme ilusta a figura 26. Nos limites com a Capitania do Piauhy está grafado a presença dos gentios Pimenteira, que também aparece no mapa de Nimuendaju (2002 [1944]), Loukotka (1967) e nos relatos do naturalista Carl Friendrich von Martius (1867b, p. 348). Na mesma figura 26, é possível notar nas margens do rio do Sono, entre os arraiais de Carmo da natividade e Almas, a “Aldea do Curuasi” (sic), que provavelmente seria o aldeamento de Duro ou Formiga onde ficaram aprisionados os Akroá, também conhecidos como Curuás. Também, observa-se próximà a Villa Boa, uma aldeia Xavante, possivelmente Mossâmedes, a mesma que consta da Carta n. 5, porém, diferente do que consta nesta prancha citada, não há a localização de outro aldeamento Xavante em direção a Pilar. Corroborando com a tese de que o “Thomaz” citado na carta anterior seja Tomás de Souza Vila Real, às margens do rio Tocantins, a noroeste da capital Villa Boa, há a indicação do “Porto de Tomaz da Natividade”, sinalizando Porto Real, fundada por esse militar conforme já abordado. Por fim, concordando com o apresentado na Carta 4.ª, há a indicação da “Missão q. foi dos Jesuítas” e do “Arrayal dos Boróros”, na estrada que liga à São Paulo. Página 172 – Trecho da Carta da Capitania de Goyazes onde consta a presença de indígenas (figura 26) Descrição da imagem: trecho do mapa contendo uma linha com sombras vermelhas ao lado esquerdo, da ponta ao término do mapa. Ao lado direito, maior parte da divisão, conta com “Porto de Tomaz da Natividade”, “Aldeia Xavante” e “Aldeia do Curuasi”. Ao lado direito, outras quatro aldeias indígenas "Gentios Bananeiras", "Gentios brabos Xavantes", "Aldeias Manças" e "Gentios Pimenteiras". Há relevo e vegetação por todo o mapa. Mapa Geral de Toda Capitania de Uilla Boa de Goyas [1820] Este mapa (Figura 27) foi elaborado nos últimos anos do domínio português sobre o território brasileiro, por “Joaquim Cardoso Xavier”, em 1820. “Mandado Tirar pelo Il.mo Ex.mo Senhor Dom João Manoel de Meneses, Governador Cappitão General da dita Cappitania”. Está arquivado na mapoteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, sediada na capital de Portugal. O mapa apresenta as áreas territoriais de dois povos indígenas: o Acroá (no norte da capitania) e o Cayapó (no sul). Como é de se notar, contrapõe-se às informações dispostas nos mapas do padrão Tomás de Souza, elaborados no terceiro quartel do século XVIII, pois – conforme já abordei aqui – estes indicavam que os índios Acroá haviam sido reduzidos à civilização, e seu território abandonado, ratificando a intenção do referido capitão em desterritorializar os povos indígenas em seus mapas. Entretanto, no primeiro quartel do século XIX, os Akroá todavia resistiam na região norte dos Gerais da então Capitania de Goiás, conforme atestado neste mapa de 1820 como “certão do gentio Acroá”. Isso reforça a tese de que os Akroá não foram “reduzidos à civilizar-se” em sua totalidade nos aldeamentos da região como quer os mapas de Tomás de Souza. Chaim (1983 [1974]) e Apolinário (2005) indicam que houve muitas fugas dos Akroás aldeados nas missões do Douro. O próprio mito da origem do festejo do “roubo” da imagem de São José traz elementos que corroboram com esse argumento, pois diz que os índios do Duro invadiram e “roubaram” a imagem da igreja da cidade de Dianópolis (antigo Douro ou Duro) e tomaram um “paradeiro desconhecido”, conforme descrito a seguir: O povoado Missão no atual município de Dianópolis (Estado do Tocantins) é conhecido na região como Antiga Missão dos Índios, e anualmente ocorre uma manifestação sacro-profana onde os descendentes dos indígenas que lá moraram “roubam” a imagem de São José localizada hoje na igreja matriz da cidade. Devido ao fato de que antes ela ocupava o altar da igreja da Missão. Quando foi levada pela primeira vez para a matriz da cidade, os índios se revoltaram e a trouxeram de volta ao aldeamento. Quando foi levada novamente à matriz, novo “roubo” ocorreu. Dessa forma, para se evitar os “roubos” – que na verdade era um resgate – surgiu um festejo local onde anualmente a imagem volta ao povoado de Missão, encenando esse “pseudo roubo”. No entanto não há consenso sobre a origem dessa encenação, alguns contam que a imagem não foi levada à Missão pelos índios, mas sim, que estes tomaram um paradeiro desconhecido. Porém como antes eles haviam sido reduzidos à missão, a encenação leva-a para lá. A organização do festejo é reservada apenas aos descendentes dos antigos moradores de Missão, que atualmente é um povoado praticamente desabitado, repleto de casas vazias, ocupadas apenas uma vez ao ano, quando ocorre a encenação (SANTOS, 2013, p. 206-207). Página 173 – Mapa Geral de toda a Capitania de Uilla Boa de Goiás (figura 27) Descrição da imagem: mapa da Capitania de Goiás e Minha Gerais, com vários rios e nascentes. Ao todo são dezenove retângulos sinalizando dois povos indígenas, sendo o Akroá, ao norte da Capitania, e o Cayapó, ao sul. Eles estão espalhados pelo mapa. O lado direito possui os rios em tons avermelhados, que quer dizer onde já houve o garimpo. O lado esquerdo também já foi garimpado, mas significativamente em menor escala. Página 174 – Ampliação das ocupações indígenas mapeadas no sudeste da Capitania de Goiás (figura 28) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para três retângulos, todos com linhas vermelhas. Na parte superior está o “Alojamento que existe” e “Atacados”. Na parte inferior está a “Alojamento do Gentio Caiapó”. É possível identificar relevo e vegetação pelo mapa. Página 174 – Recorte onde indica territórios indígenas no nordeste do “Mapa Geral de tpda a Capitania de Uilla Boa de Goiás” (figura 29) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para oito retângulos, todos com linhas vermelhas e situados à esquerda do rio Araguaia. Entre as aldeias indígenas estão “. É possível identificar relevo e vegetação pelo mapa. Nesse “Mapa Geral de Toda Capitania de Uilla Boa de Goyas” os rios garimpados estão com a coloração esvermelhada, representando a água barrenta que escoa das lavras mineradas. Também há representação de diversos agrupamentos indígenas espalhados pela capitania na forma de pontos vermelhos, conforme sua legenda. Essas informações poderão ser úteis em processos de localização de territórios indígenas e de identificação de povos emergentes ou indiodescendentes. Observa-se no mapa que, no nordeste da capitania, há o aldeamento do Rez.º do Duro. Na porção sul (atual Triângulo Mineiro) ele indica cinco aldeamentos: Prezidio do Rio das Pedras; Aldeya de S. Anna; dois identificados como Descoberto (mas de difícil leitura); e um outro sem denominação. No sudoeste (Figura 28), mais quatro: Alojamento do Gentio Caiapó; Atacados; Alojamento que Existe; e um outro sem denominação. À oeste do rio Araguaia, Figura 29, outras dez são apontadas. De sul para o norte, acompanhando os rios Das Mortes e Araguaya (passando pela Ilha do Bananal), estão: Gentio Bororó, Carajás, Xambibuá, Itapirapé, Cururu, Mongari, Gentiu Gradaú, Grapindayé, Guapingayé e Carajaú (de difícil leitura). Por fim, no centro da capitania (Figura 30), três aldeamentos estão presentes: “Aldeya Maria” e “Aldeya d S. Jozé”, ao sul da capital Vila Boa; e “Carretão”, a meio caminho para Crixás. Carta Corográfica Plana da Província de Goiaz e dos Julgados de Araxá e Desemboque da Província de Minas Gerais, de Cunha Matos [1836] A “Carta Corográfica Plana da Província de Goiaz e dos julgados do Araxá e Dezemboque da Província de Minas Geraes” (Cf. neste GUIA p. 121), “organisada pelo brigadeiro Raimundo Jozé da Cunha Mattos” e publicada em 1836. Foi elaborada para acompanhar os itinerários escritos pelo referido militar em 1826, que foi “Governador das Armas de Goiáz”. Atualmente este mapa está arquivado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Sobre o mapa publicado, estão manuscritas informações do trajeto realizado pelo brigadeiro quando de sua campanha em Goiás, e os caminhos percorridos pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire em 1819, notório pelo registro da fauna, flora, etnografia e costumes dos sertões brasileiros na primeira metade do século XIX. Além disso, há a correção (à caneta) de algumas informações publicadas no exemplar original. Página 175 – Aldeamentos localizados nos arredores da Capital Vila Boa de Goiás (figura 30) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para quatro retângulos, todos com linhas vermelhas e situados à esquerda do rio Araguaia. Na parte superior do mapa está “Carretão”. Na parte inferior do mapa “Vila Boa”, Aldeya de S. Joszé” e “Aldeya Maria”. É possível identificar relevo e vegetação pelo mapa. Página 175 – Detalhe do centro do mapa de Cunha Matos, onde consta a presença de Chavantes e Cherentes (figura 31) Descrição da imagem: no recorte do mapa, com destaque para o rio Tocantins e seus afluentes, está um retângulo com linha vermelha sinalizando a presença de índios Chavantes e Cherentes. A respeito da localização de tribos na Província de Goyáz e adjacências, inicio pelo norte, fora da província, às margens do Tocantins em território Paraense, onde há a indicação da presença de índios Jacundá e outros de difícil leitura. Acompanhando o rio Tocantins, acima do encontro com o Araguaia, há a identificação dos Apinajé, Botica, Carahós e Temembos ou Pepuxis, estes três últimos visíveis na figura 34. Entre o Tocantins e o Sonno, junto a Serra de Crixás, o militar grafou os índios Chavantes e Cherentes (Figura 31). Subindo o rio Tocantins, já no trecho chamado de Maranhão, a montante do rio Cana Brava, ele indica a presença dos Índios Canoeiros (Figura 32). Vale destacar que este povo está ausente em praticamente todos os mapas do período colonial analisados no presente artigo, com exceção do Mapa dos Bispados que referencia a presença do “gentio de Canoa q’ fala a lingoa geral” no mesmo rio Tocantins, e no “Mappa da extenção do segundo regimento de Cavalaria Auxiliar da Capitana de Goyáz”, que trata de umas terras “Despovoadaz pelas ustelides do Gentio Canoeiro”, conforme já explanei nos respectivos itens neste artigo. Página 176 – Localização dos índios canoeiros no alto curso do Rio Maranhão (figura 32) Descrição da imagem: no recorte do mapa, com destaque para o rio Tocantins e rio Cana Brava, estão os índios canoeiros, próximo aos “gentios que falam a língua geral”, na parte inferior do mapa. No topo do mapa estão os índios chavantes. Ainda na figura 32, está anotado à caneta, na cabeceira do Rio do Ouro, o “Presídio de Amaro Leite ou de S. Antônio”. E entre esse mesmo rio e o Furo do Bananal está a Serra Chavante, remetendo-se aos índios homônimos que, por lá, dominavam. Passando para o rio Araguaia (ou Grande), a partir de sua foz no rio Tocantins para o sul, o cartógrafo sinaliza os índios Tapirapé no rio de mesmo nome, afluente esquerdo do Araguaia. Mais ao sul, na mesma margem, há os Carajas e Carajavis, entre o Rio das Mortes e o “da Casca” (sic) – figura 33 . Na foz do rio das Mortes quando chega ao Araguaia está anotado à caneta o “Presídio de S. Isabel”.(Figura 33) Em relação aos aldeamentos, Cunha Matos mapeia as aldeias “de José Maria ou Sunancelhe” (de difícil leitura), “do Francisco ou Lapa” e a “do Bento [também de difícil leitura] ou Almeida” no baixo Araguaia. (Figura 34) Mais ao sul é possível ver a localização do “Carc. de S.ta Maria”, provavelmente o cárcere ou presídio de mesmo nome, já sinalizado no presente artigo como destruído por uma confederação de índios Karajá, Xavante e Xerente. Duro e S. Jozé constam na região próxima a fronteira da Bahia, que antes era com Pernambuco, mas não como aldeamentos. Na figura 35 é possível ver grafado ao sul da capital Goyas as localidades de “Maria” e “S. Jozé de Mossâmedes”, este colocado em manuscrito, aposteriori. Entrementes, não há referência de que se trata de aldeamentos, consta apenas suas denominações, como se fossem povoados luso-brasileiros. Da mesma forma está o Carretão, indicado ao norte da capital, como se vê na mesma figura. Levando-nos a crer que esse militar cartógrafo teve a intenção de apagar a memória indígena dessas localidades. Na região do “Sertão da Farinha Podre” (Figura 36), já indicado neste artigo como o atual Triângulo Mineiro, há referência de apenas um aldeamento, denominado “Aldeia Baixa”, próximo a localidade de Uberaba. Os aldeamentos de rio das Pedras, Estiva, Pissarrão, S.ta Anna e Lanhoso, visitadas em 1819 por Saint-Hilaire, não estão assinalados como tal, mas como simples localidades. Também não consta a aldeia de Boa Vista, visitada pelo mesmo viajante. Ravagnani (1987, p. 136-138) indica que os aldeamentos de Estiva e Boa Vista foram erigidos por volta de 1788, como já mencionado neste artigo. Vale anotar que a oeste dessa região, conforme se observa na mesma figura, está grafado “Sertoens da Paranahiba ou Farinha Podre, quazi despovoados”, no local onde comprovadamente viviam diversos Cayapós a época. Essa área do atual Triângulo Mineiro é apontada por Nimuendaju (2002 [1944]) como terra de Cayapós, e por Loukotka (1967) como de Panariás e Guarinos, além de Araxás e Araxuás mais para o leste. Página 177 – Sul da ilha do Bananal e adjacências (figura 33) Descrição da imagem: no final do recorte do mapa está na foz do rio das Mortes, chegando ao rio Araguaia, onde está situado o “Presídio de S. Isabel”. Um pouco à esquerda estão índios “Carajas” e “Carajavis”. Página 177 – Aldeias localizadas no baixo Araguaia (figura 34) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para cinco retângulos, todos com linhas vermelhas e situados na divisa do rio (sem nome). Na parte esquerda estão as aldeias “de José Maria ou Sunancelhe”, “do Francisco ou Lapa”, e “Bendito ou Almeida”. Na parte direita estão outras duas aldeias que, infelizmente, não é possível identificar os nomes pela grafia. Mappa dos itinerários levantados pela Comissão Exploradora do Planalto Central do Brazil (1894) Este mapa (Cf. neste GUIA p. 245) foi elaborado nos últimos anos do século XIX pelo grupo conhecido como Comissão Cruls, responsável pelos levantamentos e estudos do local de implantação da nova capital do Brasil. Ele ilustra o pensamento preconceituoso que o país estabeleceu após a Proclamação da República (1889/1992) em relação ao índio brasileiro. O início da República foi marcado pela “caboclização” de muitos povos indígenas, estes se utilizaram da estratégia de se autoidentificarem como “caboclos” devido à intensificação da violência e preconceito contra os que se intitulavam “índios” (ÂNGELO, 2013). Página 178 – Os aldeamentos de Maria I (figura 35) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para três retângulos, todos com linhas vermelhas e situados na Capitania de Goiás. Na parte inferior do recorte (Sul) estão “Maria e S. Jozé de Mossâmedes”. Na parte superior (Norte) está “Carretão”. Entre eles, rios e seus afluentes. Página 178 – Recorte com o “Sertão da Farinha Podre”, atual triângulo Mineiro (figura 36) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para seis retângulos, todos com linhas vermelhas e situados na Capitania de Minas Gerais. Ao lado direito, de cima para baixo, estão “Aldeia Baixa”, localizada próxima à cidade de Uberaba, seguida de “Lanhoso”, “Pissarão”, “Santa Anna” e “Rio das Pedra e Estiva”. Ao centro, sem rios (e afluentes) está o sexto retângulo “Quazi despovoados”. Página 178 – Região infestada pelos índios ao norte da Chapada dos Veadeiros (figura 37) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para a “Chapada dos Veadeiros” e, logo acima, triângulo com a informação “região infestada pelos índios”. Ao lado esquerdo está o rio Tocantins e rio dos Couros. A necessidade de afirmar o Brasil como nação independente, moderna e unida, desvinculada do passado lusitano representado pelo período colonial e imperial, levou diversos estadistas e servidores do Estado a eliminarem o índio daquele momento da história nacional, ou qualquer indício que pudesse ameaçar o poder com a volta da monarquia ou ameaçar a “unidade nacional” com a presença de outras nacionalidades. O extermínio de Canudos (1896/7) no sertão baiano ilustra bem esse momento (SANTOS, 2013, p. 255). Outro exemplo típico desse tipo de postura é dedicado ao embaixador brasileiro na França, Luiz de Souza Dantas, que dirigiu a palavra ao antropólogo Claude Lévi-Strauss em um jantar em Paris, no momento em que este memorável etnógrafo estaria de partida para lecionar sociologia na Universidade de São Paulo (USP), no começo dos anos 1930. Lévi-Strauss perguntou: [...] sobre os índios e como deveria proceder para visitar alguma comunidade indígena. O embaixador lhe respondeu: “Índios? Infelizmente, prezado cavalheiro, lá se vão anos que eles desapareceram. Ah, essa é uma página bem triste, bem vergonhosa da história de meu país. Mas os colonos portugueses do século XVI eram homens ávidos e brutais. Como reprová-los por terem participado da rudeza geral dos costumes? Apanhavam os índios, amarravam-nos na boca dos canhões e estraçalhavam-nos vivos, a tiros. Foi assim que os eliminaram, até o último. Como sociólogo, o senhor vai descobrir no Brasil coisas apaixonantes, mas nos índios, não pense mais, não encontrará nem um único.... (In LÉVI-STRAUSS, Claude. 1955. Tristes Trópicos apud RICARDO e RICARDO, 2011, p. 3). Como disse, a ideia de um país moderno não era compatível com a presença de indígenas no território. Nos mapas do início do período republicano não há indicação de aldeias ou territórios indígenas, e quando há, não se tem a preocupação de identificar qual é o povo e, sim, de registrar o preconceito de vê-los como animais, pragas. Sobre isso, este mapa que analiso, elaborado pela Comissão Cruls, utiliza o termo “região infestada pelos índios” (grifo meu) para “alertar” da presença indígena na região ao norte da “Chapada dos Viadeiros”, entre os rios Tocantins e Paranã, conforme se vê no recorte da figura 37. Apesar de não ser identificado de qual povo se trata, é bem provável que estes sejam os Avá Canoeiros, povos “invisíveis” em diversas cartas de Goiás analisadas neste artigo A mesma equipe de cientistas que trilhou os sertões para se conhecer o local de implantação da nova capital, carregou consigo o sentimento de desprezo aos povos nativos deste continente. Página 179 – Região infestada pelos índios nas cabeceiras dos rios “Roncador ou das Mortes” e Araguaya (figura 38) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para a as regiões infestadas pelos índios, entre as cabeceiras do rio Roncador ou das Mortes. Há dois triângulos com contorno vermelhos para sinalizar essas regiões, sendo o primeiro na parte superior do mapa e o segundo na parte inferior. Página 179 – Região infestada pelos índios no Jalapão, norte do então estado do Goiás (figura 39) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o norte do estado de Goiás, onde está a cidade de Jalapão. Um pouco abaixo desta cidade está o triângulo com contorno vermelho para sinalizar a região infestada por índios. Comissão de E. de F. de Catalão à Cuyabá [ca. 1895-1904] Da mesma forma que o anterior, este mapa (Cf. neste GUIA p. 260) apresenta outro exemplo concreto do preconceito sobre os povos ameríndios. A única indicação de indígenas que há nesse mapa (Figura 38) aponta uma “região infestada pelos índios” (grifo meu), entre as cabeceiras do rio “Roncador ou das Mortes” e as do rio Araguaya, local de comprovada morada de Boróros, Xavantes e Cayapós, dentre outros, na época de elaboração do mapa. Carta do Estado de Goyas [1902] Novamente, assim como os dois mapas republicanos anteriormente analisados, essa carta (Cf. neste GUIA p. 211) utiliza o termo “região infestada pelos índios” para indicar a presença indígena no Jalapão, norte do estado de Goiás (veja recorte na Figura 39), não se importando em informar o nome das nações. Provavelmente se referiam aos Xerentes, Timbira (Krahô, Canela etc.) e outros povos como os Akroá. Mappa do Estado de Goyaz [1918] Esse mapa (Cf. neste GUIA p. 122), diferentemente dos outros do início do período republicano, já passa a indicar as etnias indígenas localizadas no interior de Goiás. No norte do estado, ao longo do rio Tocantins de norte para sul, situam os Apinagés, Carahôs e Cherentes. Estes últimos, em diversas localidades do atual centro-norte tocantinense (Figura 40). Subindo o rio Araguaia, de norte para sul, o mapa indica a presença de Cayapós, Carajás, Tapirapés, Javahés e Chavantes, Canoeiros e Boróros. A figura 41 apresenta algumas dessas tribos na região da Ilha do Bananal. Note que, no encontro do rio Araguaya com o das Mortes, está situado o “Barreiro dos Chavantes”. E, ao norte da Ilha do Bananal, as aldeias de 4 Boccas, C. João, José e Cumaré, esta já no continente. A figura 41 apresenta, ainda, uma vasta região entre a Ilha do Bananal e o Rio Maranhão sem uma localidade grafada. Nesta região, cravada entre a Serra Dourada e o Rio Maranhão, está indicado o “Sertão desconhecido”. Este ponto é exatamente aquele onde o “Mappa da extenção do segundo regimento de Cavalaria Auxiliar da Capitana de Goyáz” (Cf. neste GUIA p. 62) de 1782, anotou que foi despovoado devido às hostilidades dos índios Canoeiros, mas que o local detinha “terras boas” para a pecuária. Entrementes, pelo visto, é bem provável que até o momento da elaboração do presente mapa (1918), os índios Avá-Canoeiro mantiveram guardada essa parte de seu território. Página 180 – Localização de diversas tribos Carahôs e Cherentes no Norte do então Estado de Goiás (figura 40) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o interior do estado de Goiás, ao longo do rio Tocantins, subindo o rio Araguaia, de norte para o sul. Há sete triângulos com contorno vermelhos para sinalizar as etnias indígenas, como Cayapós, Carajás, Tapirapés, Javahés, Chavantes, Canoeiros e Boróros. Página 180 – Localização de tribos indígenas na região da Ilha do Bananal e do “Sertão desconhecido” (figura 41) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para a Ilha do Bananal, onde dentro e próximo estão presentes oito tribos indígenas, entre elas: Cayapós, Carajás, Tapirapés, Javahés, Chavantes, Canoeiros e Boróros. O rio Araguaya se encontra com o rio das Mortes, ao lado esquerdo da Ilha do Bananal, onde está situado o "Barreiro dos Chavantes". Esta carta de 1918 também faz referência a uma Missão junto à cidade de Duro. Atualmente, a cidade mudou de nome, chama-se Dianópolis, mas o povoado de Missão é a toponímia utilizada até os dias de hoje na localidade onde recebeu os aldeamentos daquela região. Sua população descendente dos indígenas que lá viveram, conservam um dos aldeamentos, realizando anualmente festejos (SANTOS, 2013, p. 206-207), conforme já abordei no item que trato do “Mapa Geral de Toda Capitania de Vila Boa de Goias”, de 1820. Ao sul da capital Goyaz, consta o arraial de S. José de Mossâmedes e a Aldeia Maria(Figura 42). Apesar do primeiro não estar identificado como um aldeamento, o segundo denota que, pelo menos até o ano de 1918, se preservou claramente a referência ao aldeamento estabelecido no início da década de 1780 para abrigar os Cayapó meridionais. É possível que esses índios (ou seus descendentes) ainda viviam por lá. Página 181 – Aldeias Maria e Arraial de S. José de Mossâmedes (figura 42) Descrição da imagem: recorte do mapa com destaque para o sul da capital Goyaz, onde está S. “José de Mossâmedes” marcado num triângulo contornado de vermelho, na parte inferior à esquerda, acima da “Aldeia Maria”, também marcada por outro triângulo. Na parte superior à direita do mapa está o terceiro triângulo sinalizando “Mata inexplorada”. Página 181 – Povos indígenas que habitavam a região do Distrito Federal e entono por volta do ano de 1700 (figura 43) Descrição da imagem: mapa marcando em negrito o “Distrito Federal” e, aos arredores, as tribos indígenas. Mais próximos da capital estão Xakriabá, Krixá, Xerente, Cayapó. Ao lado esquerdo do DF está o estado de Goiás, que conta com algumas tribos indígenas nas proximidades, como Ushickin, Anicum, Canoeiro e Krixá. Mapa etnolinguístico do Planalto Central e adjacências – por volta do ano de 1700 (2013) O mapa da p. 186 deste GUIA, elaborado pelo presente autor (SANTOS, 2013), utilizou como fontes além de mapas históricos apresentados no presente artigo, os mapas de Nimuendaju (2002 [1944]) e Loukotka (1967), relatos de viajantes, livros de história, laudos e estudos etnográficos, mas principalmente: os históricos de 1.100 municípios reunidos em IBGE (2012), onde 155 deles apresentaram informações relevantes para a localização de etnias na área do mapa. Este mapa traz informações étnicas que ainda não haviam sido cartografadas. Por exemplo, informa que houve, pelo menos, duas etnias que tiveram algum tipo de registro na região do Distrito Federal. São os índios Krixá e os Xakriabá (Figura 43). O Krixá está registrado na obra de Paulo Bertran (1999, p. 67) que apresenta relatos do século XVIII sobre uma tribo “Quirixá”. Ele baseia-se principalmente nos relatos do alferes Silva Braga, da expedição de Anhanguera II, que se deparou com uma aldeia desses índios nas cabeceiras do rio Paranã, próximo a atual cidade de Formosa: Chama-se esse gentio Quirixá, vive aldeado, usa arco e flexa e porretes; é muito claro e bem feito; anda todo nú, assim homens como mulheres. Tinham 19 ranchos, todos redondos, bastantemente altos e cobertos de palmito, com uns buracos juntos ao chão em lugar de portas; em cada um destes viviam 20 a 30 casais juntos, as camas eram uns cestos de buritis que lhes serviam de colchão e cobertas; eram pouco mais de 600 almas; estava situada toda esta aldeia junto dum grande córrego com bastante peixe e bom; no segundo dia que marchamos a buscá-la, encontramos um rio caudaloso em que havia muitos peixes, cajus, palmitos e muita caça, que nos serviu de muito. Nesta aldeia achamos 200 mãos de milho, 25 batatais, muitas araras e também alguns periquitos, que nos serviam de sustento e de regalo; tinham também bastante copias de cabaça e panelas e uma grande multidão de cães, que mataram quando fugiram e retiraram de todo, só a fim de não serem sentidos das nossas armas, como experimentamos depois nas bandeiras que se lançaram a espiá-los. (narrativa do alferes José Peixoto da Silva Braga ao padre Diogo Soares, em 1734, a respeito da expedição de Bartolomeu Bueno da Silva II, de 1722, in Zoaroastro Artiaga, Contribuição para a História de Goiaz, p. 16-23, Goiânia, Departamento Estadual de Cultura, 1947, apud Bertran, 1999, p. 76). Comparando a descrição dos alimentos, utensílios, animais e configuração da aldeia com a dos atuais Xavante, a similaridade é gritante, especialmente com a aldeia Etenhiritipá, na Terra Indígena Pimentel Barbosa, município de Canarana/MT, que tive a oportunidade de visitar em maio de 2012, conhecida como uma das últimas desse povo que, ainda, mantém costumes e configuração como faziam seus ancestrais. Assim, é bem provável que os antigos Crixás (Krixá ou Quirixá) da literatura colonialista também sejam um povo Akwén, conforme afirma Rodrigues (2004): [...] um outro povo, cuja presença a leste do Araguaia foi registrada no século XVIII, é o povo Krixá, cujo nome ficou fixado no topônimo goiano Crixás. Pois esse é o nome que os dois povos indígenas vizinhos dos atuais Xavánte dão a estes em suas respectivas línguas: em Karajá Krysa ou Kyrysa e em Tapirapé Kyrytxa. Isso faz pensar que os atuais Xavánte ou A’wen são descendentes dos Krixá do século XVIII (p. 71). No período colonial brasileiro os Akwén “ocupavam originalmente a bacia do Tocantins, desde o sul de Goiás até o Maranhão, estendendo-se do rio São Francisco ao Araguaia” (D. RIBEIRO, 2009 [1970], p. 80). Akwén refere-se a todos os povos falantes de uma mesma língua Jê Central. Atualmente há dois povos Akwén que mantém seu idioma original, os Xavante e os Xerente (SANTOS, 2013, p. 271). Os Xerente foram registrados por Loukotka (1967) vivendo nas imediações do Distrito Federal, pouco ao norte, como pode ser observado na figura 43. Os Xakriabá, que também aparecem no “Mapa Etnolinguístico do Planalto Central e adjacências” localizados no Distrito Federal, também é um povo Akwén, porém não mais falante do idioma indígena. Entrementes, iniciaram um intercâmbio cultural com os Xerente para resgatar sua língua nativa (SANTOS, 2013, p. 270). Assim, pode ser que os Xerente, Krixás e Xakriabás citados sejam o mesmo povo, registrados em momentos diferentes com nomes distintos. Já que Lopes da Silva (1998 [1992], p. 357) indica que os Xavante e os Xerente formavam um povo só que se separaram no século XIX, quando os primeiros migraram do norte do então Goiás (atual Tocantins) para a região do rio das Mortes em Mato Grosso. Antes disso, entretanto, no século XVII, é possível que os Xakriabá faziam parte do mesmo grupo, quando o território Akwén se expandia entre os rios São Francisco e Tocantins, como relata Donizete, um professor indígena Xakriabá em entrevista coletada por mim na Terra Indígena deste povo: O [povo] Xakriabá antes ficava lá perto de Itacarambi [...] onde tem o São Francisco aquele rio. Porque ali já ficava perto dos Cayapó e dos Xavante. Era um povo só. E depois, com as guerras, foram se dividindo, que hoje tem até Xerente lá no Tocantins, Xavante no Mato Grosso, Xakriabá aqui mas, porém, era um povo só. [...] Aí se dividiram, uns foram para lá e outros ficaram aqui. Quando tinha essa época, não existia contato nenhum com branco. (Entrevista com Donizete Barbosa de Sousa, indígena Xakriabá, professor na aldeia Brejo do Mata Fome, Terra Indígena Xakriabá, município de São João das Missões/MG, em novembro de 2011, apud SANTOS e ELOY, 2012). Em tempos mais longínquos, antes do século XVI, é possível que os Akwén tenham tido contato com o litoral do leste do Brasil, de acordo com os estudos de Welch (2009, p. 21-22). Também é possível observar no detalhe da figura 43 a presença dos povos Anicun, Goyá e Ushicrin, a oeste da atual capital federal, e que não constam em nenhum mapa histórico aqui analisado, mas aparecem em relatos de sertanistas dos séculos XVII e XVIII e nos mapas de Nimuendaju (2002 [1944]) e Loukotka (1967). O “Mapa Etnolinguístico do Planalto Central e adjacências” também faz referência a povos Naudez e Assú (Figura 44), na região dos aldeamentos de Duro e Formiga, conforme apontam os históricos do IBGE (2012). No norte da antiga Capitania de Goiás constam, por volta do ano de 1700, os povos Kenpokatajê, Macamecran e Krahô, em local que atualmente pertence ao estado de Tocantins. Desses, apenas os Carahô (Krahô) serão citados nos mapas do século XIX. Isso, talvez, tenha ocorrido devido alguma incompatibilidade na grafia do nome étnico entre as diversas fontes utilizadas pelos cartógrafos. Mas estes povos, que possivelmente pertencem ao subgrupo Timbira da família Jê Setentrional, podem ter ocupado estas terras após terem sido expulsos pelos currais que passaram a surgir no sul do Piauí a partir do final do século XVII, como já abordado no item que trato sobre o “Mapa dos Rios Tocantins e Araguaya”, de 1813. Às páginas 186-190, o leitor poderá observar os mapas que apresentam a evolução de deslocamentos e resistência dos povos indígenas do Planalto Central, desde o ano de 1700 ao ano de 1900. Apesar de alguns povos não constarem mais nos mapas, é possível que remanescentes de suas populações estejam vivendo em comunidades rurais isoladas nos sertões do Brasil Central (SANTOS, 2013, p. 319-320). Página 182 – Recorte do “Mapa Etnolinguístico do Planalto Central e adjacências” (figura 44) Descrição da imagem: no mapa é possível visualizar dois estados, Tocantins e Bahia. AO redor deles, diversas tribos indígenas. Próximo a Tocantins estão Xakriabá, Aricobé, Xavante, Canoeiro, Xerente, Gueché. Próximo a Bahia estão Xerente, Kenpokateyé, Krahô, Mákamekra, Akroá, Caraho, Gueché, Macamecran, Tupi, Canoeiro. Conclusão Com base nos mapas históricos analisados no presente artigo observa-se a recorrente referência a notáveis tribos na Capitania de Goiás no decorrer do século XVIII, são elas a Xavante (a noroeste), a Akroá (a nordeste), a Cayapó (a sudoeste) e Curumaré (na Ilha do Bananal). Além delas, que aparecem em praticamente todas as cartas que trazem registro de localização étnica da região nesse período histórico, há outros povos que são mencionados em pelo menos uma carta setecentista, como os Canoeiros (ou Avá Canoeiro), os Javaé, os Karajá e os Chicriabá (Xakriabá). E por fim, observando o “Mapa Etnolinguístico do Planalto Central e adjacências”, outras fontes ainda fazem menção aos Krixá, Xerente, Anicun, Goyá, Ushicrin, Naudez e Assú. No século XIX, outras etnias começam a constar nos mapas. Ao norte de Goiás, constam os Apinajé, Neraquagé, Puxiti, Piecobigê, Ponecategé, Prurecamecran, Canacategê, Crurecamecran, Piocamecran, Aogê, Crangé, Botica, Carahós e Temembos ou Pepuxis. Esse “surgimento” em Goiás pode ter ocorrido devido às “correrias” que os povos Timbira realizaram para oeste ao ver seu território nativo no sul do Piauí invadido por currais baianos, no século XVIII. Ao longo do Araguaia, ou a oeste dele, também passam a ser registrados os Xambibuá, Itapirapé, Cururu, Mongari, Gradaú, Grapindayé, Guapingayé, Carajaú e Carajavis. Isso deve ter ocorrido devido ao maior conhecimento que os Luso-Brasileiros foram adquirindo nessas regiões a partir do último quartel do século XVIII, após se concretizar as comunicações fluviais com Belém do Grão-Pará devido às expedições de Tomás de Souza. Pois no período áureo da mineração (segundo quartel do séc. XVIII) não se tinha muito interesse em atingir a região do baixo Araguaia, devido a inexistência de garimpos e abundância de “tribos hostis”. Os aldeamentos (reduções ou presídios) registrados em mapas históricos são mais recorrentes nos mapas setecentistas. Dentre eles destacam-se aqueles construídos por bandeiras na primeira metade do século XVIII para Boróros e Parecís na estrada que ligava com a Vila de São Paulo, próximo aos rios Das Pedras e Pissarrão, e o formado por padres jesuítas denominado Sant’Anna, na mesma região do atual Triângulo Mineiro. Também há referência aos aldeamentos de Duro e Formiga próximo à Serra Geral, erigido para Akroás e Xakriabás; o Maria I, São José de Mossâmedes e Carretão de Pedro III para Cayapós, Xavantes e outros na região da capital Vila Boa de Goyáz; e o Nova Beira e Santa Maria, dentre outros ao longo do Araguaia, construídos para aprisionar Karajás e Javaés, mas que recebeu outros povos, e foram destruídos por uma confederação que envolveu Karajás e Jês. Os mapas do século XIX em diante irão, cada vez mais, ilustrar estes aldeamentos como simples localidades, apagando a história indígena presente nesses presídios que serviram para povoar áreas com uma população ruralizada a partir da conversão de índios em agricultores, bem como combater índios “indolentes” que “impediam” o avanço da frente de expansão colonial. Mas que, na verdade, buscavam proteger seu território ancestral que ano a ano era invadido e usurpado pelos luso-brasileiros. Nos mapas do período inicial da República, o preconceito dos servidores do Estado em face dos poucos índios que resistiram vivendo em território emancipado do domínio brasileiro se manifestava nas cartas oficiais. O uso de termos como “região infestada pelos índios” se torna regra geral em todos os mapas analisados para o início desse período. Por fim, o “Mapa Etnolinguístico do Planalto Central e adjacências”, elaborado recentemente em minha pesquisa de mestrado, encerra este artigo localizando etnias que não constam nos mapas históricos, mas que aparecem em outras fontes como relatos de viajantes, etnografias e, principalmente, nos históricos do IBGE (2012), ineditamente mapeados. Assim, ficou revelado em cartografia que os povos Krixá e Xakriabá viveram no Distrito Federal, e os Xerente nas adjacências. Além disso, as etnias Anicun, Goyá e Ushicrin, à oeste da atual capital federal; Naudez e Assú, próximo a Serra Geral; e Kenpokatajê, Macamecran e Krikati, no norte da antiga Província de Goiás, adicionam informações etnonímicas e de etnolocalização além das encontradas nos mapas históricos apresentados neste GUIA. Apesar de não ter sido explorado neste artigo, uma pesquisa toponímica poderá indicar a morada de outras etnias. Por exemplo, a Serra do Caiapó recebeu este nome devido à presença de índios homônimos. O rio Crixás, Chavante, Caiapó e Tapirapé também indicam que nesses locais existem ou existiram as respectivas tribos. Até mesmo o nome de localidades como Anicuns, Crixás e Caiapônia, rememora a presença indígena na região. Com este artigo, podemos ver que a diversidade étnica de nosso país era muito maior do que vemos hoje, e que os mapas históricos podem nos ajudar a desvendar quem eram e onde estavam os povos originários de nosso país, desde que o pesquisador tenha um olhar crítico sobre a obra, pois por se tratar de mapas, produtos do intelecto humano, estão arraigados de ideologia. E, portanto, ao invés de esclarecer, podem suscitar outras dúvidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADONIAS, Isa; FURRER, Bruno. Mapa: Imagens da Formação Territorial Brasileira. Rio de Janeiro: Fund. Emílio Odebrecht, 1993. ALENCASTRE, José Martins Pereira de. Anais da Província de Goiás. Goiânia: Sudeco, 1979 [1869]. ÂNGELO, Francisca Navantino Pinto de. 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Neste mapa, há um caminho sinalizado por um traço reto na cor vermelha, que inicia na parte inferior, seguindo até a parte superior do mapa, inclinando para a esquerda. É o “Caminho de Goyazes”, que se inicia na Vila de Santos, no paralelo 24 e, segue até o paralelo 17. Passa pela serra do mar até o rio do Peixe, com destaque para a cidade de São Paulo, vilas, fortalezas, arraiais, rios e trilhas. A rede hidrográfica está desenhada ao longo do caminho. No carimbo, no canto superior direito, constava a explicação dos desenhos utilizados para assinalar cidade, vila, fortaleza, arraial e sítio. Página 192 – Mapa da Capitania de Goiazes e de todo o SErtão por onde passa o rio Maranhão ou Tocantins (figura 2) Descrição da imagem: mapa aquarelado, onde consta todo o sertão apresentando os afluentes dos rios Maranhão e Tocantins, com destaque para a serra Negra, o rio Paraná, as trilhas e as localidades. O relevo e a vegetação estão presentes em todo o mapa. Há também, como na imagem anterior, linhas finas ao fundo do mapa, que formam vários quadrados pequenos, são os paralelos. Ao término de cada linha, tanto na vertical quanto na horizontal há uma numeração. Página 193 – Carta cartográfica plana da província de Goiás e dos Julgados de Araxá e desemboque da Província de Minas Gerais (figura 3) Descrição da imagem: planta aquarelada, onde consta, no início do mapa, a província do Pará, seguida do Maranhão, Mato Grosso, Minhas Gerais, Goiás e São Paulo. O estado de Goiás está mais detalhado, repleto de rios e afluentes ao redor. No entanto, não é possível identificar pelo tamanho da letra e grafia. Há algumas linhas vermelhas contornando o mapa, de o Maranhão até São Paulo. Na esquerda do mapa está um quadrado, com parte do mapa, com destaque para o rio (não há como saber o nome) e diversos afluentes, onde tem uma seta virada para cima. Página 194 – Guia dos Caminhantes – Carta nº 4 Capitania de São Paulo (figura 4) Descrição da imagem: mapa contendo a região de São Paulo sinalizada por uma linha vermelha em todo o seu contorno. Há muitos relevos, vegetação, rios, serras, povoação. Nas laterais do mapa há também numeração (para melhor se localizar). Próximo à Barra Grande, na lateral à direita do mapa, há uma rosa dos ventos com flor-de-lis. Página 195 – Guia dos Caminhantes – Carta nº 5 Capitania de Mato Grosso e Cuiabá (figura 5) Descrição da imagem: mapa contendo a região de Mato Grosso e Cuiabá, sinalizadas por uma linha vermelha em todo o seu contorno. Há muitos relevos, vegetação, rios, serras, povoação. Nas laterais do mapa há também numeração (para melhor se localizar). No canto superior à direita está uma rosa dos ventos com flor-de-lis. Página 196 – Guia dos Caminhantes – Carta nº 9 Capitania do Rio de Janeiro (figura 6) Descrição da imagem: mapa contendo a região do Rio de Janeiro, sinalizada por uma linha vermelha em todo o seu contorno. Logo acima está Minas Gerais. Há muitos relevos, vegetação, rios, serras, povoação. Nas laterais do mapa há também numeração (para melhor se localizar). Contornando o estado, o mar e várias pequenas ilhas. A maior delas, a Ilha do Governador, fica dentro de uma pequena “barriga” ou entrada do mar para dentro do Estado, formando quase um círculo, só não sendo completo por conta da entrada. No canto superior à direita está uma rosa dos ventos com flor-de-lis. A rosa dos ventos com flor-de-lis está localizada no cruzamento entre duas linhas, sendo a primeira que saí da Ilha do Governador e a segunda de Garatiba. Página 197 – Guia dos Caminhantes – Carta nº 10 Capitania de Goiazes (figura 7) Descrição da imagem: mapa contendo a região de Goiás, sinalizada no meio do mapa por uma linha vermelha em todo o seu contorno. Há muitos relevos, vegetação, rios, serras, povoação. Nas laterais do mapa há também numeração (para melhor se localizar). Na parte superior, mais para a direita, está uma rosa dos ventos com flor-de-lis. Página 198 – Mapa do Estado de Goiás (figura 8) Descrição da imagem: mapa contendo a região de Goiás. Numa faixa verde mais larga está do Rio Tocantins, que começa no topo do mapa e é dividido assim que entra no estado, sendo que o lado esquerdo tem maior trajeto que o direito. Por eles, nascem vários afluentes. Uma linha verde fina marca os rios e ribanceiras. No mapa estão marcados também duas estradas de ferro, várias estradas para carros, uma estrada verde pontilhada indicando a linha área e o desenho de um avião, quase no centro do mapa, indicando o aeroporto. Na parte superior à esquerda do mapa está a planta da cidade de Goiânia, completamente organizada e numerada indicando a localização precisa do/a Palácio do Governo, Secretarias, Palácio do Tribunal das Relações, Palácio do Congresso, Inspetoria Agrícola do Trabalho, Delegacia Fiscal, Juízo Federal e Eleitoral, Correios e Telégrafos, Prefeitura Municipal, Segurança Pública, Igreja, Colégio dos Padres, Ginásio do Estado, Grande Hotel, Casa de Saúde, Piscina, Automóvel Club de Goiás, Praça do Centro de Diversões, Santa Casa, Corpo dos Bombeiros, Limpeza Pública, Garage, Banco do Brasil, Jardim da Infância, Horto de Botafogo, Posto Meteorológico, Estádio, Casa de Detenção, Templo Protestante, Oficina de marcenaria, Escola de Aprendizes Artífices, Colégio das Freiras, Casa da criança, Estação da Ferrovia, Armazéns da Ferrovia, Quartel da força Estadual, Quartel do Exército Federal, Policlínica, Catedral, Palácio Episcopal, Cúria Arquidiocesana, Reservatório d’Agua, Radio. A rosa dos ventos com flor-de-lis está localizada no mapa abaixo na planta de Goiânia e ao lado do Estado, ou seja, na lateral esquerda. Página 199 – Mapa do giro que deu o tenente José Roiz Freire (figura 9) Descrição da imagem: mapa é um desenho simples, com menos traços, destacando apenas a região do Planalto Brasileiro, entre os atuais estados de Goiás e Tocantins. Mostra rios, cidades, serras e morros. Na parte superior à direita está uma rosa dos ventos. Página 200 – Mapa dos sertões que se compreendem de mar a mar (figura 10) Descrição da imagem: mapa com poucos traços, destacando os sertões entre as capitanias de São Paulo, Goiás, Cuiabá, Mato Grosso e Pará. Na costa, à direita, está o mar, simbolizado por um navio. O mapa começa com a Ilha de Joannes, no estado do Pará. Goiás está sinalizado por uma linha amarela em toda a sua volta. Página 201 – Parte do governo de São Paulo e parte dos domínios da coroa da Espanha (figura 11) Descrição da imagem: o mapa apresenta a região de São Paulo. Visualmente, parecem duas árvores, lado a lado, sendo o rio o tronco e os afluentes os diversos galhos que compõem uma árvore. No mapa há vegetação, relevo e igrejas. Página 202 – Parte do governo de São Paulo e parte dos domínios da coroa de Castela (figura 12) Descrição da imagem: o mapa apresenta a região de São Paulo. Visualmente, parecem duas árvores, lado a lado, sendo o rio o tronco e os afluentes os diversos galhos que compõem uma árvore. No mapa há vegetação, relevo e igrejas. Na parte inferior à direita do mapa há uma região bastante aglomerada e habitada, composta por relevo, igreja e estradas. Página 203 – Mapa geográfico da capitania de Vila Boa de Goiás (figura 13) Descrição da imagem: mapa aquarelado e bastante apagado, contendo a Capitania de Goiás e parte de Minas Gerais. Há muitos rios e afluentes. As tribos indígenas também estão descritas, apesar de não tão legíveis. A rosa dos ventos com flor-de-lis está na parte superior à direita do mapa. Página 210 – Arquivo Nacional – Carta topográfica e administrativa da província de Goiás (1) Descrição da imagem: mapa dividido em quatro cores, sendo a primeira parte (topo do mapa), em vermelho, representando a Comarca do Porto Imperial (Pará, Maranhão e Piauí). A segunda, em verde, representa mato Grosso. A terceira, em amarelo, a Comarca de Goiás. A quarta, em azul, representa da Comarca de Sa (Minas Gerais). No Goiás estão as cidade, vilas, julgados, freguesias e mais de 100 capelas. Página 211 – Carta do Estado do Goiás (2) Descrição da imagem: mapa iniciado pelo estado do Pará, seguido do Maranhão, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. O Distrito Federal está em destaque, num retângulo verde, localizado entre o meio e o final do mapa, para o lado direito. Ao redor deste espaço estão as cidades de Pirenópolis, Corumbá e Formosa. Ao lado esquerdo do mapa está a planta da capital, contendo a legenda dos pontos mais importantes, como: Palácio do Governo, Matriz, Igreja de N.S da Boa Morte, Quartel da força Federal, Cadeia, Colégio S. Anna, Correio, Faculdade de Direito, Igreja de S. Francisco de Paula, Mercado, Asilo de S. Vicente de Paula, Delegacia Fiscal, Quartel do Corpo de Polícia, Teatro de S. Joaquim, Igreja de N. S. do Rosário e convento dos Dominicanos, Senado Estadual, Secretaria de Finanças, Igreja de N. S d’Abadia, Hospital de S. Pedro de Alcântara, Igreja de N. S do Carmo, Escola primaria, Estação telegráfica, Juízo Seccional, Câmara dos Deputados e Escola Primaria. Ao lado da planta da capital está uma rosa dos ventos com a indicação “Norte” para cima, e “Sul” para baixo. Página 216 – Trigant Des Genettes e a Carta da Freguesia de Snata Luzia de Goiás (1883-1884), breve biografia de Trigant Des Genettes – Por Wilson Vieira Junior Descrição da imagem: desenho aquarelado de uma vila, contendo igrejas, estradas, montanhas e rios. No final do século XIX, François Henry Trigant des Genettes se dedicava à ocupação de pároco da igreja matriz de Santa Luzia, povoado que surgiu em 1746 durante o garimpo do ouro em Goiás. O vigário des Genettes já estava com 75 anos de idade quando foi ordenado na matriz de Meya Ponte. A atividade de sacerdote somava-se a tantas outras que preencheram uma vida bastante atribulada de feitos e descobertas. Nascido em 1801, em Panillac, França, após formar-se em medicina em Brest, foi a Marrocos, norte do continente africano. Em 1839, desembarcou no Rio de Janeiro. Passou um tempo como médico, jornalista, professor e minerador em Minas Gerais. Passou pelas cidades de Ouro Preto, Araxá e Uberaba, defendendo a separação da região que chamou de Triângulo Mineiro, Sertão da Farinha Podre, da província de Goiás. Em 1868 chegou à cidade goiana de Meya Ponte (atual Pirenópolis), onde fundou escola e deu aula. Em viagens pelos municípios goianos, coletou informações sobre a hidrografia, geologia e geografia reunidas nos artigos “Estudos sobre o município de S. Luzia e parte do da Formosa” e “Estudos sobre as Freguesias de S.ª Luzia e do Mestre de Armas”, publicados em periódicos da época. Pelas atividades de pesquisa, tornou-se correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Em 3 de julho de 1876, foi ordenado padre na matriz de Meya Ponte. Naquele ano, celebrou sua primeira missa na cidade de Corumbá. Estava como pároco em Santa Luzia (atual Luziânia), em 1883 e 1884, quando organizou o Mappa Topographico da Igreja Parochial, Capelas, e Cemiterios de Sancta Lusia, texto e iconografia do município com base nos serviços sacerdotais de visita às paróquias da freguesia, fazendas, cemitérios, realizando batizados e casamentos. O mapa e o manuscrito fazem parte do acervo do Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central (IPEHBC). Este trabalho se propõe a realizar breve apresentação dos documentos, apontando temas que podem ser trabalhados em análise aprofundada. A freguesia de Santa Luzia O sacerdote des Genettes inicia seu relato com sucinta historiografia de Santa Luzia. A Cidade de S. Lusia desta Diocese, e Província de Goiaz que a outro tempo se denominava o Arraial de S. Antonio da Boa-vista por veneração ao orago menos principal cuja veneração athe hoje continua na Ermida de Santo Antonio de Padua situada alem do Rio denominado de Descoberto, huá, dista da Igreja Parochial da S. Padroeira de Goiaz 55 legoas mais ou menos, e por Alvará de 21 de Outu- Bro de 1759 foi elevada á Freguesia de natureza Collativa com a denominação de Igreja da Virgem Matriz S. Lusia. Página 217 – Os limites das Paróquias no século XIX (Figura 1) Descrição da imagem: desenho do mapa de Goiás, contendo nos espaços que seriam os estados, uma numeração, com os dados das paróquias e cidades. 1- Santana de Goiás; 2- Ouro Fino; 3- Nossa Senhora do Rosário - Arraial Barra; 4- Mossâmedes; 5- Nossa Senhora Abadia do Curralinho; 6- Santa Rita de Antas; 7- Anicuns; 8- Nossa Senhora da Penha - V. de Jaraguá; 9- Meia Ponte; 10- Nossa Senhora do Corumbá; 11- Rio Grande; 12- Divino E. S. das Torres do Rio Bonito; 13- Rio Verde; 14- Nossa Senhora das Conceição de Campinas; 15- Nossa Senhora do Bonfim; 16- Santa Cruz; 17- Nossa Senhora do Carmo da V. Bela do Paranahyba; 18- Santa Rira de Paranahyba; 19- Catalão; 20- Santa Luzia; 21- Formosa; 22- Entre Rios; 23- Nossa Senhora da Abadia do Pouso Alto; 24- Crixás; 25- Pilar; 26- Amaro Leite; 27- Palma; 28- Vila São José do Tocantins; 29- Santa Rosa; 30- Natividade; 31- Conceição do Norte; 32- Porto Imperial; 33- Arraias; 34- Cavalcante; 35- Flores; 36- Chapéu; 37- Trahiras; 38- Carmo; 39- Vila de São Domingos; 40- Boa Vista de Tocantins; 41- Taguatinga; 42- São Miguel e Almas; 43- São Félix (Cavalcante); 44- São José do Duro. No mapa há algumas áreas mais escuras que constam na legenda como "informações insuficientes sobre as áreas"; são nos números 44, 41, 26,43, 37, 28, 21, 14, 16, 17, 22 e 19. Página 218 – Mapa topográfico da igreja paroquial, capelas e cemitérios de Santa Luzia (Figura 2) Descrição da imagem: mapa com destaque para Santa Luzia, que está no centro, sinalizada por um quadrado de linha vermelha. Poucos elementos são possíveis identificar no mapa, visto que está bem claro e a grafia é pequena e de pouca compreensão. No entanto, as igrejas são sinalizadas pelo desenho de uma cruz e há uma dentro do espaço delimitado, ou seja, em Santa Luzia. Ao lado está uma imagem ampliada de Santa Luzia – ainda assim não é possível identificar elementos. O território de Santa Luzia estendia-se por 480 km de comprimento e 180 km de largura (AZEVEDO, 1987, p. 197-198). Hoje, considerando esses limites, podemos incluir o Distrito Federal e Brasília ocupando um pequeno quinhão de 5.800 km² do antigo território. (Figura 1). A representação iconográfica de Santa Luzia, organizada por des Genettes, remete à percepção de amplo território densamente povoado por fazendas (Figura 2), período no qual, conforme ressalta Aguiar, (2003, p. 97) as áreas ao sul da província de Goiás se beneficiaram da integração com as regiões cafeeiras, e dessa forma capitalizaram mais que as áreas ao norte da província. A descrição dos limites de Santa Luzia por des Genettes. Esta Freguesia dividi-se ao leste com as Parochias da Villa Formosa da Imperatriz, e de Sancto Antonio da Cidade do Paracatú, para oeste com a Freguesia da Senhora da Penha do Corumbá, ao Norte com as da Villa Formosa, e de Trahiras, se- guindo as divisas de huá e outra Parochia athe a distancia de vinte e cinco legoas desta cidade, acom- panhando as vertentes do Rio Maranhão athe confrontar com a Parochia de S. José do Tocantins, e ao Sul com as Parochias de Catalaõ, Vai-vem, e Santa Cruz, ficando a da cidade do Bomfim ao Sudueste. Casamentos e concubinatos A posse de enormes quantidades de terras regia a política e a economia regional, mas as fazendas eram pobres. As terras estavam destinadas ao gado solto no pasto e a agricultura era para o abastecimento do fazendeiro, família e agregados. A população distribuída pelas fazendas do município encontrava-se a grandes distâncias da cidade de Santa Luzia e a disponibilidade de sacerdotes era muito pouca para atender a tão vasto território. Tal situação permitia que os moradores rurais desenvolvessem mecanismos adaptativos que atendessem às suas condições de vida. Os casamentos praticamente inexistiam. O concubinato era a prática corrente entre as famílias. Por ser menos dispendioso, não precisava apresentar documentos e evitava o deslocamento até a distante igreja na vila. O bispo de Goiás, Dom Cláudio Ponce de Leão (1881–1890), assim registrou: “no ano de 1882 mais de quatrocentos casamentos, e no anno de 1883, mais de mil, quase todos de concubinarios” (SILVA, 2006, p. 292). Por seu lado, a igreja tentava dar um destino religioso à união, mas, apesar de condenar tais hábitos, era condescendente diante da realidade do contexto. O padre des Genettes então observou: Consta dos livros respectivos que os Parochos desta Freguesia desde 1763 exercerão sempre as funções de Vigarios da Vara, e Juises dos Casamentos, e muitas veses as de Visitadores da respectiva Igreja, em attenção as necessidades peculiares da Parochia, que sendo populosa, tem grande parte dos seus habitantes que se achão dissiminados pelos longos, e estremos da Freguesia, pela sua pobresa, vexames, e obstaculos em procurar a Igreja Matriz, do que resulta perma- neceu muitos delles em mancebia, quando pelos mesmos Parochos, por occasião de correr a Parochia naõ saõ feitos de pronto os casamentos com dispensas de pregões, em oratorios particulares, para cujo fim taõ bem naõ raras vezes saõ necessarios dispensas de impedimentos. Cemitérios rurais e urbanos A distância da vida rural do centro urbano provocou arranjos para com o local de descanso dos mortos. Os cemitérios sagrados e costumeiramente colados ao templo, organizados na vila, provavelmente em todo século XIX em Goiás, ganharam espaço no campo. O mapa de des Genettes traz uma relação de cemitérios públicos, com covas pouco profundas, sacralizados, sem cercas, ou capelas, com apenas uma cruz em campo aberto, dispostos ao longo dos caminhos e próximos às fazendas. Talvez em Goiás tenham existido muito mais cemitérios rurais que em províncias como a de Minas Gerais, devido às grandes distâncias que intermediavam os centros urbanos e estes a vida no campo. Como bem observou João José Reis (1997, p. 107) “no Brasil rural a assistência paroquial era dificultada pelas distâncias, pela própria ausência de padres e sobretudo pela população a ser assistida”. Morrer desassistido por um padre e fora do espaço sagrado era considerada uma morte maldita, indesejada. A morte ideal deveria ser a morte assistida e não a solitária. A leitura da parca documentação e bibliografia, que fazem menção a cemitérios rurais, leva a inferir que as escolhas de espaços rurais para o sepultamento pareciam ser a solução para uma sociedade apegada a ritos católicos e que os praticava mais pelas crenças e contingência da presença eclesial. Para corroborar tal entendimento, transcrevemos uma crônica do escritor e historiador goiano Sylvio do Rosário Curado Fleury (1913–2006) sobre os ritos do enterro rural, em fins do século XIX e primeira metade do XX. Se alguém nas redondezas morria ao quarto ia fazer caridos e prestativo; ajudava o fúnebre preparativo e acompanhava o banguê, a rede mortuária em exaustiva caminhada, até o cemitério perdido no meio da chapada. E na noite da Sexta-feira Santa, a noite dos grandes temores, a folia das almas acompanhava, por sete moradores, e pedindo pelas pobres almas, com fé, suas orações orava. Página 219 – A posição de dois cemitérios em relação à Vila de Santa Luzia (Figura 3) Descrição da imagem: no mapa, Santa Luzia está ao centro, sinalizada por um triângulo na cor vermelha. Duas setas mostram os dois cemitérios, sendo um para o lado direito e outro para o esquerdo. Notam-se as considerações do padre em relatar as sepulturas instaladas a, no mínimo, 7 léguas (por volta de 42 km) da matriz, e as disposições dos cemitérios no mapa (Figura 3). Cemiterio do Curralinho, e dos Angi- cos ao Norte da Igreja Matriz em distancias de 16, e 20 legoas. Nelles se dão sepulturas em campo raso. Cemiterio do Ribeiraõ da Contagem junto ao sitio dos Monjollos, distante da Ma- triz 7 legoas se daõ sepulturas em campo raso; e fica em rumo do Nornordeste. Cemiterio nas Fazendas, e campos do Mimoso junto ao Sitio dos Claros a leste dista da Matriz 7 legoas mais ou menos; e nelle se daõ sepulturas em campo raso. Sou informado de que há outros muitos cemiterios, ou logares em que saõ sepultados os cadaveres humanos que dizem os antigos serem sido bentos, e consagrados como cemiterios pu- blicos, sem algum cercado, ou capella de oraçaõ, tendo apenas huá cruz plantada em campo aberto. Dividindo o mapa em duas metades (esquerda e direita), tendo Santa Luzia ao centro, podemos relacionar as capelas distribuídas no território, o orago de devoção e em qual estado da federação atualmente está localizado. A metade a esquerda da vila apresenta as capelas no quadro e na figura 4. A metade a direita da vila apresenta as capelas no quadro e na figura 5. Página 220 – Igreja de Santa Luzia, Santo Antônio dos Montes Claros, Corumbazinho, Agoa Fria e Mestre de Armas (Figura 4) Descrição da imagem: no mapa há cinco círculos enumerados, sendo o 1- Santa Luzia (atualmente Luziânia); 2- Santo Antônio de Montes Claros (atual Santo Antônio do Descoberto – Goiás); 3- Corumbazinho (atual Corumbá de Goiás); 4- Agoa Fria (atual Água Fria de Goiás); 5- Mestre de Armas (atual Planaltina, no Distrito Federal). Pelo mapa, as cinco cidades se apresentam relativamente próximas. Página 220 – Igreja de Santa Luzia, Nossa Senhora da Conceição e Santo Antônio dos Cavalleiros (Figura 5) Descrição da imagem: continuação do mapa anterior, com dois círculos enumerados, sendo 6- Capela da Nossa Senhora da Conceição (Santa Cruz, Goiás); 7- Santo Antônio dos Cavalleiros (Ipameri, Goiás). Os cemitérios urbanos associados aos espaços das igrejas foram descritos por des Genettes. Na cidade de Santa Luzia, pelo compromisso da Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada em 1760, os sepultamentos eram feitos “não só no Adro da Igreja Matriz, fora della na area contigua” observou des Genettes. Escreveu sobre a “Capella da Senhora do Rosario”, é a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos situada em Santa Luzia, e o que determinava o compromisso da irmandade do templo sobre as sepulturas. Em conformidade da lei do seu compromisso se daõ sepulturas no adro della, naõ só aos corpos dos irmaõs fallecidos e de suas mulheres, filhos sem [ilegível], como aos d`outros defuntos, mediante [ilegível] para o cofre da Irmandade. O conjunto de locais de sepultamento descritos por des Genettes no território de Santa Luzia, composto pelos cemitérios das igrejas, no adro e contíguo, e os cemitérios rurais permite inferir que, espacialmente, tais lugares, oficiais ou não oficiais, atendiam aos moradores da região. O relato do padre, transcrito no manuscrito e no mapa, não dá a entender as carências dos habitantes relacionadas ao lugar sagrado para o sepultamento dos mortos. Os documentos apresentam soluções adequadas à situação em que viviam. Vale ter em conta que os cemitérios rurais eram organizados pelo morador do campo e, posteriormente, sagrados pela autoridade eclesiástica. Da mesma forma, organizavam-se as uniões em concubinatos, cujo casal assim permanecia até a visita em desobriga do padre. A igreja permitia tais atos, que poderiam ser desvios para a instituição católica, mas eram adaptações à região e ao espaço de convívio. Este trabalho desperta perguntas quanto ao determinismo colocado no espaço, como as práticas humanas, sociais, econômicas, culturais, se adequam e dialogam com o território. Sugere-se investigar quais hábitos específicos, ou não, gerais e similares a outras regiões, foram condicionados na região de Santa Luzia. Os documentos apresentados nessa pesquisa são fontes fundamentais para a compreensão do cotidiano do sertão, em particular de Goiás, e merecem ser analisados profundamente. O “Mappa Topographico da Igreja Parochial, Capellas, Ermidas, e Cemiterios de Santa Luzia, com declaração do numero, e nomes dos Sacerdotes existentes na Freguesia, contendo diversas outras informações”, de 1883–1884, compõe mais uma importante peça da cartografia histórica de Goiás. Juntamente com manuscritos, demonstram que a vida privada no Brasil merece ser considerada em suas várias perspectivas regionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Maria do Amparo Albuquerque. Terras de Goiás: estrutura fundiária (1850–1920). Goiânia: UFG, 2003. AZEVEDO, Francisco Ferreira dos Santos. Annuario histórico, geographico e descriptivo do Estado de Goyaz para 1910. Brasília: SPHAN/8ª DR, 1987. DES GENETTES, François Henry Trigant. Mappa Topographico da Igreja Parochial, Capellas, Ermidas, e Cemiterios de Santa Luzia, com declaração do numero, e nomes dos Sacerdotes existentes na Freguesia, contendo diversas outras informações. [1883-1884]. Acervo do Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central, Goiânia, Goiás. FLEURY, Sílvio do Rosário Curado. Os filhos da terra. Brasília: Duo Design, 2009. NOVAIS, Fernando A. História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. O Publicador Goyano, 14 e 21 novembro de 1885. Acervo Coleção de Jornais da Biblioteca da Câmara dos Deputados. REIS, Gelmires. Planta do Município de Santa Luzia, 1928. Acervos da Academia de Letras e Artes do Planalto Central, Luziânia, Goiás; Arquivo Histórico do Estado de Goiás, Goiânia, Goiás. SILVA, José Trindade da Fonseca. Lugares e Pessoas: subsídios eclesiásticos para a história de Goiás. Goiânia: UCG, 2006. Página 222 – IPEHBC - Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central - Mapa topográfico da igreja paroquial, capelas, ermidas e cemitérios de Santa Luzia Descrição da imagem: mapa da cidade de Santa Luzia contendo igrejas (sinalizadas pelo desenho de uma cruz), pontes (sinalizadas por dois traços na horizontal), fazendas (sinalizadas por um pequeno círculo na cor preta), cemitérios (sinalizados pelo desenho de um quadrado pequeno). A divisa de Santa Luzia está marcada por pontinhos sequenciados em volta de todo o mapa. As estradas estão sinalizadas por traços seguidos e são muitas, dando acesso em todas as localidades. Há centenas de fazendas espalhadas pelo mapa. Poucas igrejas e cemitérios. Página 222 – Casa de Cultura de Luziânia - Planta do município de Santa Luzia Descrição da imagem: o mapa apresenta as divisas do município de Santa Luzia, da zona demarcada para a futura capital federal, das fazendas, chapadas, morros, espigões e serras, cursos d'água, lagoas, matos, cidades e vilas, casas de fazendas, capelas, pontes, portos, cachoeiras, linha de telegrafo, estradas de automóveis - de rodagem - ferro, jazidas de ouro, pedras de cal, cultura de cereais, café, cana, fumo, marmelo e criação de vaca. Ao lado do mapa está uma estrela de quatro pontas. Página 226 – Biblioteca Pública de Évora - Capitania de Goiás - “Mapa dos Bispados” (1) Descrição da imagem: mapa colorido, bonito, alegre, contendo árvores e serras, rios, matas e índios representando suas tribos. Nos cantos do mapa há um arranjo com quatro flores presas num ramo verde. Também está presente neste mapa uma rosa dos ventos com flor-de-lis. O título “Capitania de Goiaz” está na parte superior, centralizada, dentro de uma moldura nas cores verde e amarelo. Página 227 – Mapa do interior do Brasil entre a Foz do Amazônia e São Paulo (2) Descrição da imagem: mapa aquarelado e com vários borrões. Começa com a Ilha de Joannes, no estado do Pará. Há diversas vilas, povoações, roças, sítios e serras no decorrer de todo o mapa. Dentre as indicações de nomes no mapa, estão Santos, S. Vicente, Fortaleza da Barra de Santos, Forte da Betioga, Conceição, Jaguapé, Cananea, S. Paolo, Paranahiba, Itú, Araritaguaba, Sorocaba, Jundiahi, Mogi, Arrayal dos Bororos gov.do pello Corn.el Ant.o Pirez, S. Cruz, S. Luzia, Meya Ponte, Jaraguá, Ouro Fino, Ferreiro, Villa Boa de Goayaz, Anta, Piloens, Quirixas, Guarinos, Pilar ou Papoaam, Agoa quente, Trahiraz, S. José, S.a Rita, Moquem, Chapada de S. Gonçalo, Morrinhos, ou Amaro Leite, Corriola, Carlos Marinho, ou S. Feliz, Chapada de S. Feliz, ou de Carlos Marinho, Cavalgante, Paranã ou Itiquira, Arraiaz, Barra da Palma, ou terras novas, Duro, Natividade, Pontal, Descoberta do Carmo, Missoens, ou Aldeias dos P.P. da Comp.a de Castella proxim.te erectas., Ilha Comprida. Página 232 – A cartografias das duas Comissões Cruls para a construção da Nova Capital no Planalto Central. Elias Manoel da Silva Descrição da imagem: figura inteira na folha de abertura de capítulo. Foto em Preto e Branco do Acampamento do Vértice Sudeste em 1892. Dois homens em pé em frente a duas barracas triangulares que parecem ser improvisadas com madeiras e um pano grosso mais claro. Entre eles, há um instrumento (com lente) em cima de um tripé de madeira. A vegetação é rasteira e o terreno é bem plano, sem relevo aparente. Ao lado direito da imagem, há um mastro com bandeira hasteada e uma árvore retorcida praticamente sem folhas. Introdução De início, o leitor atento irá estranhar o título desse artigo: “Comissões Cruls”? De fato, estamos tão acostumados a falar, ou ouvir falar, pelo menos para quem mora no Distrito Federal, da “Comissão Cruls”, ou da “Missão Cruls”, que desconhecemos a existência de outra Comissão, também chefiada por Luiz Cruls, Diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, e intimamente ligada aos resultados alcançados na primeira Comissão. Como esse artigo se propõe a estudar a cartografia (1) das duas comissões, cabe essa provocação inicial para as duas comissões pioneiras encarregadas de estudar e escolher o território e o local no qual, naquele momento histórico particular, se propunha a construção de uma nova capital no interior do Brasil: COMISSÃO EXPLORADORA DO PLANALTO CENTRAL DO BRASIL (junho/1892 – janeiro/1893) e COMISSÃO DE ESTUDOS DA NOVA CAPITAL DA UNIÃO (julho/1894 – dezembro/1895). Nos últimos anos, principalmente a partir da divulgação nacional que o tema alcançou em 2003, por ocasião do projeto “Missão Cruls – uma trajetória para o futuro”, idealizado e promovido pelo prof. Pedro Jorge de Castro, quando um grupo de cientistas conceituados em suas áreas de conhecimento percorreu o trajeto executado pela Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, muita pesquisa se publicou sobre o contexto e os trabalhos desta Comissão, consolidados no histórico RELATÓRIO FINAL e no ATLAS DOS ITINERÁRIOS, PERFIS LONGITUDINAIS E DA ZONA DEMARCADA publicados em 1894. (2) Contudo, é interessante notar quão pouca relevância foi dada à produção de estudos dos trabalhos relativos à cartografia deste grupo de técnicos que, pela primeira vez, e como resposta à “intimação” do artigo 3º da primeira Constituição da República Brasileira (1891), apresentou pela primeira vez a proposta de um território do Distrito Federal no Planalto Central do Brasil, bem como sugeriu dois locais para a construção de uma nova capital: “sob o ponto de vista da qualidade, abundância d’água, natureza e topografia do terreno, salubridade e condições climatológicas, é provável que esta escolha se fixe definitivamente quer na região compreendida entre os rios Gama e Torto, quer no vale do Rio Descoberto”.1 Ressalte-se que muitas outras propostas para o território de um novo Distrito Federal foram sugeridas depois desta, até a delimitação definitiva em 1955 pela Comissão de Estudos da Nova Capital Federal, então sob a presidência do Marechal José Pessoa. De fato, com exceção da primeira edição de 1894, quando foi publicado conjuntamente com o Relatório Final, o importante estudo de cartografia, “Atlas dos Itinerários, Perfis Longitudinais e da Zona Demarcada” não mais foi reimpresso quando de novas publicações do Relatório Final da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Estamos cientes de que os trabalhos da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil e da Comissão de Estudos da Nova Capital da União, além da cartografia, envolveram o estudo de muitos outros aspectos da região explorada. Contudo, como nossa perspectiva é a cartográfica, a fim de entender os mapas (3) produzidos por essas duas Comissões, apresentaremos os trabalhos de campo promovidos por elas, sempre que relacionados à produção de mapas e aos conhecimentos das técnicas e instrumentos científicos usados para esse fim. A cartografia, para as tarefas das duas Comissões, não era importante apenas para a representação de um quadrilátero no mapa do Brasil, a ser apresentada aos poderes Executivo e Legislativo no final dos trabalhos exploratórios. A tarefa de fazer o levantamento dos aspectos geológicos, topográficos, faunísticos etc., necessitava de enquadramento que só os mapas poderiam dar. Do contrário, essas informações se diluiriam em um texto escrito sem a adequada localização geográfica que só uma representação cartográfica poderia fornecer. Como os dois relatórios das Comissões são construídos a partir de relatórios dos trabalhos das equipes, todos eles com um sabor de “diário de bordo”, optamos, então, por elaborar esse artigo dando importância, tanto quanto possível, à citação literal dos Relatórios, às vezes, com perda para a qualidade estilística do texto e para as regras de concordância linguística. As descrições dos trabalhos são tão realistas e cheias de detalhes que comentários nossos apenas empobreceriam o vigor das experiências desses idealistas pesquisadores-desbravadores dos sertões do Brasil, no início da república brasileira. Página 234 – Membros da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil (Figura 1) Descrição da imagem: foto em Preto e Branco dos Membros da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, em 1892. Na imagem, posando para a foto, 20 homens (12 em pé e 6 sentados) alguns usando botas e chapéus. 1. A cartografia da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil Do ponto de vista da cartografia, qual era a tarefa específica dessa Comissão? As “Instruções” do Ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Antão Gonçalves de Faria, por meio da Portaria 119-A, de 17 de maio de 1892, estabeleceu:“No desempenho de tão importante missão deveis proceder aos estudos indispensáveis ao conhecimento exato da posição astronômica da área a demarcar”.2 Além dessa indicação de ordem cartográfica, vários outros estudos eram sugeridos: “proceder aos estudos [...] da orografia, hidrografia, condições climatológicas e higiênicas, natureza do terreno, quantidade e qualidade das águas, [...] materiais de construção, riqueza florestal, etc., da região explorada”. 3 Do ponto de vista estritamente cartográfico, o trabalho dessa Comissão era essencialmente de natureza astronômica: determinar os quatro cantos de um quadrilátero no Planalto Central do Brasil que compreendesse os 14.400 km2, conforme determinava o artigo 3º da primeira Constituição da nascente república brasileira. Para executar essa tarefa, Luiz Cruls selecionou profissionais que tinham o perfil adequado, ou seja, com formação em Astronomia e Geodésia, por sinal, disciplinas que ele mesmo lecionava na Escola Superior de Guerra. Ao todo, eram 22 homens entre astrônomos, engenheiros, professores da Escola Militar, especialistas de diversas áreas e, para a proteção e cuidados do grupo, um contingente de militares, um médico e um enfermeiro. (Figura 1) Do Observatório Astronômico, sediado no Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, convidou os astrônomos Henrique Carlos Morize e Julião de Oliveira Lacaille, além de dois mecânicos que ficaram encarregados da manutenção dos instrumentos científicos: Eduardo Chartier e Francisco Souto. Ressalte-se a presença desses “mecânicos”, pois a Comissão irá levar vários instrumentos para leitura astronômica, alguns dos quais exigirão constante manutenção, montagem e desmontagem: dois círculos meridianos, teodolitos, sextantes, micrômetro de Lugeol, luneta astronômica, heliotrópios, cronômetros e relógios, seis barômetros de mercúrio sistema Fortin, 11 aneroides, bússolas e podômetros. Em uma época em que os conhecimentos em Astronomia eram essenciais à cartografia, “a utilização de teodolitos, de cronômetros e dos chamados círculos meridianos portáteis (que, por pesarem de 30 a 50 Kg, nada tinham de portáteis) eram necessários para a determinação, com grande precisão, das posições geográficas dos vértices do quadrilátero por meio de observações meridianas de estrelas”.4 Entre seus ex-alunos da Escola Superior de Guerra, convidou os engenheiros Augusto Tasso Fragoso, Celestino Alves Bastos, Hastimphilo de Moura, Alípio Gama e Antônio Cavalcanti Albuquerque. Tendo em vista algumas exigências específicas da “Instrução”, convidou alguns especialistas: Antônio Martins de Azevedo Pimentel – médico higienista; Eugênio Hussak – geólogo; Ernesto Ule – botânico. É importante ressaltar que, “para os serviços gerais, foram recrutados os servidores da região: Felicíssimo do Espírito Santo, Antônio Jacinto de Araújo Costa, João de Azevedo Peres Cuiabá e José Paulo de Melo”.5 Um dos primeiros problemas de ordem cartográfica a enfrentar dizia respeito à interpretação a ser dada ao artigo 3º da Constituição (1891) que afirmava: “Fica pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 km2, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal”. Que interpretação dar ao “Planalto Central da República”, já que se estende por vários estados como Goiás, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro? Logo no início do Relatório Final dessa Comissão, publicado em 1894, Luiz Cruls se estende em longa reflexão sobre esse tema. Devido a importância para a cartografia produzida por essa Comissão, bem como pela tradição que os trabalhos dessa Comissão deixaram para as outras Comissões que se debruçaram sobre a transferência da capital pelos próximos 60 anos, podemos assim sintetizar seu raciocínio: apesar de o Planalto Central se estender por muitos estados, “é evidente que, por Planalto Central, se deve entender a parte do planalto brasileiro mais central em relação ao centro do território, isto é, mais próximo deste”.6 Em seguida, buscando fundamentar-se na geografia, lembra que é importante examinar “qual a configuração que apresenta o planalto brasileiro, cujas altitudes, segundo os geólogos mais autorizados variam entre 300 e 1.000 metros ou superior a 1.000 metros”.7 Coerente com o raciocínio de um “centro” para o Planalto Central, Cruls conclui que “a única parte, porém, d’este planalto, que nos interessa, é evidentemente a mais elevada, portanto, só trataremos d’aquela cuja altitude é de 1.000 ou acima de 1.000 metros”.8 O silogismo geográfico estava concluído: “Deste Planalto, porém, a única parte à qual cabe a denominação de central é aquela que se acha nas proximidades dos Pyreneus, no Estado de Goyaz”.9 E confirmava a correção de seu raciocínio ao afirmar que essa região não era somente “a mais próxima do centro do Brasil, como também por se acharem aí as cabeceiras de alguns do mais caudalosos rios do sistema hidrográfico brasileiro, isto é, o Tocantins, o São Francisco e o Paraná”.10 Portanto, não causa estranheza o fato de que uma das primeiras tarefas que a Comissão realizou ao chegar à região foi procurar a cidade de Pirenópolis a fim de determinar a altitude exata do Pico dos Pireneus – tido como a maior altitude do Planalto Central – e “a respeito da qual reinava grande discordância entre os geógrafos”.11 A visita àquele ponto topográfico se revestiu de liturgia científica quando a Comissão “querendo deixar no cume dos Pyreneus um padrão da nossa ascensão, ali colocamos um documento, que depois de assinado por todos os que se achavam presentes, foi enterrado numa caixa de metal convenientemente selada”.12 (Figura 2 e 3) Acreditamos, contudo, que o raciocínio acima exposto, de natureza mais geográfica, foi também permeado por outros estudos feitos pela Comissão, principalmente a partir do livreto, “A Questão da Capital: marítima ou no interior?”,13 do importante historiador brasileiro Francisco Adolfo Varnhagen, publicado pela primeira vez em Viena, Áustria, no ano de 1877, quando ali exercia função diplomática, como representante do Império brasileiro. “Por quatro décadas, Varnhagen sustentou a luta mudancista até que, em 1876, como ministro plenipotenciário do Brasil no Império Austro-húngaro, pediu licença funcional e, às suas expensas, veio para o Planalto Central brasileiro, o qual percorreu por nove meses e onde balizou a localização da nova capital: no triângulo compreendido entre as Lagoas Feia, Bonita e Mestre d’Armas”.14 Página 235 – Pico dos Pirineus e parte do grupo da Comissão nos altos dos Pirineus (Figura 2 e 3) Descrição da imagem (figura 2): foto em Preto e Branco do ponto culminante do Pico dos Pirineus em 1892. Na imagem, morro com estrutura em pedras. Na parte inferior, alguns cavalos. Descrição da imagem (figura 3): foto em Preto e Branco de parte do grupo da Comissão no alto do Pico dos Pireneus em 1892. Na imagem (vista de cima), 14 homens de terno encostados e sentados nas pedras do Pico. Alguns deles de chapéus, outros de botas até a altura dos joelhos. Página 236 – Figura 4 Descrição da imagem: mapa do itinerário das turmas da Comissão. Na parte superior do mapa, há uma legenda com: uma linha em vermelho para marcar o Itinerário da Turma Sul e uma linha em azul para o Itinerário da Turma Norte. O mapa está delimitado por um retângulo em vermelho. Em seus cantos, há as inscrições: Vértice N.W (670m)- canto superior esquerdo; Vértice N.E (630m)- canto superior direito; Vértice S.E (900m)- canto inferior direito e Vértice S.W (950m)- canto inferior esquerdo. Na linha vertical do lado esquerdo do retângulo, há um ponto destacado em vermelho representando a cidade de Pyrenopolis. Na linha vertical direita, há um ponto destacado em vermelho representando Formoza. A linha contínua em azul, liga a cidade de Pyrenopolis a Formoza passando por Villa Mestre d´Armas mostrando um trajeto saindo do lado esquerdo ao lado direito do mapa mas traçado na parte superior do mapa. A linha contínua em vermelho, liga a cidade de Pyrenopolis a Formoza (ou seja, o mesmo percurso) porém passando pelas cidades de Corumbá, Santa Luzia e Villa Mestre d´Armas mostrando um trajeto saindo do lado esquerdo ao lado direito do mapa mas traçado na parte inferior do mapa. Alguns rios e seus afluentes, morros (Careca e Catingueiros) e o Pico dos Pyreneos estão desenhados para determinar a proximidade com pontos importantes. Varnhagen, também conhecido como Visconde de Porto Seguro, desde 1839 vinha publicando sobre o assunto. Acreditava ser pioneiro ao propor a ideia de transferir a capital do litoral para o Planalto Central goiano: “Antes de termos a menor notícia de que já, em outro tempo, houvera a ideia de se transferir para o interior a capital brasileira e levados quase unicamente pelo instinto, ao observar o mapa, parecia-nos que estaria ela (a capital) muito mais resguardada no centro, como está no corpo humano o coração, e não na fronteira, e fronteira marítima”.15 A influência dos textos de Varnhagen nos trabalhos da Comissão se manifesta quando duas equipes da Comissão Exploradora do Planalto Central, por ocasião da marcação no solo dos cantos do quadrilátero, foram encarregadas de “antes de se separarem em Mestre d’Armas, explorar a Lagoa Formosa [...] percorrendo o mesmo itinerário que fora outrora percorrido pelo Visconde de Porto Seguro”.16 O segundo problema de ordem cartográfica para a delimitação da zona de 14.400 km2 dizia respeito à escolha do método para executar esse trabalho. Havia duas possibilidades: determinar a área usando o sistema hidrográfico e orográfico (rios e relevo da região), ou usando como limites, os arcos de meridiano e arcos de paralelo. Se a Comissão optasse pela forma irregular, seguindo a referência dada pela hidrografia e relevo, a determinação dos 14.400 km2 iria “exigir um longo tempo para a sua demarcação em virtude da necessidade de um indispensável levantamento do perímetro da zona delimitada, com mediações de base fundamental numa primeira demarcação”.17 É bom ressaltar que esse trabalho mais minucioso não foi totalmente descartado. Apenas foi deixado para mais tarde e realizado pela Comissão de Estudos da Nova Capital da União que, além de um minucioso levantamento da hidrografia da região, deu início à triangulação18 de todo o perímetro definido na primeira Comissão, como estudaremos mais adiante neste artigo. De fato, o próprio Luiz Cruls, no Relatório da primeira Comissão, já previa a necessidade de um trabalho mais minucioso de georreferenciamento: “era evidente que depois, com tempo e cuidado, se procederia à demarcação definitiva e absoluta por meio de um levantamento geodésico”.19 A solução mais prática venceu. Optou-se por adotar o método de determinação das fronteiras que foi empregado também pelos Estados Unidos da América, produzindo, assim, uma figura geométrica regular. Com isso, evitava-se qualquer problema de discussão das fronteiras do novo distrito federal dentro dos outros estados da Federação, pois “as Latitudes de dois arcos de paralelo, bem como as Longitudes de dois arcos de meridianos delimitam a área demarcada e tornam possível verificar, a qualquer momento, a posição exata dos limites da zona no terreno”.20 Todas essas opções técnicas irão determinar as especificidades dos mapas produzidos pela Comissão. Decidida a forma de delimitação da área para o futuro distrito federal, caberia à Comissão determinar a forma do quadrilátero e como seria o trabalho de campo para colocar no chão do Cerrado os quatro marcos definidores desse espaço. Como a área a ser delimitada teria 14.400 km2, o quadrilátero deveria ter aproximadamente 90 km em um lado e 160 km do outro. A macrorregião onde o quadrilátero seria colocado compreendia a região entre Pirenópolis, Formosa e Santa Luzia, pois o “Planalto Central, [...] embora ocupe uma extensão bastante considerável, tem a sua região central localizada na zona onde se encontram as cabeceiras dos principais rios do sistema hidrográfico brasileiro: o Araguaia, o Tocantins, o São Francisco e o Paraná”.21 Mas onde, especificamente entre essas três cidades, localizar os Meridianos e Paralelos para compor o quadrilátero? Para uma solução adequada a esses desafios, não havia outra saída a não ser fazer uma exploração do terreno. Como todo o pessoal da Comissão estava em Pirenópolis, decidiu-se dividir o grupo em duas equipes que se encontrariam em Formosa. Uma iria esquadrinhar mais a parte sul, passando pela cidade de Santa Luzia, e outra, a parte norte seguindo direto para Formosa. (Figura 4) Ambas as turmas deviam determinar, diariamente, a hora, a Longitude e a Latitude dos pontos percorridos durante a exploração. Para tanto, deveriam observar quaisquer fenômenos que pudessem servir de marcadores, como os eclipses do primeiro satélite de Júpiter e as ocultações que tinham de ser observadas, pelo menos, em alguns pontos do caminho percorrido. Outro processo utilizado foi a determinação da Longitude por distâncias lunares, quer pela passagem da lua e/ou de uma estrela pelo mesmo vertical, ou pela mesma altura, quer por diferenças de altura entre os dois astros.22 Página 237 – Estrada da casa de Formosa (Figura 5) Descrição da imagem: foto em Preto e Branco da Entrada da cidade de Formosa em 1892. Casas de “pau a pique (taipa de mão)” divididas por uma estrada de chão. No centro da foto, no caminho da estrada, há uma grande árvore onde dois homens aproveitam a sombra Página 237 – Acampamento junto a Santa Luzia (Figura 6) Descrição da imagem: foto em Preto e Branco Acampamento junto a Santa Luzia em 1892. No primeiro plano, alguns cavalos pastando perto de 6 barracas triangulares que parecem ser improvisadas com madeiras e um pano grosso mais claro. No segundo plano, na parte mais alta do relevo da cidade, há dois homens em pé junto a uma luneta, próximos a uma casa com extenso muro. É nítida (apesar de mais distante) a imagem de uma igreja com duas torres, dos telhados das casas e da vegetação ao redor delas. Havia a preocupação clara em se determinar a Latitude e a Longitude da cidade de Santa Luzia, informação fundamental para representar no mapa, quanto ao Norte desta cidade deveria passar a extremidade Sul do quadrilátero. Por isso, a 2ª Turma recebeu orientação específica de anotar “quaisquer fenômenos que possam servir para determinação da Longitude, como sejam os eclipses do 1º satélite de Júpiter e ocultações, serão sempre observados e, pelo menos, em três pontos do itinerário, sendo um deles Santa Luzia, determinar-se-á a Longitude, quer por distâncias lunares, quer por passagens da lua e de uma estrela”. 23 (Figura 6) Como a cartografia dessa Comissão deveria indicar os itinerários percorridos, os pontos para localizar geograficamente a zona demarcada, a constituição geológica e a hidrografia da região, era de fundamental importância que as duas equipes anotassem todos os elementos sobre esses aspectos durante a caminhada. Dessa forma, “todos os itinerários percorridos foram levantados pelo processo americano de caminhamento, realizado com auxílio do podômetro, da bússola e do aneroide. O podômetro – aparelho que mede o número de passos dados durante uma marcha – adaptado aos animais, calculava a distância percorrida com base na extensão dos passos dos diferentes animais, que variavam entre 0,66 e 0,72 m. Com a bússola, determinava-se a direção a ser seguida e, com os barômetros e/ou aneroides, a altura das regiões exploradas. Ao longo de todo o trajeto, além do itinerário determinado pelo processo de caminhamento, astrônomos e auxiliares fizeram numerosas observações astronômicas para determinar as coordenadas geográficas com o auxílio dos sextantes e considerando as alturas meridianas do Sol e das estrelas”.24 Assim, quando as duas turmas chegaram ao povoado de Formosa, foi possível estabelecer as coordenadas aproximadas da Latitude e Longitude das cidades de Pirenópolis e Formosa e, tomando como referência essas coordenadas, Luiz Cruls afirma que resolveram “demarcar o quadrilátero de modo que os arcos de meridiano passassem perto destas duas cidades e os arcos de paralelo ao norte de Formosa e ao sul de Pirenópolis”.25 Portanto, segundo nossa interpretação do Relatório Final, o quadrilátero que representou pela primeira vez a área do novo distrito federal no Planalto Central e que iria servir de base para a produção do primeiro mapa da Brasil – que consta esse perímetro – foi calculado, teoricamente, em Formosa. (Figura 5) Na verdade, indicar no papel os graus da Latitude e as horas, minutos e segundos das Longitudes dos quatro cantos do quadrilátero do novo distrito federal e, a partir disto, estimar a distância que deveriam percorrer para chegar aos vértices era, até certo ponto, relativamente fácil, e de fato, um trabalho de gabinete a ser executado em mapa do Brasil bem graduado. Foi no contexto dessa “facilidade” que, no Rio de Janeiro, a notícia dos trabalhos da Comissão trouxe inúmeras críticas, como a do jornalista Domingos Jaguaribe do jornal “O Município” que asseverou: “se o quadrilátero poderia ser feito através das Latitudes e Longitudes, a expedição ao local era desnecessária”.26 A resposta do chefe da Comissão, Luiz Cruls, foi direta e contundente, ressaltando que o problema não era só cartográfico. Assim, ele replicou: “realmente, é o cúmulo da inépcia! Segundo o Dr. Jaguaribe, não é necessário estudar as condições topográficas da região, sua climatologia, a natureza e abundância das águas, etc. etc.; tudo isso é supérfluo, e resolve-se a bico de pena, entre quatro paredes! Mas o Dr. Jaguaribe perde de vista que a competência, a que alude só se adquire por meio dos estudos que se fazem no terreno e que os trabalhos de gabinete e de laboratório, são somente complementos daqueles, que vêm em primeiro lugar e antes de tudo!”.27 De uma perspectiva da cartografia, o problema era ir a campo e situar geograficamente os quatro cantos do quadrilátero, ou seja, colocar essa marcação do mapa no solo. Do ponto de vista prático, esse trabalho comportava alto nível de complexidade e exigia estafante e repetitivo processo de leitura dos astros. Portanto, era necessário dividir novamente a Comissão em turmas porque o volume de trabalho era enorme. Diante disso, “achando-se o pessoal todo reunido em Formosa, dividimo-lo em quatro turmas, das quais a cada uma incumbia determinar no terreno a posição de um dos vértices correspondentes às coordenadas indicadas nas instruções”.28 Página 238 – Acampamento do vértice Sudeste (Figura 7) Descrição da imagem: foto em Preto e Branco do Acampamento do Vértice Sudeste em 1892. Três pessoas em pé em frente a duas barracas triangulares que parecem ser improvisadas com madeiras e um pano grosso mais claro. Há um mastro com uma bandeira hasteada e dois cavalos próximos às barracas. Entre elas, há uma árvore retorcida quase sem folhas e um instrumento (com lente) em cima de um tripé de madeira. A vegetação é rasteira e o terreno é bem plano, sem relevo aparente. Havia a convicção de que a repetição das medições astronômicas era a chave do sucesso para que as coordenadas definidas, teoricamente, em Formosa, fossem corretamente assentadas no chão. Esse zelo foi explicitamente exigido dos profissionais: “as coordenadas geográficas serão fornecidas cada uma pelo menos por dez determinações distintas”,29 cujo resultado final era uma média dessas observações, como relata Tasso Fragoso, um dos astrônomos da Comissão: “Com os elementos colhidos nessas observações calculei dez valores de Latitude e dez de Longitude, obtendo as seguintes médias”.30 Apesar de, no início do Relatório, Cruls afirmar, após apresentar complexos cálculos baseados na “Teoria dos Erros”31, que “o processo de caminhamento é suscetível de uma exatidão relativamente considerável”, o que percebemos é que, na prática, se revelava menos exato: “estes resultados patenteavam a grandeza do erro inevitável, que o processo do caminhamento havia originado”,32 comentou em seu relatório, Tasso Fragoso. É interessante observar que tantas repetições nas medições da Latitude e Longitude exigiam tempo bom e aberto para adequada leitura dos astros, o que nem sempre ocorria no período em pauta, tendo em vista o início das chuvas no Planalto Central. E se isso ocorresse, os trabalhos demorariam muito. Foi provavelmente o que aconteceu com uma das quatro equipes que havia saído de Formosa, a chefiada pelo astrônomo Henrique Morize que relata os inconvenientes do trabalho de campo: “O mau tempo continua com fortes pancadas de chuva que tornam muito penosa a estadia nas barracas de observação por não serem estanques, e ficamos, o Dr. Alipio Gama e eu, frequentemente impossibilitados de dormir pelas goteiras que caem de todos os lados sobre nossas camas de campanha”.33 Em outro dia, relata: “a chuva recomeçou [...] com crescente intensidade, [...] que no acampamento da cabeceira houve durante diversas horas uma verdadeira inundação que entrou pelas barracas a dentro e molhou toda nossa roupa e papéis”.34 E completa: “continuando o tempo invernoso, tornam-se de todo impossíveis as observações”.35 O fato fez com que Luiz Cruls afrouxasse a exigência das “dez determinações distintas”. Henrique Morize nos informa que no dia 8 de novembro, chegou “um portador enviado pelo Dr. Cruls recomendando maior presteza e dizendo-me que à vista do mau tempo podia reduzir a 5 as 10 marcações de Longitude ordenadas pelas instruções”.36 (Figura 7) O zelo no levantamento, principalmente das Longitudes, estimadas pelo método de caminhamento e observação astronômica, foi também aperfeiçoado utilizando a “Telegrafia Elétrica”, pois segundo Luiz Cruls, no que diz respeito às Longitudes, “muito importava serem verificadas pelos processos rigorosos tais como a telegrafia elétrica”.37 Contudo, o território a ser estudado não contava com linhas telegráficas, sendo que “o ponto mais próximo para a aplicação deste método era a Capital do Estado de Goiás”.38 Em relação ao uso deste método, Luiz Cruls foi bem minucioso ao detalhar o processo: As diferenças de Longitudes entre a cidade de Goiás, Uberaba e São Paulo foram determinadas pelo telégrafo elétrico, do seguinte modo: diariamente trocaram-se duas séries de sinais por meio do manipulador do aparelho Morse. O observador A transmitia para o observador B trinta topes do manipulador, em coincidência com as pancadas dos segundos de seu cronometro, sendo de 1 a 10, de 21 a 30 e de 41 a 50, e, ao mesmo tempo, o observador B tomava nota dos segundos de seu cronometro em coincidência com as pancadas 10, 30, 50, estimando as frações de segundo. Logo em seguida, e depois de corrido cerca de um minuto, o observador B, por sua vez, transmitia trinta topes para o observador A, procedendo do mesmo modo. Caso, a comunicação não estivesse satisfatória, e as pancadas pouco distintas, fazia-se nova troca de sinais”.39 Mas, por que era tão importante conhecer, com todo o rigor, a Longitude da cidade de Goiás? Porque, estando a cidade de Goiás próxima de Pirenópolis, seria muito mais exato se estimar a Longitude desta, tomando como referência a exata Longitude da Cidade de Goiás, passível de ser determinada pelo telégrafo. Assim, enquanto a equipe de Luiz Cruls foi para Uberaba,40 a equipe de Henrique Morize foi mandada para a cidade de Goiás. Morize assim relata: “tínhamos que seguir para a capital de Goiás, levantando sempre o caminhamento e ali esperarmos a chegada da turma em Uberaba para observar a posição geográfica da capital, aproveitando para isto o telégrafo do estado na determinação da Longitude”.41 Assim, “aos 21, 22, 23 e 24 de janeiro (1893) determinamos nas duas estações de Goiás e Uberaba, (distância 600 quilômetros), à hora local e trocamos sinais por meio do telégrafo elétrico”.42 Henrique Morize relata que usou o telégrafo para determinar também a Longitude da capital do Mato Grosso: “A 26 de janeiro troquei igualmente sinais com Cuyabá, para determinar a sua Longitude”.43 (Figura 8) Em nossas pesquisas, não encontramos nenhuma referência anterior à determinação da Longitude da Cidade de Goiás usando o Telégrafo. E já que estamos apresentando um GUIA de cartografia histórica de Goiás, é possível afirmar que – salvo engano que esperamos por correção – a Longitude da capital de Goiás foi determinada, pela primeira vez em janeiro de 1893, por meio de telégrafo elétrico, por ocasião dos trabalhos da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Como nesse período quase todas as turmas já tinham terminado o trabalho de assentamento do marco geográfico dos vértices do quadrilátero, o zelo na medição das Longitudes está ligado diretamente aos mapas que, posteriormente, iriam elaborar e cuja confecção exigia um correto assentamento das coordenadas dos vértices do quadrilátero dentro do mapa do Brasil e em relação às cidades importantes que estavam ao redor. Página 239 – Vista de Goiás (Figura 8) Descrição da imagem: foto em Preto e Branco da vista de Goiás em 1893. Em primeiro plano a direita, uma árvore frondosa. Ao fundo, casas (os telhados são a parte mais visível) e a vegetação da cidade. No horizonte, morros quase imperceptíveis na imagem. Página 240 – Observatório do vértice Sudoeste da zona demarcada (Figura 9) Descrição da imagem: Foto em Preto e Branco do Observatório do Vértice Sudoeste da zona demarcada. Na imagem, cinco homens em pé em frente a uma casinha de madeira rodeada de mata fechada. Em frete a casa, há um telescópio e dois mastros com bandeiras hasteadas. Mais tarde, procedendo ao uso do telégrafo entre Uberaba e São Paulo e depois São Paulo e Rio de Janeiro, foi possível determinar a hora local nessas cidades e, portanto, determinar com maior exatidão a Longitude dos vértices da zona demarcada em relação à capital da República Brasileira. Não é mero acaso, portanto, o fato de que o primeiro mapa do Brasil em que consta o território do futuro distrito federal, bem como todo o material cartográfico publicado no volume “Atlas” do Relatório Final da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, tenham como meridiano de referência (hora zero) o do Rio de Janeiro. Mas, apesar de todo esse esforço metodológico, e o fato de que a Longitude de algumas localidades tenha sido determinada com o uso do telégrafo, o zelo científico do chefe da Comissão levou-o a fazer uma ressalva final, em relação aos mapas produzidos pela Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil: “Enquanto não forem retificadas, pelo processo da telegrafia elétrica, as Longitudes dos principais pontos da zona demarcada e circunvizinhança, não podem as posições destes pontos no mapa geral serem consideradas senão como aproximadas”.44 E conclui: “oportunamente, quando construída a linha telegráfica destinada a ligar a zona demarcada à linha já existente entre Uberaba e Goiás, poder-se-ão efetuar as determinações definitivas”.45 Voltemos à Formosa e aos trabalhos que as quatro turmas deveriam executar. Considerando o fato de que é possível, aproximadamente, definir quanto deveria ser percorrido em terra para se chegar a um ponto predefinido no mapa e, assim, facilitar a caminhada em direção a cada vértice, ganhando-se com isso muito tempo, a Comissão estimou a distância de cada um dos quatro cantos do quadrilátero, tendo como ponto de partida o povoado de Formosa: Vértice A – a 22 km ao Norte e 160 km a Oeste. Vértice B – 22 km ao Norte. Vértice C – 68 km ao Sul. Vértice D – 68 km ao Sul e 160 a Oeste.46 As instruções para cada uma das quatro turmas eram claras e estavam ligadas diretamente ao levantamento de informações para a confecção de um mapa: [...] caminharão em direção ao vértice, cujas coordenadas devem determinar, aproveitando quanto possível as estradas e caminhos já existentes, e desenhando diariamente em papel milimétrico o caminhamento percorrido na escala de 1/1000:000 a fim de poder convenientemente modificar a direção do seu itinerário a procura do ponto em que cai o vértice.47 Chegando ao ponto estimado, a equipe deveria estabelecer um “observatório improvisado”48 para proceder as “dez determinações distintas”,49 “pelo menos”, trabalho que, por basear-se na observação dos astros, demandava vários dias e dependia das condições climáticas, como registrou Henrique Morize: “o mau tempo continuando sem cessar, tendo perdido esperança de poder observar novamente a lua na presente lunação”.50 Às vezes, dependendo da conveniência, a turma montava dois lugares, como nos relata Henrique Morize: “passamos as tardes no acampamento da cabeceira onde tomamos nossas refeições e a cada noite voltamos ao observatório improvisado, para observar e dormir”.51 A turma chefiada por Luiz Cruls, entretanto, montou observatório que, comparado às demais turmas, não tinha nada de “improvisado”, como pode ser constatado pela imagem ao lado. (Figura 9) Como era tarefa proceder às “dez determinações distintas”,52a o que não requereria construção daquele porte, causou certa curiosidade a este articulista, o zelo por construí-lo todo em madeira e bem mais adaptado às atividades de medição dos movimentos dos astros. Dialogando com alguns historiadores, aventou-se a hipótese de que fosse assim devido à lógica militar que envolvia os trabalhos da Comissão. Seria uma espécie de QG, um ponto de referência administrativo para todas as turmas. O relatório dessa turma não dá detalhes a respeito da construção, mas Luiz Cruls, ao chegar ao vértice Sudoeste, afirma: “e com o fim de determinar suas coordenadas com um grau de precisão um tanto superior, aí estabelecemos um observatório, cuja construção fora encomendada em Pirenópolis, antes de partimos para Formosa”.52b Portanto, sem descartar a hipótese, bastante plausível, de um QG para as turmas, nos parece que a construção em madeira do observatório Sudoeste, atípico em relação aos outros três, além de exagerado para a brevidade daquele trabalho específico, deve-se mesmo à preocupação das condições com que as “determinações distintas” seriam feitas, ou seja, o zelo para com a precisão da coleta de dados. A leitura atenta do Relatório permite-nos afirmar que os trabalhos de averiguação astronômica em cada um dos “observatórios improvisados” demoraram, em média, um mês. A exceção esteve por conta da turma encarregada do vértice Nordeste: “A turma incumbida de determinar o vértice de NE (Nordeste) comunicou-se a 14 de outubro [que o seu chefe], por motivo de saúde, pedia despensa do serviço, o que lhe foi concedido. Esta circunstância imprevista não somente veio demorar a conclusão da demarcação, mas ainda obriga-nos a recorrer para a determinação desse vértice a processos diferentes do que havíamos empregado nos três outros, o que trouxe a grande desvantagem de romper a homogeneidade do trabalho”.53 A partir do momento que cada uma das equipes chegou à região do seu respectivo vértice, previamente definido, que lhe cabia demarcar, instalavam um acampamento provisório que, na prática, com a montagem dos instrumentos de leitura da altura das estrelas, sol e lua, era um improvisado observatório astronômico. Ali, deviam proceder rapidamente às “dez determinações distintas” de Latitude e Longitude: “como não me devia demorar muito tempo, segundo as prescrições do Chefe, e eram limitados os meus recursos materiais, resolvi determinar a Latitude pela observação de alturas meridianas de estrelas e a Longitude pela medida de distâncias lunares”.54 Depois de terem colhido os valores das observações de Latitude e Longitude, era calculada a média desses valores e, então, comparavam-se os resultados com os valores da Latitude e Longitude previstos teoricamente antes de as turmas partirem. Dessa forma, era possível saber em que lugar geográfico se deveria colocar o marco. Entretanto, nem sempre o marco ficava próximo do ponto onde estava a barraca de observação, como relata Tasso Fragoso: “Desenhando o levantamento e assinalando no desenho o vértice Noroeste, com as coordenadas referidas ao ponto de observação, foi fácil constatar que a abertura de uma picada de aproximadamente três quilômetros, no rumo que a representação gráfica designava, era o meio mais rápido para atingir o procurado vértice”.55 O mesmo ocorreu com o marco Sudoeste da turma chefiada por Luiz Cruls que ficou a 1 quilômetro e meio ao sul e 5 quilômetros a leste do observatório provisório.56 Para visualizar melhor a logística desse processo, apresentamos a planta topográfica do acampamento da turma do vértice Sudeste, elaborada por Henrique Morize. Nela, podemos observar o “Acampamento”, o observatório provisório, indicado por “Barracas da Estação de Observações” e o “Marco do Vértice SE”, todos relativamente distantes entre si. (Figura 10) Página 241 – Figura 10 Descrição da imagem: o mapa traz marcações em retângulos pretos das fazendas da região: Palmital, Fazenda de J. Lopes (mais ao centro do mapa), Fazenda da Lagoa de Mel (mais à direita do mapa). No canto inferior esquerdo do mapa, há a descrição em destaque do Marco do Vértice SE, representado com um retângulo (sem cor no preenchimento) e uma bandeirola. A direita do mapa, próximo ao Córrego Retiro, há a demarcação com um triangulo preto e uma bandeirola em cima o Acampamento e um pouco mais a baixo (com a mesma demarcação; porém, com dois triângulos) As Barracas da Estação de observações. Após terem determinado o lugar geográfico de cada um dos vértices do quadrilátero, as quatro equipes deveriam proceder da seguinte maneira: “abrir no terreno uma escavação, tendo um metro de lado e 1,3 metros de profundidade. [...] Esta escavação encher-se-á de pedras até um metro de altura e sobre estas será feito um revestimento de leivas, de modo que a vegetação em poucos dias possa encobrir o lugar. No centro da escavação será depositado um documento assinado pelo chefe e membros de cada turma, em que serão escritas as coordenadas do vértice, determinadas pela observação e que será metido dentro de um invólucro convenientemente lacrado”.57 Parece que uma das turmas não conseguiu executar exatamente como o planejado. Henrique Morize informou: “devido à falta de material apropriado vi-me obrigado a não cumprir à risca as instruções. [...] O marco consiste em um tronco de aroeira cuidadosamente descascado, madeira esta de difícil destruição, de 2,5 metros de comprimento”.58a A título de informação, vamos transcrever apenas o documento produzido pela turma que colocou o marco no vértice Sudoeste, chefiada por Luiz Cruls: Ata da Fixação do vértice SW – Vértice SW da zona demarcada, em 15 de novembro de 1892 – Aos 15 de novembro do ano de 1892, 4º da República dos Estados Unidos do Brasil, uma turma da Comissão encarregada pelo Governo Federal da exploração e demarcação, no Planalto Central do Brasil da zona de 14.400 quilômetros quadrados para onde oportunamente será mudada a Capital Federal, deduziu para este ponto as seguintes coordenadas astronômicas: Latitude 16° 8’ 35’’.0 Austral; Longitude 3h 15m 25s.0 a W de Greenwich; 0h 22m 43s.6 a W Rio de Janeiro, e que se acha a 49’’9 ou 1.534 metros ao sul e 11s.4 ou 5.080 metros a leste de um ponto em que foram feitas as observações astronômicas, achando-se para as suas coordenadas os seguintes valores: Latitude 16° 7’ 45’’.1 Austral; Longitude 3h 15m 36s.4 a W Greenwich; 0h 22m 55s.0 a W Rio de Janeiro. A este ponto será ulteriormente referida a posição definitiva do vértice SW da área, representada por um quadrilátero esferóidico, limitado por dois arcos de meridiano e dois arcos de paralelo, encerrando uma área de 14.400 quilômetros, de conformidade com a disposição constante do Art. 3º da Constituição Federal. E para em qualquer época poder ser reconhecido este ponto, foi lavrada a presente ata, que fica lacrada e enterrada depois de assinada pelo pessoal da referida turma. (Assinaram) – Dr. L. Cruls, Dr. Antonio Pimentel, Hastimphilo de Moura, e mais pessoas presentes. 58b Terminado o trabalho de campo, iniciaram-se os trabalhos de gabinete no Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, localizado no Morro do Castelo.59 Eram muitas as informações que precisariam ser consolidadas, e as determinações de Longitudes e Latitudes dadas às cidades, hidrografia e relevo precisavam ser passados para os mapas e, por fim, reunidas no Relatório Final da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. O Relatório compreendeu dois volumes. O primeiro, de cunho mais textual, compreendia introdução geral elaborada pelo chefe da Comissão, Luiz Cruls. Em seguida, vinham os relatos dos chefes de cada uma das quatro turmas que localizaram geograficamente os vértices do quadrilátero do futuro distrito federal e, por fim, os anexos, que traziam as análises dos especialistas especialmente contratados para esse fim. A parte textual reunia as conclusões dos trabalhos de campo, com um minucioso levantamento da topografia, hidrografia, flora, fauna, bem como do clima, dos recursos minerais e materiais de construção presentes na região investigada. No dizer de Mourão: “esses cientistas elaboraram, um século antes, o procedimento que a Constituição (1988) tornou obrigatório depois: a realização de estudos de impacto ambiental antes de qualquer construção importante”.60 O segundo volume, de cunho cartográfico, é o que mais interessa para os fins desse artigo e tem por título: “Atlas dos Itinerários, Perfis Longitudinais e da Zona Demarcada”. Contém o mapa do Brasil, mostrando a posição da zona demarcada no Planalto Central, com uma área de 14.400 km2, assim como os itinerários percorridos durante a exploração, cuja extensão total excede a 4.000 quilômetros. (Figura 11) Neste mapa, os limites dos estados da Federação são representados com linha e ponto, evitando-se ressaltar as partes, dando-se mais ênfase ao território brasileiro. O meridiano de referência para as Longitudes é o do Rio de Janeiro, por sinal, o mesmo dos outros mapas do Atlas. Não conseguimos entender os motivos da escolha desse meridiano, até porque a referência de Longitude entregue às quatro turmas para se dirigirem cada uma ao seu vértice foi calculada a partir do Meridiano de Greenwich, como indicado nas “Instruções”,61 uso confirmado por Tasso Fragoso, chefe da turma encarregada do marco Noroeste do quadrilátero: “reconheci que estava ainda distante do meridiano de 3h15m25s W de Greenwich e um pouco ao Sul do paralelo 15°20’, ambos prescritos pelo nosso Chefe”.62 Contudo, o mesmo Tasso Fragoso admite que também usou o Meridiano de Paris: “Para o cálculo da hora de Paris, entrei em conta, toda vez que isso se tornava possível, com as diferenças segundas, retificando os intervalos aproximados. As táboas constituídas pela efeméride francesa facilitaram-me esse trabalho”.63 No entanto, é curioso perceber que na determinação da Longitude do Pico dos Pireneus, usou-se como referência o Meridiano do Rio de Janeiro.64 Na verdade, em relação ao uso do meridiano do Rio de Janeiro como meridiano de referência para os mapas e o Meridiano de Greenwich e de Paris para os caminhamentos em direção aos vértices do quadrilátero, cabe lembrar que somente a partir de 1884, com o Congresso Internacional do Meridiano Zero de Washington, Greenwich passou a ser considerado universalmente o meridiano de referência ou inicial. A utilização de diferentes meridianos de referência zero pode ser explicada considerando que à época da expedição, a resolução do Congresso de Washington ainda era recente e não era totalmente incorporada pelos técnicos na confecção das coordenadas. A falta de padronização do meridiano zero no cálculo das Longitudes deve ter tornado mais demorada e trabalhosa a redução dos mapas nos trabalhos de gabinete.65 Parece-nos que o objetivo desse mapa é possibilitar uma visão do tamanho, da forma e das proporções do quadrilátero do futuro distrito federal no contexto do território brasileiro. Uma coisa é afirmar que o quadrilátero foi colocado no Planalto Central. Outra é representar isso graficamente, plasticamente, por meio de um mapa, quando qualquer parte adquire sentido na relação com o todo do território. Era a primeira vez que a ideia de transferência da capital para o interior estava sendo, de fato, estudada cientificamente e a apresentação cartográfica do quadrilátero do futuro distrito federal tinha de ser adequadamente apresentada para angariar apoio nacional e se justificar como um projeto possível. Este mapa proposto não era apenas um instrumento de representação espacial, um acréscimo de conhecimento geográfico para curiosos, mas estava carregado de sentido político enquanto se propunha a justificar um projeto de Estado republicano. Página 243 – Mapa do Brasil (Figura 11) Descrição da imagem: mapa do Brazil mostrando a posição do Districto Federal demarcado assim como os principaes caminhamentos levantados pela comissão (escrito conforme o mapa). Mapa do Brasil em tons de azul, sem a delimitação dos limites territoriais entre os Estados. No centro do mapa, linhas em vermelho ligam as cidades de Goyas, Morrinhos, Uberaba, Bagagem Ponte Nova, Catalão, Santa Luzia, Formosa, Pyrenopolis e a região descrita como Chapada dos Veadeiros. A representação dos caminhamentos neste mapa de todo o território brasileiro demonstra que a escolha da localização do quadrilátero não foi aleatória e exigiu árduo trabalho exploratório. A cor vermelha, indicando os trajetos, reforça a enorme distância dos caminhos percorridos. Essa representação do quadrilátero no contexto do território brasileiro tornou possível perceber a centralidade da região escolhida em relação ao território nacional. Para os detratores do projeto de transferência, o mapa proposto testemunhava que os trabalhos da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil tinham sido absolutamente coerentes com o artigo 3º da primeira Constituição Republicana (1891), que determinava: “Fica pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 km2, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal”. A estratégica localização fica ainda mais evidenciada pela importância dada à hidrografia que parece fluir a partir do quadrilátero, dando a impressão de fácil comunicação com o resto do território brasileiro, além de sugerir que os rios são potenciais caminhos para a comunicação com a região escolhida. Era difícil olhar o mapa do Brasil com o desenho do novo distrito federal e não se solidarizar com a escolha da região proposta. Devido à importância da demarcação do novo distrito federal no Planalto Central e, principalmente, no contexto do nascimento e consolidação da República brasileira, a Comissão previa que muitos mapas do Brasil passariam a ser reproduzidos com aquela configuração e importava dar adequada referência de sua localização. A hidrografia – note-se que todos os rios foram nomeados – servia adequadamente como referência para situá-lo. Qualquer um, mesmo não entendendo de Latitudes e Longitudes, tendo apenas um mapa do Brasil com a representação hidrográfica, saberia localizar a região do novo distrito federal. Um olhar mais atento torna possível perceber, ainda, uma alegoria com o corpo humano: um sistema sanguíneo, representado pelos rios, com o coração, representado pelo quadrilátero central, irrigando o corpo da nação. Essa comparação, por sinal, já havia sido sugerida por Francisco Adolfo Varnhagen, o primeiro a empreender a viagem ao Planalto Central no intuito específico de propor um local para a construção da nova capital no interior do país. Assim, ele registrou: “antes de termos a menor notícia de que já, em outro tempo, houvera a ideia de se transferir, para o interior a capital brasileira, e levados quase unicamente pelo instinto ao observar o mapa, parecia-nos que estaria ela muito mais resguardada no centro, como está no corpo humano o coração”.66 De fato, no contexto político daquele momento, quando a República nascente passava por várias revoltas na dinâmica de consolidação da nova forma de governo do Estado brasileiro, essa representação cartográfica sugeria a importância de se transferir o poder político da união para uma região mais central da Federação e neutra em relação às disputas políticas regionais, de forma a integrar o imenso território brasileiro. Apesar de indicar os caminhamentos, temos a impressão de que esse não foi o objetivo primordial desse mapa. Isso porque o segundo mapa, “Mapa dos Itinerários Levantados” do “Atlas dos Itinerários, Perfis Longitudinais e da Zona Demarcada”, irá apresentar, em detalhes, os caminhos percorridos em escala muito maior. (Figura 12) Página 244 – Mapa dos itinerários levantados (Figura 12) Descrição da imagem: mapa dos itinerários levantados com indicação da zona demarcada e da constituição geológica da região explorada. O mapa está dividido em quadrados com coordenadas geográficas marcando as latitudes (de 7° a 4°) e longitudes (de 14° a 20°) da região. O quadrilátero demarcando a área que seria o Distrito Federal está destacado em aquarel,a tracejado com linha preta informando o limite entre as formações Arcaicas e Palaezoicas. Há uma legenda no canto superior esquerdo indicando os desenhos indicativos para: Capital, Cidades, Villas e Povoados, Ouro, Diamante e Ferro. O mapa traz detalhes em vermelho e azul da bacia hidrográfica da região como o Rio Tocantins e seus afluentes (parte superior denominada como Chapada dos Viadeiros), Rio das Almas (mais ao centro do mapa na região determinada como Matto Grosso), Rio Corumbá e Rio São Marcos (mais ao centro do mapa também desenhado com seus vários afluentes), Rio Veríssimo e Rio Paranahyba (na parte mais inferior do mapa). Ao lado dos rios, há a descrição geológica da região, como: Schistos Argiloso, Schistos Micaceos (Cambrianos?), Schistos com Fuchsito, Schistos Micaceos Archaicos, Augito Porphyrito, Augito Porphyrito sobre Micacschisto, Augito Porphyrito Grez Vermelho (mezozoico?) sobre Micacschisto, Schistos Amphibolico, Granito Pegmatoido, Granito Gneissoide, Calcareo Palaezoico, Schistos Granatiferos. Algumas cidades estão mais destacadas como Goyas, Pyrenopolis, Corumbá (ao centro do mapa), Santa Luzia, Bomfim, Pouso Alto, Morrinhos, Monte Alegre e Uberaba (na parte mais inferior do mapa). Além dos caminhamentos, o mapa consolida, em forma cartográfica, os estudos do geólogo da Comissão, Dr. Eugênio Hussak, ao apresentar resumidamente a estrutura geológica da região escolhida, bem como de toda região ao sul do quadrilátero, desde Uberaba. Os dados foram extraídos “das minhas [Eugênio Hussak] notas diárias sobre a constituição geológica e a natureza das rochas da região atravessada pela Comissão e escolhida para a nova Capital da República”67 em que “procurei, tanto quanto me permite a falta de cartas, descrever a sua tectonia, isto é, a construção do planalto no seu todo e as modificações, que este tem sofrido”.68 (Figura 13) Página 245 – Blocos de Itacolomite (Figura 13) Descrição da imagem: fotografia em preto e branco- Dois homens de perfil, terno e chapéu (um sentado e outro em pé) em frente a rocha de Itacolomite. Vegetação densa do cerrado em volta da grande rocha. É interessante observar que Eugenio Hussak, além da constituição geológica e da constatação da presença de materiais úteis para a construção de uma futura cidade, apresenta também em seu relatório estudos sobre a ocorrência de minerais valiosos na região explorada, chegando mesmo a afirmar, com veemência, que “a sua riqueza aurífera não está esgotada”.69 Tais informações, contudo, não são referidas no mapa. Certamente, naquele momento, ninguém queria provocar uma nova corrida do ouro para a região onde fora delimitado o novo distrito federal. Além desses dois mapas, o “Atlas” apresenta dezenas de mapas de caminhamento. São extremamente instrutivos, do ponto de vista da cartografia, pois detalham, pormenorizadamente, por meio de 155 mapas, o itinerário percorrido pela Comissão. (Figura 14) Apresentam a hidrografia e relevo do caminho feito entre várias cidades: Uberaba a Pirenópolis; Entre-Rios (atual Ipameri) a Bonfim; Pirenópolis a Formosa, seja o trajeto em linha reta para Formosa, como passando por Santa Luzia (atual Luziânia); Formosa à Chapada dos Veadeiros; Pirenópolis a cidade de Goiás, capital do estado de Goiás naquele período; cidade de Goiás a Uberaba e Formosa a Catalão. A riqueza desses “mapas” está em oferecer, em um único olhar, o trajeto de cima - ou, como se dizia na cartografia antiga, uma visão do “olho do pássaro” - com descrição de pousos e fazendas, bem como o perfil longitudinal de cada um dos trechos, ou seja, a altitude de todo o caminho andado. Por último, o “Atlas” apresenta algumas “plantas” urbanas. Além da “planta urbana da cidade de Goiás”, “planta da cidade de Pirenópolis” com “ângulos medidos com trânsito, e distância com trena e estadia” e a “planta da cidade de Catalão” levantada no método idêntico ao utilizado para a planta da cidade de Goiás, “ângulos medidos com bússola prismática, e distâncias com podômetro”, conforme assinaram a confecção o astrônomo e fotógrafo da Comissão, Henrique Morize e o engenheiro ajudante Alípio Gama.70 (Figuras 15, 16, 17) Página 246 – Mapa elaborado pela Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil dos itinerários e perfis longitudinais do caminhamento de Santa Luzia a Formosa (Figura 14) Descrição da imagem: na parte superior do mapa, há o desenho longitudinal da hidrografia e relevo entre o Rio Mesquita passando pelo Rio Santa Anna, Córrego Santa Bárbara, Ribeiro Cachoeirinha, Ribeirão Papuda, Rio Paranoá e Riacho Sobradinho, mostrando também os lugares de Pouso. Na parte inferior do mapa, há dois desenhos representando a hidrografia da região. No desenho maior (ao centro do mapa), da esquerda para a direita, há a descrição da localização do Morro Calingueiros (Ponto C), Pantanos, Rio Sobradinho, Rio Paranoá, Ribeirão Taboca, Ribeirão Papuda ou de Santo Antonio, Ribeirão Cachoeirinha, Córrego de Santa Bárbara (dentro da Fazenda Santa Bárbara), Ribeirão Sant´Anna e Rio Mesquita (a direita do mapa na parte mais inferior). Ainda nesse desenho, há a marcação dos Pousos e das Fazendas próximas aos Rios e Ribeirões citados. No desenho menor, o Rio Paranóa e seus afluentes: Rio Mestre dÀarmas (Ribeirão Sobradinho), Ribeirão Torto (córrego Bannal), Ribeirão Gama (Córrego Vicente Pires, Córrego Roncador e Córrego Cabeça de Veado). Ao lado do desenho, uma legenda com dados da distancia (em léguas), segundo informações locais, entre pontos marcados no pequeno mapa com letras do alfabeto (são eles: Pouso (letra a) ao Rio Paranoá- 1 1/2 léguas; Rio Paranoá (letra b) ao Ribeirão Gama- 5 léguas; Rio Paranóa (letra b) ao Ribeirão Torto (letra e)- 6 léguas; Ribeirão Gama (letra d) ao Ribeirão Torto (letra e)- 6 léguas. Há também a legenda com informações da distância em quilometros do Rio Mesquia ao Sant´Anna (6Km..8), Do Sant´Anna ao Paranoá (27km..7) e do Paranóa ao ponto C (14Km..9). Página 247 – Planta da cidade de Catalão (Figura 16) Descrição da imagem: no mapa há duas linhas em destaque na cor azul saindo de um mesmo ponto no canto esquerdo. Uma das linhas representa o Córrego Pirapitinga a outra um rego d´agua potável. Em retângulos vermelhos, estão marcadas a cadeia e a Igreja Matriz. Em preto, há marcações das localizações das ruas, casas, terrenos e do cemitério. Na canto inferior direito do mapa, há a informação: "Angulos medidos com bússola pismatica e distancias com podometro". Página 247 – Planta da cidade de Pyrenopolis (Figura 17) Descrição da imagem: a esquerda do mapa, uma lista com letras do alfabeto correlaciona pontos de interesse demarcados. Em azul, o Rio das Almas e o Córrego da Prata, que atravessam a cidade. Em vermelho, pontos (com suas letras correspondentes) destacados como: As Igrejas (Matriz, Boa Morte, Rosário e Bomfim), o Paço Municipal e Cadeia e a Casa da Commissão. Em preto, (com a letra do alfabeto correspondente), as ruas da cidade, casas e a Praça Vicente Baptista e o cemitério. Há uma nota de rodapé informando que "os angulos foram medidos com trânsito, e distâncias com trena e stadia". Conclusão O Relatório permite afirmar que a Comissão, na preparação para a viagem ao Planalto Central, estudou a topografia de Goiás a partir de muitos “mapas antigos”.71 Não sabemos quais foram, contudo. O Relatório faz referência explícita a apenas um mapa elaborado, segundo eles, por “Jerônymo R. de Moraes Jardim”. Quem nos informa é Tasso Fragoso, chefe da turma encarregada de plantar o marco Noroeste: “Antes de terminar cumpre-me fazer ligeiras observações sobre uma das cartas do estado de Goiás, a mais geralmente conhecida e organizada em 1874 por ordem do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, pelo capitão de engenheiros Jerônymo R. de Moraes Jardim”.72 Entretanto, ao estudarmos e cotejarmos os mapas indicados como úteis para os trabalhos dessa Comissão, percebemos que Tasso Fragoso cometeu aqui um erro ao confundir duas pessoas. Uma é o major de engenheiros Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim, verdadeiro autor do mapa, com o tenente coronel Jerônimo Rodrigues de Morais Jardim que, em seu relatório, Tasso Fragoso indica erroneamente como o autor do mapa utilizado por eles. Supomos que a confusão deu-se pelo seguinte fato: ambos participaram da histórica exploração do rio Araguaia, da qual foi publicado “O Rio Araguaya – Relatório de sua exploração”, pela Typografia Nacional, em 1880. Nesta obra, JOAQUIM de Moraes Jardim apresenta os estudos realizados na exploração do rio Araguaia, enquanto JERÔNIMO de Moraes Jardim apresenta um resumo histórico das tentativas, em diferentes épocas, para estabelecer-se comunicação entre as províncias de Goiás e do Pará pelo rio Araguaia e o Tocantins. Acreditamos que, na preparação para a viagem ao Planalto Central, a obra fora pesquisada por Tasso Fragoso que, no seu relatório, teria confundido as duas pessoas. O mapa de Joaquim R. Moraes Jardim (Cf. neste GUIA p. 116) não só foi bem estudado na preparação da viagem exploradora, como também, segundo Tasso Fragoso, foi muito utilizado durante os trabalhos de campo da Comissão: “Essa carta, [foi] a que mais consultei durante a viagem”.73 (Figura 18) O constante cotejamento desse mapa com os inúmeros levantamentos de Latitudes e Longitudes promovidos permitiu que a Comissão revisasse vários pontos da topografia de Goiás na região explorada. Acreditamos, por isso, que a parte goiana visitada pela Comissão foi pela primeira vez na história brasileira estudada por métodos científicos de cartografia. O geólogo Eugênio Hussak parece confirmar essa afirmação ao constatar que as conclusões de seu relatório não deixam de ser muito incompletas74 pela falta de uma “representação cartográfica da região a ser estudada”.75 Também, quando ao se referir à constituição geológica e natureza das rochas da região estudada pela Comissão, afirma: “procurarei, tanto quanto me permite a falta de cartas, descrever a tectonia, isto é, a construção do planalto no seu todo e as modificações que este tem sofrido”.76 Página 248 – Mapa organizado por Ordem do Ministério D´Agricultura, Commercio e Obras Públicas (Figura 18) Descrição da imagem: o mapa relata as províncias que fazem divisa com o estado de Goyas, como: Província de Matto Grosso (a esquerda- parte inferior do mapa), Província do Pará (a esquerda- parte mais superior do mapa), Província do Maranhão (parte superior a direita), Província de Plaury (mais ao centro, ao lado direito do mapa), Província da Bahia e de Minas Geraes (lado direito mais ao centro e parte inferior do mapa), Província de São Paulo (na parte inferior do mapa, mais ao centro). Há o desenho de uma complexa bacia hidrográfica, com vários Rios, ribeirões e seus afluentes bem como a Ilha de S. Anna ou do Bananal em destaque. Ao lado direito do desenho cartográfico, há um quadro estatístico das povoações da província. A lista descreve 16 comarcas (quais sejam: Capital- Goyas, Rio Maranhão, Rio Paraxahyra, Posse, Rio Verde, Rio Corumbá, Rio Tocantins, Palma, Rio Coxim, Imperatriz, Cavalcante, Porto Imperial, Rio das Almas, S. Cruz e Boa Vista), suas cidades principais, arraiais e villas. Há notas no rodapé do mapa (canto inferior direito), onde se lê sobre a existencia de mais sete julgados de paz, que os limites com a província de Matto Grosso será traçado após parecer da Câmara dos Deputados de 20 julho de 1864 e a informação de que a carta foi organizada após aviso do Ministério D´Agricultura de 22 de dezembro de 1873. Página 248 – Figura 19 Descrição da imagem: mapa com pontos em preto marcando Santa Luzia e Formoza da Imperatriz. Retangulo na cor amarela, destacando a região demarcada como Arrenpendidos. O mapa também traz desenhos de ribeirões, da Lagoa Feia (em cima de Formoza da Imperatriz, parte superior do mapa), Serra do Albano ou Divisões (no canto superior esquerdo), Serra dos Cristaes (ao lado direito de Santa Luzia, ficando mais ao centro do mapa), Serra de São Lourenço (a direita do mapa). Algumas revisões foram explicitamente citadas no Relatório: Esta carta [refere-se à de Joaquim R. de Moraes Jardim] está indubitavelmente errada quanto à hidrografia do terreno da margem esquerda do Maranhão. Entre os rios Verde e do Sal vem aí figurado um rio dos Angicos, como afluente da referida margem esquerda do Maranhão. Esse rio que eu deveria ter cortado, à vista da posição que ocupa na carta, não só não foi transposto por mim, como jamais achei quem dele me desse notícia. Assim pois, ou este rio está grosseiramente mal figurado na carta ou trata-se não do Rio dos Angicos e sim do Monteiro, o que parece-me mais verossímil. Nesta última hipótese é, todavia, útil notar que o Monteiro é afluente do Rio Verde e não do Maranhão, como está graficamente indicado.77 É possível concluir que no período da viagem da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, os mapas de Goiás ainda estavam “grosseiramente mal figurados”,78 como também apresentavam informações topográficas que de fato não existiam. Henrique Morize relata que enviou o Sr. J. Paulo de Mello ao Registro de Arrependidos a fim de, entre outras tarefas, “verificar a colocação de uma lagoa que figura em muitos mapas como cabeceira do Ribeirão dos Arrependidos e cuja existência é posta em dúvida pelos moradores da redondeza. Ao regressar, comunicou-me não ter achado tal lagoa, que o Sr. Dutra, agente da arrecadação fiscal, morador antigo nessa localidade, não a conhece e, mais, que nenhum dos habitantes a viu jamais”.79 Diante disso conclui: “Creio, pois que a existência desta lagoa marcada em mapas de conspícuos autores como Moraes Jardim, por exemplo, é uma ficção que deve desaparecer da geografia de Goiás”.80 (Figura 19) Página 249 – Mapa de Moraes Jardim (Figura 20) Descrição da imagem: quadro comparativo com dois mapas cartográficos. O mapa a esquerda, de Moraes Jardim, mostra em detalhes a Serra dos Cristaes posicionada a Leste de Santa Luzia. O mapa a direita, das novas medições empreendidas pela Comissão, mostra que a Serra se encontra ao Sul da cidade. Os mapas trazem detalhes de alguns rios e ribeirões que permeiam a região entra Santa Luzia e a Serra dos Cristaes. Página 249 – Carta cartográfica organizada pelo Brigadeiro Raimundo Jozé da Cunha Mattos, governador das armas de Goyas (Figura 21) Descrição da imagem: no canto superior esquerdo do mapa, há quadro com detalhes do mapa da navegação do Rio Arraial descoberta por João Caetano da Silva em 1517. Ao mesmo tempo em que tem coisas demais, os estudos da Comissão constataram que nos mapas há também coisas de menos: “Fui informado pelos moradores, e isto com uniformidade de palavras, que existem na margem esquerda do Rio Preto duas lagoas notáveis e até hoje inéditas nos melhores mapas. A primeira de nome Lagoa Grande é formada pelo córrego Fundo, e deságua na margem direita do Rio Bezerra que me dizem ser maior que o Jardim. Acima da Fazenda Palmital, existe outra que desemboca na margem esquerda do Bezerra e é chamada de Formosa. Há, assim, duas lagoas Formosas: esta e a que fica a Norte da cidade de Formosa, sendo que a nova é, segundo dizem, maior que a antiga”.81 A constatação de que os mapas de Goiás eram “grosseiramente mal figurados”,82 não dizia respeito somente à ausência ou não de topografia, mas principalmente à localização geográfica dos elementos. Assim, ao chegar à Fazenda Samambaia, Henrique Morize constata: “a serem exatos os mapas existentes, deveríamos atravessar aqui a célebre Serra dos Cristais que, entretanto, fica muito a Sul e nos é apontada no horizonte pelo Sr. Gonçalves”.83 (Figura 20) Se, como pudemos constatar, o mapa mais utilizado foi o de Joaquim Morais Jardim, sabe-se que esse mapa foi organizado em 1874, “conforme as melhores cartas existentes e observações próprias”. Ora, as melhores cartas existentes eram do período colonial e do início do Império, como pode ser averiguado neste GUIA de cartografia histórica de Goiás. Portanto, excetuando as “observações próprias”, que Moraes Jardim diz ter utilizado, o mapa apenas reproduzia em grande parte a cartografia do período colonial e do período logo após a Independência. Um olhar mais atento ao mapa de Moraes Jardim nos remete ao clássico mapa de Goiás, “organisado pelo Brigadeiro Raimundo Jozé da Cunha Mattos, Governador das Armas de Goyaz, para acompanhar os seus Itinerários escritos em 1826 e publicados no anno de 1836”. (Cf. neste GUIA p. 121) (Figura 21) Por sinal, o próprio Cunha Matos, em relação à localização dos elementos em seu mapa, faz a seguinte ressalva: [...] as matérias mais importantes da geografia do interior do Brasil e aquelas em que mais se anda às apalpadelas, são as Latitudes e Longitudes dos lugares. Eu tenho motivos sobejos para afirmar que nas Minas Gerais e em Goiás fizeram-se mui poucas observações astronômicas, e que a cerca das Longitudes, tudo é obscuridade, pois que o mesmo Barão de Eschwege, na sua obra excelente sobre o Brasil, e na qual apresenta uma larga tabela de Latitudes, não se atreveu a marcar as Longitudes, prova de conhecer que há incerteza completa a respeito de todas as que aparecem nos escritos dos historiadores. Eu possuo uma larga coleção de Longitudes e Latitudes dos lugares do interior do Brasil; e tive a desgraça de não encontrar dois pontos em que se conformassem. As mesmas marchas que eu fiz, as distâncias que havia de lugar a lugar, e os rumos a que respectivamente demoravam, mostraram-me os erros dos astrônomos jesuítas Diogo Soares e Domingos Capazzi; ou para melhor dizer, eu fiquei entendendo que estes jesuítas não fizeram observações astronômicas de Goiás.84 Página 250 – Carta do Estado de Goyas (Figura 22) Descrição da imagem: ao lado esquerdo do mapa, há um quadro com legendas, convenções (ambas ilegíveis) e uma dedicatória ao Excelentíssimo Senhor Doutor Olympio da Silva Costa com dos dizeres: “como prova de minha amizade e gratidão”. O mapa mostra o estado de Goyas e seus limites territoriais com outros estados: Pará, Mato Grosso, São Paulo, Triângulo Mineiro, Minas Geraes, Bahia e Maranhão. Em verde, de forma destacada dentro do mapa de Goyas, o quadrilátero do Districto Federal. Há descrições da bacia hidrográfica e também das formações geológicas da região, porém os nomes estão ilegíveis. Discordamos da severidade do julgamento de Cunha Matos, pois as Latitudes e Longitudes levantadas pelos padres matemáticos nos Sertões eram do conhecimento de seleto grupo que desenvolvia as discussões para o Tratado de Madrid e, portanto, a representação do “Mapa das Cortes”, que consolidou muitos dos dados levantados por eles e que foi usado como base para esse tratado dos limites não pode servir de referência para avaliar os conhecimentos geográficos ou cartográficos dos portugueses naquele período. Algumas coordenadas eram conhecidas com razoável aproximação, mas não eram divulgadas por motivos estratégicos.85 Em relação à dívida que o mapa de Morais Jardim tinha para com os mapas mais antigos, também Taunay, em sua memória sobre a contribuição de Goiás à “Exposição Nacional do Rio de Janeiro” de 1875, espécie de preparatória para a participação do Brasil na Exposição Universal da Filadélfia em 1876, confirma essa perspectiva ao comentar sobre a Carta da Província de Goyaz, organizada pelo capitão de engenheiros, Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim, que estava exposta naquele evento: [...] refundindo diversos mapas corográficos, cujo mais importante e copioso em informações é incontestavelmente a Carta Plana da Província de Goyaz e dos julgados do Araxá e Desemboque, levantada pelo eminente marechal Cunha Mattos e publicada em 1830. Aproveitando o conhecimento exato que tinha das distâncias e povoados, retificando posições astronômicas, consultando todas as fontes de séria indicação, corrigiu o Dr. Jardim muitos erros, preencheu muitas lacunas e apresentou um documento consciencioso, digno de si e de grande valor para os que se aplicam à geografia do Brasil.86 Coincidentemente, a lagoa que Morize afirma ser uma “ficção que deve desaparecer da geografia de Goiás”,87 bem como a localização errada da Serra dos Cristaes, também consta no mapa de Cunha Matos. Tudo isso confirma que, no limiar do século XX, os mapas de Goiás ainda eram devedores de informações de uma cartografia do período colonial e início do Império, o que só vem realçar o fato de que no período da Comissão, Goiás não tinha sido ainda alcançado pelas técnicas modernas de cartografia e, portanto, tinha poucas observações astronômicas. Contudo, não demorou muito para que os levantamentos promovidos pela Comissão chegassem à cartografia de Goiás. Poucos anos depois – 1902 – é publicada a “Carta do Estado de Goyaz”, organizada pelo agrimensor e importante matemático, Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, fruto de árduas viagens pelo estado quando trabalhava para os Correios e Telégrafos. Segundo seu filho, “à medida que percorria o estado, colhia dados sobre suas características geográficas. Isto lhe permitiu elaborar a ‘Carta do Estado de Goyaz’, o primeiro documento dessa natureza de que se tem notícia”.88 O mapa se encontra neste GUIA na página 211. (Figura 22) É possível constatar que os erros topográficos citados pela Comissão foram corrigidos por Francisco Azevedo, cuja influência dos trabalhos da Comissão Exploradora do Planalto Central pode ser também percebida pelo fato de, no mapa, constar o quadrilátero com os dizeres: “DISTRICTO FEDERAL”. Além disso, é sabido que as pesquisas do professor Francisco Azevedo eram conhecidas pelo Observatório Astronômico do Rio de Janeiro. De fato, recebeu uma homenagem desta instituição pelas mãos de Henrique Morize que, na ocasião, já havia substituído Luiz Cruls na direção do Observatório Nacional. Portanto, é possível supor que tenha acessado os resultados dos levantamentos cartográficos das Comissões que ficaram naquela instituição. 2. A cartografia da Comissão de Estudos da Nova Capital da União É fato que as duas Comissões chefiadas por Luiz Cruls tinham tarefas muito mais complexas do que, simplesmente, a produção de mapas da região do Planalto Central prevista para se tornar o novo distrito federal. Contudo, do ponto de vista estritamente cartográfico, enquanto a primeira Comissão estava envolvida em estabelecer o perímetro do novo distrito federal, como vimos acima, a segunda Comissão, cujos trabalhos de campo se desenvolveram de julho de 1894 a dezembro de 1895, empreendeu “os estudos necessários para fixar o local destinado à nova capital da União”.89 Para a correta fixação geográfica e cartográfica do “local” da nova capital, as “Instruções” previam: “proceder-se-á também ao levantamento topográfico da zona demarcada, cobrindo com uma rede de triângulos a área de 14.400 quilômetros, e com maiores detalhes, mormente sob o ponto de vista do nivelamento, do local escolhido para a futura capital, cujas coordenadas astronômicas, serão determinadas pelos processos mais rigorosos”.90 Não entraremos em detalhes técnicos sobre a importância da Triangulação para a cartografia em geral. Baste lembrar que, segundo o próprio Luiz Cruls, o trabalho de Triangulação é o “único processo rigoroso para, não só levantar a planta topográfica da zona, como também para fixação definitiva da posição dos quatro vértices que devem encerrar uma área de 14.400 quilômetros quadrados”.91 O zelo na Triangulação do quadrilátero chegou ao requinte de se promover ensaios. Foi Henrique Morize que, ao chegar a Pirenópolis, a fim de “providenciar sobre a remoção do material da comissão” 92 para o Acampamento central, isto depois de ter terminado a viagem de reconhecimento de sua turma (dezembro/1894), resolveu “exercitar os ajudantes na medição dos triângulos geodésicos, utilizando para isto, os três sinais geodésicos dos morros do Frota, Santa Bárbara e Boa Vista”.93 Mais tarde vai se juntar a ele Celestino Alves Bastos: “conforme novas ordens recebidas ocupei-me, durante o resto do mês de outubro, novembro e parte do de dezembro [...] com os da triangulação de ensaio”. Comentamos esse fato para mostrar a seriedade com que eram produzidos os dados para a cartografia. Diante da complexidade da tarefa, não é de se estranhar o fato de os trabalhos de campo desta Comissão terem durado 18 meses e, ressalte-se, não terem sido terminados, como relata Luiz Cruls, por “não ter o Congresso Nacional concedido a necessária verba para continuação dos nossos trabalhos”.94 Hoje, por meio de GPS, cuja geolocalização é dada com a ajuda de satélites, não se tem a devida noção de como é demorado e complexo o trabalho de Triangulação de uma região, “não só pela dificuldade que se encontra na conveniente escolha dos vértices dos triângulos e construção dos respectivos sinais geodésicos, ainda mais em região onde nenhum recurso se encontra no que diz respeito a semelhantes trabalhos, como também pelos extraordinários cuidados que exige a medição dos ângulos, para a qual deve se dispor de numeroso pessoal e material apropriado”.95 Infelizmente, o trabalho de Triangulação não foi executado como planejado. Foi feito “apenas a parte que diz respeito ao reconhecimento para escolha do terreno apropriado à medição de uma base e à colocação dos primeiros sinais geodésicos”.96 O Relatório indica onde Henrique Morize mandou colocar esses “sinais” para dar início à Triangulação: “mandei construir pelo Sr. Capitão Chartier um sinal geodésico de 1ª ordem no alto do Acampamento, e em seguida um outro de igual ordem, próximo às cabeceiras do Rodeador, num chapadão de 1.300 metros de altitude, de onde se avista o 1º, assim como um vasto horizonte”.97 Logo de início, o Relatório Parcial da segunda Comissão deixa transparecer que o clima político, em relação à aceitação dos trabalhos da Comissão, havia mudado. Luiz Cruls comenta: “a soma de trabalhos executados em 18 meses, em região muitas vezes falha de recursos, encontrando dificuldades sem número, nem por isso deixou de ser considerável, sendo apenas para lastimar que não havendo verba consignada no orçamento vigente para os nossos trabalhos, fosse o governo obrigado a mandar suspendê-los”.98 Diante da dificuldade de recursos para os trabalhos da Comissão de Estudos da Nova Capital da União, a atitude de Luiz Cruls foi enérgica. Sugeriu que o Congresso se manifestasse formalmente a respeito dos trabalhos relativos à construção da nova capital, até porque os estudos que a Comissão desenvolvia estavam diretamente ligados a uma determinação constitucional prevista no art. 3º e, portanto, não era simplesmente um projeto deste ou daquele governo, mas do Estado brasileiro. Assim, “caso não fosse julgada digna de ser realizada, [...] melhor [seria] abandonar de vez a ideia; caso, porém, os membros do Congresso a considerassem merecedora de realização, torna-se indispensável conceder-se anualmente a verba necessária para o custeio dos estudos”.99 E conclui seu argumento: “nada mais prejudicial, [...] do que uma interrupção em trabalhos como estes de que está incumbida esta Comissão, não só sob o ponto de vista econômico como técnico”.100 Aí se manifesta uma das facetas da personalidade de Luiz Cruls: zelo para com os resultados técnicos dos estudos bem como a consciência de que os trabalhos não deveriam ser mais dispendiosos que o necessário. Durante os trabalhos da primeira Comissão – Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil – excetuando o observatório do acampamento do vértice Sudoeste da turma chefiada por Luiz Cruls, que havia sido “encomendado em Pirenópolis”,101 todos os outros eram observatórios extremamente improvisados.102 Nesta Comissão, “para maior conveniência dos trabalhos, tanto sob o ponto de vista econômico como técnico, resolvemos mandar acampar todo o pessoal em um ponto central da região demarcada, em torno do qual se pudessem, com maior vantagem, estender os trabalhos”.103 Os mapas da Comissão identificam esse “ponto central” como o “Acampamento”. O engenheiro Celestino Bastos comenta que “a 15 de dezembro [1894], por determinação vossa [Luiz Cruls], segui para a fazenda ou larga do Sr. Francisco Alexandrino Lobo, situada em o chapadão entre o córrego do Brejo e o Ribeirão Gama, a fim de fazer construir alguns ranchos para o abrigo do pessoal e material da Comissão que aí se reuniria para, desse local como centro, continuar os trabalhos de campo logo que começasse a estação favorável”.104 (Figura 23) Página 252 – Figura 23 Descrição da imagem: recorte de mapa mostrando em detalhes (retângulo totalmente preenchido na cor preta) a posição do acampamento da Comissão entre os Ribeirões Brejo, Bananal e Torto. Página 252 – Acampamento - “ponto de encontro a todo o pessoal, por estar no centro do distrito federal e oferecer larga pastagem aos animais da tropa da comissão” (Figura 24) Descrição da imagem: vila com casas feitas de palhas, sendo uma atrás da outra e duas colunas. A rua é de terra. Algumas pessoas estão em frente às casas e outras andando pelas ruas. Serviria como “ponto de encontro a todo o pessoal, por estar no centro do distrito federal e oferecer larga pastagem aos animais da tropa da comissão”.105 A estrutura, que compreendia “ranchos, em número suficiente a fim de servirem de moradia para o pessoal, e poder-se guardar convenientemente o numeroso material”,106 parece ter impressionado bastante os moradores da região, pois apareceram críticas em jornais do Rio de Janeiro “manifestando receio de que o Governo da União pudesse se apossar daqueles terrenos”.107 Luiz Cruls precisou manifestar-se publicamente, garantindo aos donos que o governo não tomaria nenhuma decisão “sem prévio acordo e indenização aos competentes donos”.108 (Figura 24) Nos trabalhos da primeira Comissão, fizemos referência à importância que Luiz Cruls dava à linha telegráfica para a determinação das Longitudes, considerando-a um “processo rigoroso”.109 Na Comissão de Estudos da Nova Capital da União, a necessidade “indispensável de se dispor de uma linha telegráfica, que unisse a zona demarcada com a rede geral já existente, com o fim de determinar, e com o necessário rigor, a Longitude de um dos pontos da mesma zona”,110 fez com que o Congresso Nacional consignasse verba para se estender a linha telegráfica de Morrinhos até Pirenópolis, passando por Bella Vista, hoje Ipameri. Contudo, Luiz Cruls objeta que “seria muito mais vantajoso para a precisão dos trabalhos, que se estendesse a linha de Bella Vista [Ipameri], para Bonfim [Silvania] e daí até Santa Luzia [Luziânia]”.111 Além da Triangulação do perímetro do quadrilátero e da escolha do local específico para a construção da nova capital, há outro grupo de estudos que estará diretamente ligado aos mapas produzidos por essa Comissão. Devido à perspectiva da iminente construção da nova capital, a Comissão esteve envolvida com estudos que viabilizassem vias de acesso à região demarcada que, naquele período, eram os rios e as estradas de ferro. Portanto, os dados úteis à cartografia produzidos pela segunda Comissão abrangem região muito mais extensa que a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Pela primeira vez na história da cartografia brasileira, vastas extensões do Sertão serão alcançadas pelo levantamento mais preciso das Longitudes e Latitudes. A operacionalização dos trabalhos da Comissão de Estudos da Nova Capital da União seguirá a mesma metodologia da primeira Comissão, ou seja, a criação de grupos de trabalhos, neste caso cinco turmas, com tarefas bem específicas, as quais, depois de percorrerem o itinerário previamente estabelecido, irão até alguma localidade próxima ao quadrilátero conforme “Instrução”, sendo que “com a reunião das diversas turmas nesta cidade última [Pirenópolis] ficaram elas dissolvidas”.112 Contudo, diferentemente do planejamento anterior, quando a Comissão Exploradora dividiu-se em grupos após chegar ao Planalto Central, Luiz Cruls decidiu que as Turmas seriam divididas no Rio de Janeiro e partiriam dali para seus itinerários previamente definidos. Essa estratégia tinha em vista promover estudos para a construção de vias de acesso ao novo distrito federal como indicado nas instruções para a Comissão de Estudos da Nova Capital da União. Ali se atribuía à Comissão: “o reconhecimento da ligação por vias férreas e mistas (ferro-fluviais), que unam o ponto escolhido para a nova capital ao litoral da República”.113 Popularmente, costumamos dizer que em time que ganha não se mexe. Luiz Cruls levou isso em conta, pois todos os chefes das turmas desta Comissão participaram dos trabalhos da primeira, profissionais cuja competência técnica para a nova missão estava plenamente comprovada e nos quais tinha plena confiança. À 1ª Turma, cuja chefia estava a cargo de Henrique Morize, coube fazer o levantamento do rio São Francisco, e da “ligação deste rio com o Planalto Central, pela navegação de um de seus afluentes ou por uma via-férrea, que aproveitasse o maior trecho navegável que fosse prático utilizar”.114 Segundo Cruls: “enquanto não houver alguma estrada de ferro ligando diretamente a futura capital federal com a Bahia, o sistema de comunicação mais econômico e rápido será utilizar-se das condições de navegabilidade do Rio São Francisco”.115 A turma partiu dia 14 de agosto de 1894.116 Do Rio de Janeiro até a Bahia, foram de navio. Dali, pegaram um trem até a última estação da Estrada de Ferro Bahia–São Francisco, quando prosseguiram a cavalo até Juazeiro, “cabeça da linha de navegação da Companhia Viação Central do Brasil, que ali tem seu escritório e oficina”.117 A respeito da navegação do rio São Francisco, após entrevista aos usuários, a opinião que encontraram não foi “infelizmente favorável”.118 Chegaram ao Acampamento central dia 16 de novembro de 1894. (Figura 25) A turma chefiada por Henrique Morize procedeu ao reconhecimento de 372 quilômetros, iniciando na “vila de São Romão, sobre o São Francisco [...] à Fazenda Palmital na margem esquerda do Rio Preto”,119 trecho do qual, informa: “levantei o itinerário percorrido que se acha já desenhado com a topografia e o perfil longitudinal”.120 No seu relatório encontramos a seguinte conclusão: Entendo, pois, que se o Governo e o Congresso estão decididos a ligar o Planalto Central com o litoral por uma comunicação econômica, deve se procurar levar avante o projeto do prolongamento da Central da Bahia e construir a via-férrea de São Romão a um ponto ainda por determinar – por depender da escolha definitiva do local da futura Capital da União – porém não muito distante da cidade de Santa Luzia, numa extensão total provável, segundo nosso reconhecimento, de 450 quilômetros.121 Página 253 – Imagem rara do “Vapor” que a turma de Henrique Morize tomou depois de três dias (Figura 25) Descrição da imagem: barco simples, com três andares, sendo que há pessoas em todos eles. O barco está na margem do rio, com pessoas em terra, inclusive mulheres. Cordas estão amarradas no barco e em pedras grandes na terra. Apesar do grande número de dados levantados por essa turma, não encontramos no Relatório Parcial da Comissão nenhum mapa produzido a partir desses estudos. Os caminhamentos e perfis longitudinais, certamente, seriam publicados se houvesse um Relatório conclusivo, como o foi na primeira Comissão. Os trabalhos da 2ª Turma, cuja chefia coube a Hastimphilo de Moura, abrangia o estudo do território desde Sabará, Minas Gerais, “a partir da última estação do prolongamento da Estrada de Ferro Central”,122 até a cidade de Formosa em Goiás. Em Sabará, ponto de partida, procederam “diariamente observações com o sextante e com todos os demais instrumentos que vinham a cargo da turma”.123 Nota-se o constante zelo em relação às determinações das Latitudes bem como à elaboração dos mapas urbanos das cidades por onde passaram. Contudo, daquelas que já tinham seus mapas urbanos, “limitei-me a trazer uma cópia”.124 Nos quarenta e dois dias de viagem entre Sabará e Formosa, todo feito em lombo de mula e com guias da região, “em geral era péssimo o caminho, quase sempre reduzido a simples trilho, que por mais de uma vez apagou-se sob os nossos pés, e nos impossibilitaria de prosseguir a viagem se não tivéssemos precaução de tomar guias, sempre que nos era possível”.125 A missão do grupo esteve por um fio quando “os tropeiros, amedrontados com as notícias que a cada passo nos davam de febres más, seca e fome que havíamos de encontrar e sofrer, realizaram um plano de fuga com toda a tropa”.126 Segundo o chefe da turma, Hastimphilo de Moura, o motim “felizmente abortou por causa das providências prontas e enérgicas que tomei”.127 De Formosa seguiram para Pirenópolis quando “desprezando as duas estradas já conhecidas, empreendi espontaneamente seguir um termo médio, a despeito da falta de informações precisas sobre o caminho, e assim tracei com o caminhamento um novo itinerário”.128 No total essa turma percorreu, de Sabará a Pirenópolis, 1.019 quilômetros. Apesar da enorme coleta de informações úteis para o estudo de vias de acesso para o novo distrito federal, bem como o zelo no cálculo das Latitudes pela observação do sol,129 não percebemos o uso daquelas informações nos mapas produzidos pela Comissão, a não ser os levantamentos feitos no final da viagem, entre Formosa e Pirenópolis. É justo ressalvar que com o término dos trabalhos de campo da Comissão de Estudos da Nova Capital da União antes do fim dos estudos previstos e o abandono do projeto de construção de uma nova capital no interior, promovido pelo Governo do Presidente Prudente de Morais, os dados levantados para um possível mapa da região do entorno do quadrilátero do novo distrito federal a ser publicado no Relatório Final, perderam a relevância. Nem ao menos sabemos se foram usados para alguma revisão cartográfica regional, como ocorreu com a “Carta do Estado de Goyaz”, elaborada por Francisco Ferreira dos Santos Azevedo que, ao publicá-la em 1902, usou as informações da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Os trabalhos da 3ª Turma, chefiada por Celestino Alves Bastos, tinham como objetivo estudar o caminho que partia da estação Itapecerica, ponto final da Estrada de Ferro Oeste de Minas, cujo ramal havia sido aberto há poucos anos, em 1891, e seguir até a cidade de Santa Luzia, dentro do escopo de estudar possíveis ligações do novo distrito federal no Planalto Central com o litoral.130 Logo de início, os trabalhos começaram marcados por dificuldades, pois os quatro soldados – “praças” – da Guarda Nacional que acompanhavam a turma foram dispensados. O motivo: “além do mau procedimento que duas delas tinham tido durante os dias que estiveram em serviço, se mostraram incapazes de desempenharem os misteres para que vinham. Apresentei-as, pois, à autoridade policial do lugar requisitando dar-lhes destino conveniente, no que fui prontamente atendido”.131 Pela leitura do Relatório de Celestino Bastos é possível depreender que, dentro do período de quarenta e dois dias de viagem, entre a cidade de Formiga e Santa Luzia,132 também essa turma procedeu a “[...] observações diárias para [...] a determinação da Latitude dos diversos pousos e lugares mais importantes”,133 as quais foram “feitas e registradas em cadernetas”.134 Além disso, pelo fato de passarem por diversas povoações, aldeias, arraiais e vilas, foram escolhidos os mais importantes núcleos populacionais para “levantar ligeiramente as plantas”.135 Apesar de em sua caminhada exploratória ter recolhido importantes informações para a cartografia, de fato, os mapas publicados pela Comissão de Estudos da Nova Capital da União não levaram em conta as Latitudes observadas por essa turma. Somos da opinião de que, caso os trabalhos fossem terminados e um Relatório conclusivo fosse publicado, certamente todos os cálculos astronômicos seriam consolidados em um “Atlas”, como o que foi publicado pela Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Mas, apesar de os trabalhos da turma não terem sido utilizados, é importante ressaltar que Celestino Alves Bastos, depois de ter terminado as atribuições da turma, executou outros importantes estudos de campo relacionados à cartografia, cujo resultado pode ser visto na “Planta do Distrito Federal mostrando o adiantamento dos trabalhos topográficos realizados até fins do ano de 1895”. (Cf. neste GUIA p. 261). Referimo-nos às ordens para “seguir para as cabeceiras do Rio Descoberto a fim de proceder ao levantamento e nivelamento delas e desse rio e seus afluentes até o ribeirão Guariroba”.136 Os trabalhos da 4ª Turma, esta chefiada por Alípio Gama, também estavam relacionados ao estudo de possíveis caminhos em direção ao perímetro do novo distrito federal em um roteiro semelhante ao da turma chefiada por Celestino Alves Bastos, pois também foi de trem até a última estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas e tinha como ponto de chegada a cidade de Santa Luzia. Contudo, seguia um itinerário distinto, mas que, exatamente por isso, exigiu muito mais atenção “a fim de evitar, tomando o rumo geral de Noroeste, seguir a mesma zona que ia percorrendo”137 a outra turma. Fato pitoresco que vale a pena comentar diz respeito à estratégia para que os animais de carga a serem comprados não fossem vendidos a preços inflacionados. Para evitar isso, a turma [...] estacionou em São João Del Rei para que a presença [...] em outros lugares em que pretendíamos comprar ou alugar os animais não deixasse perceber àqueles de que poderíamos obtê-los a necessidade que tínhamos de condução e isto lhes despertasse a ideia de grandes lucros ou mesmo a ganância de que se é vítima em casos tais.138 De todas as turmas, foi essa que, em seu Relatório, apresentou mais informações técnicas a respeito dos procedimentos para a leitura dos astros, a fim de determinar a Latitude e Longitude, coordenadas essenciais à cartografia. Do ponto de vista do conteúdo, comparado ao das outras turmas, Alípio Gama elaborou um Relatório que tem as características de um Relatório conclusivo. Ele mesmo tem consciência disso ao comentar: “para não avolumar este relatório que, de acordo com as instruções ultimamente recebidas, tenho procurado resumir o mais possível, não reproduzirei aqui os cálculos feitos [...]”.139 As informações técnicas são de uma clareza e didatismo tais, que conseguimos entender, por exemplo, como era usado e calibrado o podômetro; como era calculado o azimute, como se determinava a Longitude de um lugar específico etc. As determinações astronômicas começaram de fato em São João Del Rey, onde “fazia-se, diariamente [...] algumas observações da hora e outras de Latitude”.140 Todo o trajeto da viagem, em um total de 605 quilômetros, desde seu ponto inicial no arraial do Paredão, à margem do rio São Francisco, em Minas Gerais, até a cidade de Santa Luzia,141 foi “retificado em Latitude por observações astronômicas que procurei fazer em todos os pontos principais do itinerário, sempre que o estado do céu m’o permitia”.142 Algumas vezes, chegaram a ficar mais tempo em alguns povoados, “esperando que o tempo, sempre encoberto, permitisse algumas observações para a Latitude”,143 às vezes, “renunciando a fazer aquelas observações”.144 Para medir a Longitude, [...] a turma dispunha de um cronômetro de tempo médio cuja marcha havia sido previamente estudada no observatório astronômico. Este cronômetro levava a hora do Rio, e, sem pretender grande rigor naquelas coordenadas, me contentava com a Longitude que obteria pela comparação d’aquela hora, que levava, com a hora local que para isto eu deveria observar ao chegar ao ponto inicial do deslocamento.145 Informação importante a respeito da cartografia foi dada por Alípio Gama quando, não confiando mais no relógio que trouxe com a referência do Rio de Janeiro, devido às “trepidações dos trens”, recorreu à “Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais”.146 Somos informados de que em Minas – estamos falando do ano de 1895 – já “tinha determinado por meio da Triangulação feita, as coordenadas de alguns triângulos da rede e de um dos quais me utilizei”.147 Alípio Gama foi informado que esse trabalho de Triangulação, “infelizmente não havia explorado ainda a região em que ficam os pontos que poderiam servir de origem ao meu levantamento”.148 Contudo, de forma muito astuta, solicitou à Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais, uma cópia da [...] planta de um trecho da Estrada de Ferro Oeste de Minas na qual figuram não só um dos sinais geodésicos dessa comissão, o do Morro Grande, cujas coordenadas geográficas estavam já determinadas com uma precisão muito suficiente pela Triangulação, como também vários pontos da Oeste por que eu deveria passar que poderiam servir de origem ao meu levantamento.149 Podemos concluir que essas coordenadas geográficas foram úteis para dar maior precisão à determinação de novas Longitudes e Latitudes a serem determinadas, pois se, por um lado, não deram a “Longitude exata do ponto inicial do meu levantamento, por outro, deram, aproximadamente, a posição que este ponto deveria ocupar relativamente à Longitude do mapa geral de nossos caminhamentos”.150 Em Paracatu, Alípio Gama reclama que esteve com dificuldade de determinar as coordenadas geográficas “porque então conservava ainda, restos de uma paralisia proveniente da mordedura de uma cobra nas margens do Rio Paracatu, e isto me impossibilitava então de manejar o instrumento com firmeza”.151 Em relação aos mapas urbanos das cidades pelas quais passaram, ou seja, arraial de São Francisco, cidade de Abaeté, arraial da Moradinha, vila de Alegres e cidade de Paracatu, “todas essas plantas foram as primeiras que tiveram, mesmo as das cidades de Abaeté e Paracatu, nunca haviam sido levantadas”.152 Dos levantamentos promovidos por essa turma, pode-se concluir que o grande problema enfrentado nos caminhamentos foi em relação aos erros de Longitude dos mapas utilizados como referência. Em certa parte da viagem, Alípio Gama constata: [...] contava, de acordo com o estudo que tinha feito do meu itinerário, nos mapas por que me guiava, ter de atravessar as serras do Tigre e do Capacete. Ao chegar à cidade de Abaeté, verifiquei que estas duas grandes elevações do terreno ficam muito mais a Oeste do que eu esperava encontrá-las seguindo aqueles mapas.153 E conclui, referindo-se às duas serras que ambas estão afastadas “para as bandas do Oeste, e não ao Norte, como figuram em alguns mapas”.154 Em relação à finalidade da viagem, ou seja, estudos visando à ligação do Planalto Central com o litoral, os estudos dessa turma sugerem que “não deverá ser feita pela região que atravessei; [...] esta região é em grande parte muito acidentada”,155 e, assim, “muitos aterros, cortes grandes, pontes, etc. tornariam a construção d’essa estrada por aí muito pouco barata”.156 Os trabalhos da 5ª Turma, chefiada por Luiz Cruls, seguiram um caminho em parte conhecido na primeira Comissão: Uberaba a Pirenópolis. Contudo, diferentemente de todas as outras quatro turmas, cuja viagem exploratória em direção ao perímetro do novo distrito federal visava ao estudo de possíveis vias ligando o litoral ao Planalto Central, seguiu um caminho mais direto de Uberaba a Pirenópolis, passando por Morrinhos. Acreditamos que o motivo de não ter seguido uma rota mais exploratória em direção ao perímetro do quadrilátero seja pelo fato de estar “levando [...] o resto do pessoal e todo o material científico”.157 Página 256 – Figura 26 Descrição da imagem: planta mostrando a posição do Distrito Federal em relação aos limites do estado de Goyas e Minas Gerais segundo a exploração feita pelos engenheiros L. Cruls (chefe) e Antonio Alves de Moraes, capitão dos engenheiros- ajudante da Comissão de estudos da Nova Capital da União. O mapa mostra em linha vermelha o itinerário percorrido pela Comissão e em linha preta intermitente o limite entre o estado de Goyas e Minas Gerais. Alguns rios, córregos, lagoas e detalhes da hidrografia são descritos e também marcados com pequenas setas que indicam direções variadas. As declinações magnéticas para Junho de 1895 são mostradas através de números sublinhados como por exemplo: 4°50´. No lado esquerdo do mapa vemos 3 retas que quase formam um o desenho geométrico (quadrado), demonstrando os limites norte e sul do Districto Federal. Na linha acima, a descrição: Paralelo de 15°20´S, limite norte do Districto Federal. Na linha abaixo, a descrição: Paralelo de 16°35´S, limite sul do Districto Federal. Na linha paralela, que está no mais ao centro do mapa, a descrição: Limite Ocidental do Districto Federal. Dentro do “quadrado” há a marcação do local do acampamento da Comissão, representado com um pequeno retângulo cruzado ao meio, com a anotação: 4°00, desenhado a esquerda do mapa. Do ponto de vista da cartografia, o enorme conjunto de determinações de Latitude e Longitude levantado pelas cinco turmas não refletiu proporcionalmente em produção cartográfica, pelo menos se formos levar em conta os quatro mapas publicados pela Comissão no Relatório Parcial publicado em 1896. Nem por um momento isso significa dizer que não houve a intenção de que aqueles dados fossem utilizados para a confecção de mapas. O próprio Celestino Bastos informa que, ao terminar os trabalhos de sua turma, ocupou-se “com trabalhos de escritório”. E registrou: “Assim desenhei toda a parte de caminhamento por mim feito, em planta e perfil, e calculei todas as Latitudes observadas”.158 Portanto, informações para a produção de uma cartografia mais rica, certamente havia. Acreditamos que o término prematuro dos trabalhos da Comissão de Estudos da Nova Capital da União relegou ao esquecimento aqueles levantamentos tão importantes para a cartografia do interior do Brasil. Dois outros trabalhos desenvolvidos pela Comissão, após a chegada das cinco turmas no quadrilátero do novo distrito federal, motivaram a publicação dos quatro mapas do Relatório Parcial. Vamos conhecê-los. Estudos exploratórios que realmente redundaram em mapas Da análise dos trabalhos das cinco turmas, em comparação com os mapas que efetivamente encontramos no Relatório Parcial da Comissão de Estudos da Nova Capital da União, concluímos que os dados coletados não incidiram na publicação de nenhum mapa. Ao mesmo tempo, a constatação por meio da leitura dos relatórios das turmas, de que foi acumulado enorme volume de informações para a cartografia, úteis para a precária cartografia do interior do Brasil no final do século XIX, nos leva a perguntar se foram utilizados na cartografia regional em algum outro momento. É uma pergunta retórica, pois essa questão foge ao escopo desse artigo, mas mereceria uma pesquisa à parte para sabermos se os trabalhos ficaram perdidos dentro das gavetas após o término dos estudos da Comissão de Estudos da Nova Capital da União ou, de fato, foram utilizados na cartografia de Minas e Goiás, regiões por onde as cinco turmas exploraram. O que podemos dizer, com certeza, é que, pelo menos no que tange às regiões distantes do quadrilátero, visitadas por estas turmas, os dados não foram utilizados na cartografia produzida por essa Comissão, cujo relatório ficou apenas na condição de “Relatório Parcial”. Se os trabalhos das cinco turmas não redundaram em mapas no Relatório Parcial, quais trabalhos da Comissão geraram os quatro mapas que foram publicados? O primeiro desses trabalhos exploratórios foi o que resultou diretamente na publicação da “Planta mostrando a posição do distrito federal em relação aos limites dos Estados de Goiás e Minas Gerais”. (Figura 26) Durante o mês de junho de 1895, Luiz Cruls, Antonio Alves Moraes, capitão dos engenheiros e Auguste François Marie Glaziou, botânico, fizeram levantamento recolhendo “informações [...] com o fim de reconhecer qual a posição do distrito federal em relação aos limites dos estados de Goiás e Minas Gerais”.159 A viagem exploratória foi motivada porque havia chegado ao Congresso Nacional um projeto de lei que “determinava o deslocamento da área demarcada para leste até os limites do estado de Goiás com o de Minas Gerais”.160 O mapa foi feito por um dos participantes do grupo, o engenheiro Antonio Alves de Moraes. Não está graduado, mas, curiosamente, tomando como referência o Meridiano do Rio de Janeiro e iniciando a contagem a partir do “Acampamento”, apresenta a declinação magnética de vários pontos específicos do trajeto percorrido. Das Latitudes, apresenta a correspondente ao limite Sul e Norte do quadrilátero. Os estudos levaram à conclusão de que “os limites entre dois estados, afastam-se à cerca de 55 quilômetros do lado oriental do distrito federal, inclinando-se em seguida, de modo a passar muito perto do vértice Sudeste”,161 e que, nessas condições, [...] parece pouco acertado o deslocamento da área, não só porque necessitará uma nova demarcação, que tomará tempo e será dispendiosa, como também porque ela trará como consequência perder o retângulo demarcado toda a pitoresca zona vizinha dos Pireneus, como águas ótimas, em troca de uma zona, péssima pelo lado da salubridade e banhada por águas salobras.162 O segundo desses trabalhos resultou na publicação de dois mapas: “Estrada de Ferro de Catalão a Cuyabá – Reconhecimento do trecho de Catalão a Entre Rios – 70,5 quilômetros” e “Comissão de E. de F. de Catalão a Cuyabá – conjunto traçado de catalão a Goyaz em relação às outras estradas existentes e concedidas”. Esses estudos foram realizados visando “proceder ao reconhecimento da região compreendida entre Catalão, Goiás e Cuiabá [...] a fim de estudar as suas condições topográficas e reunir dados que possam servir de base [...]”163 para a construção da estrada de ferro de Catalão a Cuiabá. Como era atribuição da Comissão de Estudos da Nova Capital da União ligar essa futura estrada de ferro ao novo distrito federal, e isso só seria possível se a Comissão conhecesse o traçado dessa futura estrada, Luiz Cruls solicitou que o governo confiasse também à mesma Comissão os estudos dessa futura estrada de ferro.164 Era sua convicção de que “a mudança da capital só poder-se-á tornar uma realidade, depois de construída a parte desta Estrada que une a cidade de Catalão ao ponto escolhido para a mesma capital, por meio de um ramal”.165 Página 258 – Estrada de ferro de Catalão (Figura 27) Descrição da imagem: o mapa mostra a estrada de ferro de Catalão a Cuyabá- Reconhecimento do trecho de Catalão a Entre-Rios (70.5 Quilômetros). Detalha os tipos de terrenos encontrados no trecho, como: terreno montanhoso, terreno muitíssimo montanhoso, terreno acidentado, terreno muito acidentado, terreno pouco acidentado, terreno suave, terreno melhor, terreno ondulado, terreno bom e terreno regular. Detalha também alguns rios, ribeirões e córregos que surgem no traçado laranja da estrada de ferro. Na parte esquerda do mapa, linhas em laranja mostram as estradas de ferro Mogyana, Oeste de Minas e Concessão a Palmas; 3 traçados que se encontram em Catalão para formam a estrada de ferro Catalão a Cuyabá. O mapa está assinado pelo engenheiro chefe de serviço- James João Mellor. Era tão estratégica esta estrada que, mesmo após o Congresso não prever no orçamento os créditos necessários à continuação dos estudos da segunda Comissão, o Poder Executivo liberou créditos extraordinários para que se desse, pelo menos, o prosseguimento dos “trabalhos de reconhecimento da Estrada de Ferro de Catalão a Cuiabá”,166 atitude que Cruls reputou como “solução altamente patriótica”.167 Entretanto, pensando a partir da logística necessária à construção da nova capital, Cruls sugeriu que “melhores condições, sob o ponto de vista do desenvolvimento, apresentará a Estrada de Catalão a Palmas, cujo traçado atravessa a zona demarcada, encurtando ainda mais o traçado e tornando até desnecessária a construção de um ramal”168 em direção ao novo distrito federal. Cruls chega mesmo a ressaltar que tudo ficaria mais fácil com uma ideia que ele já tinha apresentado no Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil: o projeto de uma estrada de ferro de traçado direto, “perfeitamente realizável, ainda que de execução onerosa”.169 Apesar de as “Instruções” indicarem que os estudos deveriam proceder de Catalão até Cuiabá, de fato, o trecho estudado compreendeu apenas a região de Catalão à cidade de Goiás, perfazendo uma distância de 453,5 quilômetros, ou 68,7 léguas de 6.600 metros, cujo traçado final da estrada de ferro, segundo suas sugestões, seria no máximo “excedida pelo traçado em 8%”.170 Do ponto de vista da cartografia, as “Instruções a respeito de como deveriam seguir os trabalhos de construção da Estrada de Ferro Catalão a Cuiabá”, assinada pelo já então eminente escritor brasileiro, Machado de Assis, Diretor Geral da Viação,171 exigiu “a determinação da Longitude e Latitude dos principais pontos e declinação magnética”.172 Curiosamente, de todo o trajeto de reconhecimento entre Catalão e Goiás, trabalho executado sob a chefia do engenheiro James João Mellor, auxiliado pelos “intrépidos e distintos colegas”173 engenheiros, Colin Freitas Broad e José Contreiras Martins, somente foi publicado o mapa: “Estrada de Ferro de Catalão a Cuyabá – Reconhecimento do trecho de Catalão a Entre Rios – 70,5 quilômetros”. (Figura 27) O Relatório de James João Mellor não indica os motivos pelos quais o mapa foi feito apenas desse trecho. Supomos que, como o Relatório era Parcial, apenas convinha mostrar exemplos do trabalho que estava sendo executado. De fato, no final do relatório de seus trabalhos, Jaime João Mellor afirma: “estas são ligeiras informações que vos posso prestar presentemente, conforme o vosso pedido, aguardando momento mais oportuno para enviar-vos juntamente com as plantas e projetos desenhados, um relatório mais detalhado sobre o serviço a nosso cargo”.174 Elaborado na escala 1:100.000, apresenta o relevo e a hidrografia da região explorada. Para caracterizar o relevo, o mapa usa uma enorme lista de qualificativos: “terreno ondulado bom”; “terreno regular”; “terreno pouco acidentado”; “terreno acidentado”; “terreno muito acidentado”; “terreno suave”; “terreno melhor”; “terreno muitíssimo montanhoso”; “terreno montanhoso”. Supomos que todas essas adjetivações ao relevo serão úteis, juntamente com os “mapas dos caminhamentos” executados, os quais não constam no relatório, para o projeto da estrada de ferro. Apesar de não apresentar legenda para indicar o significado das linhas, interpretamos que a “linha vermelha” indica o melhor traçado para a estrada de ferro. De fato, no lado esquerdo, uma “linha vermelha” é identificada como “E. F. Oeste de Minas”. A linha pontilhada parece indicar duas informações: o caminhamento feito pela equipe, bem como o traçado da “estrada de rodagem” que, segundo o Relatório, às vezes era aproveitada pela equipe. De fato, no traçado pontilhado mais ao norte consta uma ponte, dando a entender que às vezes caminhavam nessa estrada e às vezes, paralelo a ela. Entretanto, no final do trecho para Entre-Rios, há tantas linhas pontilhadas que não sabemos mais se refere-se a outras “estradas de rodagem” da região ou a caminhos percorridos pela equipe. O mapa não está graduado. O Relatório, contudo, afirma que os “dados topográficos foram levantados mediante bússolas, podômetros, barômetro, Fortin e três aneróides”.175 O segundo mapa que faz referência aos estudos dessa estrada de ferro tem por título “Comissão de E. de F. de Catalão a Cuyabá – conjunto traçado de catalão a Goyaz em relação às outras estradas existentes e concedidas”. (Figura 28) Privilegiando a representação hidrográfica, apresenta os “Traçados Reconhecidos”, “Traçados a Reconhecer”, “E. de F. Mogyana Construídos”, “Traçados Locados”, “Estrada de F. O de Minas”, “E. de F. Uberaba à Coxim” e “E. de F. Catalão à Palma”. Infelizmente, não há indicação de autor, o que dificulta uma análise mais direta do contexto de produção. No entanto, como os trabalhos de “Reconhecimento” estavam a cargo do engenheiro James João Mellor, pode-se deduzir, com razoável probabilidade, que este mapa também foi produzido pela equipe dele. Devido à presença do quadrilátero do futuro distrito federal, bem como a indicação de Latitude e Longitude a partir do Meridiano do Rio de Janeiro, acreditamos que o mapa quer apresentar aos leitores do Relatório Parcial uma visada geral das estradas de ferro já construídas e as novas estradas de ferro propostas, mostrando que todas passam próximas ao território da futura capital brasileira. Havia, na época, severas críticas à construção de uma capital em um sertão inóspito. O mapa parece responder a essas críticas ao sugerir que a região escolhida será facilmente ligada com o restante do território brasileiro, como o demonstra a caixa na lateral superior esquerda ao apresentar as conexões do novo distrito federal com o litoral. A visão mais abrangente do quadrilátero do futuro distrito federal em relação ao território nacional sugere que a construção da nova capital será elemento que motivará a integração do território que compreende a fronteira Oeste – Bolívia, Paraguai – com o litoral Atlântico. Essa perspectiva já foi aventada quando, no início do Relatório Parcial, Luiz Cruls afirma: “tenho a mais absoluta convicção de que a mudança da capital [...] resultará para o Brasil, sua prosperidade e desenvolvimento futuro, as mais benéficas consequências, que atualmente ninguém pode avaliar”.176 Página 260 – Comissão de E. e F. de Catalão a Cuyabá (Figura 28) Descrição da imagem: o mapa mostra alguns detalhes da bacia hidrográfica da região de Goiás, mas foca nas estradas de ferro e cidades com as quais fazem ligação. No canto superior esquerdo do mapa, há um detalhe do estado de Goyas e algumas das principais capitais da época que fazem divisa, como São Paulo, Rio de Janeiro, Vitoria, além de países vizinhos como Bolívia e Paraguay. Também descreve “região infestada por índios” entre o trecho que liga a cidade de Goyas e Cuyabá. Página 261 – Figura 29 Descrição da imagem: planta do Distrito Federal mostrando o adiantamento dos trabalhos topográficos realizados até fins do ano de 1895 elaborada pela Comissão de Estudos da Nova Capital da União. O mapa mostra em preto os principais rio e ribeirões da região e em vermelho áreas já levantadas pela comissão. Por fim, temos o mapa “Planta do Districto Federal – mostrando o adiantamento dos trabalhos topográficos realizados até fins do ano 1895”. (Figura 29) Esse mapa representa a consolidação de exaustivos estudos de localização e direção do sistema hidrográfico do quadrilátero bem como topográficos, “pois a topografia do distrito está quase totalmente levantada”.177 Diferente da intenção inicial de complementar os dados topográficos com os trabalhos de Triangulação, tendo em vista ser a “Triangulação uma necessidade indeclinável para fixar os pontos obrigados do terreno e chegar a um trabalho de conjunto na altura dos fins da Comissão”,178 o que concretamente concluiu Henrique Morize foi que a ausência da Triangulação privou “o serviço do caráter de precisão que lhe é indispensável”.179 Independente do grau de exigência técnica do chefe de geodésia, de fato foi possível produzir o mapa da região do Planalto Central entre as cidades de Pirenópolis, Formosa e Santa Luzia, até então jamais elaborado, “com cuja publicação só tivemos em vista mostrar o adiantamento dos levantamentos executados durante o ano de 1895, assim como dar ideia do sistema hidrográfico da região demarcada”.180 Os dados consolidados para delinear essa representação cartográfica não foi fruto de nenhuma turma específica. Foi produzido pela consolidação de diversos estudos de reconhecimento da região, levados adiante pelos membros da Comissão: Uma vez que a verba de que pudemos dispor no corrente ano [1895] para o serviço, longe de permitir o trabalho de triangulada, [...] coube-me de novo a tarefa de dirigir os trabalhos, o que fiz distribuindo todo o pessoal em serviço de reconhecimento.181 A falta de condições financeiras, até mesmo para os trabalhos topográficos, estava chegando ao limite,“sendo até difícil acudir às despesas necessárias nos trabalhos de campo, com animais e camaradas em número suficiente. Os animais não têm tido o menor descanso e, [...] a necessidade absoluta de prover a tropa de animais de reforço foi em grande parte uma das dificuldades financeiras por que passou a Comissão este ano [de 1895]”.182 Em todo o Relatório Parcial da Comissão de Estudos da Nova Capital da União, a questão da Triangulação e a falta de financiamento para executá-la foi um tema recorrente. É nesse contexto que, apesar de todo o levantamento topográfico realizado até aquele momento (1895), Morize lamentava o atraso nos trabalhos de Triangulação. Segundo ele, a [...] triangulada é uma necessidade indeclinável para fixar os pontos obrigados do terreno e chegar a um trabalho de conjunto na altura dos fins da Comissão, e ainda que nossos trabalhos não estejam de forma alguma atrasados, pois a topografia do distrito está quase totalmente levantada, sua ausência priva o serviço do caráter de precisão que lhe é indispensável.183 De qualquer forma, no final de 1895, [...] estando levantada na escala de 1:100.000 a quase totalidade da área do distrito federal, estou empregando o pessoal que havia concluído seus trabalhos de escritório, em estudar minuciosamente as regiões que por sua natureza possam melhor prestar-se à fundação da futura capital.184 Aqui cabe uma pergunta importante para nosso estudo sobre a cartografia dessa Comissão. Se a Triangulação é tão importante para a exata cartografia a ser produzida, com a função de dar informações adequadas para a construção da cidade-capital e dos caminhos em direção a ela, em que pé ficaram exatamente os trabalhos de Triangulação da Comissão de Estudos da Nova Capital da União, já que as atividades de campo foram suspensas por falta de orçamento? É Luiz Cruls que, em uma “Observação” no final do Relatório Parcial, nos responde. Em relação a todos os trabalhos que envolvem o processo de Triangulação, foi feita “apenas a parte que diz respeito ao reconhecimento para escolha do terreno apropriado à medição de uma base e à colocação dos primeiros sinais geodésicos”.185 Esse trabalho inicial da Triangulação foi executado por Henrique Morize que escolheu “um sinal geodésico de 1ª ordem no alto do Acampamento, e em seguida um outro de igual ordem próximo às cabeceiras do Rodeador, num chapadão de 1.300m de altitude. [...] Foi neste chapadão que escolhi o lugar da futura base que terá cerca de 3 quilômetros de comprimento”.186 Por isso, faz importante ressalva, em relação à produção cartográfica: “os levantamentos topográficos, que deram lugar à organização deste mapa [refere-se à Planta do Districto Federal, mostrando o adiantamento dos trabalhos topográficos realizados até fins do ano de 1895] não estão baseados, por enquanto, sobre nenhuma Triangulação”.187 E completa: “somente os futuros trabalhos permitirão retificar e completar o referido mapa [...] em que várias lacunas ainda subsistem, principalmente na região Norte da zona, onde o traçado de alguns rios e respectivos afluentes terá de sofrer ligeiras modificações”.188 Foi lamentável esse resultado para a cartografia, porque, segundo Henrique Morize, se “outros empecilhos de força maior não perturbarem a marcha dos trabalhos, poderemos no final do ano de 1896, apresentar todos os dados para a escolha definitiva do local da nova capital”.189 Isso não foi possível porque os trabalhos de campo terminaram no final do ano de 1895. Como vimos acima, apesar de estar bem adiantado o levantamento topográfico do distrito federal para a produção de um mapa na escala 1:100.000, infelizmente a suspensão, ainda que temporária, dos trabalhos de campo, veio atrasar a completa conclusão desse trabalho. Por isso, o mapa publicado no Relatório Parcial de 1896, “Planta do Districto Federal - mostrando o adiantamento dos trabalhos topográficos realizados até fins do ano de 1895”, no qual se percebe uma maior importância e detalhamento dado ao rico sistema hidrográfico do novo distrito federal, foi produzido na escala de 1:250.000. A elaboração do mapa esteve a cargo de Henrique Morize, coordenador do serviço geodésico e, portanto, o responsável pela Triangulação do perímetro do novo distrito federal. O mapa está graduado e a Longitude é indicada a contar do Meridiano do Rio de Janeiro. Por sinal, todos os mapas das duas Comissões usam como meridiano de referência o Meridiano do Rio Janeiro. Como dissemos anteriormente, acreditamos que essa escolha se justifique pelo fato de não estar ainda consolidado internacionalmente o uso de um único meridiano de referência e, além disso, a Comissão tinha levado relógios com a hora do Rio de Janeiro,190 medida a partir do Observatório Nacional. Além da hidrografia, há a preocupação em situar as fazendas e povoados do quadrilátero, bem como os caminhos que interligam esses elementos. Do ponto de vista da escolha do lugar para a nova capital, apesar de o trabalho de campo ter terminado antes do previsto, Luiz Cruls conclui no Relatório Parcial: Sob o ponto de vista da qualidade, abundância d’água, natureza e topografia do terreno, salubridade e condições climatológicas, é provável que esta escolha se fixe definitivamente quer na região compreendida entre os rios Gama e Torto, quer no vale do Rio Descoberto.191 Saltemos, à frente, 60 anos, a fim de refletir sobre essa conclusão de Luiz Cruls. A competência técnica dos resultados da Comissão de Estudos da Nova Capital da União, cujos trabalhos de campo, por falta de recursos, findaram em dezembro de 1895, foi confirmada mais tarde, quando, no dia 15 de abril de 1955, outra Comissão, agora nomeada Comissão de Localização da Nova Capital Federal, cuja chefia cabia ao militar José Pessoa e que também estudava esse mesmo tema, tendo diante de si a proposta de cinco lugares diferentes para a construção da nova capital, aprovou a escolha do “Sítio Castanho” para a construção da nova capital do Brasil: “Eram exatamente onze horas. Os membros da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, de pé e com uma salva de palmas, aprovam a escolha do chamado SÍTIO CASTANHO, situado a Sudeste da cidade de Planaltina, no Estado de Goiás”.192 O “Sítio Castanho” era exatamente “a região compreendida entre os rios Gama e Torto”,193 lugar sugerido pela antiga Comissão, 60 anos antes. No final de 1955 foi eleito para a Presidência da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira e a capital foi construída e inaugurada... Mas, isso já é outra história. NOTAS 1. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exm. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires, Rio de Janeiro, Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 12. 2. CRULS, Luiz. Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil: relatório Cruls. 2. ed. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1947, p. 17-18. 3. ___ . ___. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1947, p. 17-18. 4. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão Cruls. In: Missão Cruls, uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animatógrafo, 2010, p. 51. 5. ___ . ___. Brasília, Editora Animatógrafo, 2010, p. 65. 6. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. 7. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. 8. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. 9. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. 10. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. 11. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 37. 12. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 59. 13. VARNHAGEN, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no interior? Brasília: Thesaurus, 1978. 14. MARQUES, Jarbas Silva. O Movimento Mudancista. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro, Brasília: Editora Animatógrafo, 2010, p. 69. 14b. O mapa se encontra na publicação: PIMENTEL, Antonio Martins de Azevedo. A nova capital federal e planalto central do Brasil. Brasília: Thesaurus, 1985. 15. VARNHAGEM, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no interior? Brasília: Thesaurus, 1978, p. 7. 16. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 89. 17. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animatógrafo, 2010, p. 68. 18. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro, Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9. 19. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 73. 20. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animatógrafo, 2010, p. 69. 21. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 69. 22. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animatógrafo, 2010, p. 67. 23. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 63. 24. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animatógrafo, 2010, p. 67. 25. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77. 26. VERGARA, Moema de Rezende. A Comissão Cruls e o Projeto de Mudança da Capital Federal na Primeira República. In: SENRA, Nelson de Castro (Org.). Veredas de Brasília: as expedições geográficas em busca de um sonho. Rio de Janeiro, IBGE, 2010, p. 41. 27. CRULS, Luiz. Mudança da Capital da União; resposta ao Dr. Domingos Jaguaribe. Rio de Janeiro: Typ. Alex Villela, 1896, p. 13. 28. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77. 29. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 81. 30.___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 172. 31. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 33. 32. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 172. 33. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154. 34. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155. 35. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154. 36. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155. 37. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 101. 38. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 101. 39. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 195. A tabela com o resultado dessas medições se encontra na p. 225 e 232. 40. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 158. 41. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 157. 42. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 101. 43. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 159. 44. CRULS, Luiz. Atlas dos Itinerários, Perfis Longitudinais e da Zona Demarcada. H. Rio de Janeiro: Lombaerts & c., Impressores do Observatório, 1894, p. 7. 45. ___ . ___. Rio de Janeiro: Lombaerts & c., Impressores do Observatório, 1894, p. 7. 46. Cf. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77. 47. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77. 48. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154. 49. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 81. 50. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155. 51. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154. 52a. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 81. 52b. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 93. 53. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 93. 54. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 171-172. 55. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 172. 56. Cf. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 97. 57. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 81. 58a. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 156. 58b. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 97. 59. Hoje, não existe mais. O morro foi retirado numa das reformas urbanas promovidas no Rio de Janeiro. Esta realizada em 1921, no mandato do Prefeito Carlos Sampaio. 60. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Animatógrafo, 2010, p. 53. 61. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77. 62. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 169. 63. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 187. 64. Cf. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 55. 65. VERGARA, Moema de Rezende. A Comissão Cruls e o Projeto de Mudança da Capital Federal na Primeira República. In: SENRA, Nelson de Castro (Org.) Veredas de Brasília: as expedições geográficas em busca de um sonho. Rio de Janeiro, IBGE, 2010, p. 41. 66. VARNHAGEN, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no interior? Thesaurus, Brasília, 1978, p. 7. 67. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 297. 68. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 297. 69. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 299. 70. Cf. VIEIRA JÚNIOR, Wilson. Nos sertões cerrados de Brasília: a cartografia como argumento para releitura da história do Distrito Federal. III Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica. Ouro Preto, 2009. 71. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 69. 72. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173. 73. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173. 74. Cf. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 294. 75. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 294. 76. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 297. 77. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173. 78. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173. 79. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155. 80. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155. 81. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155. 82. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173. 83. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 156. 84. MATTOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário ao Pará e Maranhão pelas Províncias de Minas Gerais e Goiaz, seguido de huma descripção chorographica de Goiaz, e dos roteiros desta província as de Mato Grosso e São Paulo. Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Constitucional de J. Vilaleneuve E. C. Tomo I e II, 1836. 85. Cf. ADONIAS, Isa. Mapas e Planos Manuscritos relativos ao Brasil colonial conservados no Ministério das Relações Exteriores (1500-1822). Ministério das Relações Exteriores, Serviço de Documentação, Rio de Janeiro, 1960, p. 35. 86. TAUNAY, Visconde de. Goyaz. Goiânia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 2004. p. 76. 87. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155. 88. MACIEL, Viviane Barros. Da Corte à Província, do Império à República, do Colégio Pedro II ao Liceu de Goiás: dinâmicas de circulação e apropriação da matemática escolar no Brasil, 1856-1918. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande. 2012. p. 126. Disponível em: . Acesso em: 9 ago. 2013. 89. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao exm. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 7. 90. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 8. 91. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 11. 92. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-7. 93. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-7. 94. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4. 95. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 11. 96. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9. 97. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9. 98. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 5. 99. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4. 100. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4. 101. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 97. 102. Cf. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154. 103. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 12. 104. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. B-5. 105. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-7. 106. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 13. 107. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 13. 108. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 13. 109. Cf. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 101. 110. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 19. 111. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 19. 112. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. B-5. 113. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 8. 114. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-4. 115. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 18. 116. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-3. 117. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-3. 118. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-3. 119. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-6. 120. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-6. 121. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-5. 122. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 10. 123. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-3. 124. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-3. 125. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-7. 126. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-4. 127. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-4. 128. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-7. 129. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-3. 130. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 8. 131. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-3. 132. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-4. 133. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-5. 134. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-5. 135. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-4. 136. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-5. 137. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-5. 138. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-6. 139. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-15. 140. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-6. 141. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-8. 142. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-6. 143. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-32. 144. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-32. 145. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17. 146. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17. 147. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17. 148. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17. 149. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17. 150. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-18. 151. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-22. 152. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-26. 153. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-28. 154. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-29. 155. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-42. 156. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-42. 157. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 10. 158. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. B-5. 159. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 15. 160. ___ . ___. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 14. 161. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 17. 162. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 14. 163. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 9. 164. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 18. 165. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 3. 166. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 5. 167. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 5. 168. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4. 169. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4. 170. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. I-8. 171. Um departamento da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas. Machado de Assis assumiu como Diretor Geral da Viação em 1892. 172. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 9. 173. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. I-8. 174. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. I-8. 175. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. I-3. 176. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. III. 177. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9. 178. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9. 179. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9. 180. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9. 181. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9. 182. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-8. 183. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9. 184. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9. 185. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9. 186. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9. 187. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9. 188. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9. 189. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-10. 190. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17. 191. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 12. 192. Ata da Comissão de Localização da Nova Capital Federal. Coleção Brasília, Serviço de Documentação da Presidência da República, Rio de Janeiro, 1960. p. 653. 193. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 12. Página 266 – Casa Altamiro de Moura Pacheco Academia Goiânia de Letras Descrição da imagem: o mapa mostra os limites e nomes das fazendas que estavam o Novo Distrito Federal, bem como os córregos e ribeirões da região. Os traços estão coloridos em tons de preto (para a parte aquífera), laranja, azul, verde e rosa (para demarcar os limites das fazendas). Página 268 – IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Novo Distrito Federal Descrição da imagem: o mapa mostra em verde o limite interestadual do Quadrilátero do Distrito Federal. Em vermelho, azul e preto detalhes como: os limites das cidades, as casas, estradas de ferro, rodovias pavimentadas, estradas de rodagem, caminhos de passagem, rios, ribeirões, córregos, lagos, lagoas, terrenos alagados e as curvas de nível do terreno. De maneira mais destacada está o desenho de Brasília (em vermelho), bem como do lago Paranoá (em azul).